Do fiasco do etanol de segunda geração à esperança de novo aporte: o que explica a turbulenta trajetória da Raízen (RAIZ4)
Como a gigante de energia foi da promessa do IPO e da aposta do combustível ESG para a disparada da dívida e busca por até R$ 30 bilhões em capital
A Raízen (RAIZ4), que atua na distribuição de combustíveis e na produção de etanol e açúcar, entrou oficialmente para a lista dos IPOs que não deram certo na bolsa brasileira no dia 13 de agosto passado, quando divulgou um prejuízo trimestral de R$ 1,8 bilhão.
A empresa, controlada pela Cosan e pela Shell, cada uma com participação de 44%, chegou à B3 em agosto de 2021 — ainda em tempos de pandemia — e levantou R$ 6,9 bilhões para investir quase tudo em plantas de etanol de segunda geração (E2G).
Mas esse negócio claramente não deu certo e essa é a raiz da explicação para o desempenho do negócio e do papel desde a estreia na bolsa até aqui.
- SAIBA MAIS: Fique por dentro das principais notícias do mercado. Cadastre-se no clube de investidores do Seu Dinheiro e fique atualizado sobre economia diariamente
A ação da Raízen até subiu um pouco nos primeiros meses, mas, desde março de 2022, negocia abaixo do preço do IPO. Em quatro anos, a desvalorização acumulada é de 85,5%.
O que aconteceu com o etanol de segunda geração?
O etanol de segunda geração é um biocombustível produzido a partir de resíduos da produção de etanol comum (E1G), como palha e bagaço de cana-de-açúcar ou milho.
Ao utilizar resíduos que antes iriam para o lixo, o E2G é produzido de forma mais sustentável e eficiente, permitindo maior produção sem elevação da área plantada. Essa foi uma ideia turbinada na pandemia.
Leia Também
“Alguns países têm restrições ou não compram o etanol por conta de preocupações com desmatamento, uso da terra e o impacto na produção de alimentos. Como o E2G é extraído de resíduos, ele acabaria com esse problema”, disse um analista.
“A ideia era reduzir a pegada de carbono e, em tese, atender esses compradores, dispostos a pagar um prêmio pelo produto. Mas o prêmio não se converteu, o custo das plantas foi maior do que o estimado, e o juro subiu”, segundo o analista. Quando a Raízen chegou à bolsa, a Selic estava em 5,25% ao ano. Hoje está em 15%.
Um gestor disse que, simplesmente, o negócio não se mostrou viável: “A companhia fez investimentos gigantes nessa história, quando o pessoal ESG europeu estava abraçando árvore e pagando prêmio nesse E2G. Aí o Putin invadiu a Ucrânia, o preço da energia na Europa explodiu e o pessoal deixou de bobagem”, afirmou o profissional, que não está entre os entusiastas da pauta ESG nos investimentos.
Reestruturação em andamento na Raízen — mas ainda falta muito
No final do ano passado, a Raízen trocou seus principais executivos e começou uma reestruturação, amparada em corte de custos e também na venda de ativos.
Os resultados desse processo já vêm aparecendo, inclusive no último trimestre. No entanto, não chegam até a última linha do balanço, porque as despesas financeiras estão “comendo” todo o resultado.
- LEIA MAIS: Quer saber como ter acesso a uma carteira de crédito privado com retornos acima do Tesouro IPCA+? O Seu Dinheiro disponibilizou gratuitamente; veja aqui
“A Raízen se endividou muito, fez um monte de projetos ruins, e não viu a concorrência do etanol de milho, que é muito mais barato de produzir. O etanol de segunda geração não deu em nada até agora, e aquele apelo da sustentabilidade ficou para trás. E, agora, a conta não fecha”, disse um gestor.
No primeiro trimestre de seu ano-safra 2025/2026, de abril a junho, a empresa registrou alta de 56% na dívida líquida, que alcançou R$ 49,2 bilhões. Nesse período, a alavancagem passou de 2,3x para insustentáveis 4,5x.
No release de resultados, a Raízen disse que, para fortalecer a estrutura de capital e acelerar a desalavancagem, está, ao lado de seus acionistas controladores, “avaliando ativamente uma potencial capitalização”.
“As discussões estão em andamento, incluindo a possibilidade de um aporte de capital que poderá envolver os atuais ou novos acionistas, sem definição de termos ou garantia de conclusão da operação”, escreveu a companhia.
- SAIBA MAIS: Quer garantir uma aposentadoria tranquila? Descubra quanto investir por mês na previdência privada; simule agora com a ferramenta do Seu Dinheiro
“Esse é o grande ‘X’ da questão. A Raízen precisa resolver o problema da estrutura de capital para que o esforço operacional que já está fazendo se reflita em mais lucro e dividendos no longo prazo”, disse um analista.
Vem aí aumento de capital? Qual o tamanho do cheque
Um aumento de capital na Raízen já era dado certo pelo mercado. O problema é que a controladora Cosan não tem, hoje, condições financeiras de acompanhar a capitalização.
“Pensar em dinheiro do controlador aqui é pensar no bolso da Shell. A Cosan só tem a franquia, o relacionamento, o nome para poder ajudar nas negociações”, disse o analista. Assim, a Cosan deverá ter a sua participação na empresa diluída.
O cheque é grande. Um gestor calcula que a necessidade de capital da Raízen possa ser próxima a R$ 30 bilhões. A empresa vale hoje na bolsa R$ 10,7 bilhões.
- SAIBA MAIS: Investir com inteligência começa com boa informação: Veja as recomendações do BTG Pactual liberadas gratuitamente pelo Seu Dinheiro
“Com a venda dos ativos, eles devem conseguir uns R$ 15 bilhões, contando os ativos na Argentina, que devem valer R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões, mais algumas outras usinas. Ainda faltariam de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões de novos recursos”, disse esse gestor.
As notícias de jornal são de que haveria interesse de investidores estratégicos. No sábado, O Globo informou que a Petrobras estuda investir na Raízen, o que “marcaria sua volta ao setor de etanol, estratégia já anunciada por Magda Chambriard”. A petroleira, no entanto, negou a informação na noite desta segunda-feira (18).
Resolvendo a questão do endividamento, o mercado vê potencial para a retomada do negócio.
“A margem do negócio de distribuição foi consideravelmente melhor do que o esperado pelo mercado. Isso mostra o esforço da administração de cortar custos. As despesas administrativas foram reduzidas em quase 20% desde que anunciaram a reestruturação até agora. Teve muita demissão e redimensionamento da companhia,” disse um analista.
“Ou seja, eles estão tentando fazer o que é possível para melhorar o resultado operacional. Estão ali tentando tirar umas coisas da cartola.”
O que analistas destacam do último balanço
Os analistas do Itaú BBA destacaram resultados melhores do que o esperado, mas com a piora nos indicadores de alavancagem.
Segundo o relatório do banco, a Raízen reportou um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado de R$ 1,9 bilhão, 12% acima das estimativas.
O segmento de Etanol, Açúcar e Bioenergia (EAB) apresentou Ebitda 22% acima das projeções desses analistas, impulsionado por melhores preços realizados de açúcar (refletindo os hedges contratados). Além disso, o Ebitda da Mobilidade (distribuição) superou em 22% o estimado.
- SAIBA MAIS: Receba uma carteira diversificada com recomendações de ativos para buscar ganho de capital apurada pela Empiricus Research; veja como
Os analistas do BTG Pactual, além da melhora operacional, destacaram a limpeza em andamento no balanço patrimonial, com a decisão da empresa de reduzir drasticamente as linhas de financiamento de capital de giro de curto prazo, como financiamento a fornecedores e adiantamentos de clientes, em troca de linhas de dívida de longo prazo (e mais baratas).
No entanto, eles também destacam que a Raízen precisa acelerar o processo de desalavancagem. O custo da dívida líquida foi de R$ 1,6 bilhão no trimestre (R$ 6,2 bilhões anualizado).
“Ajustar o capex, reduzir o negócio de trading e se desfazer de ativos não essenciais são passos positivos, mas provavelmente não suficientes. Por isso, vemos de forma positiva a mensagem no comunicado afirmando que a companhia avalia um aumento de capital”, escreveram os analistas do BTG.
E aí, a Raízen tem jeito?
“Se a Raízen voltar a ter foco no negócio que dá resultado, eles certamente voltarão a aparecer. O problema é que a empresa se distraiu e gastou demais com E2G e agora tem o problema da reestruturação. Mesmo com tudo isso, a operação vem melhorando”, disse um analista.
Para ele, o melhor caminho seria focar no negócio que dá mais certo: o de distribuição. “É daí que vem a parte mais relevante do Ebitda dela.”
Outro analista avalia que, nesse segmento, o negócio também é difícil, uma vez que as empresas estão às voltas com competição predatória, inclusive pela presença do crime organizado. A Raízen tem o licenciamento da marca Shell para atuar no Brasil, Argentina e Paraguai.
Um gestor alerta que, como não se sabe ainda o tamanho e as condições do aumento do provável aumento de capital, antes de pensar em investir em Raízen, é melhor ter mais clareza no cenário da operação e da reestruturação da empresa. “Hoje, para mim, é um ativo estressado”.
XP (XPBR31) anuncia R$ 500 milhões em dividendos e recompra de até R$ 1 bilhão em ações após lucro recorde no 3T25
Companhia reportou lucro líquido de R$ 1,33 bilhão, avanço de 12% na comparação anual; veja os destaques do balanço
Banco do Brasil (BBAS3) lança cartão para a altíssima renda de olho nos milionários; veja os benefícios
O cartão BB Visa Altus Liv será exclusivo para clientes com mais de R$ 1 milhão investido, gastos médios acima de R$ 20 mil e/ou renda mínima de R$ 30 mil
A ação que pode virar ‘terror’ dos vendidos: veja o alerta do Itaú BBA sobre papel ‘odiado’ na B3
Apesar da pressão dos vendidos, o banco vê gatilhos de melhora para 2026 e 2027 e diz que shortear a ação agora pode ser um erro
JBS (JBSS32): BofA ‘perdoa’ motivo que fez mercado torcer o nariz para a empresa e eleva preço-alvo para as ações
Após balanço do terceiro trimestre e revisão do guidance, o BofA elevou o preço-alvo e manteve recomendação de compra para a JBS
Grupo Toky (TOKY3), da Mobly e Tok&Stok, aprova aumento de capital e diminui prejuízo, mas briga entre sócios custou até R$ 42 milhões
Empresa amargou dificuldades com fornecedores, que levaram a perdas de vendas, faltas de produtos e atraso nas entregas
Petrobras (PETR4) descobre ‘petróleo excelente’ no Rio de Janeiro: veja detalhes sobre o achado
A estatal identificou petróleo no bloco Sudoeste de Tartaruga Verde e segue com análises para medir o potencial da nova área
Gigantes de frango e ovos: JBS e Mantiqueira compram empresa familiar nos EUA para acelerar expansão internacional
A maior produtora de frangos do mundo e a maior produtora de ovos da América do Sul ampliam sua presença global
Cosan (CSAN3) e Raízen (RAIZ4) têm perdas bilionárias no trimestre; confira os números dos balanços
Os resultados são uma fotografia dos desafios financeiros que as duas companhias enfrentam nos últimos meses; mudanças na alta cúpula também são anunciadas
Nubank (ROXO34): o que fazer com a ação após maior lucro da história? O BTG responde
Na bolsa de Nova York, a ação NU renovava máximas, negociada a US$ 16,06, alta de 3,11% no pregão. No acumulado de 2025, o papel sobe mais de 50%.
IRB (IRBR3) lidera quedas do Ibovespa hoje após tombo de quase 15% no lucro líquido, mas Genial ainda vê potencial
Apesar dos resultados fracos no terceiro trimestre, a gestora manteve a recomendação de compra para os papéis da empresa
Não aprendi dizer adeus: falência da Oi (OIBR3) é revertida. Tribunal vê recuperação possível e culpa gestão pela ruína
A desembargadora Mônica Maria Costa, da Primeira Câmara do Direito Privado do TJ-RJ, decidiu suspender os efeitos da decretação de falência, concedendo à companhia uma nova chance de seguir com a recuperação judicial
iPhones com até 45% de desconto no Mercado Livre; veja as ofertas
Ofertas são da loja oficial da Apple dentro do marketplace e contam com entrega Full e frete grátis
Azul (AZUL4) dá sinal verde para aporte de American e United, enquanto balanço do 3T25 mostra prejuízo mais de 1100% maior
Em meio ao que equivale a uma recuperação judicial nos EUA, a Azul dá sinal verde para acordo com as norte-americanas, enquanto balanço do terceiro trimestre mostra prejuízo ajustado de R$ 1,5 bilhão
BHP é considerada culpada por desastre em Mariana (MG); entenda por que a Vale (VALE3) precisará pagar parte dessa conta
A mineradora brasileira estima uma provisão adicional de aproximadamente US$ 500 milhões em suas demonstrações financeiras deste ano
11.11: Mercado Livre, Shopee, Amazon e KaBuM! reportam salto nas vendas
Plataformas tem pico de vendas e mostram que o 11.11 já faz parte do calendário promocional brasileiro
Na maratona dos bancos, só o Itaú chegou inteiro ao fim da temporada do 3T25 — veja quem ficou pelo caminho
A temporada de balanços mostrou uma disputa desigual entre os grandes bancos — com um campeão absoluto, dois competidores intermediários e um corredor em apuros
Log (LOGG3) avalia freio nos dividendos e pode reduzir percentual distribuído de 50% para 25%; ajuste estratégico ou erro de cálculo?
Desenvolvedora de galpões logísticos aderiu à “moda” de elevar payout de proventos, mas teve que voltar atrás apenas um ano depois; em entrevista ao SD, o CFO, Rafael Saliba, explica o porquê
Natura (NATU3) só deve se recuperar em 2026, e ainda assim com preço-alvo menor, diz BB-BI
A combinação de crédito caro, consumo enfraquecido e sinergias atrasadas mantém a empresa de cosméticos em compasso de espera na bolsa
Hapvida (HAPV3) atinge o menor valor de mercado da história e amplia programa de recompra de ações
O desempenho da companhia no terceiro trimestre decepcionou o mercado e levou a uma onda de reclassificação os papéis pelos grandes bancos
Nubank (ROXO34) tem lucro líquido quase 40% maior no 3T25, enquanto rentabilidade atinge recorde de 31%
O Nubank (ROXO34) encerrou o terceiro trimestre de 2025 com um lucro líquido de US$ 782,7 milhões; veja os destaques