Este relógio praticamente brasileiro é um símbolo da relojoaria mundial há mais de um século — mas ele não é da Rolex
Modelo ‘Santos’ da joalheria francesa nasceu a partir de uma amizade entre Louis Cartier e Alberto Santos Dumont

O brasileiro e precursor da aviação Alberto Santos Dumont foi, ainda nos anos 1900, o que muitos influencers sonham em ser hoje em dia: um verdadeiro trend setter, que circulava entre a elite brasileira e internacional da época, uma espécie de híbrido entre uma personalidade excêntrica e influenciador do mais alto escalão.
O poder de influência de Santos Dumont era tão grande que seu amigo pessoal, o renomado joalheiro Louis Cartier, fez um relógio a partir de uma demanda específica dele.
E este item mantém-se como um ícone atemporal não só da relojoaria mundial, como de toda a indústria do luxo.
O relógio Santos poderia ser apenas mais um modelo entre tantos… se não tivesse uma história tão interessante por trás. E, como faz questão de afirmar o especialista Felipe Silvério, “na relojoaria, o ativo mais importante é o storytelling.”
O primeiro relógio de pulso do mundo? Quase…
O Santos carrega consigo a reputação de ser “o primeiro relógio de pulso do mundo”, em um contexto histórico no qual todos usavam relógios de bolso.
Mas esta lenda urbana da relojoaria não é exatamente verdade.
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Modelos de pulso já estavam disponíveis no mercado quando Santos Dumont fez a sua demanda para Cartier. No entanto, eles eram meramente adaptações dos modelos de bolso, apenas com garras soldadas para se firmarem no braço. Algumas versões feitas para mulheres já circulavam também.
Mas nem é preciso dizer que esses relógios de pulso não eram exatamente populares.
Foi preciso que uma personalidade com trânsito entre as elites e com prestígio social como Santos Dumont começasse a usar o item para que ele se consolidasse como tendência de moda.
“O Santos é de fato o primeiro relógio desenhado, projetado e fabricado sendo para o uso no pulso”, diz Silvério.
A demanda do aviador brasileiro vinha do fato de que ele precisava consultar o relógio sem tirar as mãos dos controles do avião — algo que não era possível se ele precisasse pegá-lo no bolso.
Esse pioneirismo definitivamente contribuiu para que o Santos se consolidasse como um modelo icônico da relojoaria mundial. Porém não foi o único fator.
Um clássico é um clássico
Desde que Louis Cartier decidiu atender ao pedido do amigo brasileiro, em 1904, até os dias atuais, o modelo Santos passou por poucas modificações em termos estéticos e funcionais.
Nos anos 1980, a joalheria do grupo Richemont lançou uma linha de Santos mais diminutos e mais arredondados, chamada de Galbée. Os modelos fizeram sucesso, mas foram descontinuados posteriormente.

Do lado da tecnologia, a alteração mais importante foi o fato de que a Cartier começou a ter um calibre in house em meados dos anos 2000. Ou seja, a própria empresa passou a projetar o mecanismo interno do relógio.
Na prática, para o usuário casual, isso não faz tanta diferença. Mas, para a Cartier, essa inovação a chancela como uma empresa interessada na vanguarda da tecnologia e na excelência na relojoaria. É uma dinâmica parecida com os carros da Fórmula 1, em que as marcas de automóveis se esforçam para apresentar aquilo que há de mais tecnológico e avançado em termos de automobilismo. |
A consistência de design ao longo de 121 anos de existência confere ao Santos autoridade e o torna automaticamente reconhecível. Em suma, um símbolo que resistiu aos efeitos do tempo e das mudanças de tendências de estilo — da ostentação até o quiet luxury.
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Atualmente, o especialista em relojoaria Felipe Silvério vê um movimento mais voltado para os relógios menores e com design mais minimalista.
“Nos anos 2000, a lógica era um pouco mais de ostentação, de tamanho, de presença – isso não só nos relógios. De uns anos para cá, a indústria vem trazendo um pouco mais de elegância, fala-se muito do quiet luxury”, diz.
Quanto custa um relógio Santos da Cartier
Todos os símbolos cobram o seu preço, especialmente no universo do luxo. É o caso da bolsa Birkin, da Hermès, e é o caso também do relógio Santos
No site brasileiro da Cartier, o modelo mais barato da linha custa R$ 35 mil. Na outra ponta, os mais caros saem por mais de R$ 300 mil.
Mas essa precificação não tem quase nada a ver com os custos envolvidos na produção.
Não que seja barato produzir um relógio com a excelência e o detalhismo do Santos. No entanto, o que mais dita o preço nesse caso são fatores muito mais abstratos.
“Isto é um negócio filosófico em toda a relojoaria: o preço do relógio não está ligado diretamente ao custo dele. Obviamente, o material usado vai influenciar, mas a Cartier pode cobrar hoje cifras de R$ 300 mil porque ela tem toda essa consistência histórica, relevância e posicionamento”, afirma Felipe Silvério.
Apesar de ser possível encontrar itens de bastante prestígio e valor elevado no e-commerce e na loja física da joalheria francesa, o especialista explica que não necessariamente estes são os mais desejados pelos colecionadores.

Relógio como investimento é uma falácia?
Ainda que a Cartier tenha um mercado de segunda mão devidamente movimentado, um relógio da maison não costuma valorizar acima do preço de tabela.
Esta não é a mesma lógica da Rolex, por exemplo. A concorrente suíça opera segundo uma lógica de oferta reprimida. Nem todos os clientes, por mais endinheirados que sejam, podem comprar todos os modelos diretamente na loja. É preciso criar uma relação com a marca (comprando itens mais baratos primeiro, por exemplo).
Com isso, o second-hand torna-se ainda mais frenético, com modelos usados sendo vendidos a preços exorbitantes, devido à sua exclusividade e dificuldade de aquisição.
Ainda assim, mesmo que alguns modelos específicos tenham a devida parcela de valorização com o passar do tempo, usar um relógio de luxo como investimento pode não ser exatamente uma boa ideia, na visão de Silvério.
O especialista vai ainda mais longe ao dizer que a prática é “muito mais falácia do que realidade”.
A visão é corroborada pelo próprio CEO da Rolex, Jean-Frédéric Dufour. Em entrevista ao jornal suíço NZZ, o executivo declarou não gostar quando as pessoas comparam relógios com ações. “Isso envia uma mensagem errada e é perigoso.”
- Nos últimos dois anos, o Blomberg Subdial Watch Index, índice que acompanha os preços dos 50 relógios mais negociados do mundo por valor de transação, caiu 5,7%.
* Com informações da Bloomberg.
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