Reorganizar uma carteira de R$ 117 bilhões em participações em ações e títulos de dívida (debêntures) de empresas será a prioridade de Joaquim Levy à frente do BNDES.
Do total de recursos da BNDESPar, a empresa que reúne as participações do banco de desenvolvimento, R$ 102 bilhões estão alocados em ações de empresas listadas em bolsa com liquidez, sendo R$ 44 bilhões apenas em papéis da Petrobras.
"Hoje estou usando o capital do banco para sustentar a Petrobras, mas a empresa não precisa da gente", disse Levy, que participou hoje do evento CEO Conference, promovido pelo BTG Pactual.
O governo Bolsonaro já anunciou a decisão de se desfazer dessas posições. A grande questão agora é como realocar esse capital para apoiar as principais linhas de atuação do BNDES, segundo Levy.
"Avaliamos onde aplicar esses recursos de maneira inteligente e de forma que ajude o banco no objetivo de aumentar o investimento privado em infraestrutura", disse.
Além das participações em ações, o BNDES espera "reciclar" parte da carteira de financiamentos à infraestrutura, em particular dos empréstimos a projetos que já passaram da fase de construção (mais arriscada), que hoje somam R$ 17,4 bilhões.
"Tenho fé que crescentemente serão vocês que vão apoiar esses projetos com debêntures de oito, dez ou até 15 anos", afirmou Levy, dirigindo-se à plateia do evento.
O presidente do banco disse que a prioridade hoje está em encontrar bons projetos. "Se não houver bons projetos, não teremos como financiar", disse.
O BNDES pretende fazer um trabalho em particular na área de saneamento, "o patinho feio" da infraestrutura, nas palavras de Levy. A ideia é criar um padrão nacional de projetos para facilitar e atrair o investimento privado.
Bonnie e Clyde
O presidente do BNDES ressaltou que a exposição do banco em crédito a grandes empresas está desaparecendo, com a menor vantagem das taxas do banco depois da criação da TLP (taxa de longo prazo).
Levy fez uma referência ao famoso casal de ladrões Bonnie e Clyde para ilustrar a situação anterior do banco. "Eles iam ao banco porque lá tinha dinheiro. O empresário ia ao BNDES porque lá tinha dinheiro barato."
Caixa preta
Questionado sobre a "caixa preta" que encontrou no banco, Levy afirmou que tem procurado mostrar exatamente "como o avião caiu".
"A gente tem revelado os elementos que levaram a alguns dos acidentes. Está tudo no site do banco, para todo mundo olhar e aprender", afirmou.
Sobre os polêmicos financiamentos do banco no exterior, o presidente do BNDES disse que a preocupação número 1 é a recuperação dos recursos e que alguns dos empréstimos estão sendo pagos. O problema maior é com a Venezuela, que vai envolver uma grande negociação internacional, segundo Levy.