🔴 5 MOEDAS PARA MULTIPLICAR SEU INVESTIMENTO EM ATÉ 400X – VEJA COMO ACESSAR LISTA

Imposto de 25% para o aço importado: só acreditou quem não leu as letras miúdas

Antes que você entenda errado, não sou favorável a uma maior taxação apenas porque isso beneficia as ações das siderúrgicas brasileiras – só que elas estão em uma briga totalmente desigual contra as chinesas

26 de abril de 2024
6:11 - atualizado às 16:19
Taxação da importação de aço no Brasil
Taxação da importação de aço no Brasil - Imagem: Montagem Seu Dinheiro

A promoção parecia realmente imperdível. Dizia em letras grandes, em um papel amarelo com letras vermelhas para lá de chamativas:

"50% de desconto!!!"

Para falar a verdade, fazia tempo que eu estava procurando uma cama nova, e aquele definitivamente era um sinal de que a hora tinha chegado.

Entrei na loja animado, apontei para o vendedor a cama em promoção e aguardei todo aquele formulário chato ser preenchido.

Tudo bom demais para ser verdade, e na hora de pagar veio a surpresa: 0% de desconto.

"Ué, cadê os 50% de desconto?" — eu perguntei, apontando para o papel da promoção.

Vendedor: "Ah, aquela promoção? Está escrito logo ali embaixo que só é válido na compra da terceira cama".

Ruy: "Pô, tá de sacanagem…", eu disse, forçando os olhos para enxergar as letrinhas miúdas com a tal regra. "TRÊS camas? Mas nem se eu tivesse um hotel eu conseguiria aproveitar essa "promoção"'.

O vendedor ficou meio sem graça, mas pela falta de surpresa com a minha reação imagino que não fui o primeiro a ter desistido da compra.

Taxação de 25%, só que não!

Eu lembrei desse dia quando li as novas regras de taxação para importação de aço propostas pelo Mdic e pela Camex, nesta semana.

As manchetes "amarelas com letras vermelhas chamativas" diziam claramente que a partir de agora teríamos:

"25% de taxação para o aço importado!!!"

Para um país que tem uma alíquota de média de aproximadamente 11% e que vem sofrendo bastante com a competição do aço chinês, o aumento do imposto para 25% deveria ajudar bastante as empresas siderúrgicas brasileiras.

Mas a reação das ações (GGBR, USIM e CSNA) imediatamente após o anúncio não mostrou muita animação dos investidores.

Fonte: TradingView

Alguma ideia do motivo? Sim, as malditas letras miúdas!

A alíquota do imposto não é exatamente 25%

Para começar, apenas 11 das muitas dezenas de produtos siderúrgicos serão elegíveis às tarifas, sendo que quase todos são aços planos (os produtos em destaque ainda estão em processo de definição).

Fonte: Camex | Elaboração: Seu Dinheiro

Em tese, essa grande quantidade de aços planos na lista até seria positiva para Usiminas e CSN, com maior participação desses produtos nas vendas.

Mas calma porque ainda tem mais. Ao contrário do que sugerem as manchetes, a tarifa não será de 25%. Ela só terá esse valor a partir do momento que um certo limite (cota) de importação for ultrapassado.

Essa cota foi definida como 130% da média de importação desses produtos entre 2020 e 2022. Ou seja, apenas quando as importações ultrapassarem 30% da média do volume importado naqueles anos é que a alíquota sobe para 25%.

Considerando todos os produtos planos, incluindo aqueles que não estão na lista, a média de importação entre 2020 e 2022 atingiu 1.800 mil toneladas. Em 2023 esse volume subiu para 2.750 mil toneladas, uma alta de 53%.

Usando os mesmos volumes de 2023 e considerando que não tivéssemos nenhuma importação além da cota, a redução esperada seria de aproximadamente 18% para os produtos planos, um alívio pequeno dada a enxurrada de aço importado vista desde o ano passado.

Mas é importante destacar que a premissa de que não haverá importação além da cota é otimista, dado que mesmo com a alíquota de imposto de 25% o aço chinês ainda consegue chegar no Brasil mais barato que o aço local.

O problema é o dumping

Antes que você entenda errado, não sou favorável a um maior imposto apenas porque isso beneficia as ações das siderúrgicas brasileiras – isso não seria análise, mas apenas uma torcida.

A questão é que as siderúrgicas brasileiras estão em uma briga totalmente desigual contra as chinesas. Com a falta de demanda interna por aço, a China tem incentivado exportações do produto para o mundo inteiro, para proteger as indústrias e os empregos locais.

Até aqui sem grandes problemas, vence quem fornece o produto mais barato, não é mesmo?

O problema é que o aço chinês não é tão barato assim por motivos justos. Na verdade, ele é vendido muitas vezes abaixo do próprio preço de custo, o que só é possível porque o governo local subsidia a produção e assume para ele o prejuízo – prática conhecida como dumping.

Para você ter uma ideia da diferença, nas regras de taxação antes da cota (em torno de 11%), o aço chinês chega no Brasil com um "desconto" de aproximadamente 20%. Não há como competir!

