🔴 ONDE INVESTIR EM NOVEMBRO: AÇÕES, DIVIDENDOS, FIIS E CRIPTOMOEDAS – CONFIRA

Felipe Miranda: Avançamos? Uma reflexão sobre a indústria financeira 2.0, seus vícios e virtudes

Transferimos um poder enorme para o vendedor de produtos financeiros nos últimos anos e colocamos uma auréola de anjo em cima dele

29 de janeiro de 2024
20:07 - atualizado às 18:07
ação melhores ações de abril bolsa brasileira tickers
Imagem: Shutterstock / Montagem: Julia Shikota

O caso foi verdadeiro. Aconteceu há uns poucos meses. Os termos não foram exatamente esses, nem os números, mas a essência da frase era esta: "se tivéssemos reduzido a taxa de 15,5% para 15%, o investidor teria comprado mais.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Parece contraintuitivo, claro. Fere a noção elementar da curva de demanda: quanto maior o preço (no caso, menor a taxa), menor deveria ser a procura. A dinâmica revela um mau funcionamento do nosso mercado. Por que o investidor teria comprado mais a uma taxa menor pra ele?

A frase carrega implícita e tacitamente a ideia de que esses 50 pontos-base de “excesso de retorno” poderiam ter sido transferidos ao canal de distribuição. Com assessores abocanhando uma fatia maior do bolo, teriam se engajado mais na venda. Como essa gente é muito bem treinada em “assessorar” os clientes (alguns diriam “empurrar” produtos a eles), a calibragem da esteira de vendas teria garantido uma colocação maior.

Não tenho muitas dúvidas de que avançamos bastante quando migramos do chamado modelo 1.0 da indústria financeira, centralizado quase exclusivamente nos bancões, para aquele 2.0, marcado pela abertura das plataformas e acesso dos clientes a uma maior gama de bons produtos financeiros.

Há, no entanto, algo tipicamente esquecido sobre novas tecnologias ou paradigmas sociais, culturais e de mercado. Ainda que a nova dinâmica seja, no geral, muito mais positiva, isso não quer dizer a inexistência de problemas ou perdas em situações particulares e locais. Veja o caso da internet, por exemplo. Estou certo de que ela foi incrivelmente boa em termos gerais, mas também significou perda de profundidade e capacidade de concentração das pessoas, redução da erudição, maior ênfase em comportamentos tribais e, nas palavras de Tom Nichols, “a morte da expertise”. Como disse certa vez Umberto Eco, “as redes sociais deram voz aos imbecis.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Esse, inclusive, é também um problema específico para o nosso mercado. Não à toa, está em curso consulta pública sobre influenciadores digitais, que, deliberadamente ou não, muitas vezes determinam a decisão de investimento de seu seguidor — ou alguém acha que o cidadão acompanha uma determinada live no Instagram por mera curiosidade intelectual? Ele quer orientações para aplicar seu dinheiro, oras. Assim, na prática, muitos influenciadores exercem atividade de análise de investimento ou acabam fazendo parte do canal de distribuição de uma plataforma ou de um produto — não é coincidência a matéria da semana passada no Valor Econômico de título: “CVM tenta encorajar influenciador financeiro a se tornar analista, diz presidente da autarquia”.

Leia Também

Aqui também reside uma distorção. Os incentivos financeiros apontam no sentido contrário, inclusive. Se você é analista, deve obedecer a um arcabouço regulatório e a um código de ética (adequadamente, diga-se), que, entre outras coisas, veda a negociação de ações numa determinada janela temporal. Agora, se você não é analista, está livre de restrições. Na prática, muitos ancoram-se casuisticamente no pressuposto da liberdade de expressão para realizar análise de valores mobiliários, sob um disclosure qualquer do tipo “isso não é recomendação”. Enquanto influenciam diretamente seus seguidores na tomada de decisão de investimento, continuam negociando para si as ações e/ou geram corretagem ou RLP para uma determinada instituição financeira. Se ele se tornar analista, perde tudo isso.

Proponho uma reflexão genuína: ao assistir a um conteúdo na internet, em que um influenciador elucida todos os pontos positivos de uma determinada ação e sugere uma alta vigorosa para aquele ativo, será que o investidor não se vê imbuído a comprar aquilo, com o mesmo ímpeto que teria se tivesse ouvido diretamente a expressão “recomendo a compra de ABCD4”? A rosa teria o mesmo cheiro se tivesse outro nome. Como já escrevi certa vez, o maior inimigo das casas de análise hoje são as salas de trade, uma espécie de faroeste bang-bang, onde bebê chora e a mãe não vê.

