É para mexer na carteira? O que fazer com seus investimentos diante da crise do coronavírus
Ficar parado esperando as coisas se acalmarem? Aproveitar a queda de preços para encher o carrinho com bons ativos? Aumentar as posições em bolsa? Apenas recompô-las depois das perdas? Ou, ao contrário, reduzir o risco e aumentar as proteções? Tentamos responder a essas perguntas

O caos nos mercados desencadeado pelo avanço do coronavírus no mundo tem deixado os investidores, mesmo profissionais, perplexos. Para as pessoas físicas, as últimas semanas provavelmente foram de grande ansiedade, não apenas pelo isolamento forçado que temos visto em várias cidades do país, como também pela dor no bolso.
A escalada dos acontecimentos foi muito rápida. Até pouco antes do Carnaval, as perspectivas eram de um mundo em desaceleração, mas sem recessão à vista; no Brasil, a expectativa era de retomada do crescimento e um cenário muito construtivo para a bolsa de valores.
Mas com o avanço veloz do coronavírus na Europa, o tempo virou completamente, e agora já nos deparamos com a possibilidade de uma recessão global e mesmo uma crise de crédito com a quebradeira de empresas que pode se seguir da paralisação da economia no intuito de reduzir a velocidade de contaminação.
Durante todo o mês de março, a volatilidade em nos mercados tem sido intensa. Não só a bolsa tem visto enormes saltos para cima e para baixo (mais para baixo do que para cima), como também as taxas de juros e os preços dos títulos públicos.
O dólar vem numa trajetória firme de alta, e até o bitcoin - geralmente descorrelacionado de outros mercados - e o ouro - normalmente usado como reserva de valor - levaram uns tombos.
Vimos ainda seis paralisações das negociações em bolsa, decorrentes de circuit breakers, mecanismo acionado quando o Ibovespa cai demais. Lá fora, não tem sido diferente. O movimento de aversão a risco e alta volatilidade é geral.
Leia Também
Diante disso tudo, o que fazer em relação aos investimentos? Ficar parado esperando as coisas se acalmarem? Aproveitar a queda de preços para encher o carrinho com bons ativos? Aumentar as posições em bolsa? Apenas recompô-las depois das perdas? Ou, ao contrário, reduzir o risco e aumentar as proteções?
Eu conversei com algumas pessoas especializadas em gestão de carteiras para tentar dar uma resposta a essas perguntas. A verdade é que não é fácil cravar uma resposta única e certeira neste momento. Ainda não sabemos quanto tempo essa crise deve durar nem a extensão das suas consequências para a economia.
Só sabemos que os preços perderam totalmente a referência e que houve uma destruição de valor dos ativos provavelmente desproporcional. Mas ainda fica aquela questão: por mais que já esteja barato agora, pode cair mais? Embora não seja possível responder a essa pergunta, já deu para chegar a algumas conclusões, vamos lá.
Não se desfaça dos seus ativos de risco, a não ser em caso de muita necessidade
Embora a crise desencadeada pelo coronavírus possa se estender, e os preços ainda possam cair mais, a verdade é que uma hora ela vai passar.
Em algum momento a doença será controlada, avançará mais lentamente e as coisas voltarão à normalidade. E, quando isso acontecer, a recuperação econômica será bem rápida.
Quem vender agora, não só vai realizar uma perda grande, como também não vai estar posicionado quando a recuperação ocorrer. E provavelmente vai acabar perdendo uma boa pernada de alta.
“Se o investidor não for precisar daqueles recursos investidos em renda variável dentro de um prazo de seis meses a um ano, o ideal é que não venda”, orienta Gisele Colombo, planejadora financeira certificada (CFP®) da Planejar.
Ela lembra, inclusive, que se o investidor sentir que vai precisar dos recursos alocados em renda variável num prazo tão curto, isso significa que a sua carteira já não estava bem balanceada para o seu perfil.
“É um indicativo de que o investidor errou ao montar a carteira, pois não considerou a reserva de emergência. Mas para quem está corretamente dimensionado, o melhor é respirar fundo e aguardar”, diz.
Se você é de fato um investidor de longo prazo com perfil moderado ou arrojado, não deveria estar perdendo o sono, já que para os objetivos de curto prazo você já deve estar coberto. Se não for o caso, significa que você deveria repensar as suas alocações, com ou sem crise. Talvez você não seja tão arrojado quanto imaginava.
A diversificação provou seu valor
O atual momento de mercado deixou bem clara a importância de se ter uma carteira diversificada, independentemente do seu perfil de risco - se conservador, moderado ou arrojado. E também, é claro, uma reserva de emergência.
