Manual de sobrevivência urbana: como justificar R$ 400 mil em um 4×4 que não sai do asfalto
Desculpas criativas para um dos piores investimentos financeiros que você pode fazer
“Ah, mas fim de semana eu vou para o sítio.” Essa pode ser a justificativa para quem gasta R$ 490 mil em uma Ford Ranger Raptor zero-quilômetro. Quando perguntado sobre a frequência dessas escapadas rurais, a pessoa hesita: “Umas... duas, três vezes por mês”.
A realidade é bem diferente do discurso inicial. A Raptor, preparada para enfrentar o Rali Dakar, passa seus dias enfrentando o trânsito da Marginal Pinheiros e disputando vagas no estacionamento do condomínio de luxo.
A cena se repete em concessionárias premium. Compradores desembolsam fortunas em veículos preparados para o apocalipse, mas que passarão a vida enfrentando apenas lombadas, semáforos e o valet parking do shopping.
Entre o sonho vendido pelas montadoras e a realidade vivida pelos proprietários, existe um abismo – e muito dinheiro queimado. São Mercedes-Benz Classe G a R$ 2,5 milhões estacionados em frente a restaurantes japoneses, Jeep Wrangler Rubicon de R$ 500 mil que nunca viram lama, Ram 3500 de R$ 620 mil com a caçamba imaculada, protegida por capas acolchoadas.
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O fenômeno não é novo, mas ganhou proporções epidêmicas nos últimos anos. Com a chegada de modelos como GWM Tank 300, família Tremor da Ford e versões cada vez mais equipadas de picapes como Ram 2500 e 3500 e Chevrolet Silverado High Country, o brasileiro descobriu uma nova forma de ostentação: pagar o preço de um apartamento em um veículo que poderia escalar montanhas, mas que vai passar a vida entre o condomínio e o escritório.
Vamos desconstruir, uma por uma, as justificativas mais usadas para defender o indefensável.
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A desculpa do aventureiro de Instagram
Façamos as contas. Uma Ford Ranger Raptor custa a partir de R$ 490 mil. Se o dono faz cinco saídas por ano para locais que realmente justificam o veículo, cada passeio está custando R$ 90 mil – isso sem contar IPVA, seguro, combustível e manutenção.
A alternativa? Alugar um Jeep Compass Trailhawk sai por R$ 400 a diária.
Durante dez anos, alugando o veículo todo fim de semana – 104 diárias por ano –, você gastaria R$ 416 mil. Ainda assim, economizaria R$ 34 mil em relação ao preço de compra da Raptor, sem contar todos os custos de propriedade. E, convenhamos, ninguém vai para trilha todo fim de semana.

A ilusão da caçamba
Tem gente que ainda se ilude e parte para os acessórios, claro, para deixar o 4x4 com cara de mais aventureiro. Entre os equipamentos existem, por exemplo, o snorkel, guincho elétrico, suspensão preparada, proteções, gastos que podem exceder os R$ 80 mil. E boa parte deles é vendida sem nunca ter acionado o guincho.
A capacidade de carga e da caçamba também ilude muitos, que acreditam que usarão o veículo para transportar materiais e equipamentos, o que pode ser pontual. O uso real? Malas de viagem em sacolas plásticas, eventualmente uma bicicleta (apoiada em suporte cromado de R$ 2 mil para não arranhar nada), e Juca, o golden retriever da família.

A lista de itens que picapes de R$ 400 mil transportam é constrangedora: compras do supermercado organizadas em sacolas reutilizáveis, malas do fim de semana e equipamentos como o de stand-up paddle (que vai à praia duas vezes por ano).
Enquanto isso, SUVs grandes como Hyundai Palised (R$ 480 mil) e VW Tiguan Allspace (R$ 306 mil) oferecem seis e sete lugares, respectivamente, porta-malas gigantesco e custam menos que picapes grandes.
Para os raros momentos em que realmente precisar transportar algo volumoso, existe uma invenção fantástica: serviços de frete, que cobram R$ 200 por viagem. Mesmo que precise disso uma vez por mês durante 10 anos, gastará R$ 24 mil. Economia de R$ 426 mil em relação ao preço de uma picape premium.
A terapia mais cara do mercado
Existe uma justificativa que, embora raramente verbalizada com honestidade, é talvez a mais real de todas: “O carro me deixa mais confiante no trânsito”. Tradução: gosto de olhar os outros motoristas de cima.
A posição elevada de dirigir proporciona sensação de poder e controle. Há quem admita que se sente “mais respeitado” no trânsito quando está ao volante de um veículo imponente. É intimidação, consciente ou inconsciente, funcionando como compensação psicológica.
O veículo off-road premium virou símbolo de masculinidade, poder e controle. A pessoa não está comprando um meio de transporte. Está comprando uma identidade, uma imagem de si mesma que quer projetar para o mundo.
O custo dessa terapia sobre rodas? Em um financiamento típico de 96 meses para uma Ranger Raptor de R$ 490 mil, somando custos operacionais de aproximadamente R$ 8 mil mensais, o “tratamento” sai por cerca de R$ 768 mil ao longo de oito anos.
Enquanto isso, sessões semanais de terapia com um bom profissional, a R$ 400 cada, custariam R$ 153 mil no mesmo período. Sobrariam mais de R$ 600 mil. E, possivelmente, o dono da Raptor resolveria a questão de verdade.
A exceção que confirma a regra
Justiça seja feita: existem pessoas que realmente precisam desses veículos. Fazendeiros que acessam áreas remotas das propriedades, atravessam córregos e transportam equipamentos pesados em estradas de terra.
Profissionais como geólogos, biólogos de campo, veterinários que atendem em áreas rurais. Entusiastas genuínos que, todo fim de semana, estão em alguma trilha, participando de eventos off-road. Para esses, o investimento faz total sentido.
A conta que ninguém quer fazer
Coloquemos todos os números na mesa. Um comprador de Ford Ranger Raptor que mantenha o veículo por cinco anos, rodando 15 mil quilômetros anuais, vai desembolsar: R$ 490 mil no veículo, R$ 98 mil em IPVA, R$ 140 mil em seguro, R$ 75 mil em combustível (considerando 6 km/l e gasolina a R$ 6), R$ 45 mil em manutenções e revisões, R$ 32 mil em duas trocas de pneus. A depreciação de 40% no período representa perda de R$ 196 mil. Total em cinco anos: R$ 1,076 milhão.
A alternativa sensata – um Ford Territory, SUV espaçoso, tecnológico, confortável e seguro – custa R$ 215 mil. Os custos operacionais de cinco anos somam cerca de R$ 150 mil. Total: R$ 365 mil. A diferença entre as duas escolhas é de R$ 711 mil.