PODCAST TOUROS E URSOS - O ano das guerras, Trump rumo à Casa Branca e China mais fraca: o impacto nos mercados

Volto ao problema específico do canal de distribuição. Pela própria arquitetura escolhida pelo modelo 2.0, contratamos uma série de novas adversidades para o investidor. A essência do 2.0 assenta-se na figura do assessor de investimentos ou agente autônomo — claro que você pode ter um esforço aqui ou ali de distribuições totalmente digitais, B2C, em que não há esse intermediário, mas qualquer observação objetiva da realidade aponta para a concentração da distribuição nessa figura.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Houve, assim, uma grande transferência de valor ao longo da cadeia para o distribuidor, com todas as suas virtudes, mas, também, com seus vícios. Nele, no distribuidor, ou seja, no vendedor, também habitam o médico e o monstro, como em cada um de nós. A questão central é que, num ambiente de assimetria de informação e pouca transparência, o monstro costuma sair na madrugada escura e disfarçado. É difícil notar o lobo atrás da porta, quando ele está vestido em pele de cordeiro e se coloca como alternativa ao vilão clássico: o bancão, que é o malvado favorito de 10 em cada 10 conversas de bar pseudointeligentes sobre investimentos.

Aí caímos num antagonismo maquiavélico simplista: de um lado, temos o arcaico banco tradicional com a figura do gerente; do outro, a plataforma moderna com o assessor de investimento. A blusa de lã marrom com losangos em vermelho e creme, parcialmente escondida pelos cabelos que escorrem pelos ombros, com pontas secas e escurecidas pelo cigarro, que Dona Marlene veste diariamente na gerência de sua instituição bancária mesmo em dias de verão (porque não tolera o ar condicionado) comparada ao coletinho "descolado" da Moncler, aos convites para o camarote da Fórmula 1 e aos imperdíveis encontros na piscina de onda no interior paulista.

As Finanças Comportamentais já nos ensinaram sobre o tal “halo effect” (halo se refere à auréola tipicamente apresentada sobre a cabeça dos anjos), em que identificamos uma característica boa em determinada pessoa, coisa ou situação e transbordamos a virtude particular para algo geral. Se uma mulher é inteligente e educada, logo ela será percebida também como trabalhadora, disciplinada, pontual, generosa… pode até ser, mas não é uma consequência lógica, embora nosso cérebro rapidamente empurre na direção dessa conclusão.

Transferimos um poder enorme para o vendedor de produtos financeiros nos últimos anos e colocamos uma auréola de anjo em cima dele. Pagamos generosos fees nas distribuições de CRIs, CRAs, LCIs, LCAs e LIGs. Essas coisas não têm volatilidade e transmitem uma falsa sensação de segurança para o investidor, porque sua carteira não pula. Ele não faz a menor ideia de qual crédito realmente está na sua carteira, mas estamos todos mais interessados nas dancinhas, nos Reels e na Yasmin Brunet, não é mesmo?

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Enquanto isso, estamos matando a indústria de fundos, que sofre resgate mês após mês, e deixamos a Bolsa brasileira como um quintal do gringo, ao completo sabor da sensibilidade frente ao yield dos Treasuries de 10 anos… e nada mais importa.

O que vai acontecer quando acabar o lastro dessas incentivadas ou um Marcos Pinto da vida resolver eliminar essa bizarra distorção? Quem poderá nos defender? Sei lá, deve ser o Tadeu Schmidt.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?

12 de novembro de 2025 - 19:54

Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje

11 de novembro de 2025 - 8:28

Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?

11 de novembro de 2025 - 7:28

No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício

10 de novembro de 2025 - 19:57

Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje

10 de novembro de 2025 - 7:55

Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados

TRILHAS DE CARREIRA

Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas

9 de novembro de 2025 - 8:00

Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje

7 de novembro de 2025 - 8:14

Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde

SEXTOU COM O RUY

Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis

7 de novembro de 2025 - 7:03

Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR

6 de novembro de 2025 - 8:03

BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil

FII DO MÊS

É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar

6 de novembro de 2025 - 6:03

Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje

5 de novembro de 2025 - 8:04

Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje

4 de novembro de 2025 - 7:50

O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação

4 de novembro de 2025 - 7:10

Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998

3 de novembro de 2025 - 22:11

Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.

DÉCIMO ANDAR

Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários

2 de novembro de 2025 - 8:00

Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje

31 de outubro de 2025 - 7:58

A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi

SEXTOU COM O RUY

Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado

31 de outubro de 2025 - 6:07

A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje

30 de outubro de 2025 - 7:34

A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas

29 de outubro de 2025 - 20:00

Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje

29 de outubro de 2025 - 8:10

Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar