Eleições na França: Macron continua, mas ‘macronismo’ pode estar perto do fim
Resultado do primeiro turno das eleições legislativas na França aponta para o risco de paralisia política no país
Há algumas semanas, após uma derrota significativa nas eleições para o Parlamento Europeu, o presidente francês, Emmanuel Macron, convocou novas eleições parlamentares.
Essa decisão levantou questionamentos sobre suas motivações: seria um ato de desespero ou uma estratégia calculada?
Considerando o contexto, inclino-me a crer que se trata de uma estratégia.
O sistema político francês é semipresidencialista, diferenciando-se do modelo português principalmente pela posição preponderante do presidente como chefe de Estado, enquanto o primeiro-ministro gerencia o governo.
Este arranjo confere ao presidente um poder substancial, tornando-o o líder de facto do governo.
- LEIA TAMBÉM: Casa de análise libera carteira gratuita de ações americanas para você buscar lucros dolarizados em 2024. Clique aqui e acesse.
O desafio político de Macron
Desde a última eleição, Macron tem enfrentado desafios consideráveis, sendo obrigado a formar uma coalizão diversificada para garantir a nomeação de um primeiro-ministro alinhado com suas políticas.
Leia Também
Isso resultou em um governo paralisado, dificultando a implementação das reformas desejadas por Macron.
Dado o fortalecimento da direita e a liderança de Marine Le Pen nas pesquisas, Macron parece antecipar dois possíveis desdobramentos:
- i) Domínio da Direita: Se a direita ganhar mais assentos, formará um governo e nomeará um primeiro-ministro, forçando Le Pen a colaborar com o presidente, o que neutralizaria sua plataforma de oposição; e
- ii) Mobilização do Eleitorado Centrista: Uma maior mobilização dos eleitores centristas poderia ampliar a base de apoio de Macron, permitindo-lhe uma governança mais eficaz.
Embora arriscado, este plano poderia reforçar a posição política de Macron, demonstrando sua recusa em aceitar passivamente a paralisia governamental.
Bem, os resultados do primeiro turno das eleições parlamentares corroboraram as pesquisas: o Reunião Nacional (RN) de extrema-direita e seus aliados lideraram com 33%, a Nova Frente Popular (NFP) de esquerda obteve 28% e a coalizão centrista de Macron alcançou 20%.
Embora o RN tenha ficado ligeiramente abaixo das expectativas, ainda liderou a corrida eleitoral.
Uma estratégia para barrar a extrema-direita
A definição virá no segundo turno, marcado para o próximo domingo, onde os três melhores candidatos do primeiro turno competirão novamente.
Tanto os "macronistas" quanto a NFP planejam unir forças para impedir que Le Pen alcance a maioria absoluta, buscando um equilíbrio parlamentar mais estável.
Fontes: Bloomberg e Ministério do Interior da França.
No gráfico apresentado, observamos os partidos de esquerda na França, como o Partido Socialista, o Partido Comunista, o Partido Verde e a "França Insubmissa", unidos em uma coalizão.
Como disse antes, essa aliança esquerdista, junto com os centristas, trabalha para impedir que o partido de Le Pen e seus aliados conquistem a maioria parlamentar — uma estratégia tradicional na política francesa para limitar o avanço da extrema-direita.
A reação do mercado às eleições na França
A fragmentação do parlamento é problemática, pois pode restringir progressos significativos, especialmente na redução do substancial déficit fiscal, atualmente em 5%. A volatilidade nos mercados deve persistir até a próxima segunda-feira, quando os resultados finais das eleições serão conhecidos.
Até agora, porém, o mercado reagiu positivamente ao perceber que é improvável um aumento nos gastos públicos, já que o partido de Le Pen propôs cortes no imposto de renda e no IVA sobre energia e combustíveis, medidas que agravariam o orçamento já tensionado da França.
Macron e o legado do “macronismo”
Outro ponto em debate é o legado do chamado "macronismo". Podemos estar testemunhando o declínio do projeto político de Emmanuel Macron, que sempre esteve profundamente ligado à União Europeia.
Em sua surpreendente vitória presidencial em 2017, Macron celebrou ao som do hino da União Europeia, e não com o hino nacional francês — um gesto repetido em sua reeleição em 2022.
Desde o início de seu mandato, Macron tem defendido que o sucesso da França está vinculado ao sucesso da UE.
Antes da agressão russa a Kiev, Macron já apelava à UE para aumentar os gastos militares e centralizar suas estruturas de comando para melhor defender seus interesses.
Desde então, o cenário global se tornou mais adverso. Economicamente e tecnologicamente, a França está aquém dos EUA e da China e enfrenta desafios comerciais com essas superpotências.
Além disso, o avanço russo na Ucrânia e o fortalecimento de radicais na Europa são preocupantes para seu projeto. Macron respondeu a esses desafios tentando fortalecer a Europa, mas parece que o eleitorado francês está desgastado por esse projeto.
Seja como for, no contexto atual, os próximos anos podem ser marcados por uma paralisia política na França, com Macron apostando que essa estagnação fortalecerá sua posição política para as eleições presidenciais de 2027, adotando a lógica de que "ruim com ele, mas pior sem ele".
- LEIA TAMBÉM: O paradoxo do conservadorismo necessário: para que os juros caiam depois, é preciso mantê-los elevados agora
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo
Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje
Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA
CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3), o ‘terror dos vendidos’ e mais: as matérias mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matéria sobre a exposição da Oncoclínicas aos CDBs do Banco Master foi a mais lida da semana; veja os destaques do SD
A debandada da bolsa, pessimismo global e tarifas de Trump: veja o que move os mercados hoje
Nos últimos anos, diversas empresas deixaram a B3; veja o que está por trás desse movimento e o que mais pode afetar o seu bolso
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
Chegamos à situação contemporânea nos EUA em que o mercado de trabalho começa a dar sinais em prol de cortes nos juros, enquanto a inflação (acima da meta) sugere insistência no aperto
A nova estratégia dos FIIs para crescer, a espera pelo balanço da Nvidia e o que mais mexe com seu bolso hoje
Para continuarem entregando bons retornos, os Fundos de Investimento Imobiliários adaptaram sua estratégia; veja se há riscos para o investidor comum. Balanço da Nvidia e dados de emprego dos EUA também movem os mercados hoje
O recado das eleições chilenas para o Brasil, prisão de dono e liquidação do Banco Master e o que mais move os mercados hoje
Resultado do primeiro turno mostra que o Chile segue tendência de virada à direita já vista em outros países da América do Sul; BC decide liquidar o Banco Master, poucas horas depois que o banco recebeu uma proposta de compra da holding Fictor
Eleição no Chile confirma a guinada política da América do Sul para a direita; o Brasil será o próximo?
Após a vitória de Javier Milei na Argentina em 2023 e o avanço da direita na Bolívia em 2025, o Chile agora caminha para um segundo turno amplamente favorável ao campo conservador