Bragadino, a alta de preços e a fantasia de uma riqueza imediata

Com o avanço das grandes navegações no século XVI, Veneza, que já foi a cidade-estado mais próspera e rica do Ocidente, começava a ver seu poder ser tolhido. A descoberta de rotas alternativas para o Oriente e a exploração das terras do Novo Mundo levaram a uma mudança importante no fluxo de capital na Europa. Predestinados a uma crise econômica, com a quebra dos seus bancos e a falência das famílias nobres, seus cidadãos se viam em busca de algo que pudesse recuperar as glórias do passado.
Eis que no horizonte, surge uma figura misteriosa, dotada da capacidade de transformar minerais sem valor em ouro. O alquimista, conhecido pelo nome de Bragadino, trouxe para a cidade-estado a esperança de que os dias de riqueza voltassem a reluzir. Como todo bom trambiqueiro, Bragadino usufruiu durante anos das benesses promovidas pelo governo veneziano, prometendo em contrapartida a produção infindável de ouro.
Sua promessa ainda guardava requintes de crueldade. Ele dizia que a produtividade da substância que transformava os minerais em ouro aumentaria conforme o tempo de descanso, ou seja, quanto mais tempo fechada a quatro chaves, maior a sua capacidade de produção de ouro.
O poder de Bragadino calcado na fantasia de uma imensa riqueza somente aumentava, até que os questionamentos dos senadores vênetos saíram do controle. Do dia para a noite, o alquimista decidiu “deixar” de prestar seus serviços à Veneza, sinalizando a falta de paciência dos seus governantes. Deixou a cidade e partiu para Munique, onde repetiu o mesmo feito, agora sob a égide do Duque de Baviera.
Quando a euforia atrapalha a construção de teses de investimentos
O trecho acima foi inspirado no capítulo 32 do livro de Robert Greene, 48 Leis do Poder. Nele, o autor procura associar o exercício do poder por meio da criação de uma aura fantasiosa. “Vender um sonho” talvez seja a melhor forma de alguém controlar ou manipular o comportamento de pessoas, ou quiçá, investidores.
Quantas vezes já nos deparamos com os preços de ativos que avançam subitamente e que nos fazem sonhar com a prosperidade imediata?
Leia Também
Por vezes, no trabalho de Gestão de Recursos, separar as ideias fantasiosas daquilo que realmente funciona é difícil. Especialmente quando a euforia ofusca a construção das teses de investimento. Nesse ambiente, o uso de respostas simplistas para justificar as posições ganha força e os processos decisórios perdem qualidade.
Para se evitar isso, é preciso sempre recobrar a consciência. As mesmas perguntas precisam ser feitas e repetidas diversas vezes: será que há uma repetição do comportamento passado dos investidores? Até onde o movimento do ativo está calcado nos seus fundamentos? E do lado da macroeconomia ou da política monetária, será que haverá algum efeito de segunda ordem que precise ser levado em consideração?
As respostas para essas perguntas deveriam ser suficientes para retirar a aura do ativo supremo. Afinal, de contas ele não existe e, às vezes, isso é descoberto a duras penas. Tais quais os cidadãos de Veneza anuviados pela promessa de Bragadino, os investidores (ou gestores) que se veem dominados pelas amarras da hipótese dos retornos ilimitados tendem a fazer más escolhas na construção dos seus portfólios e acabam ficando somente com o pó em suas mãos.
- Onde investir neste mês? Veja 10 ações em diferentes setores da economia para buscar lucros. Baixe o relatório gratuito aqui.
Como os mercados têm andado em março e os ajustes nas carteiras
Os primeiros pregões de março ainda são incapazes de delinear a tendência dos mercados para o mês. De relance, o sentimento é de que o ímpeto comprador dos investidores parece ter arrefecido. Nada muito anormal, dado o forte movimento das Bolsas internacionais nos últimos meses.
Até o fechamento desta edição, o índice S&P 500 ainda se mantinha acima dos 5 mil pontos e a perda do mês era de apenas 0,2%. O Nasdaq sofria um pouco mais (-0,8%), devido às quedas mais intensas das ações da Apple (-5,8%), Alphabet (-4,1%) e Tesla (-10,45%). A percepção é de que as três perderam o “appeal” que justificava as presenças entre as magnificent seven.
Apesar de as posições de Apple e Google estarem presentes no Tech Select, tecnicamente estamos vendidos, dada as alocações em opções de venda. Tal mecanismo acabou por proteger o portfólio e, até o fechamento de segunda-feira (4), o fundo ainda se valorizava 1,15% no mês. No ano, o retorno alcançado é de 15,7%.
Lá fora, os dados provenientes da economia americana ganharão os holofotes a partir da semana que vem. A preocupação dos investidores será a mesma de fevereiro e está relacionada aos preços da economia. A inflação mais resiliente tem segurado os juros em um patamar mais elevado e dificultado a vida de Jerome Powell e seu time.
E no Brasil?
Por aqui, a discussão é parecida. Roberto Campos Neto reafirmou a rota da queda da Selic: mais duas reduções de 50 pontos base e depois uma releitura do cenário. Do nosso ponto de vista, a redução continuará neste mesmo passo, especialmente se o ciclo de queda de juros nos EUA se iniciar.
Do lado da renda variável brasileira, não há grandes novidades. Os resultados trimestrais começaram a ser divulgados, mas ainda não foram suficientes para trazer ânimo para os investidores locais. Nessa semana, a Petrobras divulgará seus resultados e deve trazer um pouco mais de volatilidade para o mercado (clique aqui para acessar a análise dos números de PETR4 na próxima sexta, 8 de março).
Por fim, vale mencionar a fortíssima arrancada do bitcoin, que superou brevemente suas máximas históricas ao tocar a casa dos US$ 69 mil. O fluxo constante de investidores institucionais para o criptoativo se mostrou clara nas últimas semanas. No outro espectro, também vale mencionar a forte alta recente do ouro, que alcançou a marca dos US$ 2.150 a libra-onça. A corrida para os ativos de reserva de valor só parece estar no começo e está alinhada com a nossa visão apresentada no Outlook 2024.
Forte abraço,
João Piccioni
Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços
Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana
A marca dos US$ 100 mil voltou ao radar: bitcoin (BTC) acumula alta de mais de 10% nos últimos sete dias
Trégua momentânea na guerra comercial entre Estados Unidos e China, somada a dados positivos no setor de tecnologia, ajuda criptomoedas a recuperarem parte das perdas, mas analistas ainda recomendam cautela
Se errei, não erro mais: Google volta com o conversor de real para outras moedas e adiciona recursos de segurança para ter mais precisão nas cotações
A ferramenta do Google ficou quatro meses fora do ar, depois de episódios nos quais o conversor mostrou a cotação do real bastante superior à realidade
Fernando Collor torna-se o terceiro ex-presidente brasileiro a ser preso — mas o motivo não tem nada a ver com o que levou ao seu impeachment
Apesar de Collor ter entrado para a história com a sua saída da presidência nos anos 90, a prisão está relacionada a um outro julgamento histórico no Brasil, que também colocou outros dois ex-presidentes atrás das grades
Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale
Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal
Dividendos extraordinários estão fora do horizonte da Petrobras (PETR4) com resultados de 2025, diz Bradesco BBI
Preço-alvo da ação da petroleira foi reduzido nas estimativas do banco, mas recomendação de compra foi mantida
Dona do Google vai pagar mais dividendos e recomprar US$ 70 bilhões em ações após superar projeção de receita e lucro no trimestre
A reação dos investidores aos números da Alphabet foi imediata: as ações chegaram a subir mais de 4% no after market em Nova York nesta quinta-feira (24)
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
Trump recua e bitcoin avança: BTC flerta com US$ 94 mil e supera a dona do Google em valor de mercado
Após a Casa Branca adotar um tom menos confrontativo, o mercado de criptomoedas entrou em uma onda de otimismo, levando o bitcoin a superar o valor de mercado da prata e da Alphabet, controladora do Google
Meta e Apple são multadas em R$ 4,5 bilhões pela União Europeia por supostas violações aos direitos dos usuários
Segundo a UE, a Apple violou a obrigação de não impor restrições aos concorrentes da sua App Store, e a Meta limitou as opções de controle sobre quais informações os usuários cedem para uso da empresa
Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia
Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell
Google enfrenta nova fase de julgamento por práticas monopolistas nos EUA: medidas propostas podem abalar ecossistema digital e corrida tecnológica global
Google: Venda do Chrome, mudanças no Android e o risco de perder liderança em IA estão em jogo. Veja o que está por trás do processo antitruste
Google teve semana de más notícias nos EUA e Reino Unido; o que esperar da próxima semana, quando sai seu balanço
Nos EUA, juíza alega que rede de anúncios digitais do Google é monopólio ilegal; no Reino Unido, empresa enfrenta ação coletiva de até 5 bilhões de libras por abuso em publicidade
Ações x títulos da Petrobras, follow-on da Azul e 25 ações para comprar após o caos: o que bombou no Seu Dinheiro esta semana
Outra forma de investir em Petrobras além das ações em bolsa e oferta subsequente de ações da Azul estão entre as matérias mais lidas da última semana em SD
Dividendos: Cury (CURY3), Neoenergia (NEOE3) e Iguatemi (IGTI11) distribuem juntas quase R$ 1 bilhão em proventos; veja quem mais paga
As empresas de energia, construção e shopping centers não foram as únicas a anunciar o pagamento de dividendos bilionários nesta semana
PETR4, PRIO3, BRAV3 ou RECV3? Analista recomenda duas petroleiras que podem ‘se virar bem’ mesmo com o petróleo em baixa
Apesar da queda do petróleo desde o “tarifaço” de Trump, duas petroleiras ainda se mostram bons investimentos na B3, segundo analista
Combustível mais barato: Petrobras (PETR4) vai baixar o preço do diesel para distribuidoras após negar rumores de mudança
A presidente da estatal afirmou na semana passada que nenhuma alteração seria realizada enquanto o cenário internacional estivesse turbulento em meio à guerra comercial de Trump
Que telefone vai tocar primeiro: de Xi ou de Trump? Expectativa mexe com os mercados globais; veja o que esperar desta quinta
Depois do toma lá dá cá tarifário entre EUA e China, começam a crescer as expectativas de que Xi Jinping e Donald Trump possam iniciar negociações. Resta saber qual telefone irá tocar primeiro.
Dividendos e JCP: Vibra (VBBR3) aprova a distribuição de R$ 1,63 bilhão em proventos; confira os prazos
Empresa de energia não é a única a anunciar nesta quarta-feira (16) o pagamento de dividendos bilionários
Passou: acionistas da Petrobras (PETR4) aprovam R$ 9,1 bilhões em dividendos; veja quem tem direito
A estatal também colocou em votação da assembleia desta quarta-feira (16) a indicação de novo membros do conselho de administração