Ecos nas montanhas de Wyoming: Simpósio de Jackson Hole ajudará a saber se juros permanecerão altos por mais tempo
O Simpósio de Jackson Hole está prestes a oferecer novas perspectivas sobre os rumos da política monetária dos principais bancos centrais

Estamos prestes a adentrar no evento mais significativo da semana em termos internacionais. O Simpósio de Jackson Hole, em Wyoming, está prestes a fornecer aos investidores novas perspectivas sobre a condução da política monetária nos EUA e em várias regiões globais, após muitos meses de aperto nas políticas monetárias.
No mês anterior, o Federal Reserve elevou as taxas de juros para o seu patamar mais alto em 22 anos, numa tentativa audaciosa de conter a inflação.
Existe a possibilidade de que mais aumentos nas taxas possam ser necessários caso a economia continue forte e a inflação persista.
Os investidores que agora examinam a próxima fase da estratégia do Fed se questionam por quanto tempo as taxas permanecerão nesse nível elevado. No entanto, a trajetória incerta da inflação torna essa questão desafiadora.
Juros altos por mais tempo
Em vez de focar unicamente na taxa de pico das taxas de juros ou no número de aumentos futuros, talvez seja mais prudente começar a considerar a duração dessa situação.
Alguns investidores estão até apostando em cortes de juros já no início do próximo ano, talvez na expectativa de que a economia possa enfrentar dificuldades em breve.
Leia Também
O salvador da pátria para a Raízen, e o que esperar dos mercados hoje
Felipe Miranda: Um conto de duas cidades
Caso o desemprego cresça em resposta às taxas de juros mais altas, o Fed possivelmente reduzirá as taxas para evitar uma perda substancial de empregos, alinhado com seu mandato de promover o emprego máximo.
Cortes nas taxas de juros indicariam que o Fed está tentando estimular uma economia que não está indo suficientemente bem para atingir o pleno emprego.
Por outro lado, a sugestão de aumentos nas taxas de juros implica que o Fed percebe que a economia dos EUA ainda está aquecida demais e pode não ser condizente com uma inflação de 2%.
Por o discurso de Powell em Jackson Hole é aguardado com tanta expectativa
Contudo, até o momento, o Fed não deu qualquer indicação de cortes nas taxas.
Pelo contrário, conforme evidenciado pela ata de sua última reunião em julho, parece mais provável que ocorram mais aumentos nas taxas ainda este ano.
É justamente por isso que o discurso de Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve, no simpósio, é aguardado com tanta expectativa.
Diante desse clima de incerteza, a postura rigorosa adotada pelo Federal Reserve (Fed) agitou o mercado de títulos, contribuindo para a elevação dos rendimentos de longo prazo.
Um exemplo é o rendimento da nota do Tesouro dos EUA de 10 anos, que atingiu 4,3%, seu nível mais elevado em mais de uma década.
O dólar como arma geopolítica
Nesse contexto, é interessante considerar que fatores técnicos podem desempenhar um papel importante.
A China, por exemplo, observando os acontecimentos envolvendo a Rússia, percebeu a possibilidade de congelamento de suas reservas em dólares.
Com a possibilidade de o dólar se tornar uma arma geopolítica, há uma necessidade de alternativas.
Isso resulta em uma perda de um comprador marginal crucial. E isso ocorre em um período de redução da liquidez global, enquanto o Fed procura diminuir seu balanço e Janet Yellen realiza leilões sucessivos e substanciais de títulos da dívida.
Quando há uma oferta substancial e uma demanda enfraquecida, os preços caem e as taxas de juros do mercado aumentam.
Além disso, o Japão está ajustando sua curva de juros para permitir uma elevação maior das taxas de juros de longo prazo. Isso implica uma competição com o fluxo de capital internacional, uma vez que os títulos japoneses se tornam mais atrativos em termos prospectivos.
Onde vai parar a dívida dos EUA?