Quem tinha renda fixa conservadora como colchão financeiro, exposição a dólar como proteção e fundos de investimento com baixa correlação com os demais mercados - ou mesmo de gestores mais pessimistas, que acabaram lucrando com as quedas nos preços - viu sua carteira desvalorizar bem menos que o Ibovespa no último mês.
Esses ativos deram uma segurada nas perdas, e é para isso mesmo que eles servem. Nem mesmo os investidores mais arrojados devem abdicar de uma reserva de emergência ou alguma forma de proteção.
Veja, o Ibovespa já despencou mais de 40% no ano, sendo quase 35% só em março. O dólar, por sua vez, vê uma alta de quase 30% no ano, sendo 14% no mês.
Dennis Kac, CIO e sócio da gestora de fortunas Brainvest, explica que as carteiras dos clientes da casa consideram três tipos de estratégias de fundos multimercados e dois tipos de estratégias de fundos de ações, justamente para balancear o risco.
Na classe dos multimercados, a gestora inclui nas carteiras fundos macro (que surfam as tendências macroeconômicas), long & short (que fazem operações compradas e vendidas para lucrar com as distorções de preços) e quantitativos (que utilizam algoritmos para fazer operações rápidas em diversos mercados).
Esses dois últimos tipos têm bem menos correlação com os grandes movimentos de mercado do que os fundos macro, e durante o recente período de baixa, acabaram apresentando ganhos ou mesmo perdas mais modestas.
Já na classe de ações, as carteiras da Brainvest contam com fundos long only, que só operam comprados, e fundos long biased, que operam comprados e vendidos, podendo ganhar na alta ou na baixa.
“Enquanto a bolsa caía 30%, os gestores de fundos long biased perdiam, em média, de 8% a 10%. Nos momentos de pânico, esses gestores conseguem se proteger superbem, e ainda compram ativos a preços muito interessantes”, exemplifica Kac.
Não faça nada ou apenas recomponha as antigas posições aos poucos
Em relação às alocações das carteiras - quanto do seu patrimônio colocar em cada tipo de ativo, a depender do seu perfil - os alocadores estão se dividindo entre não fazer nada, e com isso reduzir a exposição ao risco, ou então simplesmente recompor as posições aos poucos, sem alterar a proporção de cada classe nas carteiras sugeridas.
Com a queda de preços generalizada e alta no câmbio, o percentual de cada classe de ativo nas carteiras se modificou bastante em relação ao que seria a alocação ideal para cada perfil.
Por exemplo, é bem possível que, se você tem ações ou fundos de ações na carteira, a participação dessa classe de ativos tenha se reduzido bastante em relação às outras. Já a parcela dedicada a fundos cambiais com exposição ao dólar provavelmente está acima do percentual original.
Além disso, fica o questionamento: as ações e fundos imobiliários não acabaram ficando baratos? O retorno de dividendos de empresas e FII não deve estar atrativo, agora que os preços caíram?
A opinião geral é de que sim, embora ainda não saibamos 1) quanto os lucros das empresas podem diminuir com a crise; 2) quanto os fundos imobiliários podem sofrer com vacância e inadimplência em decorrência da crise e 3) se as cotações vão cair ainda mais.
Segundo Dennis Kac, a recomendação da Brainvest tem sido de recompor as posições, mas sem alterar os percentuais de cada classe de ativos na carteira. Ou seja, não é nem para aumentar, nem para reduzir as parcelas de risco e de proteções.
Assim, para quem viu sua parcela de renda variável diminuir, seria hora de comprar para voltar ao percentual original. Já para quem ganhou com o dólar, por exemplo, seria o caso de se desfazer da quantia que excede a participação ideal, realizando lucros.
Essa é a mesma orientação da gestora de fortunas Azimut. “Nos preços atuais da bolsa, já vale começar a recompor a posição original. Quando o mercado encontrar uma normalização, não tiver mais oscilações tão fortes e circuit breaker todo dia, já dá para recompor. Se a sua visão já era construtiva para ações brasileiras antes, agora elas estão baratas”, diz Alexandre Hishi, responsável pela gestão de investimentos da Azimut Brasil.
Ele lembra apenas que o investidor precisará ter paciência, pois agora o mercado trabalha com um cenário de recessão e, quando os ativos voltarem a valorizar, a recuperação vai se dar primeiro nos países desenvolvidos, para só depois ocorrer nos emergentes.
No caso do dólar, a orientação de Hishi também é de realizar uma parte dos ganhos para voltar à alocação original.
