A ressaca pós-virada: mercado exagerou na dose no rali de fim de ano ou está pronto para mais?
O início de 2024 traz preocupação com possível exagero nos mercados globais em meio a risco de recessão nos EUA, tensão geopolítica e incertezas na China

Após uma pausa para um merecido descanso, retomamos nossas conversas semanais nesta terça-feira, início de 2024.
Os primeiros dias do ano transcorreram com uma movimentação mais contida, como era esperado, mas com uma inclinação negativa, corrigindo os excessos de 2023 e antecipando possíveis desafios no novo ano.
A incerteza paira sobre a seguinte questão: o mercado exagerou no rali de fim de ano ou está preparado para mais?
Há uma crescente preocupação com a possibilidade de uma recessão severa nos EUA e novos desafios geopolíticos, especialmente aqueles que começam a se intensificar no Mar Vermelho.
Os Houthis, apoiados pelo Irã e baseados no Iêmen, iniciaram ataques contra navios comerciais na região em novembro, em resposta ao conflito entre Israel e Hamas.
Nos últimos dias, a Marinha dos EUA afundou três embarcações controladas pelos rebeldes Houthi, resultando na morte de suas tripulações, enquanto respondia a um pedido de socorro de um navio Maersk. Em resposta, o Irã enviou um navio de guerra para a área, criando um clima tenso na região.
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Empresas de transporte marítimo mudam rotas
Para evitar a área afetada (cerca de 15% do comércio marítimo mundial normalmente passa pelo Mar Vermelho, incluindo 8% do comércio mundial de gás natural liquefeito), várias grandes empresas de transporte marítimo começaram a adotar rotas mais longas, ao redor da África.
Essa situação levou a um aumento significativo nos preços do petróleo e nos custos de transporte. No entanto, os EUA afirmaram o compromisso de garantir a segurança da rota comercial.
À medida que os ataques dos Houthis se intensificam, o governo dos EUA emitiu um ultimato, agravando ainda mais as perturbações no transporte marítimo global.
Payroll veio ruim, mas foi bom
Fora esses pontos, o mercado ainda está assimilando os dados de emprego dos EUA, divulgados na semana passada.
Inicialmente, o relatório do Payroll teve um impacto negativo, já que o número de vagas criadas e o aumento da remuneração superaram as expectativas.
No entanto, ao reexaminar os dados e considerar as revisões para baixo nos meses de outubro e novembro, a bolsa teve um leve aumento.
Outro aspecto do Payroll foi que, entre outubro e dezembro, foram criadas 494 mil vagas, mas o setor de transporte cortou 56 mil vagas no mesmo período (esse setor é líder na economia).
Nos últimos 11 meses, tivemos 10 revisões negativas nos dados de criação de emprego, removendo quase meio milhão de empregos. Em resumo, o Payroll pode ser considerado fraco.
Essa situação é positiva, pois abre espaço para uma possível redução da taxa de juros neste semestre.
Inflação em destaque
Após a pandemia, quando a inflação inicialmente foi considerada transitória pelos Bancos Centrais, meses se passaram e a inflação, ao invés de diminuir, aumentou de forma mais intensa e duradoura do que se previa.
Os Bancos Centrais reavaliaram a transitoriedade da inflação e abandonaram a caracterização do fenômeno como temporário.
Iniciaram processos agressivos de aperto monetário e foram criticados por seu erro de avaliação.
Recentemente, a inflação começou a desacelerar, e a interpretação predominante é que, embora tardiamente, a política monetária surtiu efeito.
Com juros mais altos, a demanda agregada diminuiu, e a inflação também.
Complementarmente a esse tema, a quinta-feira é crucial, com o IPCA de dezembro no Brasil, dados de inflação na China e o CPI nos EUA.
Portanto, não seria surpreendente enfrentarmos mais alguns dias desafiadores antes de melhorar.
2023 foi um ano muito positivo para ativos de risco.
Nos EUA, por exemplo, o índice S&P 500 se aproximou do seu pico histórico de 4.797 antes de ter uma leve queda no final do ano, mas ainda encerrou com um ganho de 24%, marcando a maior alta desde 2021.
O Nasdaq Composite, apesar de ter registrado um aumento de 43% ao longo do ano, não conseguiu atingir um novo recorde.
Apenas o Dow Jones Industrial Average alcançou esse marco ao fechar em um valor recorde em 13 de dezembro, mantendo sua trajetória ascendente e encerrando o ano com um aumento de 14%.
Dessa forma, o ano passado pode ser considerado um sucesso.
Haverá recessão nos EUA?
A previsão consensual apontava para uma recessão nos EUA em 2023, mas essa expectativa mostrou-se completamente equivocada.
O Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu a uma taxa anual superior a 2% no primeiro semestre do ano, acelerando para 4,9% no terceiro trimestre.
O quarto trimestre está projetado para um crescimento anualizado do PIB de 2,3%, conforme indicado pelo modelo GDPNow do Federal Reserve de Atlanta.