Por fim, é essencial lembrar da falta de controle dos gastos e da trajetória ascendente da dívida pública nas nações desenvolvidas. Isso é simbolizado pelo recente declínio na perspectiva do rating soberano dos EUA.
A discussão relevante não deveria se concentrar apenas na votação parlamentar sobre a elevação do teto da dívida dos EUA a curto prazo, mas sim em como se poderia estruturalmente tornar a relação dívida/PIB mais convergente.
Este é o contexto subjacente por trás do aumento dos rendimentos dos títulos de dívida durante o mês de agosto, com implicações generalizadas para o fluxo de capital internacional.
Ao mesmo tempo, a solidez da economia dos EUA tem mantido algumas autoridades do Fed preocupadas em atingir uma inflação de 2%.
O Índice de Preços ao Consumidor subiu 3,2% em julho em relação ao ano anterior, uma taxa mais alta do que o aumento anual de 3% em junho. Isso marcou o primeiro aumento da inflação geral em mais de um ano, embora os aumentos de preços subjacentes tenham continuado a diminuir no mês passado.
Se os consumidores continuam gastando, isso é positivo para a economia, porém sugere que o Federal Reserve (Fed) continuará sua trajetória de aperto monetário, o que pode não ser favorável para os mercados acionários.
Por outro lado, se o consumidor não está gastando o suficiente, conforme percebido pelo mercado, isso também pode indicar que a recessão prevista pela curva de juros há um ano pode estar mais próxima do que se pensava.
Leia também
- Um começo de agosto amargo: entendendo a engasgada do Ibovespa
- Já não era sem tempo! O Copom vai começar finalmente o ciclo de corte de juros
Como está o mercado antes de Jackson Hole
A expectativa de novos aumentos nas taxas de juros nos Estados Unidos e a manutenção dessas taxas em níveis elevados por um período prolongado contribuíram para um clima de pessimismo nos mercados na semana anterior.
Isso foi intensificado pela divulgação da ata do Federal Reserve (Fed), que reforçou a postura "hawkish" que já havia sido sugerida por alguns membros individuais da autoridade monetária norte-americana.
Para que o banco central possa reduzir as taxas, a economia precisa ceder. Recentemente, o Fed de Atlanta revisou sua previsão para o crescimento do PIB dos EUA no terceiro trimestre para cima.
Enquanto a economia e o mercado de trabalho permanecerem robustos em meio à pressão do Fed, a probabilidade de cortes nas taxas provavelmente permanecerá baixa.
Enquanto isso, os investidores aguardam atentamente o discurso do presidente do Fed, Powell, na sexta-feira, em Jackson Hole, para obter pistas sobre as políticas futuras.
Durante o evento, Powell enfrenta o desafio de equilibrar as preocupações. É provável que o Fed reitere sua intenção de manter as taxas de juros em patamares elevados por um período prolongado, a fim de evitar um aumento adicional da inflação.
- Como construir patrimônio em dólar? Estratégia de investimento desenvolvida por Ruy Hungria, analista da Empiricus Research e físico pela USP, possibilita lucros semanais na moeda americana. Conheça aqui.
Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor
Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro
Cada um tem seu momento: Ibovespa tenta manter o bom momento em dia de pacote de Lula contra o tarifaço
Expectativa de corte de juros nos Estados Unidos mantém aberto o apetite por risco nos mercados financeiros internacionais
De olho nos preços: Ibovespa aguarda dados de inflação nos Brasil e nos EUA com impasse comercial como pano de fundo
Projeções indicam que IPCA de julho deve acelerar em relação a junho e perder força no acumulado em 12 meses
As projeções para a inflação caem há 11 semanas; o que ainda segura o Banco Central de cortar juros?
Dados de inflação no Brasil e nos EUA podem redefinir apostas em cortes de juros, caso o impacto tarifário seja limitado e os preços continuem cedendo
Felipe Miranda: Parada súbita ou razões para uma Selic bem mais baixa à frente
Uma Selic abaixo de 12% ainda seria bastante alta, mas já muito diferente dos níveis atuais. Estamos amortecidos, anestesiados pelas doses homeopáticas de sofrimento e pelo barulho da polarização política, intensificada com o tarifaço
Ninguém segura: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de balanços e dados de inflação, mas tarifaço segue no radar
Enquanto Brasil trabalha em plano de contingência para o tarifaço, trégua entre EUA e China se aproxima do fim
O que Donald Trump e o tarifaço nos ensinam sobre negociação com pessoas difíceis?
Somos todos negociadores. Você negocia com seu filho, com seu chefe, com o vendedor ambulante. A diferença é que alguns negociam sem preparo, enquanto outros usam estratégias.
Efeito Trumpoleta: Ibovespa repercute balanços em dia de agenda fraca; resultado da Petrobras (PETR4) é destaque
Investidores reagem a balanços enquanto monitoram possível reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin
Ainda dá tempo de investir na Eletrobras (ELET3)? A resposta é sim — mas não demore muito
Pelo histórico mais curto (como empresa privada) e um dividendo até pouco tempo escasso, a Eletrobras ainda negocia com um múltiplo de cinco vezes, mas o potencial de crescimento é significativo
De olho no fluxo: Ibovespa reage a balanços em dia de alívio momentâneo com a guerra comercial e expectativa com Petrobras
Ibovespa vem de três altas seguidas; decisão brasileira de não retaliar os EUA desfaz parte da tensão no mercado
Rodolfo Amstalden: Como lucrar com o pegapacapá entre Hume e Descartes?
A ocasião faz o ladrão, e também faz o filósofo. Há momentos convidativos para adotarmos uma ou outra visão de mundo e de mercado.
Complicar para depois descomplicar: Ibovespa repercute balanços e início do tarifaço enquanto monitora Brasília
Ibovespa vem de duas leves altas consecutivas; balança comercial de julho é destaque entre indicadores
Anjos e demônios na bolsa: Ibovespa reage a balanços, ata do Copom e possível impacto de prisão de Bolsonaro sobre tarifaço de Trump
Investidores estão em compasso de espera quanto à reação da Trump à prisão domiciliar de Bolsonaro
O Brasil entre o impulso de confrontar e a necessidade de negociar com Trump
Guerra comercial com os EUA se mistura com cenário pré-eleitoral no Brasil e não deixa espaço para o tédio até a disputa pelo Planalto no ano que vem
Felipe Miranda: Em busca do heroísmo genuíno
O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira
No pain, no gain: Ibovespa e outras bolsas buscam recompensa depois do sacrifício do último pregão
Ibovespa tenta acompanhar bolsas internacionais às vésperas da entra em vigor do tarifaço de Trump contra o Brasil
Gen Z stare e o silêncio que diz (muito) mais do que parece
Fomos treinados a reconhecer atenção por gestos claros: acenos, olho no olho, perguntas bem colocadas. Essa era a gramática da interação no trabalho. Mas e se os GenZs estiverem escrevendo com outra sintaxe?
Sem trégua: Tarifaço de Trump desata maré vermelha nos mercados internacionais; Ibovespa também repercute Vale
Donald Trump assinou na noite de ontem decreto com novas tarifas para mais de 90 países que fazem comércio com os EUA; sobretaxa de 50% ao Brasil ficou para a semana que vem
A ação que caiu com as tarifas de Trump mas, diferente de Embraer (EMBR3), ainda não voltou — e segue barata
Essas ações ainda estão bem abaixo dos níveis de 8 de julho, véspera do anúncio da taxação ao Brasil — o que para mim é uma oportunidade, já que negociam por apenas 4 vezes o Ebitda
O amarelo, o laranja e o café: Ibovespa reage a tarifaço aguado e à temporada de balanços enquanto aguarda Vale
Rescaldo da guerra comercial e da Super Quarta competem com repercussão de balanços no Brasil e nos EUA