Felipe Miranda: Preparar para a aterrissagem nos EUA — ou seria decolagem nos mercados financeiros?
Se você tem um olhar muito local ou está afundado num problema específico, perde a perspectiva histórica

“Dê ao problema o tamanho que ele tem.” É sempre difícil dimensionar uma situação quando ela está sendo vivenciada. Para o sujeito que chega ao pronto-socorro, a dor de um corte profundo no dedo indicador é tão ou até mais grave e intensa do que aquela sentida pelo paciente com dois tiros no peito.
É algo típico nas empresas também. Cada time vai ao TI pedindo uma nova funcionalidade imprescindível — ocorre que os programadores não conseguem atender tudo ao mesmo tempo e alguém vai precisar hierarquizar esses imprescindíveis todos.
Se você tem um olhar muito local ou está afundado num problema específico, perde a perspectiva histórica, típica do afastamento, e está incapacitado de realizar uma observação relativa.
O mercado e a economia dos EUA
Há poucas semanas, o mercado entrou numa ideia de “no landing” para a economia dos EUA. A atividade estava muito forte e, então, teríamos abandonado a hipótese de desaceleração econômica.
De tempos em tempos, entramos nessa dinâmica de extrapolar indefinidamente para o futuro uma situação presente. Não precisamos ir longe.
Na pandemia, as lojas físicas seriam exterminadas, o custo de capital continuaria zero para sempre, os escritórios deixariam de existir e as reuniões presenciais estariam retratadas apenas nos museus — acho que as pessoas se esqueceram que isso seria um risco para a espécie.
Leia Também
Super Quarta de contrastes: a liquidez vem lá de fora, a cautela segue aqui dentro
O melhor aluno da sala fazendo bonito na bolsa, e o que esperar dos mercados nesta quinta-feira (18)
“Dancing with myself” é uma bela música do Billy Idol, um mau caminho para a humanidade…
Eu, que prefiro o risco de ser chamado de “especista” e tenho três filhos, nunca comprei essa história. Assim como não entrei muito na narrativa mais recente.
- VEJA TAMBÉM: COMO VIVER DE RENDA COM INVESTIMENTOS: O MÉTODO QUE PODE GERAR PAGAMENTOS CONSISTENTES NA SUA CONTA
A narrativa inicial do mercado
A ideia ali entre setembro e outubro era de que a política monetária não faria mais tanto efeito, os benefícios e subsídios da pandemia durariam para sempre, mantendo o consumo elevado, a inflação continuaria indefinidamente alta.
No fundo, estava sendo desafiada a própria noção de ciclicidade da economia e dos mercados.
Política monetária funciona. Pode demorar mais ou menos, ser um pouco mais ou menos efetiva. Mas ela suaviza ciclos em torno de uma tendência estrutural de longo prazo.
Cedo ou tarde, o supply chain global, tão castigado na pandemia, seria normalizado, as economias levantadas pelas famílias durante a covid-19 seriam consumidas, o aumento do custo de capital bateria na capacidade de financiamento das empresas (afetando investimentos e emprego), o juro mais alto chegaria na atividade como um todo.
- Leia também: Felipe Miranda: Quer viver de rendimentos pingando na conta? Confira cinco questões importantes sobre dividendos
Os ciclos fazem parte da natureza. Sístole e diástole, as marés, as fases da lua, as estações do ano, boom and bust, alavancagem e desalavancagem.
Desafiá-los representa negar a própria realidade. E, se seu modelo mental nega a realidade, desculpe, mas não é a realidade que está errada. Aliás, ela nem liga pra você ou pra mim. Vai continuar assim como é, inexorável, impiedosa e avassaladora, independentemente das crenças e dos vieses pessoais.
Na pandemia, flertamos com a barbaridade ingênua da Moderna Teoria Monetária. Uma hipótese acadêmica começou a ser testada na realidade e achamos que poderíamos emitir moeda infinitamente, sem qualquer consequência para a inflação e para as trajetórias de endividamento dos países. Deu no que deu.
Os juros nos EUA e a Selic no Brasil
Há poucas semanas, é como se tentássemos uma via alternativa diametralmente oposta: vamos subir os juros loucamente e nada vai acontecer com a inflação e a atividade.
Uma hora ou outra, a realidade se impõe. A economia norte-americana criou bem menos postos de trabalho do que se esperava em outubro. A produção industrial caiu 0,6%, muito além das expectativas. Os pedidos de auxílio-desemprego registraram máxima em dois anos. A inflação ao consumidor e ao produtor mostrou inesperado arrefecimento.
O “landing" chegou — a dúvida agora é em qual intensidade.
Em termos objetivos, porém, já é consenso o descarte de nova alta para os juros básicos por lá. A expectativa é de que a Fed Funds Rate já esteja 50 pontos-base mais baixa frente a atual em julho de 2024.
Por aqui, a inflação também segue surpreendendo para baixo, enquanto a atividade dá sinais de enfraquecimento mais pronunciado na margem. O IBC-Br recuou em setembro, enquanto se espera uma alta de 0,2%, puxado para baixo pelo setor de serviços.
Se os temores mais recentes eram de que o Copom dificilmente jogaria a Selic abaixo de 10,5% ao ano, agora as projeções para a taxa terminal já voltam abaixo para a casa de um dígito, enquanto se discute a possibilidade de aceleração no ritmo de cortes.
Ciclos e o mercado financeiro
O grande fator de destruição de valor dos ativos de risco brasileiros desde julho de 2021 foi a alta das taxas de juro, tanto aqui quanto lá fora. A dinâmica é diametralmente oposta agora.
Árvores não crescem até o céu e, infelizmente, a renda variável… varia. Não se espera um passeio no parque. Não veremos o Ibovespa subindo 10% todo mês. Teremos volatilidade à frente.
Seja como for, os ativos locais continuam baratos e o juro deve cair mais do que se esperava. Sem falsas esperanças, porém.
Da mesma forma como fomos dramaticamente afetados no ciclo ruim de 2021 para cá, podemos viver sua posição simétrica agora, sendo que poucos estão devidamente posicionados para isso. No fundo, é só um bull market.
Felipe Miranda: A neoindustrialização brasileira (e algumas outras tendências)
Fora do ar condicionado e dos escritórios muito bem acarpetados, há um Brasil real de fronteira tecnológica, liderando inovação e produtividade
O que a inteligência artificial vai falar da sua marca? Saiba mais sobre ‘AI Awareness’, a estratégia do Mercado Livre e os ‘bandidos’ das bets
A obsessão por dados permanece, mas parece que, finalmente, os CMOs (chief marketing officer) entenderam que a conversão é um processo muito mais complexo do que é possível medir com links rastreáveis
A dieta do Itaú para não recorrer ao Ozempic
O Itaú mostrou que não é preciso esperar que as crises cheguem para agir: empresas longevas têm em seu DNA uma capacidade de antecipação e adaptação que as diferenciam de empresas comuns
Carne nova no pedaço: o sonho grande de um pequeno player no setor de proteína animal, e o que move os mercados nesta quinta (11)
Investidores acompanham mais um dia de julgamento de Bolsonaro por aqui; no exterior, Índice de Preços ao Consumidor nos EUA e definição dos juros na Europa
Rodolfo Amstalden: Cuidado com a falácia do take it for granted
A economia argentina, desde a vitória de Javier Milei, apresenta lições importantes para o contexto brasileiro na véspera das eleições presidenciais de 2026
Roupas especiais para anos incríveis, e o que esperar dos mercados nesta quarta-feira (10)
Julgamento de Bolsonaro no STF, inflação de agosto e expectativa de corte de juros nos EUA estão na mira dos investidores
Os investimentos para viver de renda, e o que move os mercados nesta terça-feira (9)
Por aqui, investidores avaliam retomada do julgamento de Bolsonaro; no exterior, ficam de olho na revisão anual dos dados do payroll nos EUA
A derrota de Milei: um tropeço local que não apaga o projeto nacional
Fora da região metropolitana de Buenos Aires, o governo de Milei pode encontrar terreno mais favorável e conquistar resultados que atenuem a derrota provincial. Ainda assim, a trajetória dos ativos argentinos permanece vinculada ao desfecho das eleições de outubro.
Felipe Miranda: Tarcisiômetro
O mercado vai monitorar cada passo dos presidenciáveis, com o termômetro no bolso, diante da possível consolidação da candidatura de Tarcísio de Freitas como o nome da centro-direita e da direita.
A tentativa de retorno do IRB, e o que move os mercados nesta segunda-feira (8)
Após quinta semana seguida de alta, Ibovespa tenta manter bom momento em meio a agenda esvaziada
Entre o diploma e a dignidade: por que jovens atingidos pelo desemprego pagam para fingir que trabalham
Em meio a uma alta taxa de desemprego em sua faixa etária, jovens adultos chineses pagam para ir a escritórios de “mentirinha” e fingir que estão trabalhando
Recorde atrás de recorde na bolsa brasileira, e o que move os mercados nesta sexta-feira (5)
Investidores aguardam dados de emprego nos EUA e continuam de olho no tarifaço de Trump
Ibovespa renova máxima histórica, segue muito barato e a próxima parada pode ser nos 200 mil pontos. Por que você não deve ficar fora dessa?
Juros e dólar baixos e a renovação de poder na eleição de 2026 podem levar a uma das maiores reprecificações da bolsa brasileira. Os riscos existem, mas pode fazer sentido migrar parte da carteira para ações de empresas brasileiras agora.
BRCR11 conquista novos locatários para edifício em São Paulo e reduz vacância; confira os detalhes da operação
As novas locações colocam o empreendimento como um dos destaques do portfólio do fundo imobiliário
O que fazer quando o rio não está para peixe, e o que esperar dos mercados hoje
Investidores estarão de olho no julgamento da legalidade das tarifas aplicadas por Donald Trump e em dados de emprego nos EUA
Rodolfo Amstalden: Se setembro der errado, pode até dar certo
Agosto acabou rendendo uma grata surpresa aos tomadores de risco. Para este mês, porém, as apostas são de retomada de algum nível de estresse
A ação do mês na gangorra do mundo dos negócios, e o que mexe com os mercados hoje
Investidores acompanham o segundo dia do julgamento de Bolsonaro no STF, além de desdobramentos da taxação dos EUA
Hoje é dia de rock, bebê! Em dia cheio de grandes acontecimentos, saiba o que esperar dos mercados
Terça-feira terá dados do PIB e início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de olhos voltados para o tarifaço de Trump
Entre o rali eleitoral e o malabarismo fiscal: o que já está nos preços?
Diante de uma âncora fiscal frágil e de gastos em expansão contínua, a percepção de risco segue elevada. Ainda assim, fatores externos combinados ao rali eleitoral e às apostas de mudança de rumo em 2026, oferecem algum suporte de curto prazo aos ativos brasileiros.
Tony Volpon: Powell Pivot 3.0
Federal Reserve encara pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, por cortes nos juros, enquanto lida com dominância fiscal sobre a política monetária norte-americana