🔴 EVENTO GRATUITO: COMPRAR OU VENDER VALE3? INSCREVA-SE

Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Trabalhou com produção de reportagem na TV Globo e foi editora de finanças pessoais de Exame.com, na Editora Abril.
Fechamento dos mercados

Petrobras despenca 20% e derruba Ibovespa em quase 5%, na maior queda do índice desde o ‘Moro Day’

Interferência do governo na presidência da Petrobras arrasta ações da petroleira e de outras estatais; dólar e juros fecham em alta com aumento do risco-país

Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
22 de fevereiro de 2021
19:08 - atualizado às 19:09
Petrobras
Indicação do governo para a presidência da estatal fez companhia perder R$ 100 bilhões em valor de mercado. Imagem: Shutterstock

Quando o presidente Jair Bolsonaro usou suas redes sociais para divulgar a indicação do general Joaquim Silva e Luna para a presidência da Petrobras, na última sexta à noite (19), os investidores já sabiam muito bem como seria o pregão desta segunda-feira (22).

Na hora do anúncio, que foi entendido como uma intervenção governamental na petroleira, com a intenção de possivelmente interferir na política de preços, o mercado já estava fechado. E, naquele dia, as ações da estatal já haviam apresentado recuos da ordem dos 7%, diante de ameaças de Bolsonaro ao atual presidente, Roberto Castello Branco.

Mas tão logo Silva e Luna foi indicado, os recibos de ações (ADRs) da estatal negociados na bolsa de Nova York começaram a despencar, assim como o EWZ, ETF de ações brasileiras transacionado lá fora. Estava contratada uma segunda-feira vermelha para a bolsa brasileira.

Dito e feito. O Ibovespa amanheceu hoje em queda de mais de 4%, puxado principalmente pelas ações da Petrobras, que já começaram o dia em queda de dois dígitos, diante de uma interferência lida como negativa para a empresa e seus acionistas.

Outras estatais também apresentavam quedas substanciais, diante do risco de contágio dessa intervenção política também em companhias como Banco do Brasil e Eletrobras. Mas durante todo o dia, a maioria das ações do Ibovespa operou no vermelho, porque houve, no mercado, uma percepção de mudança de chave no país: a passagem para um governo mais intervencionista.

Esse abandono de um perfil mais liberal em relação às estatais fez com que o mercado passasse a se questionar também a respeito da postura do governo em relação a reformas, privatizações e responsabilidade fiscal. Tanto que o risco-país disparou na parte da manhã, afetando também juros e dólar.

Em suma, a decisão do governo não foi lida como algo que se limita a Petrobras, e foi isso que deu a tônica para as negociações no dia de hoje.

Petrobras desaba 20%

A parte da manhã foi bastante negativa para todos os mercados. O Ibovespa passou boa parte do tempo operando em queda de mais de 5%, na faixa dos 112 mil pontos, e na mínima chegou a recuar 5,73%, para 111.650,26 pontos.

Mas, na parte da tarde, reduziu as perdas com a virada das siderúrgicas para alta, chegando a tocar novamente na faixa dos 114 mil pontos. Mesmo assim, o Ibovespa ainda fechou com uma queda substancial de 4,87%, aos 112.667,70 pontos, puxado, sobretudo, pelo péssimo desempenho das ações da Petrobras. Foi a maior queda do índice em um único dia desde 24 de abril do ano passado, com a saída de Sérgio Moro do governo.

As ações da estatal passaram o dia inteiro com tombo próximo dos 20%, liderando as quedas do Ibovespa. Ao fim do pregão, as ações ordinárias (PETR3) marcavam perda de 20,48%, a R$ 21,55, e as preferenciais (PETR4) apresentavam recuo de 21,51%, a R$ 21,45.

Com isso a companhia já acumula uma perda de valor de mercado da ordem dos R$ 100 bilhões, somando-se os quase R$ 30 bilhões perdidos na sexta-feira com os cerca de R$ 70 bilhões perdidos hoje.

A terceira maior baixa do índice ficou por conta dos papéis do Banco do Brasil (BBAS3) que despencaram 11,65%, para R$ 28,83. O mercado volta a temer pela permanência do atual presidente do banco, André Brandão, cuja saída chegou a ser aventada, recentemente, após duras críticas de Bolsonaro à política de redução de custos da companhia.

Outra ação que foi alvo de especulação no sentido de ingerência estatal foi a da Eletrobras, com as dúvidas que foram levantadas a respeito da sua privatização. Além disso, Bolsonaro chegou a falar, no fim de semana, sobre intervir também no setor elétrico.

Mesmo assim, as perdas da estatal foram limitadas. Depois de caírem quase 10% na mínima do dia, as ações ordinárias (ELET3) fecharam em leve baixa de 0,69%, a R$ 28,91, e as preferenciais (ELET6) recuaram apenas 0,17%, a R$ 29,24.

Dólar e juros em alta

Já o dólar à vista fechou em alta de 1,27% a R$ 5,4539. Depois de subir mais de 2% mais cedo, batendo R$ 5,53 na máxima, o Banco Central atuou no mercado de câmbio, a fim de dar alívio à flutuação da moeda americana.

Os juros futuros fecharam em alta em todos os vencimentos com a pressão do dólar e o aumento do risco-país. Veja o desempenho dos principais contratos:

  • Janeiro/2022: de 3,44% para 3,53% (+2,62%)
  • Janeiro/2023: de 5,13% para 5,325% (+3,80%)
  • Janeiro/2025: de 6,69% para 6,92% (+3,44%)
  • Janeiro/2027: de 7,33% para 7,57% (+3,27%)

A faceta mais intervencionista em estatais revelada pelo governo brasileiro levou o CDS de 5 anos do Brasil (Credit Default Swap, ativo cuja cotação funciona como medida do risco-país) a atingir 188 pontos, nível mais alto desde novembro.

Os juros e o câmbio passaram a precificar este cenário de maior risco Brasil e duas elevações de 0,50 ponto percentual na taxa Selic já nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), a serem realizadas em março e maio.

Lá fora, as bolsas americanas fecharam com sinais mistos, porém majoritariamente negativos. O Dow Jones subiu 0,09%, enquanto o S&P 500 caiu 0,77% e o Nasdaq recuou 2,46%. As bolsas europeias, por sua vez, fecharam em queda.

Corretoras recomendaram venda de Petrobras e outras estatais

Temendo o uso da Petrobras para medidas populistas pelo presidente Jair Bolsonaro, analistas de diversas instituições financeiras mudaram a recomendação das ações da Petrobras para venda desde o fim de semana, reduzindo também o preço-alvo dos papéis.

Eles temem que, além de uma interferência na política de preços potencialmente danosa para a companhia, a provável troca de presidente também prejudique a política de venda de ativos e desalavancagem da companhia.

A Petrobras tem planos de vender refinarias para focar ainda mais na exploração do pré-sal, mas essa estratégia pode ser alterada, uma vez que a posse das refinarias é essencial para que a companhia consiga manter uma política de preços mais "social" e descolada da cotação internacional do petróleo.

Além disso, a forma como foi feita a indicação do governo aponta para um grave problema de governança na companhia.

O risco de contaminação da "guinada intervencionista" do governo para outras estatais levou analistas a também rebaixarem a recomendação para ações de companhias como Eletrobras e Banco do Brasil.

O combustível da discórdia

As ações da Petrobras já vinham sendo afetadas por um conflito aberto entre o presidente Jair Bolsonaro e o atual presidente, Roberto Castello Branco.

A política de preços da estatal vinha seguindo as cotações do mercado internacional, o que já resultou em quatro reajustes dos preços dos combustíveis nas refinarias apenas neste ano.

O último reajuste, anunciado na quinta-feira (18), foi a gota d'água para o presidente, que vem tentando acomodar as demandas feitas por uma de suas importantes bases de apoio, os caminhoneiros. Eles se queixam dos altos preços do diesel e mais de uma vez já ameaçaram entrar em greve.

