Eleições na França: Macron continua, mas ‘macronismo’ pode estar perto do fim
Resultado do primeiro turno das eleições legislativas na França aponta para o risco de paralisia política no país
Há algumas semanas, após uma derrota significativa nas eleições para o Parlamento Europeu, o presidente francês, Emmanuel Macron, convocou novas eleições parlamentares.
Essa decisão levantou questionamentos sobre suas motivações: seria um ato de desespero ou uma estratégia calculada?
Considerando o contexto, inclino-me a crer que se trata de uma estratégia.
O sistema político francês é semipresidencialista, diferenciando-se do modelo português principalmente pela posição preponderante do presidente como chefe de Estado, enquanto o primeiro-ministro gerencia o governo.
Este arranjo confere ao presidente um poder substancial, tornando-o o líder de facto do governo.
- LEIA TAMBÉM: Casa de análise libera carteira gratuita de ações americanas para você buscar lucros dolarizados em 2024. Clique aqui e acesse.
O desafio político de Macron
Desde a última eleição, Macron tem enfrentado desafios consideráveis, sendo obrigado a formar uma coalizão diversificada para garantir a nomeação de um primeiro-ministro alinhado com suas políticas.
Leia Também
O salvador da pátria para a Raízen, e o que esperar dos mercados hoje
Felipe Miranda: Um conto de duas cidades
Isso resultou em um governo paralisado, dificultando a implementação das reformas desejadas por Macron.
Dado o fortalecimento da direita e a liderança de Marine Le Pen nas pesquisas, Macron parece antecipar dois possíveis desdobramentos:
- i) Domínio da Direita: Se a direita ganhar mais assentos, formará um governo e nomeará um primeiro-ministro, forçando Le Pen a colaborar com o presidente, o que neutralizaria sua plataforma de oposição; e
- ii) Mobilização do Eleitorado Centrista: Uma maior mobilização dos eleitores centristas poderia ampliar a base de apoio de Macron, permitindo-lhe uma governança mais eficaz.
Embora arriscado, este plano poderia reforçar a posição política de Macron, demonstrando sua recusa em aceitar passivamente a paralisia governamental.
Bem, os resultados do primeiro turno das eleições parlamentares corroboraram as pesquisas: o Reunião Nacional (RN) de extrema-direita e seus aliados lideraram com 33%, a Nova Frente Popular (NFP) de esquerda obteve 28% e a coalizão centrista de Macron alcançou 20%.
Embora o RN tenha ficado ligeiramente abaixo das expectativas, ainda liderou a corrida eleitoral.
Uma estratégia para barrar a extrema-direita
A definição virá no segundo turno, marcado para o próximo domingo, onde os três melhores candidatos do primeiro turno competirão novamente.
Tanto os "macronistas" quanto a NFP planejam unir forças para impedir que Le Pen alcance a maioria absoluta, buscando um equilíbrio parlamentar mais estável.
Fontes: Bloomberg e Ministério do Interior da França.
No gráfico apresentado, observamos os partidos de esquerda na França, como o Partido Socialista, o Partido Comunista, o Partido Verde e a "França Insubmissa", unidos em uma coalizão.
Como disse antes, essa aliança esquerdista, junto com os centristas, trabalha para impedir que o partido de Le Pen e seus aliados conquistem a maioria parlamentar — uma estratégia tradicional na política francesa para limitar o avanço da extrema-direita.
A reação do mercado às eleições na França
A fragmentação do parlamento é problemática, pois pode restringir progressos significativos, especialmente na redução do substancial déficit fiscal, atualmente em 5%. A volatilidade nos mercados deve persistir até a próxima segunda-feira, quando os resultados finais das eleições serão conhecidos.
Até agora, porém, o mercado reagiu positivamente ao perceber que é improvável um aumento nos gastos públicos, já que o partido de Le Pen propôs cortes no imposto de renda e no IVA sobre energia e combustíveis, medidas que agravariam o orçamento já tensionado da França.
Macron e o legado do “macronismo”
Outro ponto em debate é o legado do chamado "macronismo". Podemos estar testemunhando o declínio do projeto político de Emmanuel Macron, que sempre esteve profundamente ligado à União Europeia.
Em sua surpreendente vitória presidencial em 2017, Macron celebrou ao som do hino da União Europeia, e não com o hino nacional francês — um gesto repetido em sua reeleição em 2022.
Desde o início de seu mandato, Macron tem defendido que o sucesso da França está vinculado ao sucesso da UE.
Antes da agressão russa a Kiev, Macron já apelava à UE para aumentar os gastos militares e centralizar suas estruturas de comando para melhor defender seus interesses.
Desde então, o cenário global se tornou mais adverso. Economicamente e tecnologicamente, a França está aquém dos EUA e da China e enfrenta desafios comerciais com essas superpotências.
Além disso, o avanço russo na Ucrânia e o fortalecimento de radicais na Europa são preocupantes para seu projeto. Macron respondeu a esses desafios tentando fortalecer a Europa, mas parece que o eleitorado francês está desgastado por esse projeto.
Seja como for, no contexto atual, os próximos anos podem ser marcados por uma paralisia política na França, com Macron apostando que essa estagnação fortalecerá sua posição política para as eleições presidenciais de 2027, adotando a lógica de que "ruim com ele, mas pior sem ele".
- LEIA TAMBÉM: O paradoxo do conservadorismo necessário: para que os juros caiam depois, é preciso mantê-los elevados agora
Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor
Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro
Cada um tem seu momento: Ibovespa tenta manter o bom momento em dia de pacote de Lula contra o tarifaço
Expectativa de corte de juros nos Estados Unidos mantém aberto o apetite por risco nos mercados financeiros internacionais
De olho nos preços: Ibovespa aguarda dados de inflação nos Brasil e nos EUA com impasse comercial como pano de fundo
Projeções indicam que IPCA de julho deve acelerar em relação a junho e perder força no acumulado em 12 meses
As projeções para a inflação caem há 11 semanas; o que ainda segura o Banco Central de cortar juros?
Dados de inflação no Brasil e nos EUA podem redefinir apostas em cortes de juros, caso o impacto tarifário seja limitado e os preços continuem cedendo
Felipe Miranda: Parada súbita ou razões para uma Selic bem mais baixa à frente
Uma Selic abaixo de 12% ainda seria bastante alta, mas já muito diferente dos níveis atuais. Estamos amortecidos, anestesiados pelas doses homeopáticas de sofrimento e pelo barulho da polarização política, intensificada com o tarifaço
Ninguém segura: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de balanços e dados de inflação, mas tarifaço segue no radar
Enquanto Brasil trabalha em plano de contingência para o tarifaço, trégua entre EUA e China se aproxima do fim
O que Donald Trump e o tarifaço nos ensinam sobre negociação com pessoas difíceis?
Somos todos negociadores. Você negocia com seu filho, com seu chefe, com o vendedor ambulante. A diferença é que alguns negociam sem preparo, enquanto outros usam estratégias.
Efeito Trumpoleta: Ibovespa repercute balanços em dia de agenda fraca; resultado da Petrobras (PETR4) é destaque
Investidores reagem a balanços enquanto monitoram possível reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin
Ainda dá tempo de investir na Eletrobras (ELET3)? A resposta é sim — mas não demore muito
Pelo histórico mais curto (como empresa privada) e um dividendo até pouco tempo escasso, a Eletrobras ainda negocia com um múltiplo de cinco vezes, mas o potencial de crescimento é significativo
De olho no fluxo: Ibovespa reage a balanços em dia de alívio momentâneo com a guerra comercial e expectativa com Petrobras
Ibovespa vem de três altas seguidas; decisão brasileira de não retaliar os EUA desfaz parte da tensão no mercado
Rodolfo Amstalden: Como lucrar com o pegapacapá entre Hume e Descartes?
A ocasião faz o ladrão, e também faz o filósofo. Há momentos convidativos para adotarmos uma ou outra visão de mundo e de mercado.
Complicar para depois descomplicar: Ibovespa repercute balanços e início do tarifaço enquanto monitora Brasília
Ibovespa vem de duas leves altas consecutivas; balança comercial de julho é destaque entre indicadores
Anjos e demônios na bolsa: Ibovespa reage a balanços, ata do Copom e possível impacto de prisão de Bolsonaro sobre tarifaço de Trump
Investidores estão em compasso de espera quanto à reação da Trump à prisão domiciliar de Bolsonaro
O Brasil entre o impulso de confrontar e a necessidade de negociar com Trump
Guerra comercial com os EUA se mistura com cenário pré-eleitoral no Brasil e não deixa espaço para o tédio até a disputa pelo Planalto no ano que vem
Felipe Miranda: Em busca do heroísmo genuíno
O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira
No pain, no gain: Ibovespa e outras bolsas buscam recompensa depois do sacrifício do último pregão
Ibovespa tenta acompanhar bolsas internacionais às vésperas da entra em vigor do tarifaço de Trump contra o Brasil
Gen Z stare e o silêncio que diz (muito) mais do que parece
Fomos treinados a reconhecer atenção por gestos claros: acenos, olho no olho, perguntas bem colocadas. Essa era a gramática da interação no trabalho. Mas e se os GenZs estiverem escrevendo com outra sintaxe?
Sem trégua: Tarifaço de Trump desata maré vermelha nos mercados internacionais; Ibovespa também repercute Vale
Donald Trump assinou na noite de ontem decreto com novas tarifas para mais de 90 países que fazem comércio com os EUA; sobretaxa de 50% ao Brasil ficou para a semana que vem
A ação que caiu com as tarifas de Trump mas, diferente de Embraer (EMBR3), ainda não voltou — e segue barata
Essas ações ainda estão bem abaixo dos níveis de 8 de julho, véspera do anúncio da taxação ao Brasil — o que para mim é uma oportunidade, já que negociam por apenas 4 vezes o Ebitda
O amarelo, o laranja e o café: Ibovespa reage a tarifaço aguado e à temporada de balanços enquanto aguarda Vale
Rescaldo da guerra comercial e da Super Quarta competem com repercussão de balanços no Brasil e nos EUA