Os dados do crescimento da economia no segundo trimestre deste ano divulgados nesta quinta-feira, 29, surpreenderam positivamente os especialistas. Mas, na prática, pouco alteram suas perspectivas para o País em 2019.
O Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,4% no trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano, de acordo com o IBGE.
O indicador positivo, puxado em especial pelo setor de serviços (0,3%) e indústria (0,7%), representa um alívio, diz o economista sócio da Pezco, Yan Cattani.
Segundo ele, uma das preocupações era de que os números do trimestre reforçassem uma desaceleração do consumo das famílias. "Mas parece que há um processo mais consistente [de retomada do consumo] alinhado a inflação baixa", diz.
Hoje, as projeções do BC, considerando o cenário de mercado, apontam para inflação de 3,6% em 2019 e 3,9% em 2020. Mas Cattani afirma que, num cenário ideal, essa retomada aconteceria por conta do aumento do salário nominal.
Já o economista-chefe do Daycoval Asset, Rafael Cardoso, lembra que a ociosidade da economia - a diferença entre o quanto ela produz e quanto tem estrutura para produzir - continua alta. "Vejo poucas mudanças no cenário a curto prazo", diz.
Cardoso lembra que grandes reformas, como a da Previdência, não tem um impacto imediato na sociedade e que, por isso, é cedo para avaliar se a orientação econômica do governo terá efeito no avanço do PIB.
Realidade à porta
Para o economista da Tendências Consultoria, Thiago Xavier, a mudança na orientação de política econômica do governo anterior para o atual é um dos pontos para se entender a frustração com a economia.
No início do ano, por exemplo, o boletim Focus - publicação do Banco Central que reúne estimativas de economistas do mercado financeiro - chegou a projetar um avanço de 2,5% para o PIB. Nesta semana, a expectativa está em 0,8%.
Xavier diz se deu pouca atenção a importância ao caminho de transição que seria feito entre a saída de cena do Estado para uma atuação mais forte do setor privado. "Se as empresas estão vindo de uma desalavancagem, de um momento fraco, isso afeta os investimentos", diz.
Mas se os investimentos dependiam da confiança do setor privado - que, por sua vez, tinha como pauta as reformas econômicas - o que aconteceu para a economia não decolar, já que a agenda liberal do governo segue em frente?
O especialista da Tendências lembra que a confiança, em especial aquela medida pela Fundação Getúlio Vargas, leva em conta outros fatores. "A comunicação, por exemplo, se se identifica na mídia elementos que rementem a uma instabilidade política, o indicador é afetado", diz.
Um exemplo, segundo ele, seriam os recuos do governo ou os embates como a crise de imagem envolvendo as queimadas na Amazônia. "Com esse e outros fatores, vai ser mais um ano de economia fraca, com o alívio de medidas como a liberação de saque do FGTS", explica.
Conta também para o ano fraco a desaceleração global, impulsionada pela guerra comercial entre Estados Unidos e China. "A virada do dólar afetou bastante. Depois da reforma [da Previdência] foi quase que na sequência que o Trump [presidente dos EUA] começou a falar mais contra os chineses", lembra Cardoso, do Daycoval.
Segundo trimestre em números
Na comparação com o segundo trimestre de 2018, o PIB cresceu 1,0%, com a agropecuária registrando variação positiva de 0,4% e a indústria de 0,3%.
Segundo o IBGE, a indústria extrativa teve sua queda mais acentuada na série histórica - encolheu 9,4%.
“A extração mineral ainda sofre os efeitos de Brumadinho e da paralisação de outras barragens para vistoria”, explica a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio.
Xavier lembra que alguns setores, como o do minério de ferro, tem uma importância muito grande para a economia porque funcionam em efeito cascata sobre outros setores.
Os serviços apresentaram aumento de 1,2%. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias continua puxando o avanço, com expansão de 1,6%, nono trimestre seguido de resultados positivos. A Formação Bruta de Capital Fixo, indicador que mede os investimentos na economia, avançou 5,2%.
“Mais uma vez, vemos o consumo das famílias influenciando a demanda, além de ter puxado o aumento do comércio varejista", afirma Dionísio.