Os três principais temas para começar 2021
Se a gradual normalização da situação será discutida ao longo do ano e isso todo mundo já sabe, quais serão outros temas que podemos pensar?

Ano novo, vida nova. 2021 marca não só o início de um novo ano, mas também de uma nova década. Caminhamos gradualmente mais e mais para dentro do século XXI, tempo único da história da humanidade com subsequentes quebras de paradigmas.
Há quem diga que cada era humana é única à sua maneira, mas acredito que possamos argumentar que a vigente é onde as coisas acontecem com mais intensidade e com mais velocidade.
É transformacional.
Claro, a virada do ano é simbólica e marca um ponto de reflexão para que, junto com a terra que completou seu ciclo, possamos também recarregar nossas baterias. De certo modo, os problemas do dia 31 de dezembro se mantêm, ainda que tenhamos parado para primeiro de janeiro.
Por isso, dispensa comentários trazer para este espaço que a Covid seguirá sendo um tema presente em nossas vidas ao longo de 2021. Ainda que doa um pouco em nossos corações tal entendimento, a contaminação, o número de mortes e as novas variantes (cepas) do vírus voltarão a carregar ruído sobre nossos investimentos e sobre nossa vida.
Não somente isso, mas, para o mercado, a reação para com o vírus também importa: desenvolvimento de novas vacinas, novos lockdowns e o processo de vacinação em si.
Leia Também
Hoje é dia de rock, bebê! Em dia cheio de grandes acontecimentos, saiba o que esperar dos mercados
Entre o rali eleitoral e o malabarismo fiscal: o que já está nos preços?
Bem, se a gradual normalização da situação será discutida ao longo do ano e isso todo mundo já sabe, quais serão outros temas que podemos pensar? Onde se concentram as novas discussões sobre investimentos no mundo e quais serão os centros dos novos debates?
Com isso em mente, separei três grandes temas para 2021, os quais acredito com certo grau de confiança que ficarão na boca dos maiores gestores globais. Vamos a eles.
1. A força do dólar no mundo
A pandemia da Covid-19 parece ter sacramentado o fim de uma década de valorização do dólar, que já vinha apresentando sinais de fraqueza desde 2019. Agora, as expectativas são de que 2021 trará mais armadilhas para a divisa americana.
Para ilustrar, em pesquisa recente do Bank of America (BofA) com seus investidores, podemos observar que "vender a descoberto" o dólar foi a segunda negociação mais concorrida; isto é, muita gente apostando na queda da moeda.
Como nenhum banco central pode "superar o Fed” (Federal Reserve, ou o Banco Central dos EUA), os investidores deixam de ver vantagem em se posicionar na moeda americana. Basicamente, ao levar a taxa básica de juros para 0% ao ano, a autoridade monetária tirou a atratividade de se posicionar de maneira segura no dólar.
Se o forward guidance (orientação futura, em português) for mantido, as perspectivas deverão se manter inalteradas, uma vez que a taxa de juros não deverá subir pelos próximos anos e o Fed se mostrará mais permissivo com a inflação.
Aliás, breve parêntese.
A maior parte dos investidores entende que o Federal Reserve, o Banco Central Europeu, o Banco do Japão, o Banco da Inglaterra e o Banco Popular da China manterão o fluxo de dinheiro barato. Segundo pesquisa do BofA, ao redor do mundo foram gastos US$ 1,3 bilhão por hora desde março em compras de ativos. Houve também 190 cortes nas taxas no ano de 2020 - cerca de quatro a cada cinco dias de negociação.
O resultado? As políticas monetárias tradicionais foram praticamente esterilizadas e hoje resta pouca margem de atuação nesse sentido. Hoje, mais de 80% dos títulos soberanos de nações mais ricas pagam rendimentos negativos após considerar a inflação. O prognóstico é preocupante para o longo prazo, mas deverá sustentar os mercados em 2021.
Volto.
Além disso, a saída do presidente Donald Trump também deve reduzir as tensões comerciais e políticas, que apoiavam o dólar. A presença de um perfil mais multilateralista como Joe Biden fará com que o comércio global se intensifique, elevando o fluxo de dólares para outras partes do globo e enfraquecendo a moeda.
Por fim, ainda podemos destacar o expansionismo fiscal (tema destacado acima), que inundou o mercado de liquidez e, diante de tal exacerbação, desvaloriza a moeda (se tem muito de uma coisa, naturalmente ela vale menos). Provavelmente, a intensificação dessas forças que levam o dólar para baixo deverão se manter ao menos ao longo de todo 2021.
Claro que isso não necessariamente é um problema, muito pelo contrário. O mundo costuma prosperar em termos de crescimento em períodos de queda do dólar – como boa parte dos agentes se financia em dólar, uma moeda mais fraca possibilita maior alavancagem. Em momentos em que se demanda crescimento para recuperar a queda da atividade observada no ano passado, a queda do dólar é bem-vinda.
