Ação da Netflix disparou depois do balanço, mas há algo que justifique isso?
Receita da Netflix continua dependente das assinaturas do streaming e os gastos com novos conteúdos não dão sinais de diminuir
Olá, seja bem-vindo à Estrada do Futuro, onde conversamos semanalmente sobre a intersecção entre investimentos e tecnologia. No começo da semana, a Netflix divulgou seus resultados do 4T22, encerrando um ano literalmente marcado por altos e baixos.
Em reação aos resultados, a ação da Netflix subiu 8% no dia seguinte. Desde o mínimo alcançado em meados de julho de 2022, a alta é de mais de 100%. Mas há algo novo no front que possa interessar aos investidores?
O fim de uma era na Netflix
Se existe uma empresa que sabe o valor de encerrar uma história antes que ela se torne monótona e repetitiva, é a Netflix.
Nesta semana, em carta aos acionistas, a empresa comunicou que Reed Hastings — o fundador e figura-chave na transformação da Netflix de uma empresa de delivery de DVDs no maior serviço de streaming do mundo — deixará de ser seu co-CEO.
Ele será substituído por Greg Peters, atual COO da companhia, que passará a exercer junto com Ted Sarandos a função de co-CEO.
De agora em diante, Reed atuará apenas como chairman, ou seja, presidente do Conselho da Netflix.
Essa transição vinha sendo preparada desde o ano passado.
- Em dúvida sobre como investir? Faça o download GRATUITO do e-book Onde investir em 2023 e confira a opinião dos maiores especialistas do mercado financeiro sobre os ativos mais promissores para este ano. BAIXE AQUI
O que o mercado enxergou
Reed é sem dúvida um dos nomes mais influentes do mundo do entretenimento, um empreendedor brilhante e grande responsável pelo sucesso da Netflix.
Diante de uma trajetória tão positiva, o que o mercado viu na transição para que as ações subissem com o anúncio do seu afastamento do dia a dia operacional da companhia?
Bom, como contexto, a transição vem na esteira da implementação do modelo de anúncios e a mudança no perfil estratégico da Netflix, que focará cada vez mais em rentabilidade e menos em crescimento.
Em 2022, a Netflix aceitou seu destino: com mais de 230 milhões de assinantes pelo mundo, essa não é mais uma empresa de crescimento exponencial, e sim uma empresa madura.
A transição simboliza exatamente isso. A saída do executivo que representa o crescimento, para dar espaço a um nome que representa a busca pela rentabilidade.
Madura sim, rentável não
Mais uma vez, os resultados operacionais da Netflix passaram longe do que se espera de uma empresa consolidada.
A receita foi de US$ 7,85 bilhões (+1,9% na comparação anual), e a quantidade de usuários ativos, que somou 231 milhões, representou um crescimento de 4% na comparação anual.
Em termos de rentabilidade, ela apresentou uma margem operacional de 7% e geração de caixa livre positiva, de US$ 322 milhões.
Para o próximo trimestre, a Netflix espera que sua receita seja de US$ 8,1 bilhões, o que representa um crescimento de apenas 3,9% na comparação anual.
Um dos grandes desafios da Netflix, historicamente, foi o de conseguir transformar seu resultado operacional em geração de caixa livre.
Em 2022, dos US$ 32 bilhões em receitas, apenas US$ 1,6 bilhão transformou-se em geração de caixa.
Para 2023, a companhia diz esperar uma geração de caixa livre de US$ 3 bilhões.
Neste momento, a Netflix vale aproximadamente US$ 150 bilhões. Mesmo sabendo que o mercado precifica a capacidade futura de resultados das companhias, um múltiplo de 50x o fluxo de caixa dos próximos 12 meses, com crescimento de receitas em um dígito baixo, não me parece nada atrativo.
O que ainda não funciona nos resultados da Netflix?
A hipótese do conteúdo
A Netflix sempre explicou para os investidores que sua queima de caixa era justificada, pois a empresa estava construindo uma biblioteca de conteúdos e propriedades intelectuais que a permitiriam uma enorme rentabilidade futura.
Nos últimos três anos a empresa investiu US$ 29,3 bilhões em conteúdo, mas apresentou um lucro cumulativo de apenas US$ 12,3 bilhões.
Na teoria, sucessos como Stranger Things, Wandinha, La Casa de Papel, Round 6 e tantas outras propriedades intelectuais permitiriam que, no futuro, a Netflix ganhasse muito dinheiro com produtos patrocinados, games, parques temáticos e tantas outras alternativas.
Essas alternativas teriam custo marginal baixo e rentabilidade elevada.
A Netflix prometia aos investidores tornar-se cada vez mais parecida com a Disney, porém sem os enormes problemas de sucessão e aquisições fracassadas da dona do Mickey.
Como o resumo dos números acima deixa claro, esse futuro nunca chegou.
Dez anos depois, toda a receita da empresa continua dependente das assinaturas do streaming, e os gastos com novos conteúdos não dão sinais de diminuir.
O que todos os investidores descobriram é que o estoque de propriedades intelectuais da Netflix tem um valor muito menor do que se imaginava.
Além de não ter construído fontes de receita importantes fora do streaming, a produção de conteúdo fez a Netflix acumular dívidas de US$ 16,8 bilhões.
Como essas dívidas foram contraídas nos últimos anos, a taxas de juros muito baixas, elas ainda não são um problema.
Na medida em que forem roladas, porém, imagino que possam se tornar um detrator importante da rentabilidade já baixa da companhia.
Depois do sonho, a Netflix precisa se adequar à realidade
Com Reed Hastings fora do dia a dia, a nova dupla de CEOs da Netflix tem a missão de escalar a rentabilidade da empresa.
Os planos passam pela oferta de anúncios, a redução dos investimentos em conteúdo e o banimento de contas com senhas compartilhadas.
Particularmente, como eu disse acima, acredito que o valuation atual não tenha margem de segurança o suficiente para acomodar o risco de execução deste plano.
Netflix (NFLX34) não está em NENHUMA das carteiras recomendadas da Empiricus Research, mas estas 5 outras ações internacionais estão…
Em relatório gratuito, o estrategista-chefe da casa de análise revela quais BDRs são as principais apostas para 2023. A Empiricus Investimentos liberou o relatório para todos os leitores da coluna “Estrada do Futuro” como uma CORTESIA. Libere seu acesso clicando AQUI.
Powered by Empiricus Investimentos.
Rodolfo Amstalden: Selic — uma decisão com base em dados, não em datas
Hoje em dia, ao que parece, tudo tem que terminar cedo, e bebidas alcoólicas são proibidas. Por conseguinte, os debates deram lugar a decisões secas e comunicados pragmáticos
Divididos entre o conservadorismo salutar e a cautela exagerada, Copom e Campos Neto enfrentam um dilema
Os próximos passos do Copom dependem, em grande medida, da reação da economia norte-americana à política monetária do Fed
Tony Volpon: Mantendo a esperança nas bolsas americanas
Começamos maio de forma bem mais positiva do que foi abril — sigo uma regra que, se não infalível, tem uma taxa de acerto bastante alta: se o payroll for positivo, o mês será positivo para as bolsas americanas
Meu filho de 30 anos faz mestrado e não trabalha; ele pode ser meu dependente na declaração de imposto de renda?
O filho dela é estudante, e ela arca com suas despesas; será que tem como abatê-las no IR 2024?
Como ganhar dinheiro no mercado financeiro usando um erro na estratégia das seguradoras
É assim que algumas vezes conseguimos capturar ganhos relevantes – como no caso do Bradesco no 4T23, que nos deu um retorno de mais de 500%
LCIs e LCAs ‘obrigam’ investidores a buscar outros papéis na renda fixa, enquanto a bolsa tem que ‘derrotar vilões’ para voltar a subir em 2024
Vale divulga balanço do 1T24 e elétricas sofrem com performance negativa; veja os destaques da semana na ‘De repente no mercado’
Comprei um carro com meu namorado, mas terminamos e ele não me pagou a parte dele; o que fazer para não tomar calote?
Ex-namorado da leitora não pagou a parte dele nem se movimenta para vender o carro; e agora?
Imposto de 25% para o aço importado: só acreditou quem não leu as letras miúdas
Antes que você entenda errado, não sou favorável a uma maior taxação apenas porque isso beneficia as ações das siderúrgicas brasileiras – só que elas estão em uma briga totalmente desigual contra as chinesas
O Enduro da bolsa: mercado acelera com início da temporada de balanços do 1T24, mas na neblina à espera do PCE
Na corrida dos mercados, Usiminas dá a largada na divulgação de resultados. Lá fora, investidores reagem ao balanço da Tesla
Decisão do Copom em xeque: o que muda para a Selic depois dos últimos acontecimentos?
O Banco Central do Brasil enfrentará um grande dilema nas próximas semanas
Leia Também
-
A dona da Vivo está barata? Ação da Telefônica Brasil (VIVT3) lidera as perdas do Ibovespa; saiba se é hora de atender essa chamada
-
Mais um voo da BRF: BRFS3 dispara 12% na B3 após balanço da dona da Sadia e Perdigão no 1T24 — mas um bancão aposta que impulso tem data para acabar
-
Mais água no chope: lucro da Ambev (ABEV3) cai no 1T24, pressionado novamente pelo “Efeito Milei” no balanço
Mais lidas
-
1
Esquece a Mega-Sena! Os novos milionários brasileiros vêm de outra loteria — e não é a Lotofácil
-
2
Entenda por que dona do Outback quer sair do Brasil — e ela não é a única
-
3
CEO da Embraer (EMBR3) comenta possível plano de jato de grande porte para competir Boieng e Airbus; ações reagem em queda a balanço do 1T24