A ‘profecia do bitcoin’ vai se concretizar? Crise do sistema financeiro nos Estados Unidos recoloca criptomoedas como alternativa a bancos
No período entre a sexta-feira (10) e a última terça-feira (14), a maior criptomoeda do mundo viu um crescimento de preços da ordem de 28%

A humanidade sempre teve uma inclinação para as profecias — desde o Oráculo de Delfos, que cravou o destino de Édipo, até os menos precisos charlatões da televisão. E o que aconteceu com o bitcoin (BTC) em meio à crise bancária que se estabeleceu nos mercados foi como ver a areia voltar a ser estátua — ou seja, a concretização de um sonho — para os entusiastas das criptomoedas.
Isso porque, enquanto as bolsas internacionais sofrem com os problemas que surgiram a partir da quebra do Silicon Valley Bank (SVB), o bitcoin se mostrou — pelo menos por enquanto — um ativo de “segurança”.
Com isso, a principal criptomoeda do mercado voltou a ser apontada por parte dos investidores como uma reserva de valor alternativa — o tal “ouro digital".
Entre a sexta-feira (10) e a última terça-feira (14), enquanto as bolsas viviam sob o risco de uma corrida bancária, o bitcoin teve uma valorização da ordem de 28%.
Por si só, esse número salta aos olhos. Mas métricas como número de endereços (wallets) com alguma quantidade de BTC (non-zero balance) mostram que existe um movimento mais orquestrado por trás.
Ainda de olho nos dados on-chain, o número de transações esperando para serem processadas nos blocos da rede do bitcoin (mempool, no jargão desse mercado), atingiu as máximas de três anos recentemente.
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Ou seja, os usuários estão criando carteiras e negociando a criptomoeda aos montes.
Em contrapartida, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) precisou usar ;a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) para salvar instituições como SVB e o Signature Bank.
E foi aí que surgiu uma questão que sempre esteve presente no mercado de criptomoedas, mas saiu de moda com a queda do ano passado: o bitcoin nasceu justamente para ser uma alternativa a esse sistema que entrou em colapso nos últimos dias. Essa “profecia” sobre o bitcoin estaria prestes a se concretizar?
Para responder essa pergunta, conversei com André Franco, chefe de research do Mercado Bitcoin (MB) e com Ray Nasser, CEO da empresa de mineração de bitcoin Arthur Mining.
Bitcoin conseguirá superar os bancos?
A resposta inclui uma boa e uma má notícia, mas vamos começar pelo que interessa.
Sim, o bitcoin foi desenhado para ser uma alternativa ao sistema tradicional, e os analistas acreditam que ele tem potencial para isso.
A adoção crescente de tecnologias que envolvem bitcoin — como o uso da blockchain, wallets, entre outros — são alguns dos indicadores que respaldam essa tese.
Domínio dos pequenos
Se fizermos a comparação com as empresas de tecnologia, enquanto as big techs levaram mais de três décadas para atingir um público amplo, as criptomoedas — encabeçadas pelo BTC — tiveram um desempenho parecido na metade desse tempo.
Segundo o portal Glassnode, reconhecido por fazer análises técnicas sobre bitcoin, os pequenos investidores (aqueles com menos de 10 BTCs em conta) tiveram um aumento expressivo no último mês.
Em relação ao ano passado, o crescimento desse setor saiu de 13,56% para 17,1% — o equivalente a 3,29 milhões de BTC, aproximadamente US$ 82,5 bilhões. Esse número, ressalta a publicação do Glassnode, é constituído majoritariamente de investidores do varejo e vem batendo recordes de aumento da participação no mercado desde meados de 2022.
Bitcoin espera sentado
Mas a má notícia vem aí: isso não deve acontecer logo.
Na visão de André Franco, chefe de research do Mercado Bitcoin, o momento está para “apenas mais um round” para o bitcoin se mostrar como uma alternativa ao sistema financeiro tradicional.
“A leitura continua sendo clara: o bitcoin é uma das melhores alternativas à centralização dos bancos centrais porque não depende de decisões políticas e sim de um código pré-definido”, comenta.
Na raiz do problema: bitcoin é uma solução
Antes de continuar, é preciso voltar ao surgimento do bitcoin, que nasceu justamente de um problema de confiança.
A crise financeira de 2008 — a pior desde 1929 — exigiu que o Fed utilizasse suas reservas (isto é, o dinheiro dos contribuintes norte-americanos) para salvar bancos.
Esse fato deixou muita gente descontente — afinal, os impostos deveriam ser voltados para favorecer a população e não um pequeno grupo de pessoas e instituições.
A reação a esse sistema foi a criação do bitcoin, uma moeda que não depende de um ente centralizado para sua emissão. Satoshi Nakamoto, tido como criador da primeira criptomoeda do mundo, colocaria o primeiro bloco da rede (blockchain) do BTC no ar em 9 de janeiro de 2009.
Diferentemente de moedas fiduciárias, o bitcoin não é emitido por um Banco Central. Existe um código responsável por colocar novas unidades (tokens) na rede por meio da mineração de criptomoedas — que consiste na solução de um problema para “liberação” de BTC.
A partir daí, a comunidade cripto cresceu, e se construiu a ideia — que, vale destacar, beira uma obsessão mitológica — de que o bitcoin tomaria o lugar do sistema financeiro como conhecemos hoje.
Bitcoin nos dias de hoje
Quinze anos se passaram desde então e chegamos ao seguinte cenário: o SVB desencadeou uma corrida bancária que colocou todo o sistema financeiro tradicional em xeque mais uma vez. Os principais bancos americanos registram fortes perdas na última semana:
Nome | Em 1 semana | Em 1 mês | Em 2023 |
Bank of America | -14,50% | -21,09% | -15,94% |
Citigroup | -11,52% | -12,86% | -0,86% |
First Republic Bank | -70,62% | -74,15% | -72,28% |
Goldman Sachs | -11,96% | -16,93% | -10,45% |
JPMorgan | -5,97% | -8,63% | -3,37% |
Nesse mesmo dia, o bitcoin chegou a ter uma valorização de 18%. “É coincidência demais para ser só coincidência”, comentou Ray Nasser.
“O bitcoin sempre teve uma correlação muito grande com as bolsas americanas e, nos últimos dias, essa correlação foi para o ralo”, disse, em referência à recente retomada de preços da maior criptomoeda do mundo em contraponto à forte queda de Wall Street do início da semana.
O CEO da Arthur Mining ainda ressalta que o SVB era um banco de investimentos em startups, não em cripto, como foi erroneamente noticiado em um primeiro momento. “SVB inclusive declinou a abertura de contas para Arthur Mining, eles não têm nada a ver com cripto. São fruto só de má gestão e especulação”, diz.
Quando o mercado ainda se recuperava da quebra do SVB, as atenções nesta quarta-feira se voltaram para o Credit Suisse. A dificuldade do banco em levantar capital derruba as bolsas internacionais e também o Ibovespa.
Enquanto isso, o bitcoin segue firme, negociado próximo do patamar de 25 mil dólares no fim da manhã. Alguns analistas com quem eu conversei chegaram a prever que a maior criptomoeda do mundo poderia chegar até os US$ 80 mil. Os detalhes você confere nessa entrevista exclusiva ao Seu Dinheiro:
- Não é só o Bitcoin que pode te fazer ganhar dinheiro este ano: existem outras 3 criptomoedas ainda pouco conhecidas mas com potencial de valorização absurdo para 2023. O ponto comum entre elas? Todas estão conectadas à inteligência artificial. [SAIBA AQUI COMO INVESTIR NAS CRIPTOS]
O que dá base para o bitcoin superar os bancos
Além de tudo que já foi citado anteriormente, o código da rede limita o número de bitcoins a 21 milhões de unidades. Por ser um recurso escasso, ele poderia ser usado como reserva de valor e uma proteção contra a inflação das moedas fiduciárias.
Tomemos como exemplo o dólar americano. O Federal Reserve pode emitir mais moeda conforme for conveniente — durante o período de pandemia, a injeção de dinheiro evitou uma crise momentânea mais acentuada, mas fez a inflação disparar nos meses seguintes.
Agora, o Fed é obrigado a elevar os juros para conter a disparada de preços ao consumidor. O aperto monetário também se reflete no desempenho da economia americana, que deu sinais de enfraquecimento nos últimos trimestres.
Mas não é bem assim…
A tese do bitcoin como reserva de valor perdeu força no ano passado, quando a criptomoeda sofreu fortes perdas e, portanto, falhou em ser uma proteção contra a inflação — ao menos, no curto prazo.
Os analistas desse mercado entendem, porém, que é preciso analisar o desempenho do bitcoin em uma janela de tempo maior.
Seja como for, desde 2021, as criptomoedas passaram a se comportar como ações de tecnologia — e passaram a estar sujeitas aos mesmos percalços desses papéis.
Ao longo do ano passado, notícias sobre inflação e aperto monetário tiveram o mesmo efeito nessas categorias.
Além disso, o ecossistema digital ganhou diversos outros elementos, como as finanças descentralizadas (DeFi), as stablecoins etc. Todos esses entes acabam influenciando — direta e indiretamente — o preço do bitcoin.
Relembrando o caso do colapso da Terra (LUNA), o desaparecimento da TerraUSD (USDT) fez as cotações do BTC despencarem à época, ainda que as duas não tivessem uma relação extremamente direta.
A conclusão é que o universo digital como um todo passou a ser mais interconectado. Mas, na visão de Ray Nasser, da Arthur Mining, “existe o bitcoin e existem criptomoedas”.
Em outras palavras, esses outros entes podem influenciar momentaneamente no preço à vista do BTC, mas não alteraram a essência do bitcoin de se tornar uma alternativa ao sistema financeiro.
Os céticos mais céticos que nunca
Se existem aqueles que acreditam na soberania do bitcoin, há também os que rejeitam completamente os investimentos digitais. Em geral, os dois se encontram no Twitter — e faíscas saem para todos os lados.
Quem é um reconhecido crítico das criptomoedas é o filósofo contemporâneo Nassim Taleb. Em sua conta na rede social, ele afirmou que “tecnólogos (particularmente criptoheads) estão se mostrando muito ignorantes sobre finanças básicas”.
O filósofo libanês ainda afirma que a recente disparada do BTC se deve à injeção de dinheiro do Fed por meio do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), utilizado para salvar os bancos da crise. “Sim, o FDIC salvou o bitcoin”, escreveu.
Com a palavra, o Nobel de Economia
Apesar de ser um reconhecido filósofo, matemático e analista de riscos, Taleb, segundo os críticos, não entende tanto assim de economia.
Por isso, para reforçar o time dos críticos do bitcoin, Paul Krugman, que recebeu o prêmio Nobel de economia em 2008 por sua nova teoria de trocas entre países, deu seu parecer sobre o caso.
Em uma pequena thread no Twitter, ele escreveu: “se você está totalmente imerso em cripto, o quão inclinado você está a pensar na lógica de um seguro de depósitos? Você nem entendeu o que é dinheiro!”.
Como comprar criptomoedas
Se você quer fugir do risco de bancos e instituições, o melhor é optar por carteiras digitais (wallets) e esquecer os investimentos em carteiras privadas de bancos ou corretoras de criptomoedas (exchanges).
Mas independentemente do método de compra, vale lembrar que os analistas recomendam uma exposição entre 1% e 5% do seu portfólio em investimentos do setor.
Por se tratar de um segmento altamente volátil, o investidor não deve manter uma posição exacerbada em criptomoedas ou ativos digitais de qualquer gênero. A seguir, confira maneiras seguras de comprar e armazenar criptomoedas:
- Cold wallets: As carteiras frias, também chamadas de ledger, são o método mais seguro de armazenar suas criptomoedas. Elas se parecem com pen-drives maiores e não possuem conexão com a internet, sendo necessário conectá-las a um dispositivo para comprar ou vender moedas. O usuário precisa ter cuidado para não perder as chaves de segurança e o acesso aos seus tokens, caso opte por uma carteira fria. O problema desse tipo de armazenamento é o preço, que varia entre R$ 300 até R$ 1.200.
- Hot wallets: As carteiras quentes são interessantes porque permitem que o usuário faça transações a qualquer momento. A conexão com a internet, porém, é um ponto de insegurança e este tipo de carteira está mais suscetível ao ataque do tipo hacker. A autenticação em dois fatores e outros métodos de proteção de dados são indicados para este tipo de armazenamento.
- Exchanges ou carteiras privadas: Este é o método menos seguro de armazenamento de criptomoedas. Apesar da facilidade para comprar e vender os tokens, as exchanges estão sujeitas aos ataques hackers e ao chamado “risco institucional” — a empresa pode falir ou sofrer sanções governamentais, o que pode colocar em risco as moedas dos usuários.
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