Meu professor polvo
Desenvolvi um hábito peculiar. Quando preciso ter algum papo difícil com alguém ou há entre mim e alguma pessoa querida algum entrevero, mínima rusga que seja, envio um vinho português chamado “Conversa” e convido para o diálogo.
É um gesto carinhoso, de afeto. Mas — confesso — é também um pouco egoísta e parte de um processo negocial; meu próprio jeito de desenvolver a comunicação não violenta.
O vinho em si não é propriamente um espetáculo. Também não é ruim, longe disso. Já bebi coisa muito pior; sou sujeito sem frescura. Para treinados em jurubeba na adolescência, meu caro, um blend do Douro de Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz vai ser sempre um néctar de puro mel. Ele é o vinho de entrada da mesma vinícola do Batuta, esse, sim, um verdadeiro campeão.
Não é pela qualidade do vinho em si. É pelo gesto. Como não abaixar a guarda ao ser presenteado com um vinho que lhe convida à conversa?
A conversa está na essência da nossa Empresa. Mesmo que a conversa seja consigo mesmo. A etimologia de diálogo remete à nossa natureza. “Dia”, no sentido de “por intermédio de”, “um com o outro, um contra o outro”; “logos”, palavra. Sextus Empiricus, como expoente do ceticismo pirrônico, defendia que qualquer argumento despertava simultaneamente um contra-argumento de igual intensidade e magnitude. É uma conversa dialética constante e eterna entre tese e antítese.
Há outra confissão pessoal sobre isso. Quando fundamos a Empiricus , eu tinha uma convicção muito forte, que era também um desejo. Acreditava que, se e quando crescêssemos a Companhia, poderia fazer um research de altíssimo nível, sem paralelos no Brasil. Isso decorreria muito pouco do nosso mérito próprio. Minha ideia, que sinceramente nem sei se era partilhada pelos meus sócios, era de que, se ficássemos relevantes, todos os gestores, os demais analistas, os CEOs, CFOs, fundadores iam querer falar conosco. Isso nos daria acesso a um nível de informação muito diferenciado. E mudaria por completo a qualidade da análise, em nosso favor. É como se nós mesmos pudéssemos contar com outras várias equipes de análise competentes, virando uma espécie de hub disseminador do que há de melhor por aí. Desenvolveríamos tentáculos além de nossos próprios corpos, virando polvos professores espalhando a boa educação financeira a partir de uma informação anteriormente inacessível. A dinâmica, somada à nossa própria capacidade de análise, de uma equipe bem grande e dedicada, nos daria vantagens estruturais, que, na verdade, são vantagens do nosso próprio assinante. O polvo desenvolvendo uma relação de amizade com os humanos, como naquele documentário indicado ao Oscar — achei uma piração, mas gostei; sensível.
Leia Também
Veja quanto o seu banco paga de imposto, que indicadores vão mexer com a bolsa e o que mais você precisa saber hoje
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Ao longo dos anos, sobretudo os mais recentes, quando passei a me dedicar mais formal e pragmaticamente à institucionalização da Empiricus, desenvolvemos uma importante interlocução com participantes de mercado. Tenho, inclusive, tornado públicas algumas dessas conversas, no RadioCash, que, para minha surpresa, se tornou rapidamente um dos podcasts de negócios mais ouvidos do Brasil.
No episódio de hoje, por exemplo, conversamos com Rogério Xavier. Foi uma aula, como era de se esperar. Rogério é um gênio. E eu discordo fortemente das interpretações usuais de que ele é um pessimista. O bom gestor — e certamente ele é um dos melhores — é necessariamente um realista.
Sugiro fortemente que você escute o podcast todo. Mas quero aqui destacar duas de suas conclusões — e eu me permito aqui, com humildade, a uma certa interpretação sobre o que conversamos.
Em determinado momento, Rogério diz que as inflações implícitas no Brasil estão irresistíveis. E, de algum modo, estende o otimismo para as NTN-Bs. As coisas são um tanto simples e bastante pragmáticas. Quase podemos ter certeza de que o juro real não será este que está hoje praticado na ponta longa da curva. O Brasil simplesmente não consegue pagar um juro real de 5%.
Se as coisas derem certo, então teremos arrumado o fiscal e o juro real será menor. Se as coisas derem errado, entramos em dominância fiscal e, logo, o Banco Central joga a toalha. Ele não vai quebrar o Tesouro. Vamos ter inflação alta e juro real baixo. Como foi no passado e como, em alguma medida, é na Argentina hoje.
Vale coisa parecida sobre a Bolsa. “Vai andar nominalmente.” Se as coisas forem mal, as pessoas perdem confiança na moeda local e passam a comprar ativos reais. E, então, as empresas passam a ter mais valor. E se as coisas forem bem… bom, terão ido bem.
Vale a pena ouvir tudo, claro. Quero aproveitar para dar spoiler das próximas duas edições. Já gravamos também com Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização do governo e fundador da Localiza, e Fabio Okumura, gestor da Gauss.
Okumura explicou suas três mudanças mais recentes. Trocou casos de growth por value em Bolsa, sobretudo lá fora. No pós-recessão e com yields subindo, o value tende a andar melhor. Houve uma redução da posição comprada em dólar, porque esse excepcionalismo americano não deve durar para sempre. Os EUA se destacaram demais frente ao resto do mundo, com vacinação em massa e muito estímulo fiscal e monetário.
Era impensável, mas hoje os Estados Unidos crescem mais do que a China — sim, é um fato objetivo. As coisas devem ser normalizadas também fora dos EUA no tempo e, com esse catch-up dos demais países, o dólar pode não ficar mais tão forte. Esse também é um dos motivos para o otimismo com as ações japonesas.
E a Gauss também acaba de comprar NTN-B, porque existe muito prêmio na curva. “Esse Orçamento, e até podemos discutir a qualidade dele, claro, mas ele será aprovado. A coisa não pode se esgarçar indefinidamente.”
Para encerrar, um pouco da conversa com o Salim. É sempre muito enriquecedor falar com ele. Salim pensa com a própria cabeça — o que é raro. E parece mais realista e completo depois de ter passado pelo governo, conhecido a máquina por dentro. Ele lembra Roberto Campos: não se preocupe; o Brasil não corre o risco de dar certo. Descarta a privatização dos Correios, mas vê chances da Eletrobras. Nas entrelinhas, conseguimos encontrar uma dose de otimismo, pois ninguém consegue ganhar o debate contra si mesmo.
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros