A tarifa como arma, a recessão como colateral: o preço da guerra comercial de Trump
Em meio a sinais de que a Casa Branca pode aliviar o tom na guerra comercial com a China, os mercados dos EUA fecharam em alta. O alívio, no entanto, contrasta com o alerta do FMI, que cortou a projeção de crescimento americano e elevou o risco de recessão — efeito colateral da política tarifária errática de Trump.

Nos Estados Unidos, os mercados acionários encerraram a quarta-feira (23) em alta, embalados por sinais de que a Casa Branca estaria, ao menos por ora, disposta a atenuar sua retórica na escalada comercial com a China. A aparente guinada veio na esteira de um tom mais conciliador adotado por Donald Trump — ou, no mínimo, de uma tentativa de parecer menos beligerante do que de costume.
Apesar de renovar suas críticas ao Federal Reserve (Fed) por não acelerar os cortes de juros, o presidente americano afirmou, em conversa com jornalistas no Salão Oval, que não pretende demitir Jerome Powell, presidente da autoridade monetária.
A declaração soou como uma espécie de recuo ensaiado, típico de Trump: ameaça hoje, recua amanhã — e o mercado, já habituado ao ciclo de improviso e contenção, agarra-se a qualquer trégua retórica com entusiasmo proporcional ao desgaste recente.
- VEJA MAIS: Ação brasileira da qual ‘os gringos gostam’ tem potencial para subir mais de 20% em breve; saiba o porquê
O alívio também veio das palavras do secretário do Tesouro, Scott Bessent, que afirmou esperar uma redução das tensões comerciais entre EUA e China em breve.
A sinalização de que Washington pode finalmente abandonar o tom comercial belicoso soou como música para investidores ainda zonzos com a volatilidade das últimas semanas. Afinal, sugerir um corte abrupto nos laços comerciais entre as duas maiores economias do mundo é tão inviável quanto contraproducente.
Nesse contexto, o próprio Bessent tratou de desfazer qualquer leitura mais radical: o objetivo não é a dissociação econômica entre os países, mas sim uma recalibração das relações comerciais — forçada, talvez, pela insustentabilidade do cenário atual.
Leia Também
Pode ser uma aposta no bom senso com verniz pragmático. De todo modo, o simples fato de o governo soar menos destrutivo já foi suficiente para restaurar o fôlego dos mercados. Porque, convenhamos, neste ciclo errático de confronto e recuo, qualquer pausa no ruído já é tratada como rara janela de racionalidade.
O preço do método Trump de resolver as coisas
Como já destacamos diversas vezes por aqui, havia motivos legítimos para os EUA revisitarem sua inserção estratégica no comércio internacional e questionarem práticas que distorcem a competição global. O problema foi a forma escolhida para fazê-lo.
A escalada tarifária conduzida de maneira unilateral, sem qualquer traço de coordenação institucional, planejamento tático ou mínima diplomacia, revelou-se até agora muito mais prejudicial do que transformadora. Em vez de redesenhar o tabuleiro global, Washington tem apenas embaralhado as peças de maneira caótica.
Do outro lado do Pacífico, a China mantém o teatro diplomático, sinalizando abertura para negociações comerciais — desde que estas não sejam conduzidas sob o espectro da coerção. O Ministério do Comércio chinês foi direto ao afirmar que acordos firmados “às custas da China” encontrarão resistência inequívoca.
Essa tensão entre as duas maiores economias do mundo ganha um significado ainda mais expressivo porque ocorre justamente durante as reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Washington — evento que, em tese, deveria ser palco de discussões sobre cooperação global e estabilidade institucional. Em vez disso, vemos os protagonistas do sistema multilateral trocando farpas e tarifas, corroendo os próprios alicerces que ajudaram a construir.
E já que falamos nas instituições de Bretton Woods, vale registrar que o FMI aproveitou a ocasião para rebaixar suas expectativas quanto ao crescimento da economia americana. No Panorama Econômico Mundial divulgado também nesta semana, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA em 2025 caiu de 2,7% para apenas 1,8%.