Ressalto que a fraqueza do dólar no mundo não significa necessariamente um real mais forte. Ajuda, mas não é condição suficiente, uma vez que vivemos aqui no Brasil com nossas próprias idiossincrasias.
2. Mercados emergentes
Com as economias em desenvolvimento se beneficiando da recuperação do comércio global, um novo ciclo de commodities se iniciará em meio a um dólar mais fraco e uma Casa Branca mais previsível.
Assim, o entendimento geral é de que haja muito espaço para o que se chamaria de “Emerging Party”, ou “festa dos emergentes”. Agora, os dados mostram investidores injetando dinheiro em ativos dos mercados emergentes pela taxa mais rápida em quase uma década.
Acredita-se que a dívida em moedas de mercados emergentes renderá 6,2% aos investidores no próximo ano, mais do que o S&P 500. Tal racional permite que muitos bancos, como Goldman Sachs, Morgan Stanley e BofA indiquem para seus clientes as moedas muito descontadas desses países, como da China, do México e do Brasil, entre outras. Claro que posições direcionais em Bolsa de países emergentes também será convidativa. Estudos indicam, inclusive, que as moedas emergentes têm 25% de desconto para recuperar.
O sentimento de otimismo em direção a um setor que estagnou por uma década é impulsionado, é claro, pelas esperanças de uma recuperação do crescimento liderado pela China, mas também pela atração de taxas de juros mais altas nos mercados emergentes, dados 0% ou rendimentos negativos nos países mais ricos.
Tal carry (capital que busca diferencial de juros entre os países), que deverá se manter ao longo de 2021 como destaquei no primeiro tópico, dá suporte para que o dinheiro flua mais livremente por esses países – destaque para a América Latina, que ficou muito para trás (está bem descontada), ainda que tenha dever de casa a ser feito.
Nem tudo são flores, claro. Muitos desses países têm uma “conta Covid” (ajuste fiscal posterior aos estímulos de 2020) mais amarga para acertar. Um ajuste fiscal em diversos países será não só importante, como necessário.
3. ESG e tecnologia
Por último, entendo que dois grandes temas para a próxima década serão:
- investimentos sustentáveis; e
- novas aplicações de tecnologia, desbravando novos setores.
Sobre o primeiro ponto, os fundos de investimento que aderem aos princípios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) dobraram no ano passado para mais de US$ 1,3 trilhão.
Tal ritmo deverá ser acelerado em 2021 e nos próximos anos, especialmente se Biden buscar uma agenda mais verde conforme prometido — para isso, a disputa eleitoral de hoje na Geórgia será muito importante.
Breve parêntese novamente.
Os republicanos brigam hoje para manter a maioria no Senado. O mercado entende como sendo preferível que isso aconteça, uma vez que um Senado conservador seguraria os ímpetos mais radicais do partido democrata, que controlaria a Casa Branca e a Câmara.
Hoje, o placar está 46 para os democratas a 50 para os republicanos — 48 para os democratas se contarmos os dois independentes que votam em linha com o partido. Basta uma das duas cadeiras em jogo para que Mitch McConnell (republicano) siga sendo o líder da maioria da casa legislativa.
Se os democratas conseguirem os dois assentos, contudo, teremos um empate a ser quebrado pelo voto de minerva da vice-presidência, comandada pela Kamala Harris (democrata) a partir de 20 de janeiro. Vale prestar atenção na apuração. Um Senado democrata é bom para ESG, mas ruim para as Big Techs (regulação).
Volto.
Ainda sobre o primeiro ponto, as preocupações com a poluição, a mudança climática e os direitos trabalhistas são os principais fatores de atenção. Alguns estudos indicam que 80% dos índices de ações “sustentáveis” (compostos por empresas que respeitam os ditames de sustentabilidade social e ambiental) superaram seus pares não-ESG, com destaque para energia renovável.
Já sobre o segundo tópico, muito das estratégias de investimento desenhadas acima tem como premissa uma abordagem muito diferente para o comércio e geopolítica sob Biden (para dólar e países emergentes). Porém, em algumas áreas como big data, 5G, inteligência artificial, veículos elétricos, robótica e segurança digital, as políticas de Biden poderão ser tão combativas quanto as de Trump. Isso pode acelerar o movimento em direção a sistemas de tecnologia dupla ou múltipla.
Na atualidade, as empresas de tecnologia respondem por quase um quarto dos lucros corporativos dos EUA, enquanto compreendem 40% do índice de ações emergentes da MSCI.
Com o passar do tempo, mais e mais os setores ligados à tecnologia deixarão de ser um segmento genericamente tratado como “tecnológico” e começarão a ser representados por setores específicos de diferenciação, muito provavelmente nos que testemunharem conflitos entre países.
