Um nome agrada o mercado: como a escolha de Trump para o Tesouro afeta o humor dos investidores
Escolhido por Trump para chefiar o Tesouro dos EUA, Scott Bessent associa ortodoxia, previsibilidade e consistência na condução da economia

No final de semana, Donald Trump anunciou Scott Bessent, fundador da Key Square, como o novo Secretário do Tesouro dos EUA.
Como era de se esperar, a escolha foi recebida com entusiasmo pelos mercados financeiros, que buscavam um nome associado à ortodoxia, previsibilidade e consistência na condução da economia.
Felizmente, Bessent traz essas qualidades, aliviando os temores de que o posto pudesse ser ocupado por candidatos menos alinhados às expectativas de Wall Street (um nome da ala “amalucada" que apoiou o presidente-eleito durante a eleição).
Note que a nomeação reflete um equilíbrio estratégico: Trump optou por uma figura capaz de agradar Wall Street, enquanto mantém diálogo com sua base eleitoral, que defende políticas protecionistas, como a aplicação de tarifas comerciais mais agressivas, maior adoção de criptomoedas e medidas rígidas de controle imigratório.
Bessent superou outros concorrentes para o cargo, incluindo Marc Rowan, CEO da Apollo Global Management; Kevin Warsh, ex-governador do Federal Reserve; o senador pelo Tennessee Bill Hagerty; e Howard Lutnick, membro do comitê de transição de Trump, que foi designado para liderar o Departamento de Comércio.
- LEIA TAMBÉM: Novo nome no Tesouro dos Estados Unidos impulsiona Wall Street e leva Dow Jones a novo recorde
A trajetória do escolhido de Trump
Formado em Yale, Bessent possui uma trajetória notável no setor financeiro.
Leia Também
Super Quarta de contrastes: a liquidez vem lá de fora, a cautela segue aqui dentro
O melhor aluno da sala fazendo bonito na bolsa, e o que esperar dos mercados nesta quinta-feira (18)
Ele ganhou destaque na Kynikos Associates, trabalhando ao lado do renomado “short seller” (aposta na queda das ações) Jim Chanos, antes de consolidar sua reputação na Soros Fund Management, onde atuou como sócio durante a década de 1990.
Este histórico robusto fortalece a confiança de que sua liderança no Tesouro trará a estabilidade e a direção necessária para a política econômica dos EUA, em um momento de expectativas elevadas e desafios globais significativos.
Durante sua trajetória na Soros Fund Management (SFM), inclusive, Scott Bessent desempenhou um papel central no célebre trade contra a libra esterlina durante a "Quarta-Feira Negra" em 1992, um evento que consolidou sua reputação como um dos estrategistas financeiros mais brilhantes de sua geração e destacou sua posição como um dos profissionais mais bem-sucedidos sob a tutela de George Soros.
O que a escolha de Trump sinaliza
Sua recente nomeação por Trump sinaliza, portanto, um compromisso com uma abordagem econômica pragmática e fundamentada.
No centro de sua visão está a chamada "Regra 3-3-3", que sintetiza suas diretrizes de política econômica focadas em responsabilidade fiscal, crescimento sustentado e independência energética.
A consolidação fiscal emerge como o primeiro e fundamental pilar de sua estratégia, com a meta ambiciosa de reduzir o déficit público para 3% do PIB até 2028.
Para alcançar esse objetivo, Bessent propõe cortes nos gastos federais, eliminando ineficiências e otimizando recursos, além de fechar brechas fiscais e, se necessário, aumentar receitas de forma estratégica, sem comprometer o crescimento econômico.
Ele também defende reformas estruturais em programas como Previdência Social e Medicare, enfrentando grandes desafios políticos para assegurar a sustentabilidade fiscal de longo prazo.
Essa ênfase na estabilidade visa restaurar a confiança do mercado e melhorar a competitividade dos Estados Unidos no cenário global.
Como Bessent pretende fazer a economia dos EUA crescer
Simultaneamente, Bessent busca estabelecer um ritmo sustentado de crescimento real do PIB de 3% ao ano, uma meta ambiciosa para uma economia desenvolvida.
Para tanto, ele propõe desregulamentações que estimulem o investimento privado e reduzam barreiras ao empreendedorismo, complementadas por políticas de estímulo.
Essas iniciativas incluem treinamento da força de trabalho, suporte a pequenas empresas e investimentos estratégicos em setores como tecnologia, infraestrutura e educação, considerados fundamentais para impulsionar a produtividade.
No terceiro pilar de sua estratégia, Bessent foca na independência energética, com planos de aumentar a produção diária de petróleo bruto dos Estados Unidos em 3 milhões de barris.
Essa medida busca não apenas garantir segurança energética e estabilizar os preços da energia, enfrentando a inflação e reforçar a resiliência econômica do país diante de choques externos.
Ambição e pragmatismo
A estratégia econômica de Scott Bessent, ancorada na "Regra 3-3-3", reflete uma combinação de ambição e pragmatismo, equilibrando disciplina fiscal, estímulos ao crescimento econômico e fortalecimento da independência energética.
Essa visão integrada busca atender tanto às expectativas de Wall Street quanto às demandas de uma base eleitoral que exige resultados tangíveis, enquanto aborda os desafios econômicos contemporâneos com políticas robustas e coerentes.
Os obstáculos à estratégia do escolhido de Trump
Embora a estratégia "3-3-3" de Scott Bessent esteja fundamentada em sólidos princípios macroeconômicos, seu sucesso dependerá de uma implementação cuidadosa e da superação de desafios substanciais.
Entre os obstáculos mais evidentes estão a resistência política a cortes de gastos e reformas em programas sociais, a incerteza quanto à viabilidade de alcançar um crescimento anual de 3% em meio a condições econômicas globais adversas.
A reação inicial do mercado
Apesar desses desafios, o primeiro pilar da estratégia de Bessent, a consolidação fiscal, já demonstra impacto positivo no mercado.
Sua indicação ao Tesouro americano resultou em uma melhora na curva de juros de longo prazo, com os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos recuando para aproximadamente 4,25%.
Esse movimento reflete uma redução na percepção de risco associada à possibilidade de políticas fiscais excessivamente expansivas, trazendo maior confiança.
Esse ajuste ocorre em um momento crucial para a economia dos Estados Unidos, que enfrenta altos níveis de endividamento.
A dívida nacional já ultrapassou US$ 36 trilhões, enquanto o déficit orçamentário atingiu 6,4% do PIB no ano fiscal de 2024, um nível alarmante considerando o atual cenário de pleno emprego.
A nomeação de Bessent, acompanhada por outras escolhas estratégicas, como Howard Lutnick para a Secretaria de Comércio e Elon Musk e Vivek Ramaswamy no recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), sinaliza um comprometimento com uma abordagem fiscal mais responsável.
O DOGE, em particular, foi criado para enfrentar problemas como desperdício, fraude e abuso no setor público, além de buscar reduzir o tamanho do governo federal.
Embora iniciativas desse tipo enfrentem forte resistência de interesses estabelecidos em Washington, elas refletem um esforço coordenado para conter os gastos públicos e abordar preocupações com uma possível política fiscal descontrolada.
Não existe solução fácil
A ausência de soluções fáceis torna ainda mais crucial o papel de Bessent em negociar com o Congresso a renovação dos cortes de impostos de 2017, que estão programados para expirar no final de 2025.
Além disso, Bessent deverá trabalhar para revalidar os cortes de impostos do primeiro governo Trump, que caducam no ano que vem, fora as promessas de campanha como a redução da alíquota corporativa para 15% e a isenção de tributos sobre gorjetas.
Essas medidas são vistas como um gesto tanto para o setor financeiro quanto para a base eleitoral republicana tradicional.
Elas devem moldar os primeiros anos da nova administração Trump, especialmente enquanto os republicanos mantiverem o controle do Congresso.
A reação do mercado tem sido amplamente positiva, indicando apoio à estratégia delineada e otimismo quanto à possibilidade de disciplina fiscal.
Dessa forma, apesar das dificuldades inerentes à implementação de cortes de gastos significativos, a nomeação de Scott Bessent para o Tesouro é interpretada como um sinal de moderação e racionalidade na política econômica americana.
Sua nomeação representa um passo importante na direção certa, aliviando parte da tensão associada ao chamado "Trump Trade". A resposta dos mercados reflete essa confiança.
Felipe Miranda: A neoindustrialização brasileira (e algumas outras tendências)
Fora do ar condicionado e dos escritórios muito bem acarpetados, há um Brasil real de fronteira tecnológica, liderando inovação e produtividade
O que a inteligência artificial vai falar da sua marca? Saiba mais sobre ‘AI Awareness’, a estratégia do Mercado Livre e os ‘bandidos’ das bets
A obsessão por dados permanece, mas parece que, finalmente, os CMOs (chief marketing officer) entenderam que a conversão é um processo muito mais complexo do que é possível medir com links rastreáveis
A dieta do Itaú para não recorrer ao Ozempic
O Itaú mostrou que não é preciso esperar que as crises cheguem para agir: empresas longevas têm em seu DNA uma capacidade de antecipação e adaptação que as diferenciam de empresas comuns
Carne nova no pedaço: o sonho grande de um pequeno player no setor de proteína animal, e o que move os mercados nesta quinta (11)
Investidores acompanham mais um dia de julgamento de Bolsonaro por aqui; no exterior, Índice de Preços ao Consumidor nos EUA e definição dos juros na Europa
Rodolfo Amstalden: Cuidado com a falácia do take it for granted
A economia argentina, desde a vitória de Javier Milei, apresenta lições importantes para o contexto brasileiro na véspera das eleições presidenciais de 2026
Roupas especiais para anos incríveis, e o que esperar dos mercados nesta quarta-feira (10)
Julgamento de Bolsonaro no STF, inflação de agosto e expectativa de corte de juros nos EUA estão na mira dos investidores
Os investimentos para viver de renda, e o que move os mercados nesta terça-feira (9)
Por aqui, investidores avaliam retomada do julgamento de Bolsonaro; no exterior, ficam de olho na revisão anual dos dados do payroll nos EUA
A derrota de Milei: um tropeço local que não apaga o projeto nacional
Fora da região metropolitana de Buenos Aires, o governo de Milei pode encontrar terreno mais favorável e conquistar resultados que atenuem a derrota provincial. Ainda assim, a trajetória dos ativos argentinos permanece vinculada ao desfecho das eleições de outubro.
Felipe Miranda: Tarcisiômetro
O mercado vai monitorar cada passo dos presidenciáveis, com o termômetro no bolso, diante da possível consolidação da candidatura de Tarcísio de Freitas como o nome da centro-direita e da direita.
A tentativa de retorno do IRB, e o que move os mercados nesta segunda-feira (8)
Após quinta semana seguida de alta, Ibovespa tenta manter bom momento em meio a agenda esvaziada
Entre o diploma e a dignidade: por que jovens atingidos pelo desemprego pagam para fingir que trabalham
Em meio a uma alta taxa de desemprego em sua faixa etária, jovens adultos chineses pagam para ir a escritórios de “mentirinha” e fingir que estão trabalhando
Recorde atrás de recorde na bolsa brasileira, e o que move os mercados nesta sexta-feira (5)
Investidores aguardam dados de emprego nos EUA e continuam de olho no tarifaço de Trump
Ibovespa renova máxima histórica, segue muito barato e a próxima parada pode ser nos 200 mil pontos. Por que você não deve ficar fora dessa?
Juros e dólar baixos e a renovação de poder na eleição de 2026 podem levar a uma das maiores reprecificações da bolsa brasileira. Os riscos existem, mas pode fazer sentido migrar parte da carteira para ações de empresas brasileiras agora.
BRCR11 conquista novos locatários para edifício em São Paulo e reduz vacância; confira os detalhes da operação
As novas locações colocam o empreendimento como um dos destaques do portfólio do fundo imobiliário
O que fazer quando o rio não está para peixe, e o que esperar dos mercados hoje
Investidores estarão de olho no julgamento da legalidade das tarifas aplicadas por Donald Trump e em dados de emprego nos EUA
Rodolfo Amstalden: Se setembro der errado, pode até dar certo
Agosto acabou rendendo uma grata surpresa aos tomadores de risco. Para este mês, porém, as apostas são de retomada de algum nível de estresse
A ação do mês na gangorra do mundo dos negócios, e o que mexe com os mercados hoje
Investidores acompanham o segundo dia do julgamento de Bolsonaro no STF, além de desdobramentos da taxação dos EUA
Hoje é dia de rock, bebê! Em dia cheio de grandes acontecimentos, saiba o que esperar dos mercados
Terça-feira terá dados do PIB e início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de olhos voltados para o tarifaço de Trump
Entre o rali eleitoral e o malabarismo fiscal: o que já está nos preços?
Diante de uma âncora fiscal frágil e de gastos em expansão contínua, a percepção de risco segue elevada. Ainda assim, fatores externos combinados ao rali eleitoral e às apostas de mudança de rumo em 2026, oferecem algum suporte de curto prazo aos ativos brasileiros.
Tony Volpon: Powell Pivot 3.0
Federal Reserve encara pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, por cortes nos juros, enquanto lida com dominância fiscal sobre a política monetária norte-americana