Depois do incêndio, EUA e China aparecem com baldes d’água: o que está em jogo no cessar-fogo da guerra comercial
A reação brasileira ao armistício tarifário tem sido, no mínimo, peculiar. Se por um lado a trégua parcial afasta o fantasma da recessão global e reacende o apetite por commodities, por outro, uma série de forças contrárias começa a moldar o desempenho do mercado local

Começamos a semana sob os efeitos de um raro cessar-fogo tarifário: a Casa Branca anunciou que um acordo parcial com a China teria, enfim, sido firmado — ou, pelo menos, apresentado como tal. Segundo os termos divulgados, ambos os lados concordaram em suspender, por 90 dias, a escalada de tarifas.
Os EUA reduziram suas alíquotas sobre produtos chineses para 30%, enquanto Pequim ajustou suas taxas sobre importações americanas para 10%. Embora os detalhes técnicos sigam pendentes, o simples sinal de racionalidade em meio ao caos geopolítico foi suficiente para reacender o apetite por risco nos mercados globais.
A reação foi rápida e generalizada: as ações americanas subiram, contagiando as bolsas europeias e asiáticas. O petróleo, por sua vez, chegou a avançar cerca de 3% ontem (12), refletindo a percepção de que, com menos atrito entre as duas maiores economias do planeta, a demanda por energia tende a se manter mais firme.
- VEJA MAIS: Com Selic a 14,75% ao ano, ‘é provável que tenhamos alcançado o fim do ciclo de alta dos juros’, defende analista – a era das vacas gordas na renda fixa vai acabar?
Em um ambiente ainda marcado por ruído político e incertezas externas, qualquer gesto que remeta à previsibilidade tende a ser premiado. A leitura também é positiva para alguns ativos brasileiros que reagem bem à descompressão global.
China x EUA: o que está em jogo?
A Casa Branca tratou logo de rotular o movimento como um “acordo comercial”, embora o conteúdo concreto ainda seja nebuloso. O que se sabe até agora é que a tarifa média entre as duas potências cairá de algo próximo a 125% para cerca de 10%, com exceção das alíquotas de 20% sobre produtos chineses ligados ao fentanil.
Na prática, trata-se de um cessar-fogo tático, não de um armistício definitivo. As negociações ocorreram no fim de semana, na Suíça, e sinalizam uma tentativa de evitar que a guerra tarifária entre EUA e China contamine ainda mais o ambiente econômico global — ou, ao menos, postergar o estrago.
Leia Também
O objetivo imediato, ao que parece, é garantir uma janela de 90 dias para que as partes voltem à mesa com menos pólvora e mais cálculo. Ainda assim, é preciso cuidado com o otimismo prematuro, afinal, acordos parecidos já foram firmados antes.
Em 2018, uma suspensão semelhante foi anunciada com estardalhaço, mas ruiu em questão de semanas, dando início a 18 meses de tarifas adicionais e culminando em um acordo de “Fase Um” que a China nunca cumpriu integralmente. A guerra comercial, como aprendemos, não termina: apenas muda de forma.
Trégua entre EUA e China ajuda o Brasil?
A reação brasileira ao armistício tarifário tem sido, no mínimo, peculiar. Se por um lado a trégua parcial afasta o fantasma da recessão global e reacende o apetite por commodities — com destaque para energia e metais —, por outro, uma série de forças contrárias também começa a moldar o desempenho do mercado local.
A alta das matérias-primas impulsiona os papéis ligados ao setor, o que, por efeito de composição, dá tração ao Ibovespa. Mas esse rali tem nuances: ele não é homogêneo nem inteiramente saudável.
Três vetores adicionais ajudam a explicar esse novo quadro.
Primeiro, observamos uma reversão parcial do fluxo que vinha abandonando os EUA em direção a mercados negligenciados, como os emergentes — uma migração que agora perde tração conforme os receios com o crescimento americano diminuem.
Segundo, o alívio com a desaceleração global reduz a probabilidade de afrouxamento monetário nos EUA, o que empurra para cima as curvas de juros mundo afora — afetando negativamente os ativos mais sensíveis ao juro real no Brasil, como as ações de consumo doméstico e varejo, que vinham liderando os ganhos.
Por fim, há um componente técnico relevante: em um ambiente sem dinheiro novo, investidores estão apenas rotacionando posições — saindo das teses que já andaram (principalmente cíclicos domésticos) para aquelas que estão andando agora (commodities), gerando uma performance mais heterogênea dentro do índice.
- VEJA MAIS: Faltam 18 dias para o fim do prazo da declaração; confira o passo a passo para acertar as contas com o Leão
Um alívio conjuntural ou estrutural?
O que temos neste momento é um alívio conjuntural, não uma solução estrutural. O conflito comercial segue em suspenso, não resolvido.
A disputa entre o protecionismo americano e a busca chinesa por autonomia industrial continuará ditando os rumos das cadeias globais e, por extensão, dos ativos brasileiros.
