O meio cripto é cheio de frases famosas, como as já consagradas “os investidores institucionais estão chegando”, “o bitcoin resolve isso” ou “ether é dinheiro”.
Elas se encaixam muito bem em determinados contextos, mas em outras ocasiões são apenas uma ladainha sem sentido.
Por isso devemos ter cuidado ao empregá-las sobre tudo que vemos por aí.
Para mim, das frases que ouço, a que mais faz sentido é “não é uma questão de ‘se’, mas apenas de quando.”
Como já disse algumas vezes, cripto virar “mainstream” é uma questão de tempo.
Isso porque acredito que tecnologias disruptivas são como a caixa de Pandora, que, após aberta, não pode mais ser fechada, nem seu conteúdo pode ser escondido novamente. Aquilo que foi visto não pode ser “desvisto”.
Com isso em mente, vamos ao assunto da nossa quarta-feira com gostinho de quinta.
Você deve se lembrar de uma conversa sobre valor mobiliário como token que ferveu no ano de 2018.
Já havia pontuado neste espaço os benefícios de se emitir ações utilizando um sistema de registro distribuído, mas, mesmo com os benefícios de velocidade de transação, compliance automatizado, liquidez global instantânea, transparência e imutabilidade, a tendência de valores mobiliários no blockchain não engatou na velocidade esperada.
A queda do bitcoin, acompanhado do mercado inteiro de criptoativos, trouxe um sentimento negativo à tona que prejudicou o andamento da tese de valor mobiliário tokenizado.
Por outro lado, se o sentimento ficou negativo, a tese e os benefícios para esse ramo continuam os mesmos e começam a florescer novamente em comunicações oficiais de caras grandes do mercado tradicional.
Em um documento publicado recentemente, a Asia Securities Industry and Financial Markets Association (ASIFMA), que possui 125 membros, incluindo empresas como Citi, PwC, Standard Chartered e UBS, declarou abertamente o que espera para a tendência de valores mobiliários tokenizados.
Basicamente, para a ASIFMA, a falta de clareza na regulação tem barrado muitos dos desenvolvimentos que já poderiam ter ocorrido nesse ecossistema.
Além da associação asiática, o interesse pelo assunto voltou a surgir entre players importantes do mercado financeiro. O Franklin Templeton, fundo de investimento global com US$ 700 bilhões sob gestão, preencheu o prospecto preliminar para fazer uma oferta pública por meio do blockchain da Stellar.
Pouco a pouco, essa ideia vai ganhar terreno e, a partir dos avanços, principalmente em território asiático, o mundo vai ter que se mexer para não ficar para trás.
Imagine o que uma potência como a China seria capaz de fazer com a possibilidade de ofertar ações de empresas para o mundo todo sem precisar listá-las em Bolsas fora do país e sem a fricção natural do processo de transferência internacional de dinheiro.
Se, por um lado, isso é maravilhoso para a China, por outro, deve assustar, e muito, os Estados Unidos, que devem contra-atacar com alguma iniciativa até o ano que vem.
Isso porque, se o governo americano decidir se fechar para iniciativas como essa, estará adotando uma postura mais próxima à de uma ditadura como a chinesa e menos fiel ao tradicional liberalismo ianque.
Pouco a pouco, vamos invadir todas as praias.