Com esse dinheiro, seria possível dar entrada em um apartamento de três quartos em um bairro nobre, por exemplo. Ou ainda investir em Tesouro IPCA+ 6% e receber R$ 4.400 mensais de renda passiva para o resto da vida. Ou até comprar um Tesla Model 3 e ainda ter R$ 380 mil sobrando, fazer 45 viagens internacionais em família, ou pagar a faculdade completa de dois filhos em universidade particular de primeira linha.
Mas aqui está a questão: nada disso parece tão sedutor quanto a sensação de pilotar uma máquina de 397 cv, ouvir o ronco do motor V6, sentir os olhares de admiração (e inveja) quando estaciona no valet do restaurante. Os números são frios, enquanto as emoções vendem carros.
A verdade inconveniente
Chegamos ao elefante na sala, ou melhor, ao elefante na garagem, ocupando duas vagas. A verdade que ninguém quer ouvir, mas que precisa ser dita: você não precisa desse carro. Você quer esse carro.
E existe uma diferença fundamental entre essas duas coisas, aliás. Necessidade é o que mantém a pessoa viva, funcional e produtiva. Desejo é o que faz a pessoa feliz, realizada e satisfeita. Ambos são legítimos. O problema não é querer algo caro e superdimensionado para suas necessidades reais, mas fingir que se trata de necessidade.
Se você tem R$ 2,150 milhões disponíveis, sem comprometer seu padrão de vida, sua aposentadoria, a educação dos filhos, e quer investir isso em um Mercedes-Benz Classe G porque acha o design icônico e te faz feliz cada vez que olha para ele na garagem – vá em frente!
O ser humano tem uma necessidade profunda de racionalizar suas decisões emocionais. Compramos o que queremos e inventamos motivos para explicar por que precisávamos.
O mais caro, no fim das contas, não é necessariamente o veículo em si. O custo real está sobtetudo na dissonância entre o que compramos e o que realmente usamos.
É a diferença entre a imagem do aventureiro desbravador que as montadoras vendem nas propagandas e a realidade do executivo no trânsito urbano. Ou o gap entre acreditar estar fazendo um investimento inteligente e os números que mostram o contrário.
A questão não é julgar quem faz essa escolha. Afinal, decisões de consumo raramente são puramente racionais. Compramos coisas que nos fazem sentir bem, que realizam sonhos e que nos dão prazer.
Eventos fidelizam e criam vínculos
Uma boa iniciativa para entender e usar veículos off-road é participar de eventos promovidos pela própria montadora. Um dos mais antigos é o Mitsubishi Motorsports, o mais tradicional evento off-road do Brasil, além do Mitsubishi Outdoor, voltado para tarefas estratégicas e culturais, e a Mitsubishi Cup, o maior rali de velocidade cross-country da América Latina Grande Prêmio.
A Jeep promove o Jeep Nature, expedições off-road voltadas exclusivamente para clientes da marca, com percursos planejados para diferentes tipos de terreno, seja de modelos 4x2 ou 4x4.

A Land Rover já promoveu eventos com obstáculos dinâmicos e trilhas off-road. A Porsche, embora focada em performance em pista, oferece treinos off-road.

Por falar em Porsche, a concessionária Stuttgart Porsche ofereceu recentemente a 123 clientes e convidados a oportunidade de explorar o potencial do Cayenne tanto na estrada quanto em trilhas off-road durante o Adventure Week, realizado no autódromo Velocitta em Mogi Guaçu, São Paulo, em outubro.
O evento promoveu test drives em pista asfaltada e off-road, apresentações técnicas sobre a tecnologia e modos de condução do veículo, além de visitas aos boxes durante o 91º Porsche Club Driving School.

Participantes dirigiram modelos Turbo GT, GTS e E-Hybrid Coupé, com atividades complementares como avaliações de tração e inclinação lateral no disco de torção, demonstrando a versatilidade e capacidade dos Cayenne em diferentes ambientes.
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