“O dólar a R$ 5 já começa a não ser tão eficiente como forma de proteção. Ele foi desde o começo da crise, mas agora já chegou a um patamar em que o BC começou a intervir muito no mercado de câmbio, então já não sobe em proporção similar às eventuais quedas da bolsa”, diz.
Dentre as casas mais focadas no pequeno investidor, o Banco Inter também não mexeu nas alocações, o que deixa implícito que é hora de recompor posições.
“Não estamos recomendando nenhuma alteração neste momento. O foco ainda é manter a estratégia de alocação, pois não somente acreditamos que uma carteira diversificada é a melhor proteção, como entendemos que é muito difícil acertar o timing de fazer alocações táticas nesse momento de alta volatilidade”, diz a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória.

Essa também foi a orientação do BTG Pactual Digital para os clientes. “O cenário construtivo para o investimento em ações não deixou de existir. Para quem tem visão de longo prazo, ficou mais atrativo ainda. Abriu-se uma grande oportunidade para se tornar sócio de boas empresas a preços baixos”, diz Jerson Zanlorenzi, chefe da mesa de ações da instituição.
Já a XP Investimentos optou por reduzir a alocação em renda variável nas carteiras moderadas e arrojadas, mas apenas na proporção das quedas vistas recentemente. Então, na prática, não é para se desfazer dos ativos de risco, mas também não é para recompor as proporções originais, apenas manter como está.
Em relatório, a XP orienta, no entanto, que clientes que estão começando agora ou abaixo do percentual alvo ajustado devem alocar em renda variável aos poucos, investindo em ações e fundos de ações ao longo de seis meses.

Seja como for, para quem optar por recompor a carteira, o ideal é fazer isso aos poucos, dado que novas quedas são possíveis.
Oportunidade na renda fixa
Mas se teve uma coisa em que os especialistas ouvidos foram unânimes é que se abriu uma oportunidade de compra de títulos públicos prefixados e atrelados à inflação de médio prazo. Eu falei com mais detalhe sobre isso nesta outra matéria (link).
Com a aversão a risco e a alta do dólar, os juros futuros dispararam, mesmo em um ambiente de queda de juros no Brasil e no resto do mundo. Assim, as taxas pagas por esses títulos também subiram, mas eles têm potencial de se valorizar quando elas voltarem a cair, dado que temos um cenário de recessão à frente e juros baixos no mundo.
“Juros subindo, neste momento, não faz sentido algum”, diz Dennis Kac, da Brainvest.
“Muitos fundos estão encerrando posições [na renda fixa], seja por disciplina de risco ou para atender a pedidos de resgate, se desfazendo dos ativos a qualquer preço. Essa alta nos juros também está acontecendo nos Estados Unidos [onde a taxa básica de juros foi zerada no último domingo]. São movimentos técnicos”, diz Alexandre Hishi, da Azimut.
Para quem quiser levar os títulos ao vencimento, esta também é uma oportunidade de obter taxas de juros mais altas no médio e longo prazo, superiores às projetadas para a renda fixa atrelada à Selic ou ao CDI.
Hishi inclusive destaca que esse tipo de investimento pode ser, hoje, uma alternativa interessante para o investidor conservador que quer começar a migrar para ativos com um pouco mais de risco e potencial de ganho, mas ainda não está preparado para encarar a volatilidade da bolsa.
Em relatório, o Banco Inter e a XP também destacam o surgimento da oportunidade.
“Os títulos de 10 anos subiram de 6% para 8%, indicando contínuas altas da Selic a partir de 2021. Não vemos fundamento para esse cenário, exceto uma mudança mais drástica da política fiscal que levasse a um descontrole inflacionário, o que não é nosso cenário base hoje”, diz o relatório do Inter.
“Os prêmios de crédito da renda fixa continuam elevados e mantemos nossa recomendação de alocar em ativos com risco de crédito, em especial na classe Pós-fixada e na Inflação. Os ativos Prefixados devem conseguir se aproveitar de cortes de juros que venham a ser feitos pelo Banco Central”, diz relatório da XP.
