A qual dessas 5 tribos de investidores você pertence?
Descubra que tipo de investidor você é — coelho, caçador, assassino, conhecedor ou corsário — e como uma boa execução é a chave para se obter bons retornos no mercado

Olá, seja muito bem vindo ao nosso papo de domingo que às vezes é sobre tecnologia, às vezes sobre investimentos, mas raramente sobre algo interessante.
Se você já investiu em renda variável em algum momento da sua vida, deve ter se perguntado o que fazer com uma posição perdedora.
Vender? Não fazer nada? Comprar mais?
Bom, recentemente eu li um livro inteiro basicamente sobre isso, e ele é incrível.
Falo do Art of Execution, do investidor Lee Freeman-Shor. Infelizmente, disponível apenas em inglês.
Meu objetivo, hoje, é fazer um resumo para você sobre o que Lee pensa a respeito do assunto.
Leia Também
Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico
O desafio de Shor
O livro começa com uma historinha, um desafio que Lee propôs a 45 dos melhores investidores do mundo.
Ao longo de sete anos, os amigos de Lee receberam alguns milhões de dólares para investir, sob uma condição: eles poderiam investir apenas em suas 10 melhores ideias.
Na teoria, é o que todos deveríamos fazer, não é mesmo? Investirmos por muito tempo, apenas em nossas melhores ideias.
Na prática, porém, as coisas não costumam sair como o planejado.
Entre os 45 amigos de Lee, a maioria fez escolhas péssimas, apesar de serem grandes gestores. Ideias que simplesmente tiveram performances ruins.
Ainda sim, a maioria deles acabou fazendo muito dinheiro ao final do período.
Como?
Em resumo, com uma boa execução. Navegar bem nos humores do mercado se mostrou muito mais importante do que a capacidade de selecionar de antemão as próximas grandes valorizações.
Mas ok, execução é genérico demais.
Para o tornar o negócio objetivo, Lee classificou o comportamento de seus gestores em cinco tribos.
São elas (perdoe as traduções): coelhos (rabbits), caçadores (hunters), assassinos (assassins), conhecedores (connaisseurs) e corsários (raiders).
As três primeiras categorias explicam a maneira como os investidores lidam com suas perdas, enquanto as duas últimas, como eles gerem seus ganhos.
Coelhos são os investidores mais passivos, aqueles que não fazem absolutamente nada com seus trades perdedores.
Por se tratarem de investidores profissionais, o "não fazer nada" está longe de ser a postura tranquila de um investidor que mira um longo horizonte de tempo.
Na verdade, os coelhos estavam mais preocupados em estarem certos do que em ganhar dinheiro.
Para todas as suas posições perdedoras, eles possuíam uma série de bons argumentos para explicar como o mercado ainda não havia percebido o tamanho da oportunidade que eles tinham visto.
Naturalmente, os coelhos cultivavam uma tendência a terceirizar a culpa por suas decisões ruins de investimento.
Em resumo, eram investidores com dificuldades em se adaptar, em se questionar se não existia nenhum furo em suas teses de investimento.
Os assassinos, na definição de Lee, eram os investidores que rapidamente vendiam suas posições perdedoras.
Raramente acumulavam prejuízos maiores do que 20%, liquidando rápido a fatura.
Faz sentido, não?
Mais ou menos. Lee descobriu que os assassinos tinham o costume de cortar para os dois lados. Eles vendiam rápido não só os seus prejuízos, mas também os seus lucros.
No geral, os assassinos jogaram um jogo de upsides e downsides limitados, perdendo 20% e ganhando 20%; como os erros naturalmente incidem com maior frequência que os ganhos, foram outro grupo a performar mal na amostra.
Os caçadores
Confesso que, lendo o livro, torci por eles.
Os caçadores eram os espécimes mais raros entre os investidores selecionados por Lee. Eram aqueles com o sangue frio de frequentemente aumentarem posições quando o mercado caía.
É o clássico conceito de Warren Buffett. Se você gosta de hambúrgueres e eles estão ficando mais baratos, você deveria ficar feliz e comprar mais deles.
Infelizmente, na vida real, Lee descobriu o quanto é difícil imitar o mago de Omaha. A maioria dos poucos caçadores performou mal.
Na maioria das vezes em que eles acreditaram estar comprando um excelente negócio a preços cada vez menores, estavam na verdade fazendo o famoso "preço mérdio".
Assim como Lee, ainda nutro carinho pelos caçadores, podendo sintetizar em três lições a maneira de evitar a maldição do preço mérdio.
(i) Tenha um limite de perdas cumulativas. É um absurdo pensar que você pode perder mais do que 100% do capital investido ao aumentar posições conforme uma ação cai. Se imponha limites.
(ii) Se a empresa em questão estiver muito alavancada, evite a tentação de aumentar sua posição. Ela pode sim sair dessa situação, mas no geral, esse é um tipo de caso que tende a acabar mal.
(iii) Se houver um risco latente de disrupção, não aumente sua posição num drawdown. O mercado demora, mas quando ele decide apostar na obsolescência de algo, a inteligência coletiva costuma superar a individual.
E os ganhos, como lidar?
Na classificação de Lee, nos restam ainda duas tribos, os connaisseurs ("conhecedores" é uma tradução horrível, perdão) e os corsários (raiders).
Raiders eram a versão vencedora dos coelhos. Foram investidores que selecionaram bem seus 10 cavalos, mas realizaram rapidamente seus lucros.
Estavam tão preocupados em estarem corretos, que embolsavam lucros de 20-30% como um "certificado de competência" e deixavam na mesa os grandes upsides.
Enquanto os connaisseurs eram simplesmente aqueles que deixavam suas posições vencedoras rolando por muito tempo.
Mesmo quando o mercado dizia estarem caras, prestes a serem impactadas por "X, Y, Z...", os connaisseurs mantinham a serenidade e a humildade de reconhecer que existem muitas coisas que sequer não sabemos que não sabemos.
Os connaisseurs, basicamente, assumem que nunca poderão prever o próximo iPhone.
Conclusão
A esta altura, eu estava me perguntando como juntar todas as peças do quebra cabeças de tribos de Lee.
Imagino que você também.
O livro é excelente, e recomendo muito a leitura se você estiver confortável com o idioma.
A única conclusão geral que tirei é sobre a importância da execução. Não à toa, o livro se chama Arte da Execução… mas geralmente dedicamos mesmo um tempo muito maior à ideia do que à execução.
Concluo também que os coelhos são a pior das tribos, e precisamos lutar contra isso enquanto investidores. Nossas paixões podem nos acompanhar no almoço de domingo, não podem se impor quando estivermos em frente ao home broker.
Precisamos fazer alguma coisa, mesmo que a escolha seja não fazer nada, como os caçadores o fazem nos três cenários que mencionei.
Não fazer nada é válido enquanto escolha consciente, depois de nos perguntarmos se não estamos influenciados por nossas paixões.
Além disso, é importante nos educarmos a respeitarmos nossos trades vencedores. Alguns poucos acertos podem pagar a conta de uma dezena de pequenos erros.
Até a próxima,
Contato
Se você gostou dessa coluna, pode entrar em contato comigo através do e-mail telaazul@empiricus.com.br, com ideias, críticas e sugestões.
Também pode conhecer o fundo de investimentos que implementa as ideias que eu, o Rodolfo Amstalden e Maria Clara Sandrini nos dedicamos semanalmente a produzir.
E claro, siga acompanhando meu trabalho através do Podcast Tela Azul, em que, todas as segundas-feiras, eu e meus amigos André Franco e Vinicius Bazan falamos sobre tecnologia e investimentos.
Aproveite para se inscrever no nosso Telegram; todos os dias, postamos comentários sobre o impacto da tecnologia no mercado financeiro (e no seu bolso).
Um abraço!
Venda da Eletronuclear é motivo de alegria — e mais dividendos — para os acionistas da Eletrobras (ELET6)
Em um único movimento a companhia liberou bilhões para investir em outros segmentos que têm se mostrado bem mais rentáveis e menos problemáticos, além de melhorar o potencial de pagamento de dividendos neste e nos próximos anos
Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança
Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução
Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)
No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas
Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?
Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores