Não é de hoje que a Argentina arrisca passos mais tímidos de tango por conta das incertezas que assolam o país. Diante de um ambiente mais temeroso, muitos investidores tem ido atrás do bitcoin para buscar formas alternativas ao dólar e ao próprio peso argentino.
Tal fato pode ser visto no volume de negociações da criptomoeda. Desde maio deste ano, a média do volume diário de negociações de bitcoin na Argentina foi de 12.239.400, segundo dados fornecidos pelo site Coin.Dance. Apenas para fins de comparação, a média diária de negociações do ano passado foi de 4.869.845.
E esse volume ficou mais intenso ainda às vésperas das eleições argentinas e que levaram à vitória da chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchner. Na ocasião, houve a segunda maior disparada no ano em termos de volume de negociações diárias do criptoativo, que chegou aos 14.151.046 no último sábado (26).
A razão para a alta é simples e costuma ocorrer todas as vezes em que há crises. Quem explica é Safiri Felix, diretor executivo da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto).
Segundo ele, houve um aumento no volume de negociações também durante a crise bancária no Chile e também com o acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Outro fator bastante único da economia argentina é que parte dela é bastante dolarizada. E diante da restrição de compra de dólares acima de US$ 200 por pessoa por mês que passou a valor hoje (28), a busca por bitcoins deve aumentar ainda mais no curto prazo, de acordo com o especialista.
"O bitcoin é cada vez mais visto como um ativo que possui baixa correlação com os demais ativos financeiros e que costuma se favorecer nos momentos de crise global, como um ativo "antifrágil."
Faz peso, mas há mais fatores envolvidos
Mas ainda que os argentinos tenham uma comunidade bastante forte de criptomoedas em termos de desenvolvedores e de entusiastas, o aumento no volume de negociações na Argentina não deve fazer preço sozinho.
Felix destaca que a crise cambial deve afetar mais em termos de expectativa do mercado, porém o que deve ajudar a fazer mais preço são alguns acontecimentos recentes mais favoráveis à valorização da moeda.
"Na semana passada, tivemos a declaração do presidente chinês, Xi Jinping [que disse que o país deve liderar o desenvolvimento do blockchain como uma tecnologia central de inovação], além do que venceram os contratos futuros de bitcoin em Chicago, o que ajudou na valorização do ativo", disse o diretor executivo.
Depois de bater quase os US$ 7.500 na última quinta-feira (24), a criptomoeda se recuperou e terminou o domingo (27) cotada em US$ 9.551, segundo informações do site CoinMarketCap.