Na sua tradicional live de quinta-feira, Bolsonaro reclamou do novo reajuste dos combustíveis e fez uma ameaça velada a Castello Branco, dizendo que a fala do CEO da Petrobras sobre a companhia "não ter nada a ver com os caminhoneiros" teria consequências. No dia seguinte, as ações da estatal recuaram em torno de 7%.

Na sexta à noite, Bolsonaro anunciou nas redes sociais que o governo estava indicando o general Joaquim Silva e Luna para a presidência da Petrobras, o que foi entendido pelo mercado como uma interferência do governo na cúpula da companhia.

O mandato de Castello Branco à frente da companhia termina em março, mas sua recondução para o cargo por mais dois anos já era esperada. Com a indicação de Silva e Luna, seu nome deverá passar por votação do conselho, uma vez que o governo não tem poder de simplesmente mudar o CEO da Petrobras. Mas como a maioria dos 11 membros do conselho são indicados do governo, é provável que a mudança seja aprovada.

O mercado entendeu o movimento como uma tentativa de Bolsonaro de interferir na política de preços da estatal. O presidente diz que só quer maior transparência e previsibilidade para os preços, mas o histórico de interferências governamentais na precificação da companhia deixou marcas.

Na própria sexta-feira, os recibos de ações (ADR) da Petrobras negociados na bolsa de Nova York chegaram a recuar 9% na mínima no after hours, uma espécie de prorrogação do pregão regular. Hoje, antes da abertura do mercado, as ADRs chegaram a recuar 17%, e o EWZ, ETF que representa as ações brasileiras, chegou a cair 5%.

No fim de semana, Bolsonaro atacou novamente Castello Branco, disse que mais mudanças virão por aí e indicou que, como governante, precisa trocar peças que não estão dando certo. O presidente ainda disse que "Vamos meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema também."

Mas nem tudo foram lágrimas

Dentre as poucas altas do Ibovespa nesta segunda-feira destacaram-se as ações das Lojas Americanas (LAME4) e da B2W (BTOW3), que anunciaram, também na última sexta-feira, que estudam uma fusão das suas operações.

Os papéis preferenciais das Americanas dispararam 19,88%, fechando a R$ 28,95, maior alta do Ibovespa no dia. Já as ações da B2W subiram 1,15%, para R$ 89,67. Fora do Ibovespa, as ações ordinárias das Lojas Americanas (LAME3) tiveram uma estrondosa alta de 40,00%, fechando a R$ 26,39.

A união deve tornar a varejista mais comparável com suas concorrentes diretas, como Via Varejo e Magazine Luiza, que já operam com os negócios on-line e de lojas físicas integrados em uma única companhia.

A expectativa é que, no provável desenho da fusão, Lojas Americanas seja incorporada pela B2W, o que significaria a migração dos atuais acionistas de LAME4 (que não têm direito a voto) para uma companhia listada no Novo Mercado — o segmento de governança corporativa mais rigoroso da B3.

A segunda maior alta do Ibovespa no dia foi a das ações da Embraer (EMBR3), que avançou 7,40%, para R$ 12,48. Os papéis foram impulsionados pela notícia, divulgada na última sexta-feira, de que a companhia confirmou que de fato está discutindo a venda de aeronaves para a Lufthansa, negociação que já havia sido antecipada na quarta-feira (17) pelo CEO da aérea alemã.

Sobe e desce

Confira a seguir as maiores quedas do Ibovespa nesta segunda-feira:

CÓDIGONOMEVALORVARIAÇÃO
PETR4Petrobras PNR$ 21,45-21,51%
PETR3Petrobras ONR$ 21,55-20,48%
BBAS3Banco do Brasil ONR$ 28,83-11,65%
UGPA3Ultrapar ONR$ 21,07-7,83%
VVAR3Via Varejo ONR$ 12,94-7,57%

Veja também as maiores altas do índice:

CÓDIGO NOME VALOR VARIAÇÃO
LAME4 Lojas Americanas PNR$ 28,95+19,88%
EMBR3Embraer ONR$ 12,48+7,40%
CIEL3Cielo ONR$ 3,74+4,76%
PRIO3PetroRio ONR$ 92,19+3,71%
KLBN11Klabin unitR$ 30,57+3,21%

Compartilhe

MERCADOS HOJE

Esquenta dos mercados: Ibovespa futuro amanhece em alta e acompanha bolsas internacionais; dólar cai

24 de abril de 2024 - 6:46

RESUMO DO DIA: O Ibovespa futuro abriu a sessão em alta nesta quarta-feira. O índice acompanha o tom positivo das bolsas internacionais, que sobem em meio aos balanços do 1T24. Já o dólar à vista amanheceu em leve alta, mas passou a cair com o decorrer do pregão. O destaque da noite anterior foi o […]

DESTAQUES DA BOLSA

Exame bem feito: Fleury (FLRY3) acerta o diagnóstico com aquisição milionária e ações sobem 4%

23 de abril de 2024 - 14:04

A aquisição marca a entrada do Grupo Fleury em Santa Catarina com a estratégia B2C, o modelo de negócio direto ao consumidor

MERCADOS HOJE

Bolsa hoje: Ibovespa recua com pressão de Vale (VALE3) na véspera do balanço; dólar cai após dados nos EUA

23 de abril de 2024 - 7:06

RESUMO DO DIA: O Ibovespa até começou a semana com o pé direito, mas hoje faltou impulso para sustentar a continuidade de ganhos da véspera O Ibovespa fechou com queda de 0,34%, aos 125.148 pontos. O dólar à vista segue enfraquecido e terminou o dia a R$ 5,1304, com baixa de 0,74%. Por aqui, o […]

SEM PARAR

A bolsa nunca mais vai fechar? O plano da Bolsa de Valores de Nova York para negociar ações 24 horas por dia, sete dias da semana

22 de abril de 2024 - 17:22

O tema esquentou nos últimos anos por conta da negociação de criptomoedas e também por concorrentes da Nyse, que tentam registro para funcionar sem intervalo

EXCLUSIVO

Gestor do Quasar Agro (QAGR11) acusa Capitânia de “estratégia predatória” em disputa sobre FII com mais de 20 mil cotistas na B3 

22 de abril de 2024 - 13:32

A Capitânia solicitou no mês passado uma assembleia para discutir uma possível troca na gestão do fundo imobiliário

MERCADOS HOJE

Bolsa hoje: Com Petrobras (PETR4) e Wall Street, Ibovespa fecha em alta; dólar cai e volta para o nível abaixo de R$ 5,20

22 de abril de 2024 - 6:54

RESUMO DO DIA: A Petrobras (PETR4) deu o tom do pregão mais uma vez e impulsionou o principal índice a bolsa brasileira, mas sem desprezar o apoio de Wall Street. O Ibovespa fechou em alta de 0,36%, aos 125.573 pontos. Já o dólar seguiu a trajetória de queda e fechou a R$ 5,1687, com baixa […]

ANOTE NO CALENDÁRIO

Agenda econômica: Inflação é destaque no Brasil e nos Estados Unidos na mesma semana dos balanços das ‘big techs’

22 de abril de 2024 - 6:20

Também nos EUA serão publicados dados do PIB do primeiro trimestre e diversos outros indicadores, como pedidos de bens duráveis e a balança comercial norte-americana

BOLSA NA SEMANA

Petz (PETZ3) zera as perdas do ano enquanto CVC (CVCB3) despenca quase 15% — veja o que foi destaque na bolsa na semana

20 de abril de 2024 - 12:50

Ibovespa teve uma sequência de seis quedas com a disparada do dólar em meio às incertezas sobre os juros nos EUA

APERTA O PLAY!

Barril de pólvora — e inflação. Como o conflito no Oriente Médio e os juros nos EUA mexem com a bolsa e o dólar

20 de abril de 2024 - 11:02

O podcast Touros e Ursos recebe João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, para comentar a escalada das tensões entre Irã e Israel e a pressão inflacionária nos EUA

VOLTOU ATRÁS

Vitória dos acionistas? Petrobras (PETR4) pode distribuir parte dos dividendos extraordinários após sinal verde de Lula

20 de abril de 2024 - 9:58

O pagamento dos proventos foi aprovado pelo conselho de administração e deve ser votado na assembleia geral na próxima semana

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar