Se depender dos países asiáticos, o ocidente precisará encontrar uma nova forma de se livrar do lixo que produz. Após cerca de 25 anos de existência do 'mercado do lixo', países como Filipinas e Malásia se recusam a continuar recebendo os materiais descartados pelo ocidente. E os primeiros contêineres já estão fazendo o caminho de volta para os seus locais de origem.
Nesta sexta-feira (31), as Filipinas encerraram uma disputa de 6 anos com o Canadá e despacharam de volta 69 contêineres com cerca de 1.500 toneladas de lixo não-reciclável. Serão 20 dias de viagem até que o lixo canadense retorne ao seu país natal.
A disputa entre Ocidente e Oriente envolvendo o lixo não é nova. Os rejeitos canadenses, por exemplo, estavam desde 2013 em portos filipinos, aguardando um desfecho para a novela envolvendo os dois países.
Baaaaaaaaa bye, as we say it. pic.twitter.com/VetL4fP4Nj
— Teddy Locsin Jr. (@teddyboylocsin) May 31, 2019
A montanha de lixo, aceita legalmente pelas Filipinas, começou a causar tensão após a descoberta de uma manobra ilegal. Na época do envio, o Canadá havia declarado o conteúdo dos contêineres como plástico reciclável quando na verdade se tratava de lixo doméstico.
O país só aceitou receber o material de volta após as ameaças do presidente Filipino, Rodrigo Duarte, que disse que iria simplesmente mandar tudo de volta. De acordo com a BBC, o governo canadense custeou as despesas de envio.
A relação entre o Canadá e as Filipinas se tornou ainda mais tensa no último mês, com representantes canadenses não comparecendo à reuniões de negociação. O governo filipino chegou a pedir o retorno de seu embaixador. O acordo final foi firmado pelos países no dia 30 de maio.
Nas Filipinas, o despacho da carga foi motivo de muita comemoração por parte de entidades ambientais e membros do governo. Na praia de Subic Bay, local de partida da carga, o Greenpeace chegou a exibir uma faixa com os dizeres "Philippines: not a garbage dumping ground (Filipinas: não é um depósito de lixo)".
Teddy Locsin, secretário do governo, utilizou o Twitter para celebrar a partida dos navios. Utilizando o bom humor, Locsin tuitou: "Estou chorando. Irei sentir saudades".
I’m crying. I’m gonna miss it so. Never mind. Another Filipino will find a way to import another batch. Boohoohoo. pic.twitter.com/RkdmhHPSdC
— Teddy Locsin Jr. (@teddyboylocsin) May 31, 2019
Revolução Asiática
A prática de enviar lixo, principalmente plástico reciclável para os países asiáticos não é só coisa de canadense. Outros países ricos como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Austrália (além do próprio Canadá) estão entre os maiores 'exportadores' de lixo. O destino favorito? Países como China, Malásia, Filipinas e Vietnã.
A preferência pelos países asiáticos não é por acaso. As leis ambientais por lá são bem mais flexíveis do que as ocidentais, o que os torna destinos muito atrativos. Na prática, os ocidentais pagam pelo envio e empresas asiáticas contratadas recebem a "mercadoria". Mas as empresas passaram a perceber quebras nos acordos, ao perceber que recebia cargas de lixo comum ao invés de somente plástico reciclável.
A atitude das Filipinas parece ser só o começo da rebelião dos países asiáticos, que não querem mais atuar como depósitos de lixo do Ocidente.
A China saiu na frente e proibiu a importação de lixo plástico no ano passado. Antes disso, era o destino favorito dos países ricos, recebendo cerca de 600 mil toneladas de plástico mensalmente em 2016. Nada bom para os seus vizinhos, que passaram a receber uma quantidade muito maior do material e hoje se arrependem da decisão.
Agora, os países formaram uma aliança para resistir aos avanços do lixo ocidental. A Malásia diz ter devolvido 5 contêineres para a Espanha. E outros países já estão na mira. O próximo passo é devolver mais de 3.300 toneladas de lixo não-reciclável para o Canadá, Estados Unidos e Reino Unido.