Surfar tais tendências de maneira apropriada será fundamental para que estabeleçamos carteiras de investimentos consistentes nos próximos anos. Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus, costuma apresentar quinzenalmente suas melhores ideias de investimento nesse sentido em sua série best-seller, Palavra do Estrategista.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas. Sem sombra de dúvida, para aqueles que desejam aproveitar a onda de oportunidade que começa a surgir no horizonte, acompanhar os pensamentos de Felipe se tornou imperativo.
Para os que se interessaram pelos temas aqui tratados, ler Miranda é mais do que fundamental para saber onde investir seus recursos nesta nova década que se inicia.
Uma ação que pode valorizar com a megaoperação de ontem, e o que deve mover os mercados hoje
Fortes emoções voltam a circular no mercado após o presidente Lula autorizar o uso da Lei da Reciprocidade contra os EUA
Operação Carbono Oculto fortalece distribuidoras — e abre espaço para uma aposta menos óbvia entre as ações
Essa empresa negocia atualmente com um desconto de holding superior a 40%, bem acima da média e do que consideramos justo
A (nova) mordida do Leão na sua aposentadoria, e o que esperar dos mercados hoje
Mercado internacional reage ao balanço da Nvidia, divulgado na noite de ontem e que frustrou as expectativas dos investidores
Rodolfo Amstalden: O Dinizismo tem posição no mercado financeiro?
Na bolsa, assim como em campo, devemos ficar particularmente atentos às posições em que cada ação pode atuar diante das mudanças do mercado
O lixo que vale dinheiro: o sonho grande da Orizon (ORVR3), e o que esperar dos mercados hoje
Investidores ainda repercutem demissão de diretora do Fed por Trump e aguardam balanço da Nvidia; aqui no Brasil, expectativa pelos dados do Caged e falas de Haddad
Promessas a serem cumpridas: o andamento do plano 60-30-30 do Inter, e o que move os mercados hoje
Com demissão no Fed e ameaça de novas tarifas, Trump volta ao centro das atenções do mercado; por aqui, investidores acompanham também a prévia da inflação
Lady Tempestade e a era do absurdo
Os chineses passam a ser referência de respeito à propriedade privada e aos contratos, enquanto os EUA expropriam 10% da Intel — e não há razões para ficarmos enciumados: temos os absurdos para chamar de nossos
Quem quer ser um milionário? Como viver de renda em 2025, e o que move os mercados hoje
Investidores acompanham discursos de dirigentes do Fed e voltam a colocar a guerra na Ucrânia sob os holofotes
Da fila do telefone fixo à expansão do 5G: uma ação para ficar de olho, e o que esperar do mercado hoje
Investidores aguardam o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole
A ação “sem graça” que disparou 50% em 2025 tem potencial para mais e ainda paga dividendos gordos
Para os anos de 2025 e 2026, essa empresa já reiterou a intenção de distribuir pelo menos 100% do lucro aos acionistas de novo
Quem paga seu frete grátis: a disputa pelo e-commerce brasileiro, e o que esperar dos mercados hoje
Disputa entre EUA e Brasil continua no radar e destaque fica por conta do Simpósio de Jackson Hole, que começa nesta quinta-feira
Os ventos de Jackson Hole: brisa de alívio ou tempestade nos mercados?
As expectativas em torno do discurso de Jerome Powell no evento mais tradicional da agenda econômica global divide opiniões no mercado
Rodolfo Amstalden: Qual é seu espaço de tempo preferido para investir?
No mercado financeiro, os momentos estatísticos de 3ª ou 4ª ordem exercem influência muito grande, mas ficam ocultos durante a maior parte do jogo, esperando o técnico chamar do banco de reservas para decidir o placar
Aquele fatídico 9 de julho que mudou os rumos da bolsa brasileira, e o que esperar dos mercados hoje
Tarifa de 50% dos EUA sobre o Brasil vem impactando a bolsa por aqui desde seu anúncio; no cenário global, investidores aguardam negociações sobre guerra na Ucrânia
O salvador da pátria para a Raízen, e o que esperar dos mercados hoje
Em dia de agenda esvaziada, mercados aguardam negociações para a paz na Ucrânia
Felipe Miranda: Um conto de duas cidades
Na pujança da indústria de inteligência artificial e de seu entorno, raramente encontraremos na História uma excepcionalidade tão grande
Investidores na encruzilhada: Ibovespa repercute balanço do Banco do Brasil antes de cúpula Trump-Putin
Além da temporada de balanços, o mercado monitora dados de emprego e reunião de diretores do BC com economistas
A Petrobras (PETR4) despencou — oportunidade ou armadilha?
A forte queda das ações tem menos relação com resultados e dividendos do segundo trimestre, e mais a ver com perspectivas de entrada em segmentos menos rentáveis no futuro, além de possíveis interferências políticas
Tamanho não é documento na bolsa: Ibovespa digere pacote enquanto aguarda balanço do Banco do Brasil
Além do balanço do Banco do Brasil, investidores também estão de olho no resultado do Nubank
Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor
Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro