O fracasso das empresas “sem dono” na B3. Por que o modelo das corporations vai mal na bolsa brasileira
São vários exemplos e de inúmeros setores de companhias sem uma estrutura de controle que passaram por graves problemas ou simplesmente fracassaram

O olho do dono engorda o gado? Se aplicarmos o ditado popular nas empresas listadas na B3, a resposta é sim. Afinal, o mercado brasileiro vem colecionando uma série de fracassos de empresas que se organizaram como corporations — ou seja, sem um acionista ou grupo controlador definido.
São vários exemplos e de inúmeros setores de companhias sem uma estrutura de controle que passaram por graves problemas ou simplesmente fracassaram. Entre elas, as incorporadoras Gafisa e PDG, a empresa de resseguros IRB, a varejista Casas Bahia, a operadora Oi e a gigante de alimentos BRF.
No modelo societário das corporations, os acionistas minoritários são transformados em “donos” e têm o poder de ditar e de alterar os rumos da companhia.
Para tanto, formalmente, precisam chegar a um consenso para eleger um conselho de administração que dará diretrizes aos principais executivos da companhia e também irá avaliar se o trabalho deles está de acordo com o combinado.
Mas é um sistema que exige participação e atenção redobradas dos acionistas, para que a empresa não fique à deriva.
Entre os vários possíveis riscos desse modelo estão o de que um grupo de acionistas acabe exercendo sozinho o controle e o de que a companhia acabe sequestrada por interesses de curto prazo de executivos.
Leia Também
Ataque hacker e criptomoedas: por que boa parte do dinheiro levado no “roubo do século” pode ter se perdido para sempre
Eve, subsidiária da Embraer (EMBR3), lança programa de BDRs na B3; saiba como vai funcionar
Numa carta aos cotistas, a gestora de recursos AlphaKey reflete sobre o assunto e se pergunta por que a performance das corporations no Brasil ainda parece distante do desejável.
- [Carteira recomendada] 10 ações brasileiras para investir agora e buscar lucros – baixe o relatório gratuito
Corporations vão pior que até que as estatais na bolsa
Para começar, se alguém tem alguma dúvida de que as corporations não vêm dando muito certo por aqui, a AlphaKey trouxe números para comprovar.
A gestora fez um levantamento das maiores contribuições – positivas e negativas – para o IBX 100 de 2014 até aqui.
Nesses dez anos, entre as 20 empresas que mais contribuíram positivamente com o índice, apenas 5 (ou 25%) são corporations. Sendo que uma delas, a Eletrobras, virou corporation apenas dois anos atrás com a privatização.
No entanto, quando se olha para as 20 companhias que mais pesaram negativamente no IBX 100, 15 delas (75%) não têm controlador definido.
E, mais, teria sido melhor ter a União ou governos de sócio do que uma figura difusa. As estatais Petrobras, Copel, Sabesp e Banco do Brasil estão entre as 20 maiores contribuições positivas ao índice.
Questão cultural
A Alphakey tenta, mas não responde exatamente porque as corporations dão mais errado do que certo no Brasil. Uma suspeita da gestora é que nós importamos o conceito de corporation de maneira irrestrita, com poucas adaptações culturais e idiossincráticas.
O modelo foi feito por e para norte-americanos. Nele, “o confronto, a impessoalidade, o ‘ritualismo’, o feedback negativo, o rigor do prazo, a comunicação sem rodeios são traços rotineiros” são cruciais para a constituição de um ambiente em que múltiplas partes cheguem num consenso de maneira rápida e eficiente, diz a carta.
O caso da Netflix
Só que isso tudo parece contrastar com o jeito brasileiro de ser. A gestora cita o livro A Regra é não ter regras (“No Rules Rules”).
Escrita pelo cofundador da Netflix, Reed Hastings, e Erin Meyer, professora da Insead, uma das mais conceituadas escolas de negócios do mundo, a publicação trata dos aspectos culturais presentes no dia a dia da empresa de streaming, que também é uma corporation.
O livro traz perfis comportamentais de funcionários da Netflix em diferentes países e mostra como os executivos tiveram de lidar com diferenças culturais acentuadas e fazer adaptações particulares em cada região.
Os dados não têm caráter científico, mas quando se compara o funcionário no Brasil à média da Netflix global, o brasileiro mostra ter uma agenda mais flexível, confiança baseada em relacionamentos e certa tendência a evitar conflitos. Está longe do perfil mais combativo que funciona das corporations americanas.
A AlphaKey cita, então, outro livro, O Homem Cordial, escrito em 1936 pelo historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda. A obra clássica traz aspectos semelhantes das características do brasileiro — o cordial é no sentido de coração/emoção e não no sentido de polidez.
Sentindo na pele
A readaptação, dá a entender a carta da AlphaKey, passa menos pela adoção de um jeitinho brasileiro para corporations e mais por aprender que nessas situações é preciso ter perfis combativos para que o negócio dê certo.
A gestora relata que já sentiu isso na pele. Em 2021, na polêmica disputa entre Stone e Totvs pelo controle da Linx, a AlphaKey conseguiu juntar cerca de 20% da base acionária da Linx para questionar as práticas do conselho da empresa.
Lembrando o caso, os executivos aceitaram que os fundadores da Linx recebessem um pacote de não competição extremamente vantajoso. Além disso, eles concordaram com uma trava que impossibilitava qualquer proposta concorrente.
No entanto, a iniciativa dos acionistas não foi adiante, diz a gestora. “No último dia, o homem cordial falou mais alto e com receios de possíveis retaliações dos fundadores e investidores da Stone, praticamente todo o grupo dos 20% desistiu de assinar publicamente e a carta foi enviada com uma adesão inferior a 5%”.
- Existe renda fixa “imune” à queda da Selic? Analista recomenda títulos que podem render bem mais do que o IPCA e do que CDI. Baixe o relatório gratuito aqui.
Xerife sem dentes
Para Geraldo Affonso Ferreira, conselheiro independente e especialista em governança corporativa, o modelo de corporations exige perfis de investidores e conselheiros ativos e combativos.
“Aqui não temos esse perfil de atuação porque, diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, a CVM não é um xerife com dentes,” disse Ferreira.
No Brasil, ele complementa, o regulador não tem orçamento, não tem gente, e tem uma diretoria com indicação política, na maioria advogados que usam a autarquia como um trampolim para carreiras.
“Até mesmo por isso, a maioria deles prefere não se indispor com o mercado”, disse.
Para ele, o modelo americano, apesar de também ter seus problemas, funciona melhor. Isso porque, além da SEC, o país possui tribunais capacitados e conhecedores do mercado de capitais, diferentemente do que acontece no Brasil.
“Você até vê pessoas tentando ser ativistas no Brasil, mas elas perdem a coragem e entusiasmo porque não veem um regulador, um enforcement forte,” disse.
Além disso, Ferreira acredita que falta cultura de governança corporativa e de stewardship (dever fiduciário de investidores que administram dinheiro de terceiros). E isso tudo influi na indicação de conselheiros.
“A maioria das indicações de conselheiros não são feitas pensando no que é melhor para a empresa, mas sim na lealdade que a pessoa terá a quem a indicou”, disse.
Para outro especialista em governança, Renato Chaves, muitas corporations brasileiras se desviaram da essência do modelo difuso.
“O cachimbo deixa a boca torta... Acionistas de referência normalmente querem assumir papéis de controladores, vide o exemplo de fundos e/ou fundadores que reduziram a participação, mas continuam mandando e desmandando no negócio,” disse.
Cadê os minoritários?
Não bastasse isso, também os executivos, sem o devido combate de acionistas e do conselho, acabaram dominando outras empresas.
Para ele, investidores não gostam de brigar, nem de participar do dia a dia. “Se tem corporation, temos de ter assembleias cheias,” disse.
Também não é o que se vê no Brasil. Um estudo da consultoria Morrow Sodali mostrou que na temporada de assembleia de 2023, nas corporations – definidas pela consultoria como aquelas com mais de 70% das ações em circulação no mercado –, o quórum médio foi de 42,2%, em queda de 1,1 p.p. e o menor percentual desde 2019 (57,2%).
Sem acionistas participando, discutindo, questionando, o cenário fica propício para que um grupo assuma uma posição de controle; ou para que os próprios executivos saiam do controle, pensando em obter vantagens enquanto estão no comando.
Bom pra todos
A AlphaKey traz mais uma citação: Brad Jacobs, empreendedor em série e autor do livro “How To Make a Few Billion Dollars”, afirma que em suas empresas os executivos só podem ganhar ao mesmo tempo em que geram valor para os acionistas.
Ele instituiu uma política em que as opções de ações dos diretores serão vested (terão validade) caso a performance seja acima dos índices de referência ou de uma cesta de empresas comparáveis – “ideia totalmente aplicável à nossa realidade”, diz a carta.
Mas a gestora traz exemplos de empresas brasileiras em que houve uma desconexão entre remuneração e retorno. Em Casas Bahia, Qualicorp, Cogna e CVC, enquanto as ações derreteram mais de 90%, os executivos embolsaram milhões em salários, bônus e remuneração variável.
E a Alphakey pergunta: “Que tipo de alinhamento é esse onde diretores são remunerados de maneira inversamente proporcional ao acionista? Quais mecanismos os minoritários precisam instituir para mudar o curso de maneira mais rápida e eficiente? Por vezes executivos e conselheiros parecem tratar companhias de controle difuso como empresas sem dono algum.”
Apesar de não ter uma receita, a gestora acredita que o país precisa de mais corporations de sucesso e isso se tornará realidade quando minoritários assumirem as rédeas do próprio destino.
Smart Fit (SMFT3) falha na série: B3 questiona queda brusca das ações; papéis se recuperam com alta de 1,73%
Na quarta-feira (2), os ativos chegaram a cair 7% e a operadora da bolsa brasileira quis entender os gatilhos para a queda; descubra também o que aconteceu
Ibovespa vale a pena, mas vá com calma: por que o UBS recomenda aumento de posição gradual em ações brasileiras
Banco suíço acredita que a bolsa brasileira tem espaço para mais valorização, mas cita um risco como limitante para alta e adota cautela
Da B3 para as telinhas: Globo fecha o capital da Eletromidia (ELMD3) e companhia deixa a bolsa brasileira
Para investidores que ainda possuem ações da companhia, ainda é possível se desfazer delas antes que seja tarde; saiba como
Os gringos investiram pesado no Brasil no primeiro semestre e B3 tem a maior entrada de capital estrangeiro desde 2022
Entre janeiro e junho deste ano, os gringos aportaram cerca de R$ 26,5 bilhões na nossa bolsa — o que impulsionou o Ibovespa no período
As nove ações para comprar em busca de dividendos no segundo semestre — e o novo normal da Petrobras (PETR4). Veja onde investir
Bruno Henriques, analista sênior do BTG Pactual, e Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, contam quais são os papéis mais indicados para buscar dividendos no evento Onde Investir no Segundo Semestre, do Seu Dinheiro
Ibovespa faz história e chega aos 141 mil pontos pela primeira vez na esteira dos recordes em Nova York; dólar cai a R$ 5,4050
O Ibovespa acabou terminando o dia aos 140.927,86 pontos depois de renovar recorde durante a sessão
Banco do Brasil (BBAS3): enquanto apostas contra as ações crescem no mercado, agência de risco dá novo voto de confiança para o banco
A aposta da S&P Global Ratings é que, dadas as atividades comerciais diversificadas, o BB conseguirá manter o ritmo de lucratividade e a estabilidade do balanço patrimonial
Na contramão do Ibovespa, Petrobras (PETR4), Prio (PRIO3) e Brava (BRAV3) garantem ganhos no dia; saiba o que ajudou
A commodity está em alta desde o início da semana, impulsionado por tensões no Oriente Médio — mas não é só isso que ajuda no avanço das petroleiras
S&P 500 e Nasdaq renovam máximas históricas, mas um dado impede a bolsa de Nova York de disparar; Ibovespa e dólar caem
No mercado de câmbio, o dólar à vista continuou operando em queda e renovando mínimas depois de se manter no zero a zero na manhã desta quarta-feira (2)
Onde investir: as 4 ações favoritas para enfrentar turbulências e lucrar com a bolsa no 2º semestre — e outras 3 teses fora do radar do mercado
Com volatilidade e emoção previstas para a segunda metade do ano, os especialistas Gustavo Heilberg, da HIX Capital, Larissa Quaresma, da Empiricus Research, e Lucas Stella, da Santander Asset Management, revelam as apostas em ações na bolsa brasileira
Bresco Logística (BRCO11) diz adeus a mais um inquilino, cotas reagem em queda, mas nem tudo está perdido
O contrato entre o FII e a WestRock tinha sete anos de vigência, que venceria apenas em setembro de 2029
Gestora lança na B3 ETF que replica o Bloomberg US Billionaires e acompanha o desempenho das 50 principais empresas listadas nos EUA
Fundo de índice gerido pela Buena Vista Capital tem aplicação inicial de R$ 30 e taxa de administração de 0,55% ao ano
Ibovespa em 150 mil: os gatilhos para o principal índice da bolsa brasileira chegar a essa marca, segundo a XP
A corretora começa o segundo semestre com novos nomes em carteira; confira quem entrou e as maiores exposições
Ibovespa fecha primeiro semestre de 2025 com extremos: ações de educação e consumo sobem, saúde e energia caem
Entre os destaques positivos estão a Cogna (COGN3), o Assaí (ASAI3) e a Yduqs (YDUQ3); Já na outra ponta estão RaiaDrogasil (RADL3), PetroRecôncavo (BRAV3) e São Martinho (SMTO3)
XP Log (XPLG11) vai às compras e adiciona oito ativos logísticos na carteira por até R$ 1,54 bilhão; FIIs envolvidos disparam na B3
Após a operação, o XPLG11 passará a ter R$ 8 bilhões em ativos logísticos e industriais no Brasil
É hoje! Onde Investir no Segundo Semestre traz a visão de grandes nomes do mercado para a bolsa, dólar, dividendos e bitcoin; veja como participar
Organizado pelo Seu Dinheiro, o evento totalmente online e gratuito, traz grandes nomes do mercado para falar de ações, criptomoedas, FIIs, renda fixa, investimentos no exterior e outros temas que mexem com o seu bolso
“Não é liderança só pela liderança”: Rodrigo Abbud, sócio do Patria Investimentos, conta como a gestora atingiu R$ 28 bilhões em FIIs — e o que está no radar a partir de agora
Com uma estratégia de expansão traçada ainda em 2021, a gestora voltou a chamar a atenção do mercado ao adicionar a Genial Investimentos e a Vectis Gestão no portfólio
Nada de ouro ou renda fixa: Ibovespa foi o melhor investimento do primeiro semestre; confira os outros que completam o pódio
Os primeiros seis meses do ano foram marcados pelo retorno dos estrangeiros à bolsa brasileira — movimento que levou o Ibovespa a se valorizar 15,44% no período
Bolsas nas máximas e dólar na mínima: Ibovespa consegue romper os 139 mil pontos e S&P 500 renova recorde
A esperança de que novos acordos comerciais com os EUA sejam fechados nos próximos dias ajudou a impulsionar os ganhos na última sessão do mês de junho e do semestre
É possível investir nas ações do Banco do Brasil (BBAS3) sem correr tanto risco de perdas estrondosas, diz CIO da Empiricus
Apesar das recomendações de cautela, muitos investidores se veem tentados a investir nas ações BBAS3 — e o especialista explica uma forma de capturar o potencial de alta das ações com menos riscos