IA além do hype: 12 livros sobre inteligência artificial, indicados por quem mais entende do assunto
Especialistas em inteligência artificial indicam suas leituras favoritas sobre o tema, de suas origens a reflexões profundas

O que é um pensamento original? De onde surge uma ideia inovadora? Por séculos, essas perguntas pertenceram à filosofia, à psicologia e às artes. Hoje, elas ecoam no centro do debate tecnológico. Com a ascensão da Inteligência Artificial Generativa, que nos permite "conversar" com máquinas e pedir que criem textos, imagens, vídeos e músicas, a fronteira entre a criatividade humana e a simulação algorítmica nunca pareceu tão turva. Mas será que as máquinas realmente pensam?
O fenômeno atual, impulsionado por plataformas como o ChatGPT, não é o nascimento da IA, um campo que remonta aos anos 1950 com os primeiros questionamentos do matemático britânico Alan Turing, mas sim a sua democratização. Em meio ao entusiasmo e à avalanche de informações, surge a necessidade de filtrar e compreender verdadeiramente a tecnologia que molda o nosso tempo. E, para isso, nada melhor do que a literatura de qualidade.
Conversamos com Renato Gonçalves, doutor em Ciências da Comunicação e autor de Cr(IA)ção - Criatividade e Inteligência Artificial, para traçar um panorama e os conceitos-chave por trás da IA. Convidamos também os jornalistas Bruno Natal e Ana Freitas, que indicam livros fundamentais para quem deseja entender suas origens, seu funcionamento e suas implicações mais profundas.

O que é, afinal, a Inteligência Artificial?
Em essência, a inteligência artificial é a área da ciência da computação que busca simular o pensamento humano, um desafio proposto nos anos 1950 pelo matemático Alan Turing, cujos estudos pioneiros sobre computação lançaram as bases para a pergunta fundamental: afinal, as máquinas podem pensar?
No entanto, segundo Gonçalves, aí reside seu maior desafio e também uma fonte comum de mal-entendidos.
“O pensamento humano é influenciado por emoções, memória e outros fatores complexos”, explica. A IA, por mais avançada que pareça, apenas reproduz padrões. “Ela não pensa como os humanos e está muito longe disso. Embora sua interação seja sedutora, simulando um par de igualdade, ela não está nesse patamar”, adverte.
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O fenômeno da IA generativa
O que hoje conhecemos popularmente como IA é, na verdade, um subcampo específico: a IA generativa. Este é o ramo responsável por gerar produtos textuais, visuais, audiovisuais e sonoros, que ganhou os holofotes com ferramentas de fácil acesso.
“A novidade não está na tecnologia em si, mas nas plataformas que dispensam a necessidade de compreender linguagens de programação. Atualmente, conversamos com a máquina”, aponta Gonçalves. Essa acessibilidade massiva trouxe consigo novos questionamentos sobre autoria, criatividade e o valor do trabalho intelectual.
Máquina vs. Humano
A principal distinção entre o pensamento da máquina e o humano está na forma como lidam com a criação. A máquina é mestre em reconhecer e aplicar regras e padrões, analisando vastos bancos de dados para gerar respostas probabilisticamente coerentes.
Já o pensamento humano, especialmente o criativo, é único na capacidade de articular ideias de forma inesperada.
“Muitas vezes, a inovação vem por exemplo daquela conexão com 1% de chance de ser sustentável”, reflete Gonçalves. A IA pode entregar um texto gramaticalmente perfeito e com conteúdo verossímil, mas não se deve esperar dela uma inovação genuína, pois sua base é a reprodução do que já foi criado por humanos.

A importância do repertório
A máquina é uma ferramenta, e a qualidade de seu resultado depende diretamente da qualidade da instrução que recebe. É aqui que o papel humano se torna insubstituível.
“Se o usuário não souber solicitar algo interessante, o resultado será superficial. É aqui que entra a importância do repertório”, afirma Gonçalves. Ele explica que, para extrair o melhor da IA, portanto, é preciso ter conhecimento prévio, saber o que perguntar e como guiar a ferramenta.
A IA não substitui o processo criativo, mas pode ser inserida nele para potencializar a cognição humana. “Para usar a IA generativa de forma eficaz, não se pode ter preguiça, por mais que pareça um contrassenso”, conclui.
O barateamento criativo e a “Literacia de IA”
A facilidade de gerar conteúdo com IA acarreta um risco real: o barateamento do trabalho criativo. Em um mercado movido pela alta produtividade, a tentação de usar a IA para “fazer mais com menos” é grande. Para Gonçalves, o desafio não é se opor à tecnologia, mas dominá-la e ressaltar as diferenças entre o trabalho humano e o da máquina.
Nesse contexto, surge o conceito de “Literacia de IA” (ou letramento em IA), que significa compreender as potencialidades e limitações da ferramenta para usá-la de forma crítica e interessante. “Vejo uma grande possibilidade de expansão cognitiva se soubermos inserir a IA no processo criativo, e não no lugar do processo criativo”, finaliza.
Leituras que valem a pena
Para quem deseja fugir da superficialidade e, portanto, embarcar em um conhecimento mais profundo, Renato Gonçalves alerta: “É preciso tomar cuidado com o oportunismo. Assim como em outras áreas em ascensão, há muitos cursos e livros que prometem muito e entregam pouco, muitas vezes caindo na armadilha de vender cursos sobre como vender cursos”.
A seguir, listamos algumas obras para mergulhar no tema, indicados por quem mais entende do assunto.
12 livros sobre inteligência artificial
Renato Gonçalves, doutor em Ciências da Comunicação e autor do livro Cr(IA)ção - Criatividade e Inteligência Artificial
Desmistificando a Inteligência Artificial, Dora Kaufman (2022)
Escrito por Dora Kaufman, Desmistificando a Inteligência Artificial é uma boa porta de entrada, oferecendo um panorama completo e atualizado sobre a IA, traduzindo conceitos complexos para um público amplo.