- Leia também: Trump vai recuar e mesmo assim cantar vitória?
O motivo? As políticas comerciais de Trump, que têm gerado mais turbulência do que reequilíbrio, mais incerteza do que solução — e quase nenhum resultado concreto.
Segundo o Fundo Monetário Internacional, o pacote tarifário anunciado com fanfarra no Rose Garden em 2 de abril já é, por si só, um choque suficientemente severo para comprometer o crescimento econômico dos Estados Unidos.
Embora o FMI ainda não projete oficialmente uma recessão, a instituição elevou de 25% para 40% a probabilidade de que ela ocorra — uma revisão que, por si só, diz muito sobre o grau de incerteza que permeia o atual momento.
O pano de fundo global também não inspira entusiasmo. A estimativa de crescimento do PIB mundial em 2025 foi revisada para baixo, agora em 2,8%, frente aos 3,3% previstos no início do ano. Se confirmado, esse resultado representará a expansão mais fraca da economia global desde o tombo provocado pela pandemia de Covid-19 — e a segunda pior desde a crise financeira de 2009.
- VEJA MAIS: A Receita Federal atualizou as regras para a declaração em 2025 – veja todas as mudanças no Guia do Imposto de Renda
Relógio da confiança internacional perde tempo
O mais irônico, contudo, é que boa parte desse cenário adverso poderia ser revertida com medidas relativamente simples: uma moderação coordenada nas tensões comerciais, acompanhada de avanços ainda que graduais em temas como barreiras não tarifárias e subsídios disfarçados de política industrial.
Mas em vez disso, o mundo continua a arcar com os custos — econômicos e institucionais — de uma política comercial conduzida sem direção clara e com impacto difuso. Enquanto isso, o relógio da confiança internacional segue perdendo tempo.
No fim das contas, o que se desenha não é um plano de reposicionamento estratégico, mas um improviso ruidoso com consequências globais.
O governo americano, em vez de liderar com racionalidade, opta por testar os limites da credibilidade internacional com tarifas anunciadas como se fossem tweets — e com recuos tão frequentes quanto os próprios disparates. A fragilidade da retórica oficial é tamanha que o simples abandono momentâneo de ameaças já basta para reacender o apetite por risco.
É pouco — e perigosamente enganoso. Afinal, o que o mundo precisa é de previsibilidade, não de pirotecnia econômica embalada em nacionalismo apressado. A postergação de um colapso não é o mesmo que sua prevenção — e, se Washington não retomar a coerência, a conta dessa instabilidade será paga não só pelos EUA, mas por todos os que ainda acreditam em uma ordem global baseada em regras.
Fusão entre Petz (PETZ3) e Cobasi: Cade vê riscos, e BTG adota cautela com o impacto no mercado pet
Autoridade antitruste aponta alta concentração em mercados locais; aprovação final deve ocorrer somente no segundo semestre de 2025, segundo analistas do banco
Todo mundo odeia o IOF: Frentes Parlamentares e confederações empresariais se manifestam pela derrubada de decreto que aumentou o imposto
Entidades criticam a escolha do imposto como instrumento de arrecadação sem passar por tramitação no Congresso e por atrapalhar a economia do Brasil
CSN Mineração (CMIN3) lidera perdas do Ibovespa após Morgan Stanley rebaixar ação para venda; veja os motivos da revisão
Ações da CSN Mineração caem mais de 5% com alerta do Morgan Stanley sobre alto risco em plano de expansão e queda do minério de ferro
Diamantes são eternos, os preços não: como tarifas de Trump estão ameaçando indústria joalheira
Diferentemente do ouro, da prata e do cobre, a pedra preciosa não escapou à guerra comercial; mas esta não é a única ameaça para a indústria
Sem OPA na Braskem (BRKM5)? Por que a compra do controle por Nelson Tanure não acionaria o mecanismo de tag along
Especialistas consultados pelo Seu Dinheiro avaliam que não necessariamente há uma obrigatoriedade de oferta pública de Tanure pelas ações dos minoritários da Braskem; entenda
Ibovespa vai sustentar tendência mesmo com juros altos e risco fiscal? Sócio fundador da Polo Capital vê bom momento para a bolsa — mas há outros perigos no radar
No podcast Touros e Ursos desta semana, Cláudio Andrade, sócio fundador da gestora Polo Capital, fala sobre as perspectivas para a bolsa brasileira
Empresa de mídia de Donald Trump quer levantar US$ 2,5 bilhões para comprar bitcoin (BTC) e desafiar big techs e corporações ‘woke’
Trump Media planeja criar uma tesouraria em bitcoin para proteger a empresa de bancos e big techs e avançar em sua estratégia política e financeira nos EUA
Quem lacra não lucra? O efeito Elon Musk sobre as vendas da Tesla (TSLA34) na Europa
Vendas da Tesla na Europa despencam em abril, mesmo com aumento da procura por carros elétricos no continente
Do Pix ao Open Finance, onde os bancos ainda falham no atendimento ao cliente — e as soluções de IA que já existem
Estudo do Google Cloud levantou falhas comuns nos usos mais cotidianos que poderiam ser resolvidas com soluções de inteligência artificial que já existem
Festival The Town abre as vendas gerais hoje (27), ao meio-dia; veja preços e como comprar
Evento é organizado pelos mesmos produtores do Rock In Rio e traz grandes nomes do pop, rock e do trap como headliners
Não é só a temperatura que está sob alerta de queda: alta do IOF pressiona economia e ameaça negócios — veja os setores mais afetados, segundo o BTG
Com o aumento do IOF, o custo de crédito aumenta — e isso pode causar uma desaceleração da economia, segundo o BTG Pactual
Carrefour Brasil sairá da bolsa na sexta-feira; veja como ficam as ações CRFB3 na sua carteira e quem recebe dividendos
Com a unificação das operações brasileira e francesa, os BDRs da matriz global do Carrefour começam a ser negociados já na próxima semana
Xô, penny stock: PDG Realty (PDGR3) recebe novo enquadro da B3 e terá que fazer mais um grupamento de ações
Após meses negociando as ações PDGR3 na casa dos centavos na bolsa brasileira, a incorporadora tentará outra vez aumentar as cotações dos papéis
Tanure gira o interruptor e reduz participação na Light depois de LIGT3 disparar 66% no ano na bolsa
A WNT Gestora de Recursos reduziu em cerca de cinco pontos percentuais de sua fatia na Light (LIGT3)
Não dá mais para adiar: Ibovespa repercute IPCA-15 enquanto mudanças no IOF seguem causando tensão
Bolsas de Nova York voltam de feriado ainda reagindo ao mais recente recuo de Trump na guerra comercial
Como declarar o imposto de renda 2025: tudo que você precisa saber para prestar contas ao Leão
Neste guia, você encontra o caminho das pedras para preencher e entregar a sua declaração de imposto de renda, mesmo que seja a sua primeira vez
Subimos apesar do governo: quando a pior decisão é sempre a próxima
O Brasil parece ter desenvolvido uma habilidade peculiar — quase artística — de desperdiçar momentos estratégicos. Quando o mercado estende a mão em sinal de trégua, Brasília responde com um tropeço
‘Máquina de milionários’ da Lotofácil começa a semana a todo o vapor; Quina acumula e Mega-Sena corre hoje
Ganhador ou ganhadora do concurso 3401 da Lotofácil tem 90 dias para sacar o prêmio; Quina está acumulada há quatro sorteios
Com aumento do IOF, Mercado Pago zera spread cambial para compras com cartão de crédito no exterior
Em nota, o banco digital do Mercado Livre (MELI34) afirmou que a decisão tem como objetivo garantir mais economia aos clientes ante o aumento do imposto
Felipe Miranda: O último trem do sertão (ou do bull market)
Seja lá qual for a razão, os mercados atropelaram a notícia ruim do IOF, mostrando que há forças maiores em curso em favor do kit Brasil. Talvez essa seja a última parada do trem antes do verdadeiro bull market.