Como ações de empresas boas em fusões e aquisições podem sair lucrando com a crise
Bons alocadores de capital enxergam na crise uma oportunidade de comprar boas empresas a preços atrativos e fortalecer os seus negócios, abocanhando participação de mercado e neutralizando seus concorrentes

Já não é (ou não deveria ser) segredo para ninguém que o Brasil está em crise há muitos anos. A estagnação e o retrocesso podem ser observados em diversos setores da economia e expõem o tamanho do problema que temos em mãos.
Contudo, engana-se quem pensa que crise é sinônimo apenas de desesperança, desestabilidade, perda de poder de compra e tantas outras mazelas associadas a esses graves problemas.
Bons alocadores de capital enxergam na crise uma oportunidade de comprar boas empresas a preços atrativos e fortalecer os seus negócios, abocanhando participação de mercado e neutralizando seus concorrentes. É a velha máxima: em toda dificuldade existe uma oportunidade.
Na onda do financial deepening e embaladas pela crise dos últimos anos, as fusões e aquisições (M&A) estão cada vez mais frequentes. De acordo com o relatório divulgado pela empresa de consultoria PwC, batemos o recorde histórico de transações no ano passado, com volume 14% superior ao de 2019. Arrisco dizer que repetiremos a dose este ano.
Duas coisas em especial têm me chamado a atenção quando o assunto é M&A:
- oportunidades que têm sido destravadas em determinados segmentos da economia
- e um “novo método” de transação que tem um toque de subjetividade, mas tem se mostrado tão ou mais efetivo que a primeira estratégia.
Sobre o primeiro ponto, não poderia deixar de mencionar o segmento de saúde. Além de ser um item aspiracional para a maioria dos brasileiros, a saúde suplementar possui um forte empurrão secular, o envelhecimento da população, as mudanças socioeconômicas associadas a ele e a ainda grande subpenetração dos planos de saúde privados — menos de 25% da população brasileira possui assistência médica privada.
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Nesse aspecto, duas empresas têm se destacado como as grandes consolidadoras: Hapvida e NotreDame Intermédica. Com operações verticalizadas e depois de diversas aquisições, as empresas avançaram de uma participação de mercado de 5% e 6%, respectivamente, em 2014, para 9% cada uma até junho deste ano. Valendo-se de estratégias de consolidação parecidas e atuação complementar, anunciaram inclusive uma fusão entre elas, o que criará uma gigante do segmento de saúde, com atuação nacional e sinergias importantes no âmbito comercial, operacional, etc. Através da aplicação da velha (e eficiente) receita de bolo, teremos uma empresa combinada de mais de R$ 100 bilhões de valor de mercado, aumento de representatividade nos índices, 18% de participação de mercado e um mar de oportunidades pela frente.
O segundo ponto é um tempero mais elaborado que tem sido aplicado nos últimos deals. O tal do “acqui-hiring”, a aquisição de uma determinada companhia combinada com a contratação dos seus principais executivos, que farão parte do corpo diretivo do novo grupo. Aqui, mais importante do que a receita combinada ou as sinergias mais óbvias, a genialidade dos fundadores é considerada, de modo que se abra um leque importante de novas avenidas de crescimento ainda não mapeadas. Eu sei, a subjetividade é grande, mas o potencial também tem se mostrado animador.
Dos mais recentes, destaco três:
Anunciada no ano passado, a aquisição da Reserva pela Arezzo trouxe também a cabeça criativa do Rony Meisler, fundador da Reserva, que atualmente é CEO da nova AR&Co, braço de vestuário e lifestyle do grupo. Um exemplo emblemático do que já foi feito é o patrocínio da marca no banco de reserva do Maracanã em 2015, que gerou awareness e visibilidade da mídia pela ousadia — afinal, o local nunca havia sido considerado pelas demais marcas pois não era visível para os telespectadores. Ainda é cedo para saber o que sairá da cabeça do Rony, mas, em poucos meses no cargo, ele já possui um amplo escopo para maximização de valor da companhia através do mapeamento de diversas frentes de atuação, como posicionamento de marca, ampliação de categorias e sortimento, além do foco na experiência do consumidor.
Também no ano passado, o Grupo SBF (Centauro) anunciou a aquisição da NWB, produtora que tem entre seus canais de maior destaque o Desimpedidos, um dos maiores canais de futebol do mundo. Para tangibilizar, cada vídeo novo do influenciador digital Fred é acessado por mais de 200 mil pessoas em poucas horas. Essa será uma arma poderosa para engajamento de audiência e redução de custo de atração de clientes para o Grupo SBF. Nesse escopo, o Fred (e sua criatividade) serão peças centrais no desenvolvimento do ecossistema SBF.
E, por último, mas não menos importante, destaco a recente transação entre a Petz e a Zee.Dog. Com a missão de ser reconhecida como o melhor ecossistema da categoria no mundo até 2025, a Petz trouxe para dentro de casa mais do que R$ 230 milhões em faturamento, mas também a irreverência dos irmãos Diz, cofundadores da Zee.Dog. Através de tecnologia, design e foco no cliente, criaram um branding poderoso no mundo animal, que impulsionou a companhia para atuar em mais de 45 países e se tornar a queridinha do mundo pet. Agora dentro do ecossistema Petz, os cofundadores da Zee.Dog e demais executivos terão a oportunidade de deixar sua imaginação fluir para elevar a um novo patamar a relação dos tutores e seus pets pelas lentes da líder incontestável do setor. No forno já temos o Zee.Dog Kitchen, uma alternativa saudável para a alimentação dos animais. O que mais pode vir dessa união? Mais produtos de marca própria, expansão internacional, pet sitter, day care, dog walker?
Enfim, não se sabe qual seria a abordagem mais correta (ou se ela de fato existe). O que sabemos é que, independentemente da estratégia, os bons alocadores de capital vão continuar utilizando sua criatividade para se sobressair, entregando mais crescimento e novas oportunidades para suas empresas. Seja em um dia ensolarado ou em uma fria quarta-feira.
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