Lá e de volta outra vez: o maior IPO da história e a pandemia em semana de decisão monetária
Hegel costumava afirmar que a história sempre se repete (como disse, se reordena e retrocede sobre si). Ora, não é que nos deparamos com essas duas ideias nessa última semana de outubro?

Filósofo da dialética, Hegel escreveu bastante sobre o “escárnio da história”. No conceito, a história conduz os homens que creem conduzirem a si mesmos, como indivíduos e como sociedades, castigando suas pretensões, de modo que a história produz resultados exatamente contrários e paradoxais aos pretendidos por seus autores, a despeito de se reordenar e retroceder sobre si mesma, com sua gozação sarcástica e paradoxal criando também, sem querer, realidades.
Soros derivou dessa ideia o conceito de reflexividade dialética, na qual a realidade altera a expectativa que, por sua vez, altera a realidade. É um processo infinito – um paradoxo do tipo ouroboros. A ideia de fooled by randomness (iludido pelo acaso) de Taleb, de certa forma, também teve parcial origem desse processo dialético hegeliano. A história é filha do tempo.
Particularmente, amo pensar no processo de desenvolvimento da ciência como uma dinâmica reflexiva e dialética. No meu entendimento, se trata de uma das formas mais prazerosas de se pensar o mundo e desenvolver ideias. Criador disso tudo, Hegel também costumava afirmar que a história sempre se repete (como disse, se reordena e retrocede sobre si). Ora, não é que nos deparamos com essas duas ideias nessa última semana de outubro?
Com agenda cheia de indicadores e resultados, os investidores também ficam atentos a duas coisas: i) decisão de política monetária no Brasil e no mundo (principalmente no BCE, Europa, e no BoJ, Japão); e ii) novas ondas de Covid. Sim, sobre o segundo ponto, mais cedo ou mais tarde teríamos que passar por isso – era inevitável. A história se repete como tragédia ou como farsa.
Agora, com mais casos do novo coronavírus, a pressão sobre os ativos de risco surge por conta do medo de novas restrições. Na Europa, por exemplo, já conseguimos ver países como Irlanda, França, Itália e Espanha, trabalhando novamente no sentido de conter o vírus. Assim, com a atividade econômica ainda tentando se reerguer em diversas partes do globo, os agentes temem por novas paralisações na economia.
Abaixo, veja que, até aqui, temos verificado uma recuperação relativamente rápida. Não digo aqui que necessariamente persistirá dessa forma, mas acredito ser mais sinal do que ruído. Agora, porém, com o risco de nova quarentena e sem pacote de estímulos fazendo efeito no curto prazo nos EUA, fica muito mais difícil precificar novos movimentos do vírus sobre a sociedade.
Leia Também
Os fantasmas de Nelson Rodrigues: Ibovespa começa o semestre tentando sustentar posto de melhor investimento do ano
Rumo a 2026 com a máquina enguiçada e o cofre furado
Além disso, discute-se muito a dinâmica de atividade e preços no mundo. Em especial, o Brasil, que tem um problema fiscal grandioso a ser resolvido e ainda apresenta pressão nos índices de inflação (IGP-M e IPCA vindo acima das expectativas). Aqui entre a dinâmica da política monetária.
Curiosamente, como em Hegel e Soros, a expectativa dos agentes pode influenciar os preços do mercado que, por sua vez, alteram a tomada de decisão das autoridades monetárias nacionais e, consequentemente, muda a gestão de recursos dos investidores, que mudam suas expectativas e influenciam novamente os preços de mercado.
É um ciclo sem fim.
Ao que tudo indica, o Copom irá optar por manter a taxa de juros básica de curto prazo da economia brasileira em 2% ao ano. A ansiedade, contudo, reside em sobre como se dará o comunicado a ser divulgado junto à decisão.
Aqui está o jogo.
A depender do tom, os mercados podem se animar definitivamente ou envergar para o pessimismo nos últimos dois meses do ano.
Lembrando que estamos em uma semana muito importante de resultados (Brasil e nos EUA). Se vier um tom positivo com comunicado dovish (expansionista) dos BCs, os ativos podem apresentar tendência para um rali de fim de ano (novembro e dezembro). Isso se o Covid não atrapalhar, claro.
Nos EUA, as futuras decisões fiscais e monetárias ainda se somam ao contexto eleitoral do país.
Será possível que a eleição traga um novo regime fiscal ou monetário?
Uma possível mudança na política tributária é a preocupação de muitos investidores, mas é apenas parte do quadro (mais detalhes, sugiro leitura de minha coluna da semana passada). A meu ver, a possibilidade de uma era de política industrial coordenada, executada por meio da expansão fiscal e “financiada” pela política monetária, pode afetar os mercados por anos de maneira positiva.
Claro que, sob Biden, tal movimento pode ter contornos mais positivos para países emergentes.
Falando em eleições americanas, vale um adendo.
Na semana passada, conversei aqui sobre como as coisas estavam se desdobrando no território americano sobre o tema. Acontece que, de lá para cá, a chance de uma “Onda Azul”, na qual os Democratas levariam o Legislativo e o Executivo, caiu bastante, de 63% para 51%. Isso porque a chance de uma manutenção de um Senado Republicano ficou maior.
Um Senado Republicano com um Presidente Democrata, ou vice-versa, representaria um bloqueio de caixa, impedindo mais estímulos para a economia. Gera-se um terceiro cenário portanto, para além da “Onda Azul” e do “Status Quo”, ambos discutidos na semana passada: o cenário de racha entre Casa Branca e Senado. O resultado? Estagnação e problemas de retomada do comércio global.
Atenção aos sinais: Bolsas internacionais sobem com notícia de acordo EUA-China; Ibovespa acompanha desemprego e PCE
Ibovespa tenta manter o bom momento enquanto governo busca meio de contornar derrubada do aumento do IOF
Siga na bolsa mesmo com a Selic em 15%: os sinais dizem que chegou a hora de comprar ações
A elevação do juro no Brasil não significa que chegou a hora de abandonar a renda variável de vez e mergulhar na super renda fixa brasileira — e eu te explico os motivos
Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA
Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária
Rodolfo Amstalden: Não existem níveis seguros para a oferta de segurança
Em tese, o forward guidance é tanto mais necessário quanto menos crível for a atitude da autoridade monetária. Se o seu cônjuge precisa prometer que vai voltar cedo toda vez que sai sozinho de casa, provavelmente há um ou mais motivos para isso.
É melhor ter um plano: Ibovespa busca manter tom positivo em dia de agenda fraca e Powell no Senado dos EUA
Bolsas internacionais seguem no azul, ainda repercutindo a trégua na guerra entre Israel e o Irã
Um longo caminho: Ibovespa monitora cessar-fogo enquanto investidores repercutem ata do Copom e testemunho de Powell
Trégua anunciada por Donald Trump impulsiona ativos de risco nos mercados internacionais e pode ajudar o Ibovespa
Um frágil cessar-fogo antes do tiro no pé que o Irã não vai querer dar
Cessar-fogo em guerra contra o Irã traz alívio, mas não resolve impasse estrutural. Trégua será duradoura ou apenas mais uma pausa antes do próximo ato?
Felipe Miranda: Precisamos (re)conversar sobre Méliuz (CASH3)
Depois de ter queimado a largada quase literalmente, Méliuz pode vir a ser uma opção, sobretudo àqueles interessados em uma alternativa para se expor a criptomoedas
Nem todo mundo em pânico: Ibovespa busca recuperação em meio a reação morna dos investidores a ataque dos EUA ao Irã
Por ordem de Trump, EUA bombardearam instalações nucleares do Irã na passagem do sábado para o domingo
É tempo de festa junina para os FIIs
Alguns elementos clássicos das festas juninas se encaixam perfeitamente na dinâmica dos FIIs, com paralelos divertidos (e úteis) entre as brincadeiras e a realidade do mercado
Tambores da guerra: Ibovespa volta do feriado repercutindo alta dos juros e temores de que Trump ordene ataques ao Irã
Enquanto Trump avalia a possibilidade de envolver diretamente os EUA na guerra, investidores reagem à alta da taxa de juros a 15% ao ano no Brasil
Conflito entre Israel e Irã abre oportunidade para mais dividendos da Petrobras (PETR4) — e ainda dá tempo de pegar carona nos ganhos
É claro que a alta do petróleo é positiva para a Petrobras, afinal isso implica em aumento das receitas. Mas há um outro detalhe ainda mais importante nesse movimento recente.
Não foi por falta de aviso: Copom encontra um sótão para subir os juros, mas repercussão no Ibovespa fica para amanhã
Investidores terão um dia inteiro para digerir as decisões de juros da Super Quarta devido a feriados que mantêm as bolsas fechadas no Brasil e nos Estados Unidos
Rodolfo Amstalden: São tudo pequenas coisas de 25 bps, e tudo deve passar
Vimos um build up da Selic terminal para 15,00%, de modo que a aposta em manutenção na reunião de hoje virou zebra (!). E aí, qual é a Selic de equilíbrio para o contexto atual? E qual deveria ser?
Olhando para cima: Ibovespa busca recuperação, mas Trump e Super Quarta limitam o fôlego
Enquanto Copom e Fed preparam nova decisão de juros, Trump cogita envolver os EUA diretamente na guerra
Do alçapão ao sótão: Ibovespa repercute andamento da guerra aérea entre Israel e Irã e disputa sobre o IOF
Um dia depois de subir 1,49%, Ibovespa se prepara para queimar a gordura depois de Trump abandonar antecipadamente o G-7
Acima do teto tem um sótão? Copom chega para mais uma Super Quarta mirando fim do ciclo de alta dos juros
Maioria dos participantes do mercado financeiro espera uma alta residual da taxa de juros pelo Copom na quarta-feira, mas início de cortes pode vir antes do que se imagina
Felipe Miranda: O fim do Dollar Smile?
Agora o ouro, e não mais o dólar ou os Treasuries, representa o ativo livre de risco no imaginário das pessoas
17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar
Desdobramentos do conflito que começou na sexta-feira (13) segue ditando o humor dos mercados, em semana de Super Quarta
Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal
Mercados globais operam em queda, com ouro e petróleo em alta com aumento da aversão ao risco