A descoberta das inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões nos balanços da Americanas (AMER3) e a renúncia do CEO Sergio Rial prometem provocar uma queda brusca nos papéis da empresa — que estão em leilão desde a abertura da bolsa — e contaminam também as perspectivas para outros nomes do setor na B3 nesta quinta-feira (12).
As ações de Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) dominam a ponta negativa do Ibovespa e até mesmo as varejistas de moda sentem o impacto da notícia — acompanhe a nossa cobertura completa de mercados.
Mas o possível rombo bilionário nas Americanas não tem o mesmo efeito sobre os papéis de uma varejista gringa com operações brasileiras. Por volta das 12h10, os BDRs do Mercado Livre subiam 3,15%, cotados em R$ 41,27.
- ‘R$ 20 bilhões é só a ponta do iceberg’: veja por que as inconsistências contábeis descobertas na Americanas (AMER3) podem ser só o começo de uma derrocada ainda muito maior, segundo estrategista-chefe da Empiricus Research. LEIA A OPINIÃO DO ANALISTA AQUI
Um dos motivos pelos quais a companhia passa ilesa pelo tsunami provocado pela Americanas é justamente por ser estrangeira e adotar costumes contábeis um pouco diferentes das brasileiras.
O problema na Americanas está nas linhas de exposição à dívida para compra de estoque e dívidas com fornecedores.
A área contábil identificou a existência de financiamentos de compras em cifras bilionárias que tornaram a companhia devedora de instituições financeiras. Essas dívidas "não se encontram adequadamente refletidas na conta de fornecedores" nas demonstrações financeiras até o terceiro trimestre do ano passado.
“Contabilidade criativa” da Americanas não existe na gringa?
E esse imbróglio contábil — que, no caso da Americanas, é estimado em R$ 20 bilhões — pode ser encontrado em outras varejistas do país, de acordo com o ex-CEO da companhia.
Sergio Rial declarou, em conferência organizada pelo BTG Pactual hoje, que as diferentes formas de registrar as contas com fornecedores gerou a inconsistência e não são um problema apenas na empresa, mas uma questão do setor desde os anos 90.
A afirmação gera dúvidas sobre a contabilidade das concorrentes nacionais e, segundo um analista ouvido pelo Seu Dinheiro, abre caminho para que as companhias gringas ganhem a preferência de quem busca uma exposição mais segura ao varejo brasileiro.