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Julia Wiltgen

Julia Wiltgen

Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Trabalhou com produção de reportagem na TV Globo e foi editora de finanças pessoais de Exame.com, na Editora Abril. Hoje é editora-chefe do Seu Dinheiro.

As teorias da internet

Nota de R$ 200: causa ou consequência da inflação? É mau sinal? Desbancamos os mitos

Lançamento da nova cédula deu o que falar e levou internautas a levantarem teorias acerca do seu significado; saiba o que faz e o que não faz sentido

Lobo-guará
Lobo-guará: animal ameaçado de extinção estampará cédula de R$ 200.

Ontem o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou a aprovação da criação de uma nota de R$ 200, que será lançada pelo Banco Central (BC) no fim de agosto.

Sempre que o BC lança uma nota ou moeda nova, mesmo que comemorativa, nós jornalistas já sabemos que a notícia vai dar bastante audiência. Por algum motivo, as pessoas amam saber sobre o novo numerário, ainda que os meios digitais de pagamento sejam cada vez mais utilizados e incentivados pelo próprio governo.

Infelizmente, nem sempre temos uma imagem da nova cédula ou moeda já à mão. Foi o caso da nova nota de R$ 200. O BC apenas anunciou que ela será estampada por um lobo-guará, mas a imagem oficial só será divulgada no fim de agosto, quando a cédula for lançada.

Não demorou a aparecerem memes com montagens do possível visual da nova nota, caso não fosse o lobo-guará: as imagens foram estampadas por capivaras, vira-latas caramelos e emas, além de personalidades como Neymar e Zeca Pagodinho. Surgiram enquetes informais nas redes sociais sobre quem ou o que deveria estampar a nova cédula, com muitos internautas investidos em dar seus palpites (eu particularmente adorei a seguinte):

Mas o lançamento da nova nota virou assunto em círculos que não costumam falar de finanças, investimentos e economia, e levantou também uma série de especulações e preocupações acerca dos seus motivos, bem como do seu significado.

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De acordo com o BC, o projeto não é novo - a imagem do lobo-guará, por exemplo, foi escolhida por votação popular em 2001. A justificativa para o lançamento estar sendo feito agora é de que o momento se tornou oportuno porque houve um aumento na demanda por papel-moeda desde março.

Com a eclosão da pandemia de covid-19, houve um aumento do entesouramento, isto é, da guarda de dinheiro em espécie pela população, não só no Brasil como em outros países, fenômeno típico dos momentos de incerteza econômica, marcados pelo temor do desemprego e da queda de renda, bem como pela dificuldade ou hesitação em consumir e colocar o dinheiro para circular.

O BC elencou, entre as possíveis causas do entesouramento no Brasil, os saques para a formação de reservas por pessoas e empresas e a diminuição no volume de compras no comércio em geral após o início do período de isolamento social - ou seja, os recursos passaram a circular menos.

Além disso, o pagamento do auxílio emergencial foi feito em grande parte em espécie e, segundo o BC, não retornou à circulação na velocidade esperada. A instituição alega, ainda, que não sabe por quanto tempo esse entesouramento pode perdurar.

O fantasma da inflação

Mas o brasileiro, gato escaldado que é, logo começou a fazer suposições sobre o "verdadeiro significado por trás" da nova nota. Nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp, além dos memes, surgiram também as teorias de que o lançamento da nota de valor de face mais alto era uma decorrência da inflação que desvalorizou o real desde o seu lançamento em 1994.

Houve quem dissesse que o mesmo fenômeno que fez as notas de R$ 1 e as moedas de um centavo pararem de ser emitidas agora faz surgir a nota de R$ 200. Muita gente relembrou os tempos de hiperinflação, quando o governo precisava consistentemente passar a emitir notas de valores de face mais altos porque o dinheiro perdia o valor muito rapidamente. Pipocaram nas redes fotos de notas de cruzeiros e cruzados. Houve até quem dissesse que a nota de R$ 200 causaria inflação (!).

Mas será que essas teorias e o paralelo com a inflação fazem sentido? O temor se justifica?

"Primeiro que o lançamento da cédula em si não causará inflação. A emissão de cédulas de maior valor de face é a consequência de um processo inflacionário, nunca a causa. É curioso as pessoas fazerem esse paralelo com a época da hiperinflação", diz o Fernando Ribeiro Leite, professor do Insper.

Para ele, faz sentido sim que as pessoas vejam o lançamento de uma nota de valor de face mais alto como sintoma de inflação ou que façam o paralelo com o fenômeno do desaparecimento das moedas de um centavo e notas de um real.

Afinal, evidentemente houve inflação desde o lançamento do Real, em 1994, até agora. Mas esse processo inflacionário foi natural, especialmente para uma economia emergente como a nossa, e não deveria preocupar.

Pelo contrário. Preocupante seria se tivéssemos uma economia com inflação baixa ou mesmo deflação no longo prazo - seria sintoma de uma economia doente, sem crescimento.

"A inflação que tivemos até agora está dentro da normalidade para uma economia como a nossa. O lançamento de uma nota de R$ 200 é só uma conveniência, não significa que estamos vivendo um processo inflacionário agudo, ou mesmo crônico. Ao contrário, teremos, neste ano, uma das menores inflações da era do Real", explicou Leite.

De fato, devido à tremenda queda de demanda causada pela crise do coronavírus, a inflação esperada para este ano é de apenas 1,67%, subindo para 2,99% no ano que vem, de acordo com o último Boletim Focus do Banco Central. Nem se compara com a época da hiperinflação, quando o Brasil tinha inflações mensais de dois dígitos.

"Não há inflação preocupante no horizonte relevante. O fato de que o lançamento de uma cédula de valor mais alto chama tanto a atenção das pessoas é sintoma disso. Se fosse nos anos 1980, não ia chamar atenção, porque ia ter nota nova toda semana", brincou o professor.

Mas inflação seria um motivo plausível para o lançamento da nova nota?

Desde o lançamento do Real em 1º de julho de 1994, acumulamos uma inflação, medida pelo IPCA, de 521%. Isso significa que R$ 100 em 1994 valem hoje R$ 621.

Mesmo assim, o fato de ter havido inflação nos últimos 26 anos por si só não justificaria o lançamento de uma cédula nova de valor mais alto, diz Henrique Castro, professor de finanças da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV).

"É claro que uma nota de R$ 100 em 1994 comprava mais do que uma nota de R$ 100 compra hoje. Mas mesmo hoje em dia a gente tem dificuldade de trocar as cédulas de R$ 100 nas transações comuns. Não é uma nota que se vê muito no dia a dia", diz.

Ou seja, mesmo com a inflação, o valor de R$ 200 ainda é muito alto para ter se tornado rotineiro. Será que a nova nota será mesmo conveniente?

Dinheiro na cueca

Outro ponto levantado pelos internautas é que notas de valores mais altos facilitam a lavagem de dinheiro e o financiamento ao crime organizado, pois muitas transações criminosas são feitas em dinheiro vivo.

Assim, notas de valor de face elevado tornam mais fácil o transporte e o armazenamento de altas somas em espécie, mais difíceis de rastrear pelas autoridades. No país onde o dinheiro sujo viaja em malas, meias e cuecas, é um bom ponto com que se preocupar.

Segundo o professor Henrique Castro, da GV, esta é uma questão em diversos países, e a iniciativa brasileira vai na contramão do resto do mundo. Ele lembra que a nota de 500 euros - a de valor de face mais alto na zona do euro - deixou de ser emitida justamente por causa do temor das autoridades em relação ao financiamento ao terrorismo.

"E a nota de 500 euros é uma cédula fantasma - ela ainda circula e tem valor, mas quase ninguém a vê. No Reino Unido, a nota mais alta é de 50 libras. Nos EUA é de 100 dólares. No Japão, onde 70% das transações ainda são feitas em espécie por tradição, as autoridades se preocupam com a nota de 10 mil ienes por conta do crime", explica o professor.

BC não convenceu

Ambos os especialistas com quem eu conversei consideraram as justificativas do BC para emissão da nova cédula difíceis de entender. Henrique Castro, da GV, diz que, por mais que a demanda por papel-moeda tenha aumentado por conta da pandemia, e o BC não saiba por quanto tempo o entesouramento deve se manter, esses efeitos são temporários.

"Na minha opinião, um fato tão passageiro e pontual não justificaria algo tão permanente quanto emitir uma nova cédula de valor de face mais alto", diz.

O BC também alega economia com a impressão de numerário. Afinal, torna-se possível imprimir menos notas, havendo redução de custos com logística e distribuição. A instituição anunciou que o CMN autorizou R$ 113,4 milhões para impressão de 450 milhões de cédulas de R$ 200 e 170 milhões de cédulas de R$ 100.

"Essa economia seria pequena frente ao dano econômico que uma nota de valor maior poderia causar, não se justifica", diz Castro.

A medida não terá impacto na base monetária do país (isto é, não ampliará a quantidade de moeda na economia). E embora a quantidade de papel-moeda em poder da população tenha aumentado de R$ 216 bilhões para R$ 277 bilhões de março para cá, o BC garantiu que a quantidade de dinheiro em circulação é adequada e não há falta de numerário.

Porém, a instituição disse também querer se antecipar à "possibilidade de aumento da demanda por papel-moeda em função do entesouramento".

Isso fez com que alguns internautas aventassem a possibilidade de o governo já estar antevendo que as pessoas vão querer fazer mais transações em espécie num eventual retorno de imposto sobre transações financeiras eletrônicas, similar à antiga CPMF.

"O governo vai lançar um imposto e já está dando um jeito de as pessoas escaparem dele? Não faz sentido", diz Fernando Ribeiro Leite, do Insper, que considera o lançamento da cédula de R$ 200 como uma medida "aleatória" do governo.

Para Henrique Castro, o governo deveria, ao contrário, incentivar a adoção das transações digitais, mais seguras e rastreáveis. "A digitalização do sistema bancário brasileiro foi uma das pioneiras no mundo. O movimento de agora vai na contramão do que seria correto", diz.

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