Mesmo investimentos isentos de Imposto de Renda não escapam da Receita: veja por que eles precisam estar na sua declaração
Mesmo isentos de imposto, aplicações como poupança, LCI e dividendos precisam ser informadas à Receita; veja como declarar corretamente e evite cair na malha fina com a ajuda de um guia prático
Quanto e onde investir para receber uma renda extra de R$ 2.500 por mês? Veja simulação
Simulador gratuito disponibilizado pela EQI calcula o valor necessário para investir e sugere a alocação ideal para o seu perfil investidor; veja como usar
Tem offshore? Veja como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa jurídica no IR 2025
Regras de tributação de empresas constituídas para investir no exterior mudaram no fim de 2023 e novidades entram totalmente em vigor no IR 2025
A coruja do Duolingo na B3: aplicativo de idiomas terá BDRs na bolsa brasileira
O programa permitirá que investidores brasileiros possam investir em ações do grupo sem precisar de conta no exterior
OPA do Carrefour (CRFB3): de ‘virada’, acionistas aprovam saída da empresa da bolsa brasileira
Parecia que ia dar ruim para o Carrefour (CRFB3), mas o jogo virou. Os acionistas presentes na assembleia desta sexta-feira (25) aprovaram a conversão da empresa brasileira em subsidiária integral da matriz francesa, com a consequente saída da B3
JBS (JBSS3) avança rumo à dupla listagem, na B3 e em NY; isso é bom para as ações? Saiba o que significa para a empresa e os acionistas
Próximo passo é votação da dupla listagem em assembleia marcada para 23 de maio; segundo especialistas, dividendos podem ser afetados
Como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa física no imposto de renda 2025
Tem imóvel na Flórida? Investe por meio de uma corretora gringa? Bens e rendimentos no exterior também precisam ser informados na declaração de imposto de renda; veja como
Da Vasp à Voepass: relembre algumas das empresas aéreas que pediram recuperação judicial ou deixaram de voar
A maior parte das empresas aéreas que dominavam os céus brasileiros não conseguiu lidar com as crises financeiras e fecharam as portas nos últimos 20 anos
Dólar fraco, desaceleração global e até recessão: cautela leva gestores de fundos brasileiros a rever estratégias — e Brasil entra nas carteiras
Para Absolute, Genoa e Kapitalo, expectativa é de que a tensão comercial entre China e EUA implique em menos comércio internacional, reforçando a ideia de um novo equilíbrio global ainda incerto
É hora de aproveitar a sangria dos mercados para investir na China? Guerra tarifária contra os EUA é um risco, mas torneira de estímulos de Xi pode ir longe
Parceria entre a B3 e bolsas da China pode estreitar o laço entre os investidores do dois países e permitir uma exposição direta às empresas chinesas que nem os EUA conseguem oferecer; veja quais são as opções para os investidores brasileiros investirem hoje no Gigante Asiático
Tarifaço de Trump pode não resultar em mais inflação, diz CIO da Empiricus Gestão; queda de preços e desaceleração global são mais prováveis
No episódio do podcast Touros e Ursos desta semana, João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, fala sobre política do caos de Trump e de como os mercados globais devem reagir à sua guerra tarifária
Dividendos da Petrobras (PETR4) podem cair junto com o preço do petróleo; é hora de trocar as ações pelos títulos de dívida da estatal?
Dívida da empresa emitida no exterior oferece juros na faixa dos 6%, em dólar, com opções que podem ser adquiridas em contas internacionais locais
Senta que lá vem mais tarifa: China retalia (de novo) e mercados reagem, em meio ao fogo cruzado
Por aqui, os investidores devem ficar com um olho no peixe e outro no gato, acompanhando os dados do IPCA e do IBC-Br, considerado a prévia do PIB nacional
Não foi só o Banco Master: entre os CDBs mais rentáveis de março, prefixado do Santander paga 15,72%, e banco chinês oferece 9,4% + IPCA
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado; no mês passado, estoque de CDBs no país chegou a R$ 2,57 trilhões, alta de 14,3% na base anual
Renda fixa para abril chega a pagar acima de 9% + IPCA, sem IR; recomendações já incluem prefixados, de olho em juros mais comportados
O Seu Dinheiro compilou as carteiras do BB, Itaú BBA, BTG e XP, que recomendaram os melhores papéis para investir no mês
110% do CDI e liquidez imediata — Nubank lança nova Caixinha Turbo para todos os clientes, mas com algumas condições; veja quais
Nubank lança novo investimento acessível a todos os usuários e notificará clientes gradualmente sobre a novidade
Felipe Miranda: Dedo no gatilho
Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.
Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?
Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação
XP rebate acusações de esquema de pirâmide, venda massiva de COEs e rentabilidade dos fundos
Após a repercussão no mercado, a própria XP decidiu tirar a limpo a história e esclarecer todas as dúvidas e temores dos investidores; veja o que disse a corretora
PGBL ou VGBL? Veja quanto dinheiro você ‘deixa na mesa’ ao escolher o tipo de plano de previdência errado
Investir em PGBL não é para todo mundo, mas para quem tem essa oportunidade, o aporte errado em VGBL pode custar caro; confira a simulação