Segundo Gonçalves, a obra se destaca porque a autora, “uma pesquisadora séria, estabelece uma interlocução entre os aspectos técnicos, sociais e políticos em uma linguagem acessível, transpondo a barreira do linguajar técnico das ciências da computação”. Ótima leitura para quem busca uma compreensão inicial que seja, ao mesmo tempo, abrangente e profunda.
The Creativity Code, Marcus du Sautoy (2019)
Em The Creativity Code, o escritor e professor de matemática Marcus du Sautoy mergulha na intersecção entre arte, criatividade e IA generativa, explorando as técnicas e tecnologias por trás da criação algorítmica.

É uma boa obra para refletir sobre como a criatividade, um domínio antes considerado exclusivamente humano, é hoje investigada e desafiada pelas máquinas. Como ressalta Gonçalves, o livro não deve ser encarado como um manual que ensina “como fazer um prompt, mas sim como uma obra que oferece a base para que o leitor possa refletir e aprofundar seu uso prático”.
Inteligência Artificial – Uma Abordagem Moderna, Peter Norvig e Stuart Russell (1995)
Para quem busca um aprofundamento técnico, a obra de referência é Inteligência Artificial: Uma Abordagem Moderna, de Stuart Russell e Peter Norvig. Considerado a "bíblia" da área, é um livro extenso, que serve como pilar para estudantes e profissionais das ciências da computação.

Por sua complexidade, Gonçalves o descreve como “mais indicado para pessoas que já possuem algum conhecimento na área e desejam se aprofundar de forma mais robusta”, sendo a escolha definitiva para dominar os fundamentos técnicos que estruturam todo o campo da IA.
Ana Freitas, jornalista especializada em IA aplicada à comunicação, criatividade e redes sociais e integrante do Braincast, podcast sobre inovação e cultura digital
Nexus: Uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à inteligência artificial, Yuval Noah Harari (2024)
Em Nexus, o professor israelense Yuval Noah Harari traça uma jornada histórica sobre como fluxos de informação moldaram sociedades – da escrita histórica até a disseminação de mitos religiosos, passando pelas redes sociais e a internet.

“Harari desmonta nossa ingenuidade sobre informação: ele nos lembra como a prensa de Gutenberg espalhou conhecimento, mas também alimentou a caça às bruxas, assim como as redes sociais prometeram democratizar a verdade, mas entregaram caos informacional. Embora sua perspectiva sobre IA seja um tanto apocalíptica, ele propõe soluções para evitar o pior”, diz Freitas.
Co-Intelligence: Living and Working with AI, Ethan Mollick (2024)
Em Co-Intelligence, o professor da Wharton School of the University of Pennsylvania Ethan Mollick defende uma parceria entre humanos e inteligência artificial, oferecendo um guia prático para convivermos com modelos como o ChatGPT.

“Mollick entende que a revolução acontece nas mesas de trabalho, não nos laboratórios. É dele a analogia da IA com calculadoras: calculadoras não destruíram nossa capacidade matemática, mas ampliaram o que podemos fazer com ela. Para quem está começando a tomar decisões práticas sobre IA, este é um bom manual de operações, reflexão e pragmatismo, sem tecno-otimismos ou alarmismos”, conta a jornalista.
The Worlds I See: Curiosity, Exploration, and Discovery at the Dawn of AI, Fei-Fei Li (2023)
Em The Worlds I See, Fei‑Fei Li entrelaça sua trajetória como imigrante chinesa, cientista e professora de Stanford com o nascimento e evolução da inteligência artificial. A história remonta dos desafios da juventude até a liderança no projeto ImageNet, o dataset que despertou as redes neurais do sono profundo, fundamentais para a IA chegar onde chegou hoje, como conta Freitas.