Essa dinâmica manteve os lucros das empresas em patamares elevados, apesar de alguns contratempos no início do ano, como a questão dos bancos regionais.
O S&P 500 está a caminho de registrar um aumento no lucro por ação de cerca de 3% em 2023, com oito dos 11 setores reportando crescimento (sujeito a confirmação na temporada de resultados).
O próximo debate relevante se concentrará na possibilidade de uma recessão nos EUA e no início do ciclo de flexibilização da política monetária.
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China tenta reagir
Deslocando o foco para a Ásia, especificamente a China, as atenções recaem sobre os dados de inflação e comércio programados para o final desta semana.
Esses dados deverão refletir a persistente fragilidade da economia chinesa, após leituras desfavoráveis do índice de gerentes de compras de dezembro.
Diante desse cenário delicado, o presidente chinês, Xi Jinping, comprometeu-se a fortalecer a dinâmica econômica e impulsionar a criação de empregos, reconhecendo os desafios enfrentados em 2023 – uma rara admissão das adversidades internas que o país enfrenta. Ele aceitou a realidade.
Mesmo ao destacar as conquistas nacionais em seu discurso anual de Ano Novo, o líder chinês, considerado o mais poderoso desde Mao Zedong, não deixou de reconhecer as derrotas.
Nesse contexto, a China está adotando medidas para injetar recursos na indústria, buscando mitigar os impactos da crise imobiliária.
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Brasília em foco
No cenário brasileiro, após um ano notável para as ações e os títulos do Tesouro, os investidores redirecionam suas preocupações para as notícias oriundas de Brasília.
Ontem, de maneira mais específica, o governo Lula organizou no Congresso uma cerimônia de memória dos ataques de 8 de janeiro, com discursos dos líderes dos três Poderes.
Consequentemente, a relevância da pauta reside mais na simbologia do que na efetiva implementação.
Nos bastidores, a equipe econômica permanece dedicada a preservar a recente Medida Provisória de Reoneração da folha e a objeção de Lula ao dispositivo da Lei de Diretrizes Orçamentárias que fixa um cronograma para o governo lidar com as emendas.
Até o momento, não há indícios de que Lula planeje realizar alterações substanciais entre os ministérios para agradar o Congresso.
Essa postura pode ser interpretada como um equívoco. Caso não haja consenso para resolver a impasse entre os congressistas sobre a reoneração gradual da folha, o Ministério da Fazenda não terá alternativa senão ajustar a meta fiscal.
Reconhecemos que essa perspectiva parece inevitável hoje, mesmo considerando tratar-se de uma modificação marginal.
Outras medidas de arrecadação podem emergir nas próximas semanas, mas a discussão certamente envolverá algum contingenciamento de gastos. Naturalmente, essas tensões fiscais exercem influência na curva de juros.
E o rali do Ibovespa?
Com tantos acontecimentos no Brasil e no mundo, é natural questionar se o rally da Bolsa local já atingiu seu ápice. Minha convicção é de que não.
Em se tratando especificamente do Brasil, na verdade, acredito que o país permaneça como uma das oportunidades cíclicas mais atrativas nos mercados emergentes.
As ações brasileiras, do Índice MSCI Brasil, apresentaram um ganho em dólares de 32,7% em 2023,.
Isso pode ser apenas o começo.
Mais de 11% dessa recuperação derivou de uma moeda mais forte, e estamos apenas começando a observar sinais de melhorias nos lucros.
Essas melhorias são impulsionadas pelas consistentes superações no crescimento, exemplificadas por 14 trimestres consecutivos de crescimento acima do consenso. Isso é impressionante.
Ao analisar a balança comercial, após um ano fenomenal em termos de superávit, ainda podemos antever mais resultados positivos.
Não apenas devido ao setor agrícola, mas também porque o Brasil tem planos de expandir a produção de petróleo, almejando tornar-se o quarto maior produtor mundial até 2030.
Isso representa uma transformação significativa, convertendo o país em uma vasta fonte de dólares provenientes de suas exportações diversificadas de commodities.
Do ponto de vista geopolítico, o Brasil se encontra isolado das adversidades enfrentadas por outras regiões, como Rússia, Ucrânia, Israel, Palestina e Mar do Sul da China.
Além disso, já estamos avançados no ciclo de flexibilização da política monetária.
Tudo isso é acompanhado por um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) de 18% e uma avaliação ainda bastante descontada, com ativos sendo negociados mais de um desvio padrão abaixo de suas médias históricas de cinco anos.
A soma desses fatores deverá resultar em benefícios substanciais para o Brasil.
Portanto, mantenho a recomendação de posição na Bolsa, sugerindo 10% para investidores mais conservadores e 30% para os mais arrojados.
Para aqueles que ainda não têm exposição, continuo recomendando uma combinação 80/20 do ETF BOVA11 e SMAL11.
Essas decisões devem ser tomadas com o devido dimensionamento das posições, considerando o perfil de risco, e uma adequada diversificação da carteira, com as devidas proteções associadas.
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