A magia do câmbio e dos juros: como os gringos podem faturar em cima do real e da Selic
Trade cria a possibilidade de se trocar uma moeda forte por outra (historicamente fraca, mas em processo de se tornar conversível num futuro não muito distante) e faturar um lucro que cada vez está mais difícil de se obter nos mercados de renda fixa.

Quando, recentemente, sugeri a venda de dólar futuro a R$ 4,00, minha recomendação se baseava em algumas premissas. Entre elas:
- Considerava a aprovação da reforma da Previdência extremamente provável. Agora dou como favas contadas.
- Apostava num amplo programa de privatizações a ser posto em prática durante os três anos e meio que faltam para o fim do mandato de Jair Bolsonaro.
- Embora a taxa Selic esteja em suas mínimas de todos os tempos, assim como acontece com os juros reais (descontada a inflação), supunha, e continuo supondo, que o dinheiro externo comece a fluir em maior quantidade para o Brasil.
O mundo no qual estamos vivendo é completamente diferente daquele dos meus tempos de trading desk. Naquela ocasião, o dólar subia sempre (com eventuais flutuações de correção de exageros), primeiro por causa da inflação, depois da inflação galopante e, finalmente, da hiperinflação. Era uma questão de ajuste permanente.
Durou décadas, esse processo.
Agora não. Segundo o boletim Focus, os bancos acreditam que a moeda americana esteja valendo R$ 3,80 tanto no fim deste ano quanto no do ano que vem.
Se essas previsões se materializarem, e me parecem razoáveis, o gringo que trocar dólares por reais, levando-se em conta a cotação atual de R$ 3,82, e aplicar em papéis do Tesouro brasileiro, mesmo considerando a hipótese, mais do que provável, de que a taxa Selic seja reduzida de 6,5% para 5% ao ano, terá um ganho, em reais, de 7,50%.
Na verdade, será mais, já que o Copom não fará esse corte de uma vez só. Entre os 6,5 e os 5% transcorrerão alguns meses e várias etapas de 25 e/ou 50 pontos-base.
Leia Também
Vamos fazer as contas direitinho. Tomemos como base um milhão de dólares. Este valor será trocado por nossa moeda e se transformará em R$ 3.820.000,00, que poderão ser aplicados em papéis do Tesouro.
- Ao final de 2020, considerando a taxa de 5% ano, como se ela fosse imediatamente implantada, os R$ 3.820.000,00 crescerão para R$ 4.106.500,00.
- Como, sempre segundo o Focus, o dólar custará R$ 3,80 no final de dezembro de 2020, os R$ 4.106.500,00 poderão comprar US$ 1.080.657,89.
- Conclusão: o gringo terá obtido uma taxa de retorno de 8,07%. Como a inflação americana em um ano e meio deverá ser de 2,72%, isso significará um ganho real de 5,35%.
No momento, os títulos do Tesouro dos países ricos estão dando rentabilidade negativa (se é que esta expressão faz sentido). Com isso, os fundos de investimento precisam desesperadamente procurar vias alternativas para preservar o valor de suas quotas.
Na hora em que o Brasil for considerado confiável, quem sabe até recuperando o grau de investimento, o real será muito procurado, tal como aconteceu durante o boom dos BRICS.
Finalmente, e mais importante, a entrada de recursos externos no país, aliada ao superávit da balança comercial brasileira, atuará para valorizar nossa moeda. Nessa pressuposição, os prognósticos de câmbio do boletim Focus irão diminuir aos poucos, com a cautela que costuma prevalecer, tal como acontece nas súmulas das reuniões do Copom.
Outros fatores contribuirão para esse quadro. Entre eles, a assinatura do tratado comercial entre o Mercosul e a União Europeia, a independência do Banco Central brasileiro, cuja concessão está em pleno andamento nas Casas do Congresso em Brasília, e uma possível entrada do Brasil no bloco da OECD, sigla em inglês para Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que propicia a seus membros uma série de regalias.
Como se tudo isso não bastasse, os mercados de câmbio costumam exagerar em seus movimentos. Nessas ocasiões, ocorre o efeito manada. Todo mundo quer passar por uma porta estreita ao mesmo tempo.
Isso será ótimo para o estrangeiro que comprar a moeda brasileira neste momento, antes do estouro da boiada.
Outros cenários
Se o real começar, como acredito, a se valorizar, há muito espaço de queda para o dólar. Não duvido que, ainda este ano, ou no primeiro semestre de 2020, tenhamos a moeda americana cotada a R$ 3,50.
Neste último cenário, na hora do câmbio dos reais por dólares no final de 2020, aquela continha acima passa a ter o seguinte resultado:
- Troca hoje de US$ 1 milhão por reais a 3,82: Resultado: R$ 3.820.000,00.
- Aplicação de R$ 3.820.000,00 a 5% por 18 meses: R$ 4.106.500,00.
Até aqui, tudo igual.
Só que se o dólar cair para R$ 3,50, o gringo vai levar de volta para casa, em vez do que previ nos cálculos do início deste artigo (US$ 1.080.657,89), US$ 1.173.285,71.
Tal número representará para ele um ganho de 17,32%. Se a operação for alavancada, muito mais.
Essa é a magia do câmbio e das taxas de juros. Cria a possibilidade de se trocar uma moeda forte por outra (historicamente fraca, mas em processo de se tornar conversível num futuro não muito distante) e faturar um lucro que cada vez está mais difícil de se obter nos mercados de renda fixa.
Passe de mágica? Rublo se torna a moeda com melhor desempenho no mundo — entenda o que fez a divisa dar esse salto
A moeda russa se valorizou cerca de 35% até agora no ano, superando todas as principais divisas, e mais do que dobrou de valor da baixa pós-invasão
Dólar acumula desvalorização de 12,59% frente ao real no ano — veja o que mexe com o mercado de câmbio
A moeda norte-americana teve o pior desempenho semanal em quase dois meses, quando levou um tombo de mais de 5%
Fique de olho: inflação é o destaque entre indicadores da semana no Brasil e lá fora; confira a agenda completa
Investidores começam a segunda-feira com a divulgação do IPC-Fipe de março, que busca estimar o custo de vida de famílias com renda de um a dez salários mínimos em São Paulo
Fluxo secou? B3 corrige erro nos dados e R$ 27 bilhões em dinheiro estrangeiro “somem” da bolsa em 2022
A operadora da bolsa no país anunciou hoje que fará uma “revisão metodológica” dos dados sobre renda variável dos últimos três anos
Por que o dólar está despencando? Os motivos que explicam o forte alívio no mercado de câmbio
O dólar à vista fechou janeiro na casa de R$ 5,30, acumulando baixa de quase 5% no mês. Entenda o que está mexendo com o real e a taxa câmbio
Dólar, real ou bitcoin: Quem vence a “eleição cambial” de 2022?
O que esperar da moeda norte-americana em relação ao nosso real? Será que o melhor a fazer em meio a tanta incerteza é investir em bitcoin e criptomoedas?
Onde investir em 2022: Como ter dólar e ouro e fazer hedge de verdade para proteger os seus investimentos
A exposição a riscos no mercado financeiro demanda posições que evitem dilapidação do patrimônio financeiro, como em ouro e dólar
Fim de ano é tempo de… previsões para o mercado financeiro: veja o que esperar do dólar em 2022
Daqui a um ano, a maioria das projeções provavelmente estará mais errada do que certa, principalmente quando formos olhar a taxa de câmbio, mas existem motivos para isso
Prevendo o imprevisível: Por que é tão fácil errar as projeções para a taxa de câmbio
Sensação de controle costuma tranquilizar os mercados na virada do ano, mesmo que a maioria das projeções esteja mais errada do que certa
Campos Neto descarta intervenção exagerada no câmbio; saiba o que o presidente do BC diz sobre o uso do dólar como proteção
Segundo ele, intervenção cambial deve ser usada para eliminar problemas de liquidez, e exagero pode forçar investidores a buscar outros instrumentos de hedge
A inflação nos EUA está no nível mais alto em quase 40 anos. Entenda por que isso é um problema para o seu bolso
O mundo não é mais o mesmo daquele de quatro décadas atrás, mas muitas situações encontram paralelo nos dois momentos, como inflação e juros em alta
Bolsas dos EUA sobem e renovam as máximas pelo segundo dia — mas ativos brasileiros têm queda firme
O EWZ, principal ETF de Brasil na bolsa americana, caiu 1,85% hoje, o que pode desencadear ajustes negativos na B3 na sessão desta quarta
Bolsas americanas sobem e Wall Street renova recordes, mas ativos brasileiros em NY recuam
Os mercados de Nova York dão continuidade ao movimento de ontem e continuam avançando, aproveitando a agenda econômica esvaziada antes da decisão do Fed; o EWZ e os ADRs de empresas brasileiras vão na contramão
5 (novas) razões por que o Ibovespa não para de cair — incluindo o furo no teto de gastos
Só neste mês o índice recua pouco mais de 4% e, com mais nove dias até a virada para novembro, o tombo pode ser ainda maior
Reação do mercado financeiro ao rompimento do teto de gastos irrita Bolsonaro
A bolsa caiu forte, o dólar subiu e as taxas dos contratos de juros futuros dispararam; situação também provocou debandada na equipe econômica
A força do dólar: veja quanto da moeda americana você deve ter na carteira
Movimento global de fortalecimento da divisa dos EUA salta aos olhos, mas existe um limite para a exposição de seus investimentos ao dólar, além de um melhor ponto de entrada
Campos Neto volta dizer que BC fará o que for preciso para trazer inflação para a meta em 2022
O presidente do Banco Central acredita que a escalada dos preços já atingiu seu ponto máximo no mês passado; agora a tendência é convergir.
Após novo leilão de swap para conter o dólar, diretor reforça capacidade robusta de intervenção do Banco Central
Bruno Serra lembrou que a instituição segue intervindo no mercado e destacou que já foram vendidos R$ 3,5 bilhões desde o fim de setembro
BC não alterou sua forma de atuação no câmbio, assegura diretora
Comentário de Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, foi feito depois de anúncio de leilões extras de swap cambial
Bolsa hoje: a chegada de um outubro difícil
Por aqui, em dia de agenda mais esvaziada, investidores digerem o IPC-S dessa manhã, depois de uma deflação maior do que esperada para o IGP-M no início da semana; confira o principais destaques do mercado