Não é à toa que os Estados Unidos e vários outros países elevaram radicalmente os impostos contra importação de aço. Até a Turquia, que historicamente exporta aço por preços baixos, precisou rever as alíquotas para proteger sua indústria do aço chinês.

  • Análises aprofundadas, relatórios e recomendações de investimentos, entrevistas com grandes players do mercado: tenha tudo isso na palma da sua mão, entrando em nossa comunidade gratuita no WhatsApp. Basta clicar aqui.

Há pontos positivos além do imposto

Como você já deve ter percebido, a taxação comedida está longe de ser suficiente para tirar a indústria siderúrgica brasileira da enorme ociosidade atual.

No entanto, há alguns fatores positivos a serem mencionados. Primeiro, apesar de as cotas terem sido estabelecidas em um patamar muito alto e, portanto, permitirem um volume elevado de importações, elas pelo menos desincentivam compras muito acima desse número.

Além disso, a medida talvez abra espaço para que novas decisões mais duras venham a ser adotadas no futuro, especialmente se as importações continuarem subindo.

Seja como for, para a Gerdau no Brasil o efeito das medidas tomadas nesta semana é pouco relevante, dado que ela é focada em aços longos e especiais, que praticamente nem foram incluídos na lista de produtos taxados.

Ainda assim, gostamos muito da companhia, que mesmo nesse momento ainda bastante difícil, segue entregando ótimos resultados, especialmente pelo bom momento (e pelas tarifas elevadas) nos Estados Unidos, de onde vêm mais da metade do seu Ebitda.

Além disso, negociando por apenas 4x Valor da Firma/Ebitda, muito pessimismo já parece estar embutido no preço, e inclusive abre espaço para surpresas positivas caso venhamos a ter medidas mais duras contra a importação do aço chinês.

A Gerdau segue na série Vacas Leiteiras, que traz outras ótimas companhias capazes de pagar bons bons dividendos para os acionistas, mesmo quando o momento da bolsa não é dos melhores. Se quiser conferir a lista completa, deixo aqui o convite.

Um grande abraço e até a semana que vem.

Ruy

Compartilhe

Especial IR

Me mudei para Portugal, mas não entreguei a Declaração de Saída Definitiva do País; como regularizar a situação?

18 de maio de 2024 - 8:00

Documento serve para encerrar as obrigações fiscais do contribuinte no Brasil, mas este leitor não a entregou e agora recebeu uma herança

SEXTOU COM O RUY

A Petrobras (PETR4) desabou mais uma vez: surge uma barganha na bolsa com dividendos bilionários?

17 de maio de 2024 - 6:04

Nas últimas várias trocas no comando da Petrobras, não tivemos grandes mudanças no dia a dia da companhia, o que inclusive permitiu ótimos pagamentos de dividendos nos últimos anos, mesmo com CEOs distintos — será que agora também vai ser assim?

CRYPTO INSIGHTS

Os sinais favoritos para entender o curto prazo do bitcoin (BTC)

14 de maio de 2024 - 19:17

A tendência macroeconômica é de expansão de liquidez, e os indicadores de curto prazo que mais gosto estão favorecendo a tese de que estamos próximos do fundo local para a mais recente correção do mercado

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Vai piorar antes de melhorar? Milei começa a arrumar uma Argentina economicamente destruída

14 de maio de 2024 - 6:01

Em poucos meses, Milei conseguiu diminuir inflação, cortar os juros e aumentar reservas do Banco Central da Argentina, mas custo social é alto

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: O real vai morrer aos 30?

13 de maio de 2024 - 20:01

A decisão do Copom na semana passada foi inequivocamente ruim. Quando você tem um colegiado dividido entre os “novos” e os “velhos”, alimentam-se os piores medos. O Copom deveria saber disso.

Especial IR

Dúvidas cruéis sobre declaração de ações no IR: isenção, retificação, mudança de ticker, prejuízos e investimento no exterior

11 de maio de 2024 - 8:00

A Dinheirista responde algumas das suas dúvidas mais cabeludas sobre como declarar ações no imposto de renda

SEXTOU COM O RUY

Bolsa barata não basta: enquanto os astros locais não se alinham, esses ativos são indispensáveis para a sua carteira

10 de maio de 2024 - 6:07

Eu sei que você não tem sangue de barata para deixar todo o patrimônio em ações brasileiras – eu também não me sinto confortável em ver os meus ativos caindo. Mas há opções para amenizar as turbulências internas.

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Selic — uma decisão com base em dados, não em datas

8 de maio de 2024 - 16:42

Hoje em dia, ao que parece, tudo tem que terminar cedo, e bebidas alcoólicas são proibidas. Por conseguinte, os debates deram lugar a decisões secas e comunicados pragmáticos

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Divididos entre o conservadorismo salutar e a cautela exagerada, Copom e Campos Neto enfrentam um dilema

7 de maio de 2024 - 6:18

Os próximos passos do Copom dependem, em grande medida, da reação da economia norte-americana à política monetária do Fed

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: Mantendo a esperança nas bolsas americanas

6 de maio de 2024 - 20:01

Começamos maio de forma bem mais positiva do que foi abril — sigo uma regra que, se não infalível, tem uma taxa de acerto bastante alta: se o payroll for positivo, o mês será positivo para as bolsas americanas

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar