Não vai meter a colher onde não é chamado: Fed mantém taxa de juros inalterada e desafia Trump
Como era amplamente esperado, o banco central norte-americano seguiu com os juros na faixa entre 4,25% e 4,50%, mas o que importa nesta quarta-feira (7) é a declaração de Powell após a decisão

A temperatura já estava elevada para a reunião desta quarta-feira (7) e o Federal Reserve (Fed) resolveu manter o fogo alto ao anunciar a manutenção da taxa de juros na faixa de 4,25% e 4,50% ao ano — colocando para ferver a relação com o presidente dos EUA, Donald Trump.
O republicano jogou Jerome Powell na panela de pressão: criticou o nível dos juros nos EUA, pressionou pelo afrouxamento monetário imediato e até ameaçou demitir o chefe do banco central norte-americano, sacudindo os mercados lá fora e aqui. Depois de hoje, a relação de ambos pode passar do ponto — de novo.
O comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) trouxe um alerta junto com a decisão unânime de manutenção dos juros: os riscos de volatilidade e como ela está influenciando as decisões.
- VEJA MAIS: A temporada de balanços do 1T25 começou – veja como receber análises dos resultados das empresas e recomendações de investimentos
"A incerteza quanto às perspectivas econômicas aumentou ainda mais", diz o documento.
"O comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e avalia que os riscos de aumento do desemprego e da inflação aumentaram", acrescenta a nota, referindo-se ao mandato de pleno emprego e estabilidade de preços em 2%.
O comunicado, no entanto, não aborda especificamente as tarifas de Trump.
Leia Também
Gasto de US$ 2,5 bilhões tira Trump do sério e coloca Powell na berlinda (de novo)
Se, na Casa Branca, a decisão tem tudo para esquentar os nervos do presidente norte-americano, no mercado, a manutenção já era esperada — ainda assim a reação, antes das declarações de Powell foram quentes.
Em Wall Street, o Dow Jones avançou mais de 200 pontos na esteira do comunicado, ou 0,24%, enquanto o S&P 500 passou a operar no vermelho, com queda de 0,36%, e o Nasdaq acelerou as perdas para 0,85%.
Por aqui, o Ibovespa seguiu em queda, de -0,19%, aos 133.263,29 pontos, enquanto o dólar no mercado à vista se manteve em alta. A moeda norte-americana subia 0,56%, cotada a R$ 5,7430.
No caldeirão das tarifas
A decisão do Fed acontece em um momento em que a Casa Branca está em negociações com parceiros comerciais por um período de 90 dias, iniciado no início de abril, e que implica na imposição de taxas gerais de 10% sobre quem não retaliou os EUA — claro, com a China fora desse “alívio”.
À medida que as manchetes quase diárias avaliam a guerra comercial, a economia tem emitido sinais conflitantes. O Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo, caiu 0,3% no primeiro trimestre, resultado da desaceleração dos gastos do consumidor e do governo e de um aumento nas importações antes das tarifas.
A maioria dos economistas de Wall Street espera que a economia retorne ao crescimento no segundo trimestre.
No comunicado de hoje, o Fomc observa que “oscilações nas exportações líquidas afetaram os dados” e manteve a recente caracterização de que a economia norte-americana “continuou a se expandir em um ritmo sólido”.
O FIM ESTÁ PRÓXIMO! Qual o FUTURO da SELIC e como ela deve IMPACTAR seus INVESTIMENTOS?
Trump x Powell: cozinhando em banho-maria
Trump identificou Powell como um de seus principais alvos. No último mês, chamou o presidente do Fed de "Sr. Tarde Demais" e de "grande perdedor" em meio às exigências de corte dos juros.
O republicano teria discutido a demissão de Powell, uma medida com base jurídica instável e, desde então, vem adotando uma postura de morde e assopra com relação à condução da política monetária do Fed.
- Powell foi nomeado para presidente do Federal Reserve por Trump em 2017, reconduzido por Joe Biden, e seu mandato só termina em maio de 2026.
Embora Trump queira meter a colher onde não foi chamado, Powell já deixou claro que acredita que o presidente dos EUA não tem autoridade legal para destituí-lo antes do término de seu mandato, mas não abordou explicitamente a recente onda de xingamentos do republicano.
Por isso, o mercado estava esperando pelas declarações de Powell na coletiva que seguiu a decisão de política monetária de hoje — e ele não quis colocar mais lenha na fogueira da relação com Trump.
