Felipe Miranda: Carta pela moderação (e cinco ações para comprar agora)
Com todos cansados de um antagonismo que tem como vitoriosos apenas os populistas de plantão, a moderação não poderia emergir como resposta?

A opinião de consenso é de que a aprovação do governo melhora a partir do tarifaço de Trump. Lula foi o vencedor da semana, Tarcísio, o perdedor, segundo a coluna Painel, da Folha de S.Paulo.
Matéria d'O Globo afirma que a taxação aos produtos brasileiros já traz reflexos positivos nas pesquisas internas do governo. Pela primeira vez desde janeiro, trackings internos apontariam a avaliação positiva de Lula superando a negativa.
Não sou daqueles que brigam com os dados. Se você não concorda com a realidade, bem… não é um problema da realidade. Ou, apelando para a frase atribuída a Ayn Rand, você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade.
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Mais do que concordar com os trackings, antevíamos reação imediata positiva na aprovação do presidente a partir do tarifaço. No mesmo dia do evento, postei em minhas redes sociais que Trump ressuscitava o governo Lula, argumento semelhante ao exposto por Edmar Bacha no Estado no final de semana.
Lula agora ganha uma narrativa de nacionalismo e de defesa da democracia. Tenta transmitir uma imagem do “adulto na sala”, moderado apreciador de jabuticaba, supostamente capaz de blindar a soberania nacional.
Segundo esse discurso, a família Bolsonaro conspiraria contra o País para evitar a prisão do patriarca, enquanto o governo seguiria em defesa dos interesses brasileiros.
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À hipótese nula, contudo, ofereço uma alternativa, ainda que apenas como questionamento: Lula será capaz de manter esse espasmo inicial de recuperação?
Não poderia haver um caminho em que a polarização sai como perdedora, com todos cansados de um antagonismo beligerante que tem como vitoriosos apenas os populistas de plantão, enquanto a maioria silenciosa sai com a derrota? A moderação não poderia emergir como resposta?
Não escrevo antevendo, necessariamente, o caminho mais provável. Estamos sob a neblina da guerra. Não é possível enxergar o outro lado da batalha que acaba de se iniciar. Trato apenas de um evento potencial diante de uma ampla distribuição de probabilidades, que talvez se confunda de maneira não deliberada com uma espécie de apelo de cunho aristotélico: a virtude está no meio.
Nossa vitalidade iorubá
Você tem razão. Pode ser mera súplica à moderação ou simples “wishful thinking”. Acolho a crítica. Também não sou daqueles que veem os vieses só nos outros. Reconheço os meus. No entanto, todos deveríamos admitir como esse espécie sectário tenta descaracterizar um dos mais definidores atributos da sociedade brasileira.
Esse apertheid que vivemos desafia o elemento essencial do Brasil: a miscigenação, o resultado da interação do europeu, com o índio e o preto, tão bem narrados em “Formação do Brasil Contemporâneo”, a afabilidade do homem cordial, descrita em “Raízes do Brasil”, a incorporação para dentro do patriarcalismo de elementos africanos, como argumentado em “Casa Grande & Senzala”, o "vetor ibero-imigrante com a milionária contribuição afro-ameríndia” do "Elogio do Vira-lata".
Por falar em Giannetti, insisto em seu argumento, pois todo o País se desenvolveu a partir da integração harmoniosa entre a "eficiência catarinense e a exuberância baiana; o progressismo paulista e a irreverência carioca; o brio gaúcho e a delicadeza mineira; a bravura pernambucana e a prodigalidade amazônica”.
Ficou famosa aquela pergunta do agora imortal a Caetano Veloso no Roda Viva: poderia o Brasil se civilizar sem perder sua “vitalidade iorubá”? Em termos mais filosóficos, Apollo domaria Dionísio a ponto de perdermos toda a graça e felicidade?
Quando recentemente encontrei Giannetti, manifestei minha maior preocupação: será que perderemos nossa vitalidade iorubá sem sequer termos nos civilizado?
Mas o argumento em prol da emergência da moderação não se apoia somente no apelo à nossa cordialidade e à tendência à miscigenação estruturais. Há um aparente esgotamento do extremismo, de lado a lado, que fere a cada um de nós, brasileiros.
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Quem tem a culpa não é quem paga a conta
Não nos percamos em narrativas. O culpado maior pela tarifação do Brasil é Donald Trump, cuja necessidade de aprovação e de demonstração de seus níveis de testosterona lembra perfis adolescentes, que se manifestam em suas redes sociais a partir de crises maníaco-depressivas.
Pretende-se redesenhar a Ordem Mundial com tuítes raivosos escritos pelo macho-alpha em busca de acasalamento. Estamos entre o "Choque das Civilizações” de Samuel Huntington, os “Os novos Leviatãs: Pensamentos depois do Liberalismo”, de John Gray e “O Mal Estar na Civilização”, de Freud.
Num segundo nível, Lula também tem responsabilidade. A ideia da moeda dos Brics é simplesmente esdrúxula e contrária aos interesses, devidamente explicitados, de Donald Trump. Na própria cúpula dos Brics, desempenhamos o papo de pato na mesa.
Enquanto a Índia fecha acordo com os EUA, nós saímos esbravejando antiamericanismo, portadores de um megafone histriônico de um grupo político que não existe, de fato, além de um mero acrônimo criado por um estrategista da Goldman Sachs, apoiado num modelo de Solow trivial — não era nada mais do que isso, nunca foi. O próprio Jim O’Neil hoje caçoa dos Brics como bloco político e econômico uníssono.
A proximidade do governo brasileiro com o eixo das ditaduras também não ajuda. A retórica anti-Israel, a incapacidade de diálogo e diplomacia prévia com o governo Trump, as condenações públicas à Ucrânia sem críticas análogas à Rússia… tudo isso atrapalha. Lula administra muito mal a questão externa (e também a dívida pública, mas isso é outra história).
Também são verdadeiros excessos do STF, que atua com o gigantismo de um poder moderador extinto há mais de século, ataca a liberdade de expressão com várias iniciativas de censura prévia e conduz um processo em que o juiz é vítima, acusador, investigador e julgador.
Ao mesmo tempo, é o nome de Bolsonaro que está na carta de Trump. Não há outro. E esse nome não foi parar lá aleatoriamente. Há uma proximidade, sim, da família com parte do Trumpismo, da ala de Steve Bannon e de congressistas da Florida. Não fosse por essa ofensiva bolsonarista, talvez a carta não viesse ou, ao menos, não dessa forma — lembre-se que até o dia da Libertação o Brasil estava alijado das preocupações de Trump.
As tentativas de Eduardo Bolsonaro de livrar o pai da cadeia ajudaram a penalizar todos os cidadãos brasileiros, bem como a inépcia de Lula na condução da política externa também o fez. E, me desculpem, é impossível hierarquizar aqui o nível de responsabilidade de cada um. Não fossem as duas coisas juntas, potencialmente não estaríamos assim. Portanto, são igualmente responsáveis.
Antes de avançar, explícito uma obviedade: nada disso justificaria a interferência na soberania de um outro país. Se há erros do STF ou na política externa brasileira, não cabe a outra nação julgar e punir unilateralmente. Até porque, da forma como foi feita, ela fere o princípio elementar da individualização da pena.
A responsabilidade por eventuais excessos do STF deveria encontrar restrições, sanções ou punições para seus juízes. Devaneios antiamericanos e escolhas ruins de determinado governo não poderiam encontrar contrapartidas negativas sobre o setor privado, que, em geral, era crítico desse governo.
As sanções não afetam o STF, tampouco vão estimular qualquer anistia. Trump pede o impossível (e sabe disso). Ao contrário, as medidas inviabilizam qualquer abrandamento da relação bolsonarista com o STF, que não pode ceder a qualquer pressão externa. Os congressistas também recusam qualquer avanço na pauta de anistia no momento porque reconhecem a interferência na soberania. Em paralelo, também não se pune o governo — como dito no início, o governo tem se beneficiado dessa dinâmica.
Quem perde com tudo isso? Nós, os idiotas pagadores de impostos, muitos, inclusive, que eram contra os excessos do STF, o caráter perdulário e a inépcia na política externa desse governo. Está sendo punido quem já era vítima dessas inadequações!
As redes sociais estão entupidas de torcedores de times de futebol, cujas brigas de torcidas organizadas resultam em tragédias nacionais.
Enquanto se matam com violência atroz (ainda que digital), os jogadores de cada um dos lados se reúnem após o clássico para tomar um “danone”, na expressão de Aloisio Chulapa. Compartilham na mesma mesa o álcool e piadas contra os torcedores, os únicos realmente afetados.
Com o desinteresse crescente pela Seleção Brasileira, os fanáticos hoje envenenam-se com o ópio da ideologia política lulista ou bolsonarista.
Será que não estamos cansados disso tudo?
Não está claro como, a seu modo, cada um dos lados tem um pouco de responsabilidade por termos chegado à medalha de ouro das tarifas norte-americanas?
Não é óbvio que Lula pensa como um caudilho dos anos 80, com uma retórica de luta de classes estapafúrdia e desatualizada? Não está cristalina a fragilidade da liberdade de expressão no Brasil? Não é óbvio o ensimesmamento da família Bolsonaro e como estão se borrando de medo da prisão?
Não percamos de vista: o torcedor mais fiel é hoje o mais longe dos títulos, de um time entupido em dívidas e com acusações de relação com o crime organizado. Os paralelos com a questão soberana são tão grandes que nos fazem mesmo parecer a nação do bando de loucos.
Resta-nos torcer por um lampejo de racionalidade, fora das paixões ideológicas, que mais uma vez nos empurram para a condição de pária internacional.
Há um bull market lá fora. E a imbecilidade de se tocar um país com o fígado, com a mesma intensidade e truculência dos grupos de WhatsApp, nos empurra para fora dele. Honramos mais uma vez a habilidade única de capotar na reta. Todos nós perdemos.
Com a esperança de que a moderação encontrará mais espaço frente à paixão ideológica, a boa notícia é de que, a partir da correção exagerada em alguns papéis pouco correlacionados com essa história, podemos comprar as melhores empresas do Brasil a preços bem mais interessantes: Itaú, Equatorial, Localiza, BTG e Direcional negociam sem tarifa.
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