Ainda assim, esse hiato tarifário — por mais frágil que seja — pode continuar favorecendo o Brasil de maneira mais ampla do que o mercado parece precificar. Afinal, enquanto o mundo se reorganiza, o tempo pode servir tanto para um recomeço quanto para preparar o próximo embate.
Tão longe, tão perto: as eleições de 2026 e o caos fiscal logo ali, e o que mexe com os mercados nesta terça-feira (30)
Por aqui, mercado aguarda balança orçamentária e desemprego do IBGE; nos EUA, todos de olho nos riscos de uma paralisação do governo e no relatório Jolts
Eleições de 2026 e o nó fiscal: sem oposição organizada, Brasil enfrenta o risco de um orçamento engessado
A frente fiscal permanece como vetor central de risco, mas, no final, 2026 estará dominado pela lógica das urnas, deixando qualquer ajuste estrutural para 2027
Tony Volpon: O Fed e as duas economias americanas
Um ressurgimento de pressões inflacionárias ou uma fraqueza inesperada no mercado de trabalho dos EUA podem levar a autarquia norte-americana a abortar ou acelerar o ciclo de queda de juros
B3 deitada em berço esplêndido — mas não eternamente — e o que mexe com os mercados neste segunda-feira (29)
Por aqui, investidores aguardam IGP-M e Caged de agosto; nos EUA, Donald Trump negocia para evitar paralisação do governo
Pequenas notáveis, saudade do que não vivemos e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (26)
EUA aguardam divulgação do índice de inflação preferido do Fed, enquanto Trump volta a anunciar mais tarifas
A microcap que garimpa oportunidades fora da bolsa e vem sendo recompensada por isso
Há ótimas empresas fora da bolsa, mas não conseguimos nos tornar sócios delas; mas esta pequena empresa negociada na B3, sim
Mais água no feijão e o que sobra para os acionistas minoritários, e o que mexe com os mercados nesta quinta (25)
Por aqui temos prévia da inflação e reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN); nos EUA, PIB do segundo trimestre e mais falas de dirigentes do Fed
Rodolfo Amstalden: O amor pode estar do seu lado
Não serei eu a querer estragar o story telling de ninguém, mas o (eventual) rali eleitoral no Brasil sequer começou
A chama que não se apaga das debêntures incentivadas e o que esperar dos mercados hoje
Após renovar recorde ontem, Ibovespa tem dia de agenda esvaziada; destaques são fluxo cambial no Brasil e falas de dirigentes do Fed nos EUA
Dois coelhos com uma cajadada só, um grande encontro e o que move os mercados nesta terça-feira (23)
Investidores acompanham hoje ata do Copom, início da Assembleia Geral da ONU e discurso do presidente do Fed
80 anos de ONU: discursos idealistas, cofres vazios e investidores correndo para o ouro
Ao mesmo tempo em que busca reafirmar seu papel global, a ONU enfrenta talvez a mais profunda crise de legitimidade e de recursos de sua história
Felipe Miranda: O novo ouro é… o próprio ouro
Há uma narrativa de que o bitcoin seria o “ouro digital”, mas existem motivos pelos quais o paralelo com o metal precioso não é tão correto assim
Quem quer dinheiro? Uma jogada de mestre com o ouro, e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (22)
Dia tem discursos de dirigentes do Banco Central da Inglaterra e do Federal Reserve; investidores também se preparam para a Assembleia Geral da ONU, que começa amanhã
Petrobras (PETR4): novo plano estratégico pode abrir as portas para mais dividendos aos acionistas; saiba o que esperar
Estamos perto da divulgação do Plano Estratégico 2026-2030 da Petrobras, o que pode ser um catalisador relevante para os papéis da estatal
Super Quarta de contrastes: a liquidez vem lá de fora, a cautela segue aqui dentro
Fed inicia novo ciclo de cortes, Copom sinaliza flexibilização futura e mercados globais reagem à virada monetária que impulsiona ativos de risco
O melhor aluno da sala fazendo bonito na bolsa, e o que esperar dos mercados nesta quinta-feira (18)
Investidores ainda reagem às decisões e declarações da Super Quarta; no Reino Unido e no Japão, definição de juros vem hoje
Rodolfo Amstalden: A falácia da “falácia da narrativa”
Pela visão talebiana, não conseguimos nos contentar com o simples acaso, precisamos sempre de uma explicação para o que está acontecendo
Como a Super Quarta mexe com os seus investimentos, e o que mais move os mercados nesta quarta-feira (17)
Após mais um recorde na bolsa brasileira, investidores aguardam decisão sobre juros nos EUA e no Brasil
Para qual montanha fugir, Super Quarta e o que mexe com os mercados nesta terça-feira (16)
À espera da definição da política monetária nos EUA e no Brasil, investidores repercutem aviso de que Trump deve anunciar reação após condenação de Bolsonaro
Felipe Miranda: A neoindustrialização brasileira (e algumas outras tendências)
Fora do ar condicionado e dos escritórios muito bem acarpetados, há um Brasil real de fronteira tecnológica, liderando inovação e produtividade