Os juros vão subir? O dado de inflação que embolou o meio de campo do mercado e pode colocar a maior economia do mundo na retranca
Pela terceira vez seguida, a inflação veio acima do indicado pelas projeções, fazendo o dólar disparar, as bolsas caírem e os yields (rendimentos) dos Treasurys atingirem máximas no dia
Nos idos de 1958, o Brasil participou da Copa do Mundo da Suécia e enfrentou o fortíssimo time da então União Soviética. Na preleção, o técnico Feola repassa uma jogada complicada e, ao final, Garrincha pergunta ao treinador: "Professor, você já combinou tudo isso com os russos?". E, assim como naquela partida, o mercado também não “combinou com os russos” o futuro dos juros nos EUA.
A primeira aposta era de que a taxa cairia em março deste ano, depois de dados indicando que a inflação estava perdendo força, o mercado de trabalho seguia aquecido e a economia norte-americana, crescendo.
Mas o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) não estava convencido de que a trajetória descendente da inflação era algo definitivo. O resultado: juros mantidos até agora no maior patamar em 22 anos, na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano.
O mercado então passou a apostar na queda dos juros a partir de junho deste ano — afinal, as próprias projeções dos membros do comitê de política monetária do Fed (Fomc, na sigla em inglês) indicam três cortes da taxa em 2024.
Só que os investidores esqueceram de combinar duas coisas com os "russos": essas projeções para os juros não estão escritas em pedra — por isso, o Fomc pode tomar uma decisão diferente sobre a taxa de juros — e a preleção de Jerome Powell, que já indicou diversas vezes que precisa de mais dados para crer na trajetória de queda da inflação.
- VOCÊ JÁ DOLARIZOU SEU PATRIMÔNIO? A Empiricus Research está liberando uma carteira gratuita com 10 ações americanas pra comprar agora. Clique aqui e acesse.
A inflação que embolou o meio de campo dos mercados
Nesta quarta-feira (10), horas antes da ata da reunião de política monetária de março, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de março embolou o meio de campo dos mercados ao redor do mundo — que precisaram colocar a bola no chão e rever as expectativas sobre o afrouxamento monetário nos EUA.
O CPI, que não é a medida preferida do Fed para a inflação, subiu 0,4% no mês passado, colocando a taxa em 12 meses em 3,5% — 0,3 ponto percentual acima da de fevereiro. Os economistas consultados pela Dow Jones esperavam alta de 0,3% e de 3,4%, respectivamente.
Excluindo componentes voláteis dos alimentos e da energia, o núcleo do CPI também acelerou 0,4% em base mensal e subiu 3,8% em relação ao ano anterior, em comparação com as respectivas estimativas de 0,3% e 3,7%.
Resultado: Wall Street opera com mais de 1% de queda, os yields (rendimentos) dos Treasurys atingem máximas e moedas fortes como o iene despencam ao menor nível em mais de 30 anos em relação ao dólar. Acompanhe nossa cobertura ao vivo dos mercados.
"É UMA CORRIDA PARA O DÓLAR": A ECONOMIA DOS EUA VOLTOU COM TUDO. E AGORA?
Os juros não vão cair nos EUA?
As apostas do mercado mudaram após a inflação de março. Dados compilados pelo CME Group mostram, assim que os números foram divulgados, que a chance majoritária de corte de juros aparecia apenas em setembro (73,8%).
Para a próxima decisão, em 1° de maio, a chance de manutenção dos juros estava em 98,4%, enquanto na reunião de 12 de junho, a probabilidade de manutenção era de 76,8%.
Mas há quem não tenha colocado de vez no banco a possibilidade de corte de juros em junho nos EUA mesmo com o dado da inflação acima do esperado.
O Citi, por exemplo, ainda acredita que o primeiro corte dos virá em junho, embora tenha ponderado que a "tendência forte de modo consistente" do CPI "eleva a probabilidade de que os dirigentes do Fed não tenham a confiança para cortar em junho, baseando-se apenas em dados de inflação".
Já a Capital Economics é mais descrente. Segundo a consultoria, o CPI de março junto com o payroll mais forte que o esperado, praticamente mata as esperanças de um corte de juros em junho.
O banco canadense CIBC diz que o terceiro relatório de inflação acima do previsto seguido significa que o Fed não terá pressa de cortar juros.
"Os dados de hoje significam que o risco de persistente inflação mais alta voltou a ser prioridade número 1 do Fed, embora a inflação não esteja muito acima da meta", diz o CIBC em relatório.
- LEIA MAIS: Investimento em BDRs permite buscar lucros dolarizados com ações gringas, sem sair da bolsa brasileira – veja os 10 melhores papéis para comprar agora
O dono da bola também fala dos juros
Até o dono da bola falou hoje sobre a inflação nos EUA. Embora a Casa Branca não tenha a tradição de interferir nas decisões do Fed — para manter a independência do BC —, o presidente norte-americano, Joe Biden, comentou os dados.
Biden disse que o CPI de março "mostra que temos mais a fazer para reduzir custos das famílias trabalhadoras".
Em comunicado da Casa Branca, Biden afirmou ainda que os preços estão "muito elevados" em moradia e alimentação, "mesmo que os preços para itens cruciais como leite e ovos sejam mais baixos que um ano atrás".
O presidente norte-americano disse também que a inflação recuou mais de 60% do pico e renovou apelos de que combatê-la é a maior prioridade econômica atual.
Nova pesquisa eleitoral liga sinal amarelo para governo de Joe Biden: Donald Trump segue à frente do democrata
No topo da lista de prioridades do eleitorado norte-americano, estão a proteção à democracia — sendo considerada extremamente importante por 58% dos entrevistados
Exército russo tem avanço diário sobre Ucrânia, que enfrenta soldados exaustos após mais de dois anos de guerra
Na semana passada, os Estados Unidos aprovaram um novo pacote bilionário para ajuda à Ucrânia, Israel e Taiwan
O que a queda do lucro da indústria da China pode significar para o mundo neste momento? Exportação de carros elétricos preocupa EUA e Europa
No acumulado do trimestre, o lucro cresceu 4,3%, para US$ 208 bilhões, o que representa uma desaceleração em relação à recuperação após a pior fase da pandemia de covid-19
Desdobramentos da crise dos bancos regionais nos EUA: Fulton Bank assume todos os depósitos e ativos do Republic First Bank
A partir deste sábado (27), as 32 agências do Republic First em Nova Jersey, Pensilvânia e Nova York reabrirão como agências do Fulton Bank
Obrigada, Milei? Carros na Argentina devem ficar mais baratos com nova medida
O governo ainda anunciou que será mantida a isenção de direitos de vendas ao exterior para as exportações incrementais
Os EUA conseguem viver com os juros nas alturas — mas o resto do mundo não. E agora, quem vai ‘pagar o pato’?
Talvez o maior ‘bicho papão’ dos mercados hoje em dia sejam os juros nos EUA. Afinal, o que todo mundo quer saber é: quando a taxa vai finalmente começar a cair por lá? As previsões têm adiado cada vez mais a tesourada inicial do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA). Mas a questão é: a […]
É tudo culpa dos juros? PIB dos EUA vem abaixo do esperado, mas outro dado deixa os mercados de cabelo em pé
A economia norte-americana cresceu 1,6% no primeiro trimestre do ano, abaixo das projeções de expansão de 2,5% e menor também que os 3,4% do quarto trimestre de 2023, mas os investidores estão olhando para outro indicador que também saiu nesta quinta-feira (25)
A terapia de choque de Milei deu certo? Argentina registra o primeiro superávit trimestral em 16 anos. Veja como presidente conseguiu
O chefe da Casa Rosada fez um pronunciamento em rede nacional para comemorar o feito — e alfinetar o antecessor
Adeus, dólar: Com sanções de volta, Venezuela planeja usar criptomoedas para negociar petróleo
O país liderado por Nicolás Maduro vem utilizando o Tether (USDT), a terceira maior criptomoeda do mundo, para vender petróleo desde o ano passado
Deputados dos Estados Unidos aprovam novo pacote bilionário de apoio à Ucrânia — e Putin não deve deixar ‘barato’
O novo pacote também prevê ajuda a Israel e Taiwan; Rússia fala em ‘guerra híbrida’ e humilhação dos Estados Unidos em breve
Leia Também
-
Dando um hype no Ibovespa: Hypera (HYPE3) sobe forte, mas acumula queda de 15% no ano — é hora de comprar?
-
Casas Bahia (BHIA3): CEO prevê antecipar “transformação” da varejista com recuperação extrajudicial; ações disparam quase 20% na B3
-
Vale (VALE3): proposta de compensação por rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG) soma R$ 127 bilhões
Mais lidas
-
1
Carro híbrido com etanol vira a “bola da vez” na disputa com modelo 100% elétrico: mas qual é a melhor solução?
-
2
Bolsa ou renda fixa? Como ficam os investimentos após Campos Neto embolar as projeções para a Selic
-
3
LCIs e LCAs ‘obrigam’ investidores a buscar outros papéis na renda fixa, enquanto a bolsa tem que ‘derrotar vilões’ para voltar a subir em 2024