“O memoir mistura sua jornada pessoal com a história íntima da IA moderna. É uma perspectiva rara de quem efetivamente construiu as fundações da IA atual. Ela documenta como descobertas científicas reais acontecem não por meio de insights súbitos, mas anos de persistência e fracassos. Ela também defende uma visão de IA centrada no humano, baseada em experiência concreta e oferecendo uma visão interessante de roadmap ético”, resume a especialista.
AI Snake Oil: What Artificial Intelligence Can Do, What It Can’t, and How to Tell the Difference, Arvind Narayanan e Sayash Kapoor (2024)
“O que a IA realmente pode fazer e não pode fazer? Para quem precisa tomar decisões executivas sobre implementação de IA, é um livro que fornece ferramentas intelectuais para separar inovação de marketing predatório”, adianta Freitas sobre AI Snake Oil, dos cientistas da Universidade de Princeton Arvind Narayanan e Sayash Kapoor.

“Sua distinção entre IA generativa (potencial real) e IA preditiva (frequentemente fraude) é fundamental. É o antídoto contra o hype irresponsável”, reflete a jornalista. “Os autores demonstram por que sistemas que prometem prever comportamento humano complexo são fundamentalmente falhos e irresponsáveis, e quais são os reais superpoderes da IA”.
I, Human: AI, Automation, and the Quest to Reclaim What Makes Us Unique, Tomas Chamorro-Premuzic (2023)
Em I, Human, Tomas Chamorro-Premuzic, psicólogo organizacional argentino e professor da University College London, examina as consequências comportamentais do uso de IA, e da terceirização de funções para tecnologias que fazem nosso trabalho e tomam decisões por nós. “É um livro que, ainda em 2023, se debruçou sobre um tema que tem ganhado bastante espaço nas reflexões sobre uso da IA nos últimos tempos. O autor reflete sobre como podemos manter nossa humanidade quando máquinas assumem funções tradicionalmente humanas”, diz Freitas.

“Para Chamorro-Premuzic, o verdadeiro risco não é a substituição completa dos humanos por IA, mas nos tornarmos humanos atrofiados: menos curiosos, menos resilientes, menos capazes de pensamento independente”.
Bruno Natal, jornalista e host do podcast de tecnologia RESUMIDO
A Era do Capitalismo de Vigilância, Shoshana Zuboff (2021)
A Era do Capitalismo de Vigilância, de Shoshana Zuboff, revela como as grandes empresas de tecnologia transformaram dados pessoais em um recurso valioso, moldando comportamentos e influenciando decisões. A autora denuncia o poder invisível das plataformas digitais, que extraem informações para prever e controlar ações humanas.

“Zuboff explica como a experiência humana foi transformada em matéria-prima para lucros corporativos e ajuda a entender a IA como ferramenta de controle social e econômico, bem além da tecnologia”, diz Natal.
Dez Argumentos para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais, Jaron Lanier (2018)
Em Dez Argumentos para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais, o cientista da computação Jaron Lanier apresenta uma crítica ao impacto das plataformas digitais na sociedade. O autor, pioneiro da realidade virtual, argumenta que as redes manipulam emoções, corroem a autonomia e alimentam discursos de ódio.

“Lanier fala sobre o papel da IA e algoritmos no design de plataformas para manipular nossas emoções, polarizar o debate público e como isso afeta nossa saúde mental. É uma leitura rápida, acessível e provocadora para pensar a IA de forma crítica”, pontua o jornalista.
Neuromancer, William Gibson (1984)
“Romance seminal do cyberpunk, o livro mistura IA, hackers e realidades simuladas num mundo dominado por corporações e redes digitais. O livro Influenciou a imaginação sobre o futuro tecnológico e antecipou dilemas atuais como a fusão entre humano e máquina e a queda das fronteiras entre o real e o virtual”, diz Natal sobre Neuromancer, do escritor canadense William Gibson.

A trama acompanha Case, um hacker decadente recrutado para uma missão arriscada que envolve inteligência artificial e conspirações globais.
The Fourth Age: Smart Robots, Conscious Computers, and the Future of Humanity, Byron Reese (2018)
Em The Fourth Age, o empreendedor e futurista Byron Reese defende que a história humana pode ser dividida em quatro grandes eras, cada uma definida por uma tecnologia transformadora que altera nossa sociedade, biologia e futuro: da descoberta do fogo até o momento atual.

“Traz uma visão filosófica e otimista sobre como a IA e a robótica podem transformar a humanidade. Reese apresenta um panorama com vários caminhos possíveis, estruturado de uma forma que o leitor possa explorar diferentes narrativas de futuro conforme suas crenças e valores pessoais. Bom ponto de partida para refletir sobre escolhas sociais, éticas e políticas que definirão o futuro da IA”, resume o jornalista.
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