🔴 [NO AR] TOUROS E URSOS: COMO FLÁVIO BOLSONARO MEXE COM A BOLSA E AS ELEIÇÕES – ASSISTA AGORA

Felipe Miranda: precisamos falar sobre a caixa-preta dos IPOs

19 de julho de 2021
10:31 - atualizado às 10:32
IPO, oferta de ações
Imagem: Shutterstock

Eu tinha vergonha de dizer à minha mãe que trabalhava no mercado financeiro. Eu preferia dizer que tocava piano num bordel.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Autor desconhecido

IPO é um bicho estranho.

A prescrição clássica e politicamente correta das finanças é sugerir ao investidor um horizonte de longo prazo. Concordo com ela. Não porque não gostaria de ganhar dinheiro no curto prazo. Prefiro ficar rico hoje a me endinheirar amanhã. O problema é que é impossível, dada a aleatoriedade do processo de um dia para o outro. Então, só nos restam disciplina e paciência, como uma espécie de troféu de consolação.

Mas, no IPO, a coisa é diferente. A literatura acadêmica possui farta evidência de que, na média, operações de abertura de capital rendem menos do que os índices de ações. O estudo seminal na área é “The Long-Run Performance of Initial Public Offerings”, de Jay Ritter. O próprio Ritter atualiza periodicamente o trabalho original, com conclusões semelhantes. Vários outros artigos replicaram a abordagem mundo afora, chegando aos mesmos resultados. Nós mesmos rodamos o procedimento para o Brasil e o publicamos no Palavra do Estrategista. Deu a mesma coisa. 

De forma sintética, se você participar de todos os IPOs mundo afora ou no seu país preferido e carregar as ações por alguns anos, vai perder para a média do mercado.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Em contrapartida, também há suficiente literatura acadêmica apontando o fenômeno de underpricing em IPOs, definido como uma alta sistemática, persistente e estatisticamente superior à média no mercado no primeiro dia de negociação. Eu e o Rodolfo já escrevemos artigo para o caso brasileiro com iguais conclusões.

Leia Também

Pragmaticamente, se você comprar todos os IPOs e vendê-los no leilão de fechamento do pregão de estreia, você tende a ganhar dinheiro. Faz parte da festa.

Nem quero aqui entrar nas potenciais variáveis explicativas para cada um dos fenômenos. São apenas observações objetivas de como a coisa tende a ir mal no longo prazo e bem no curto.

Nada disso é novidade. Meu mais recente receio, porém, é que, com essa história de preterir a alocação ao varejo cuja opção é pelo não lock-up, ou seja, aquele impedido de vender no primeiro dia e obrigado a carregar por mais tempo, ninguém está ganhando dinheiro de verdade com aberturas de capital no Brasil, com exceção de um seleto grupo: os amigos do rei. Como não moramos em Pasárgada, fico preocupado.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Se você tem altos fees e baixa transparência, o terreno é fértil para a falta de isonomia e repartições pouco afeitas à equidade. O investidor de varejo tende a se achar preterido, como se esse fosse um jogo em que só e todos os institucionais ganhassem.

O buraco é mais embaixo. Explico como a banda toca na prática. Começo por um exemplo recente.

Na semana passada, o IPO da Smartfit chamou atenção. A ação subiu 35% no primeiro dia — com os devidos méritos. Fica aqui registrada mais uma vez a admiração pela empresa e pelo Edgard em particular. A questão é outra.

Foi um dia, no geral, fraco de mercado. Algumas gestoras de ações viram a cota de seu fundo subir quase 2%. Por quê? Basicamente, porque mantinham proximidade e relacionamento institucional com o banco coordenador da oferta, que fez uma alocação pesada no IPO para essas casas amigas. Pode parecer pouco, mas subir 2% num pregão em que todo mundo vai mal ajuda a definir trajetórias.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Não é um caso isolado. O exemplo da Smartfit é só uma ilustração de uma dinâmica corriqueira, disseminada e, ainda mais curioso, aceita como normal no mercado financeiro. Como há enorme arbitrariedade no processo e o banco coordenador aloca com quem quiser, ficamos com dois grupos distintos em IPOs bastante disputados: aqueles que operam muito e geram muita corretagem, trazem deals para o banco, têm relações pessoais com a tchurminha e, às vezes, salvam os bancos de outras operações ruins (mais sobre isso no parágrafo a seguir) acabam muito alocados; os demais, levam quase nada.

A contrapartida de ser muito alocado é ter uma obrigação, às vezes tácita, às vezes um pouco mais explícita, de ajudar a viabilizar um outro IPO meio micado, para salvar o fee gordo do banco amigão. E, então, você vê aquela empresa que quase não tem receita sendo listada na Bolsa por um valuation impensável. Você vai tentar entender a aberração e descobre um cheque voando vindo da turma do Leblon de R$ 100 milhões. Como as gestoras têm, sei lá, R$ 10 bilhões de PL, aquilo pesa pouco. Começa o papo de que o smart money carioca está comprando, atrai um segundo time para a operação, bingo! O IPO sai, o banco fica feliz, a empresa acaba capitalizada (e consegue seu turnaround e plano de crescimento, para provar a reflexividade do Soros), a gestora faz a moral com o banco e se candidata para o próximo IPO quente.

Consigo entender o fenômeno. A vida é meio assim, de relações pessoais e respostas a incentivos. Também não tenho simpatia pela figura da freira no meretrício. Mas, objetivamente, essa não me parece uma prática alinhada a um mercado de capitais isonômico, transparente e com princípios elevados de ESG, que, aliás, são ótimos para sair em capa de revista, mas muito menos praticados nos bastidores. O sol será sempre o melhor detergente. Talvez tenha chegado a hora de darmos mais transparência aos próximos de alocação em IPOs.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje

15 de dezembro de 2025 - 7:47

O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026

VISÃO 360

Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?

14 de dezembro de 2025 - 8:00

Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações

12 de dezembro de 2025 - 8:26

Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas

SEXTOU COM O RUY

Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas

12 de dezembro de 2025 - 6:07

O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje

11 de dezembro de 2025 - 8:23

A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…

10 de dezembro de 2025 - 19:46

Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje

10 de dezembro de 2025 - 8:10

Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje

9 de dezembro de 2025 - 8:17

Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?

9 de dezembro de 2025 - 7:25

Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade

RALI, RUÍDO E POLÍTICA

Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza

8 de dezembro de 2025 - 19:58

A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje

8 de dezembro de 2025 - 8:14

Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana

TRILHAS DE CARREIRA

É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira

7 de dezembro de 2025 - 8:00

As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas

5 de dezembro de 2025 - 8:05

O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro

SEXTOU COM O RUY

Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos

5 de dezembro de 2025 - 6:02

Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje

4 de dezembro de 2025 - 8:29

Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje

3 de dezembro de 2025 - 8:24

Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje

2 de dezembro de 2025 - 8:16

Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros

2 de dezembro de 2025 - 7:08

A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: Bolhas não acabam assim

1 de dezembro de 2025 - 19:55

Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso

DÉCIMO ANDAR

As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora

30 de novembro de 2025 - 8:00

Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar