Mais uma Super Quarta vem aí: dois Bancos Centrais com níveis de juros, caminhos e problemas diferentes pela frente
Desaceleração da atividade econômica já leva o mercado a tentar antecipar quando os juros começarão a cair no Brasil, mas essa não é necessariamente uma boa notícia
Estamos atravessando uma semana carregada de tensão, com movimentações de política monetária se acumulando no radar. Ao longo dos próximos dias, pelo menos cinco grandes bancos centrais — Brasil, EUA, Reino Unido, Japão e China — tomarão suas respectivas decisões de juros, cada um lidando com desafios próprios.
O cenário é um teste de fogo para os mercados, que já precificaram boa parte das decisões, mas ainda precisam decifrar os sinais deixados no discurso das autoridades monetárias.
O tom da comunicação que acompanha a decisão de juros é especialmente verdade para o Brasil e os EUA.
Lá fora, o Federal Reserve deve manter os juros inalterados, reforçando a narrativa de que a inflação segue sob controle, mas que cortes na taxa básica só virão com dados econômicos mais fracos.
Já por aqui, o Banco Central pode, pela primeira vez, dar sinais mais explícitos de que o ciclo de alta da Selic está chegando ao fim — embora isso não signifique que novos aumentos estejam descartados, apenas que o ritmo do aperto tende a ser mais contido e a taxa terminal menor do que se temia antes.
Para nós, os sinais de desaceleração da atividade são cada vez mais evidentes.
Os três últimos indicadores de atividade divulgados na semana passada vieram abaixo das expectativas, reforçando a tese de que o aperto monetário já está cobrando seu preço.
A combinação de crédito mais caro, desaceleração no consumo e sinais de esgotamento do modelo de crescimento do governo tem se refletido nos dados.
Leia Também
As vantagens da holding familiar para organizar a herança, a inflação nos EUA e o que mais afeta os mercados hoje
Rodolfo Amstalden: De Flávio Day a Flávio Daily…
- VEJA MAIS: Onde investir este mês? Analistas recomendam as melhores ações, fundos imobiliários, BDRs e criptomoedas
O que isso muda para os juros?
A perspectiva de um fim do aperto monetário começa a abrir espaço, ainda que de forma incipiente, para uma conversa sobre corte de juros — algo que os mercados já começaram a antecipar.
Esse alívio na percepção de política monetária, somado ao pacote de estímulos da China, ao potencial ganho relativo do Brasil com a guerra comercial de Donald Trump (já que outros países podem redirecionar suas compras para produtos brasileiros para evitar tarifas dos EUA) e à rotação regional global favorecendo mercados emergentes, ajudou a dar um respiro aos ativos locais.
Mas, como sempre, a imprevisibilidade política e econômica do Brasil segue sendo um fator de risco — e a Super Quarta promete reforçar essa volatilidade.
Depois de um 2024 desastroso para os ativos domésticos, 2025 já tinha boas chances de ser um ano mais forte quase por inércia — valuations excessivamente descontados, uma base comparativa extremamente baixa e um posicionamento técnico favorável criavam as condições para uma recuperação.
Até o câmbio embarcou na onda. O dólar fechou a segunda-feira abaixo de R$ 5,70, enquanto as apostas estrangeiras contra o real recuaram para o menor patamar em mais de um ano e meio.
O problema, como sempre, é Brasília.
O estresse político por conta da inflação já é evidente — e com razão. Os preços ao produtor dispararam 9,69% na base anual, marcando a maior alta desde setembro de 2022 e deixando claro que a pressão inflacionária sobre o consumidor ainda está longe de ser contida.
E qual é a resposta do governo?
Exatamente a pior possível: dobrar a aposta em medidas populistas e paliativas. Em vez de atacar as causas estruturais da inflação, Lula segue tentando contornar a realidade com iniciativas que só aumentam as distorções.
O resultado?
Um cenário em que o governo pisa no acelerador da economia enquanto o Banco Central tenta manter o pé no freio monetário.
Esse descompasso gera um crescimento disfuncional, com um nível de inflação e de juros mais altos do que o necessário — um equilíbrio precário que só adia o ajuste inevitável.
Todos de olho em Gabriel Galípolo
Vale lembrar que a Super Quarta também marca um ponto de inflexão: será a primeira grande sinalização de um Banco Central comandado por Gabriel Galípolo.
Desde sua posse, o novo Copom, agora já com sete membros indicados por Lula, tem seguido a cartilha herdada de Roberto Campos Neto.
A dúvida que fica é: até quando?
O tom do comunicado desta semana pode dar pistas sobre o real grau de independência do BC e o quão comprometido ele está com a ancoragem das expectativas — ou se começaremos a ver sinais de uma inflexão na condução da política monetária.
A partir de agora, o jogo começa a ficar mais nebuloso.
Minha leitura é de que este novo Banco Central tem uma inclinação mais dovish (expansionista), mas a reunião será o verdadeiro teste de fogo. Se o comitê indicar um viés mais brando, o mercado começará a precificar um fim de ciclo mais próximo do que se imaginava.
Lá fora, o cenário é completamente diferente.
Após semanas de volatilidade gerada pelo caos tarifário de Donald Trump, os holofotes agora se voltam para o Federal Reserve.
A decisão desta semana deve manter os juros inalterados entre 4,25% e 4,50%, mas a comunicação será o que realmente importa.
Jerome Powell e os demais dirigentes já alertaram que a incerteza criada pela política comercial do presidente americano adiciona um novo elemento de preocupação ao cenário econômico.
Os cortes de juros nos EUA continuam na mesa para o segundo semestre, mas dependerão da evolução dos dados.
O mercado, por ora, precifica três cortes de 25 pontos-base este ano, mas isso pode mudar dependendo das projeções que serão divulgadas junto da decisão.
Olhos atentos às estimativas de inflação, mercado de trabalho, PIB e, principalmente, à trajetória esperada para os juros até 2027.
Caminhos diferentes para os juros
Resumidamente, portanto, o Brasil, o BC deve elevar os juros mais uma vez e sinalizar se pretende reduzir o ritmo do aperto — ainda estamos distantes do debate sobre cortes por aqui, mas esse momento chegará.
Já nos EUA, o Fed seguirá com um discurso mais rígido, mas pode acabar frustrando parte do mercado caso suas projeções não reforcem a expectativa de afrouxamento no segundo semestre.
Na conjuntura atual, sem uma recessão de fato e apenas uma desaceleração moderada, o mercado segue nutrindo aquela velha ilusão de cortes de juros – tanto aqui, mais adiante, quanto nos EUA.
Mas desejar não é o mesmo que garantir, e a realidade pode ser bem menos generosa do que os otimistas gostariam de acreditar.
Felipe Miranda: Uma visão de Brasil, por Daniel Goldberg
O fundador da Lumina Capital participou de um dos episódios de ‘Hello, Brasil!’ e faz um diagnóstico da realidade brasileira
Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje
O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso