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Felipe Miranda: A arte da negociação — ou da guerra?

Podemos decidir como as operações militares começam, mas nunca será possível antecipar como elas terminam. Vale para a questão militar estrito senso, mas também se aplica à guerra tarifária

7 de abril de 2025
20:00 - atualizado às 18:31
Tabuleiro de xadrez; nele, há três peças diferentes, identificadas com as bandeiras dos EUA, da China e da Rússia; simboliza a tensão geopolítica e a guerra no leste europeu
Imagem: iStock

“Quando olhamos para a década de 1920, nada é mais estranho do que a forma como cada evento importante na Europa escapou à observação da intelligentsia inglesa. A Revolução Russa, por exemplo, desaparece da consciência inglesa entre a morte de Lênin e a Grande Fome — um período de cerca de dez anos. Durante esse tempo, Rússia significa Tolstoi, Dostoiévski e condes exilados dirigindo táxis. Itália significa galerias de arte, ruínas, igrejas e museus — mas não camisas-negras. Alemanha significa filmes, nudismo e psicanálise — mas não Hitler, de quem ninguém ouvira falar até 1931”. Isso é George Orwell, no texto “Dentro da baleia”.

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Quando confiamos num acordo com Putin, estaríamos repetindo a ingenuidade de Chamberlain? Ao enfraquecer a Ordem Mundial definida pós-45, voltaremos a um mundo mais parecido com aquele anterior a 1914? Se não contamos mais com os EUA como xerife do mundo, a China poderia invadir Taiwan?

No clássico “Da Guerra”, o general prussiano Carl von Clausewitz nos apresenta a expressão “a neblina da guerra”. Podemos decidir como as operações militares começam, mas nunca será possível antecipar como elas terminam. Vale para a questão militar estrito senso, mas também se aplica à guerra tarifária. A esta altura, temos muito mais dúvidas do que certezas.

Tarifas e retaliação

Ao longo da história dos EUA, identificam-se seis grandes ondas de alta tarifação e consequente retaliação.

A primeira delas ocorre em 1828, conhecida como “The Tariff of Abominations”, feita para proteger as indústrias do nordeste dos EUA, com uma alíquota de 45% sobre as importações. Teve como resposta imediata a redução da importação de algodão dos EUA por Inglaterra e por toda a Europa. Entre seus desdobramentos, chegamos à “Nullification Crisis” de 1832 e 1833, quando a Carolina do Sul se rebelou contra a autoridade central norte-americana.

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O segundo movimento, conhecido como "McKinley Tariff", veio em 1890, sob 50% aplicados como tarifa de importações na maior parte dos produtos. Canadá e Alemanha responderam com tarifas elevadas sobre produtos agrícolas vindos dos EUA. Países exportadores de açúcar cortaram vendas para os EUA. A inflação veio a galope.

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Já no século XX, mais precisamente em 1922, conhecemos o “Fordney-McCumber Tariff”, sob uma tarifa média de 38% para as importações norte-americanas. França e Alemanha rapidamente impuseram tarifas sobre produtos manufaturados vindos dos EUA, bem como impactaram o setor agrícola norte-americano fechando seus mercados aos americanos.

Chegamos então ao famoso "Smoot-Hawley Tariff”, de 1930, o ápice das tarifas de importação, de 59%. Mais de 25 países devolveram com tarifas sobre os EUA, cujas exportações chegaram a cair 61%. Houve um colapso do comércio global.

E os últimos dois episódios envolvem Donald Trump, tal como conhecemos (o penúltimo em 2018/19 e o último na semana passada).

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O custo das tarifas

A observação histórica permite algumas conclusões. Em todos os eventos, a agricultura foi bastante afetada, sendo a mais impactada na maior parte das vezes.

O segundo elemento em comum é que, tradicionalmente, quem paga a conta é o consumidor final. Também é frequente a reação de outros países, que tipicamente retaliam com altas tarifas — entramos numa espiral intervencionista, com uma série de consequências não-deliberadas e, por vezes, contrárias às intenções originais.

Uma curiosidade em particular: em 1890, enquanto a posição original pretendia pressionar o Canadá a ponto até mesmo de forçar uma anexação aos EUA, o país acabou estreitando seus laços com a Inglaterra e compondo um bloco econômico com os britânicos. Qualquer semelhança com a atualidade talvez não seja mera coincidência.

Uma quarta consequência comum aos períodos de alta tarifação é que os cidadãos punem o partido político proponente das tarifas com menos votos à frente. Para fechar, claro que outra característica comum a todos os períodos é a “narrativa do bem” de que a taxação está sendo adotada para corrigir injustiças e promover empregos, enquanto se colhe como desdobramento prático uma enorme volatilidade entre as taxas de câmbio, maior inflação e menor crescimento econômico.

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Talvez ainda mais importante para o longo prazo seja o fato de que a maior tarifação exacerba nacionalismos, mexe com o balanço global de poder e planta sementes para a militarização.

Os atos de 1828 são apontados como catalisadores para o recrudescimento entre o Norte e o Sul dos EUA, vistos, entre outros fatores, como o prenúncio da guerra civil de 1861 a 1865. Já em 1930, a fragilidade do comércio internacional como resultado da Smoot-Hawley Tariff levou à formação de blocos econômicos apartados — Alemanha e Japão passam a se militarizar com maior intensidade em resposta; os EUA reduzem sua liderança e hegemonia, abrindo espaço para regimes autoritários nacionalistas.

À época, Thomas Lamont, do JP Morgan, chegou a declarar: “eu quase me ajoelhei diante de Herbert Hoover pedindo para vetar a Smoot-Hawley Tariff. Aquele ato intensificou o nacionalismo em todo o mundo.”

Entre o acordo e a escalada

Estamos diante de uma bifurcação. Não é claro se Donald Trump impôs as tarifas como um mero instrumento negocial, em linha com sua típica estratégia descrita no livro “The Art of the Deal”, para chamar os demais países para a mesa de negociação e conseguir objetivos mais alinhados aos seus interesses, mas que resultem, no final, em manutenção de bons níveis de corrente de comércio; ou se as medidas são mesmo de longo prazo, como tentativa estrutural de reindustrializar os EUA, trazer de volta os empregos “blue collar” para os norte-americanos e melhorar a arrecadação tributária.

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Talvez até seja algum tipo de combinação heterodoxa entre as duas coisas.

A maior probabilidade ainda parece indicar o primeiro caminho. Como disse Nouriel Roubini, os danos são tão perversos que o mínimo de racionalidade econômica forçará um recuo de Donald Trump. Em sentido semelhante, Bill Ackman, tradicional crítico aos Democratas, propôs um adiamento das tarifas, dando tempo de negociação para sua implementação. A imprensa tradicional sobe o tom contra Trump.

Se for mesmo esse o caso, os mercados tenderiam a se acalmar nas próximas semanas e, se a história serve de guia, apresentar vigorosa recuperação à frente. Desde 1950, o declínio de 10,5% do S&P 500 em apenas dois dias encontra poucos paralelos.

Em 19/10/1987, o recuo foi de 24,6% — um ano depois, a alta era de 28%; três anos depois, a valorização marcava 55%; cinco anos depois, 119%. Em 20/10/1987, a queda foi de 16,2%, para uma apreciação posterior de 24% em um ano, 47% em três anos e 108% em cinco anos.

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Em 12/3/2020, a desvalorização em dois dias montou a 13,9%, para uma alta posterior de 62% em um ano, 63% em três anos e 144% em cinco anos. Já em 20/11/2008, a queda de dois pregões foi de 12,4%, sucedida de uma valorização de 49% em um ano, 73% em três anos e 164% em cinco anos.

Em contrapartida, mesmo que de baixa probabilidade, a continuidade de uma escalada da guerra tarifária teria impactos tão pronunciados que não pode ser desconsiderada. A hipótese de estarmos apenas elucubrando sobre uma Terceira Guerra Mundial é suficientemente assustadora.

Se alguém ainda é capaz de pensar em alocação de recursos num ambiente assim, uma boa pedida seria ouro, compra de títulos no Japão e investimentos no setor de defesa na Europa. A rigor, estar no meio do Planalto Central brasileiro não é exatamente uma má ideia.

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