Dançando tango cego: o que esperar dos setores da bolsa na reabertura?
É provável que as ações de valor superem as ações de crescimento nos próximos 12 meses, mas tecnologia pode ter boa performance
Seguro de si, Frank segurou suavemente a cintura de Donna, transmitindo com leveza os passos de “Por Uma Cabeza”. Dançar tango é difícil, ainda mais quando se é cego, como o personagem no filme “Perfume de Uma Mulher”, de 1992.
O clássico nos traz Al Pacino no papel principal, fazendo com que mergulhemos com profundidade na cena, imersos pelos traçados rápidos impostos sobre a inexperiente jovem.
Muitas vezes, investir no mercado de ações é como dançar tango sendo cego.
Você tem o método, você sabe o que deve fazer, mas a incerteza te cerca. Você não sabe o que está ao seu redor, tendo que confiar muitas vezes no direcionamento de alguém não tão familiarizado com os passos. Aqui, o investidor é Frank, o salão é o mercado e Donna é a informação que chega até você.
Informação, poder e problema
Hoje, em um ambiente cada vez mais informacional, os investidores estão a todo tempo em contato com diferentes informações. Elas chegam inigualavelmente velozes, capazes de se incorporarem quase que de imediato nos preços dos ativos.
A todo instante, os mercados se valem das informações para tentar precificar a valor presente o fluxo de caixa futuro dos mais diferentes produtos financeiros. Aqueles que se mostram descontados frente ao que deveriam valer, se tornam oportunidades.
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O problema?
Diariamente nos defrontamos com informações que são mais ruídos do que sinais, enganando os financistas. Em mercados extremamente líquidos, como os que temos hoje, este fenômeno é cada vez mais frequente.
Também é importante lembrar que a liquidez não vem apenas dos bancos centrais.
Também vem do Tesouro dos EUA, por exemplo...
Para ilustrar, até agora, em 2021, o saldo de caixa do Tesouro americano caiu US$ 685 bilhões. Isso é quase o equivalente a 6 meses de liquidez do afrouxamento quantitativo do Federal Reserve, que compra cerca de US$ 120 bilhões em ativos por mês, nos primeiros 3 meses do ano.
E se espera que ainda mais liquidez flua para os mercados financeiros nos próximos 5 meses.
O poder do ruído
O excesso de liquidez nos últimos 12 meses, com os bancos centrais e governos trabalhando em conjunto em modo expansivo para sustentar a economia no pós-pandemia, criou um universo no qual o poder do ruído em destruir ou construir riqueza não é pouco relevante, tornando nosso trabalho de dançar no salão com Donna cada vez mais difícil.
Claro, como não poderia deixar de ser, uma perspectiva macro aprimorada, rendimentos nominais crescentes do tesouro americano, uma curva de juros mais inclinada e expectativas de inflação crescentes estão trazendo vida às ações de valor – teses relacionadas à economia tradicional, que ficaram largadas ou para trás durante a pandemia.
As ações ganhadoras dos pós 2008 e 2020, relacionadas à tecnologia, estão sendo preteridas em detrimento da escolha por nomes de reabertura. O processo se deu mais notadamente nos EUA e deverá perseverar ao longo do ano, sendo passado para demais localidades ao passo em que a vacinação se dá em outros países e o mundo volta à normalidade.
Gatilho importante: temporada de resultados
Até aqui, nos EUA, já tendo 42 empresas relatando números do primeiro trimestre, podemos verificar que ao menos 79% superaram as expectativas em uma média de 55%, aumentando também as demais estimativas para o resto do ano. Sinal de que a economia ganha cada vez mais força.
Agora, o processo deverá se dar na Europa e no Brasil gradualmente, ao passo em que a temporada de resultados é iniciada.
Veja, naturalmente as ações de valor são susceptíveis a superar as ações de crescimento durante os períodos de inflação mais alta ou crescente.
No entanto, também é importante entender que a relação não é totalmente linear.
A razão é que, se a inflação subir aos níveis da década de 1970, é provável que o Federal Reserve aperte a política monetária o suficiente para restaurar a estabilidade de preços.
Este é o temor do mercado.
Uma política monetária suficientemente restritiva elevaria as taxas de juros reais a níveis elevados, levando a uma recessão, que é quando os riscos do ciclo econômico das ações de valor tendem a aparecer.
Mais uma vez, o mercado prevê que o Federal Reserve aprendeu com os erros cometidos nas décadas de 1960 e 1970 e agirá bem antes que a inflação se torne uma ameaça séria, evitando a necessidade de elevar as taxas de juros reais a níveis que causariam uma recessão.
Outra razão pela qual a relação entre o prêmio de valor e a inflação pode não ser linear é que as avaliações relativas podem ser “esticadas”, como aconteceu no final da década de 1990, quando as ações de crescimento se tornaram as mais caras do que nunca em relação às ações de valor.
De qualquer modo, é provável que as ações de valor superem as ações de crescimento nos próximos 12 meses, ainda que as ações de tecnologia ainda possam apresentar boa performance, de acordo com o picking correto.
A este processo que vivemos durante todo o primeiro trimestre se dá o nome de rotação setorial – o dinheiro rotacional de tecnologia para valor.
Agora, mais do que nunca, separar o joio do trigo se tornou fundamental.
Onde estão as oportunidades?
Saber a informação correta é vital para que encerremos os passos de tango no mercado. Na minha cabeça, quando pensamos em oportunidades no momento atual, duas coisas me surgem na cabeça: i) commodities; e ii) reabertura.
Ainda que estejam ligados – a reabertura econômica possibilitará mais altas dos preços das matérias-primas – é possível que estabeleçamos uma diferenciação.
Em primeiro lugar, a presença das commodities nas carteiras diversificadas se tornou imperativo. Posições em empresas ligadas à siderurgia, mineração e petróleo parecem bastante atrativas.
Em segundo lugar, as cíclicas domésticas podem ensejar desejo. Segmento de consumo, contando com varejo, serviços (viagens e afins) e construção civil podem surpreender muito, sem falar nos shoppings, que também têm espaço.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Entendo que o contexto possa nos brindar com esse horizonte.
Evidentemente, não esqueceremos as teses da nova economia ligadas à tecnologia, mas as carteiras precisam endereçar esta nova realidade para o momento atual, em que as teses de valor e de reabertura têm muito o que ganhar.
Se você gostou desse insight e quiser saber qual as empresas específicas que mais gostamos para o momento atual, convido a todos os que leram até aqui para conferirem a série best-seller da Empiricus, “Palavra do Estrategista”.
Nela, Felipe Miranda, Estrategista-Chefe da casa de análise, compartilha suas melhores e mais diferentes ideias para diversos mercados e com o intuito de ajudar os mais variados perfis de investidores que existem.
Fica o convite para se aprofundar nos mais interessantes mercados e ideias.
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