Questionado sobre os comentários do presidente norte-americano sobre a política monetária, o chefe do Fed disse: "As críticas de Trump não afetam o trabalho do Fed. Perseguimos nosso mandato duplo e fazemos o que é preciso para atingi-lo".
Powell também foi questionado sobre a possibilidade de ser demitido por Trump, mas dessa resposta ele se esquivou: "não tenho nada a comentar sobre esse assunto".
Mas foi quando uma jornalista perguntou se ele pediria para se reunir com Trump que Powell se mostrou irritado. Elevando o tom, ele disse: "Não pedi para me encontrar com nenhum presidente e nunca vou fazer um pedido desses", disse ele, referindo-se a quando foi chamado por Trump para ir à Casa Branca ainda no primeiro mandato.
Chef Powell pilotando os fogões do Fed
O Fed opera em um sistema de mandato duplo para manter a inflação na meta de 2% e o emprego robusto.
O mercado de trabalho norte-americano tem se mostrado estável, com os EUA criando 177.000 empregos no mês passado, um número melhor do que o esperado, enquanto a taxa de desemprego se manteve em 4,2%.
Já o mandato de inflação vem se destacando nos últimos quatro anos, após os preços atingirem o maior nível em quatro décadas em 2022.
Desde então, a inflação tem se moderado lentamente: embora acima da meta, a medida preferida do Fed para variações de preços atingiu a mínima em quatro anos, a 2,3% em março.
O problema é que economistas esperam que as tarifas de Trump levem a um aumento considerável nos preços ao consumidor.
Sobre isso, Powell disse que as expectativas de inflação de curto prazo aumentaram e as tarifas, segundo pesquisas, são as principais responsáveis por esse avanço.
"As tarifas são significativamente maiores do que o esperado", afirmou ele, acrescentando que o impacto de longo prazo da guerra comercial ainda não é claro.
Embora tenha reconhecido progressos com relação à inflação e ao emprego nos EUA, Powell admitiu que o Fed deve encontrar tensão entre os objetivos de seu mandato duplo, que é determinado pelo Congresso norte-americano e não pela Casa Branca.
"Evitar uma inflação persistente dependerá do tamanho e do timing das tarifas", afirmou ele, acrescentando que o risco de mais desemprego e mais inflação amentou, embora não tenha se materializado nos dados.
- VEJA MAIS: Faltam menos de 30 dias para o fim do prazo da declaração; confira o passo a passo para acertar as contas com o Leão
Cortando na carne dos juros
Antes da reunião, as projeções indicavam praticamente nenhuma chance de um corte de juros hoje e menos de 30% de probabilidade de um movimento em junho, com o próximo corte previsto para julho.
Depois da decisão de hoje, julho seguiu como o mês mais provável para a primeira redução da taxa em 2025, com 56,8% de chances, segundo a ferramenta FedWatch do CME Group.
Os investidores também continuaram a precificar três cortes neste ano, em um total de 0,75 ponto percentual de afrouxamento previsto.
Powell, no entanto, voltou a dizer que não tem pressa para retomar os cortes de juros.
"Estamos bem posicionados em termos de política monetária, por isso, não precisamos ter pressa [para realizarmos ajustes nos juros]. É apropriado que sejamos pacientes agora", disse ele, acrescentando que "não estamos em uma situação em que possamos agir preventivamente".
O presidente do Fed, no entanto, descartou — ao menos por enquanto — a chance de os juros subirem por conta das tarifas. "Dependendo do jeito que as coisas evoluírem, podemos manter ou cortar os juros", afirmou.
Trump ataca novamente: EUA impõem mais tarifa — desta vez, de 35% sobre importações do Canadá
Em carta publicada na rede Truth Social, o presidente republicano acusa o país vizinho pela crise do fentanil nos Estados Unidos
A visão do gringo: Trump quer ajudar Bolsonaro com tarifas de 50% e tenta interferir nas decisões do STF
Jornais globais sinalizam cunho político do tarifaço do presidente norte-americano contra o Brasil, e destacam diferença no tratamento em relação a taxas para outros países
Fed caminha na direção de juros menores, mas ata mostra racha sobre o número de cortes em 2025
Mercado segue apostando majoritariamente no afrouxamento monetário a partir de setembro, embora a reunião do fim deste mês não esteja completamente descartada
Trump cumpre promessa e anuncia tarifas de 20% a 30% para mais seis países
As taxas passarão a vale a partir do dia 1º de agosto deste ano, conforme mostram as cartas publicadas por Trump no Truth Social
Trump cedeu: os bastidores do adiamento das tarifas dos EUA para 1 de agosto
Fontes contam o que foi preciso acontecer para que o presidente norte-americano voltasse a postergar a entrada dos impostos adicionais, que aconteceria nesta quarta-feira (9)
O Brasil vai encarar? Lula dá resposta direta à ameaça de tarifa de Trump; veja o que ele disse dessa vez
Durante a cúpula do Brics, o presidente brasileiro questionou a centralização do comércio em torno do dólar e da figura dos EUA
As novas tarifas de Trump: entenda os anúncios de hoje com 14 países na mira e sobretaxas de até 40%
Documentos detalham alíquotas específicas, justificativas econômicas e até margem para negociações bilaterais
Trump dispara, mercados balançam: presidente anuncia tarifas de 25% ao Japão e à Coreia do Sul
Anúncio por rede social, ameaças a parceiros estratégicos e críticas do Brics esquentam os ânimos às vésperas de uma virada no comércio global
Venda do TikTok nos EUA volta ao radar, com direito a versão exclusiva para norte-americanos, diz agência
Trump já prorrogou três vezes o prazo para que a chinesa ByteDance venda as operações da plataforma de vídeos curtos no país
EUA têm medo dos Brics? A ameaça de Trump a quem se aliar ao bloco
Neste fim de semana, o Rio de Janeiro foi sede da cúpula dos Brics, que mandou um recado para o presidente norte-americano
Trump vai enviar carta para 12 países com proposta de ‘pegar ou largar’ as tarifas impostas, mas presidente não revela se o Brasil está na lista
Tarifas foram suspensas até o dia 9 de julho para dar mais tempo às negociações e acordos
Nem republicano, nem democrata: Elon Musk anuncia a criação de um partido próprio nos Estados Unidos
O anúncio foi feito via X (ex-Twitter); na ocasião, o bilionário também aproveitou para fazer uma crítica para os dois partidos que dominam o cenário político dos EUA
Opep+ contraria o mercado e anuncia aumento significativo da produção de petróleo para agosto
Analistas esperavam que o volume de produção da commodity continuasse na casa dos 411 mil bdp (barris por dia)
Onde investir no 2º semestre: Com Trump no poder e dólar na berlinda, especialistas apontam onde investir no exterior, com opções nos EUA e na Europa
O painel sobre onde investir no exterior contou com as participações de Andressa Durão, economista do ASA, Matheus Spiess, estrategista da Empiricus Research, e Bruno Yamashita, analista da Avenue
Trump assina controversa lei de impostos e cortes de gastos: “estamos entrando na era de ouro”
O Escritório de Orçamento do Congresso estima que o projeto de lei pode adicionar US$ 3,3 trilhões aos déficits federais nos próximos 10 anos
Como a volta do Oasis aos palcos pode levar a Ticketmaster a uma disputa judicial
Poucos dias antes do retorno dos irmãos Noel e Liam Gallagher, separados desde 2009, o órgão britânico de defesa da concorrência ameaça processar a empresa que vendeu 900 mil ingressos para os shows no Reino Unido
Cidadania portuguesa: quem tem direito e como solicitar em meio a novas propostas?
Em meio a discussões que ameaçam endurecer o acesso à nacionalidade portuguesa, especialistas detalham o cenário e adiantam o que é preciso para garantir a sua
A culpa é de Trump? Powell usa o maior evento dos BCs no mundo para dizer por que não cortou os juros ainda
O evento organizado pelo BCE reuniu os chefes dos principais bancos centrais do mundo — e todos eles têm um inimigo em comum
Agência vai na contramão de Trump e afirma que Irã pode voltar a enriquecer urânio nos próximos meses; confira a resposta de Teerã
Em meio a pronunciamentos dos governos iraniano e norte-americano neste fim de semana, o presidente francês, Emmanuel Macron, cobrou retorno do Irã à mesa de negociações
G7 blinda empresas dos EUA de impostos mínimos globais após pressão de Trump
O acordo para a tributação das companhias norte-americanas foi firmado em meio a uma decisão do governo Trump no megaprojeto de gastos