Mercado costuma subestimar impacto do corte de juros — e aí pode estar o pulo do gato para o Ibovespa em 2024
A perspectiva para o Brasil em 2024 indica um ciclo favorável aos ativos de risco devido à flexibilização da política monetária

Conforme delineado na semana passada, quando abordamos algumas perspectivas para o cenário internacional em 2024, desejo compartilhar minha visão sobre o que podemos antecipar para o Brasil no próximo ano.
Do ponto de vista pragmático, atravessamos atualmente um ciclo que tende a favorecer os ativos de risco. Refiro-me ao movimento de flexibilização da política monetária, que reduziu até agora a Selic de 13,75% para 11,75% ao ano.
Como evidenciado pelo último encontro do Copom, corroborado pela ata da semana passada, a tendência é mantermos um ritmo de corte de 50 pontos-base nas próximas reuniões, com uma margem limitada para uma aceleração desse processo, a menos que os dados indiquem a necessidade de uma abordagem distinta, como em situações de atividade econômica significativamente mais fraca do que o previsto.
Como mencionei anteriormente, não há grande urgência para acelerar o processo.
Podemos seguir de maneira sóbria e gradual nos próximos meses, reduzindo as taxas de juros em direção a um dígito único, embora elevado (algo em torno de 9,5% ao final de 2024, ou até mesmo 8,5% ao final de 2025).
Ibovespa tem histórico de alta em meio a cortes de juros
Historicamente, como podemos observar a seguir, essa dinâmica resulta em um cenário propício para os ativos de risco, especialmente as ações.
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Fontes: Empiricus e Bloomberg.
Observe como a trajetória de redução das taxas de juros historicamente se traduziu em ganhos para as ações.
De fato, em média, o Ibovespa apresentou uma elevação superior a 35% durante períodos de queda (desde o primeiro corte, no início de agosto, até o momento, o índice subiu menos de 10%, apesar de termos presenciado um rali nas últimas semanas).
Projeções atuais para o Ibovespa parecem conservadoras
Vale ressaltar que muitos investidores sustentam a previsão de que o Ibovespa encerrará 2024 acima dos 140 mil pontos, uma estimativa que parece conservadora diante do patamar atual de cerca de 130 mil pontos.
Da mesma forma, atingir os 150 mil pontos pode não representar uma transformação significativa, pois implica, principalmente, uma variação em relação ao CDI com um pequeno prêmio de risco, aproximadamente 4% ou 5%.
É relevante notar que muitas projeções foram formuladas antes do recente rali e não contemplaram integralmente o impacto da redução das taxas de juros, tanto para ampliar os valuations quanto para aliviar os balanços (serviço da dívida).
Olhando para o futuro, o consenso de mercado indica um crescimento dos lucros do Ibovespa em torno de 15% em 2024.
Assim, um reajuste de 10% seria suficiente para resultar em uma valorização total de 25% ao longo do ano.
Conta de padaria mesmo (alguns afirmam que são essas as mais relevantes, afastadas de complexidades e próximas à simplicidade da escrita em um saco de pão).
E haveria fundamento para esse crescimento de lucros?
Parece que sim.
Com uma projeção de expansão de 3,1% no PIB para este ano, o Brasil está rumando para se tornar a nona maior economia mundial em 2023, conforme indicado pelo FMI (atingindo US$ 2,13 trilhões em PIB).
No ano anterior, ocupávamos a 11ª posição, porém, com os recentes desenvolvimentos, conquistamos uma posição no Top 10, ultrapassando o Canadá.
Até 2026, existe a possibilidade de o Brasil ascender para a oitava posição, tornando-se a oitava maior economia global, com um PIB estimado em US$ 2,476 trilhões.
Sim, a economia global terá uma desaceleração neste ano, com crescimento médio de 3%, em comparação com 3,5% em 2022. Para 2024, o FMI estima uma expansão global de 2,9%. No entanto, no Brasil, a alta do PIB deverá situar-se entre 1,5% e 2%.
Os ventos parecem estar a nosso favor.
Adicionalmente, poucos eventos exercem tanta influência sobre as ações quanto um ciclo combinado de redução das taxas de juros pelo Federal Reserve e pelo Copom.
Historicamente, como já discutimos, o mercado costuma subestimar esses ciclos de flexibilização da política monetária, sugerindo que há espaço para movimentos ainda mais expressivos. Não se trata de algo extraordinário, mas sim de um ajuste de valuation que, por si só, seria notável.
Portanto, as notícias relacionadas aos nossos ativos continuam otimistas.
É claro que enfrentamos desafios. Um deles é o fiscal, que permanece deteriorado.
Em uma nota positiva sobre esse tema, a S&P Global elevou o rating de longo prazo do Brasil de BB- para BB, mantendo uma perspectiva estável (é verdade que se trata de um "lagging indicator", mas ainda é um sinal importante para o investidor estrangeiro).
Essa elevação foi impulsionada pela aprovação da reforma tributária, representando um avanço significativo na questão fiscal nacional. Contudo, é necessário discernir a realidade dos fatos.
Brasil ainda está longe de recuperar o grau de investimento
Reconheço que o aumento na nota apenas consolida uma série de reformas implementadas pelo Brasil nos últimos anos, desde o governo de Michel Temer, sendo a reforma tributária a mais recente e emblemática dessas transformações.
Ainda estamos distantes de recuperar nosso grau de investimento, mas os passos corretos foram dados.
Naturalmente, é essencial continuar observando avanços em diversas frentes, o que se tornará cada vez mais desafiador, principalmente devido ao ano eleitoral nos municípios e ao desgaste habitual que afeta o governo a partir do segundo ano de mandato.
Os próximos progressos dependerão das ações na agenda governamental.
A S&P Global indicou a possibilidade de elevar novamente o rating do Brasil nos próximos dois anos, desde que as reformas fiscais sustentem o crescimento de longo prazo do país. Embora desafiador, não é uma meta inalcançável.
Não podemos nos esquecer dos riscos internacionais que nos permeiam, como os citados na coluna da semana passada. O mais importante deles para nós é uma recessão mais profunda do que podemos pressupor nos EUA.
Ainda assim, trabalho predominantemente com um contexto de soft landing (mais difícil) ou pelo menos uma recessão branda, que pode afetar os ativos globais no curto prazo, mas não vai tirar o brilho da alta dos ativos pela queda dos juros.
Nesse cenário, ações vinculadas ao ciclo doméstico, especialmente as grandes compounders que acumulam retorno ao longo de anos, ganharão destaque, com potenciais valorizações próximas a 30% ou 40%.
Por negociarem geralmente com múltiplos mais elevados, essas empresas de qualidade são particularmente sensíveis ao ciclo de juros.
Além disso, são escolhas típicas para serem adquiridas pelo institucional local quando a captação retornar para os fundos (os gestores tendem a investir naquilo que conhecem e confiam).
Naturalmente, todas essas decisões devem ser tomadas com base no adequado dimensionamento das posições, considerando o perfil de risco, e na necessária diversificação da carteira, com as proteções correspondentes associadas.
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