Cotações por TradingView
Ricardo Gozzi
Carolina Gama
ELEIÇÕES NOS EUA

Por que um grupo ligado a Trump se mobiliza para ocupar um cargo obscuro nas próximas eleições nos EUA

Políticos ligados a Trump tentam ganhar os cargos de ‘secretário de Estado de Estado’, função burocrática, mas decisiva para a supervisão das eleições

Ricardo Gozzi, Carolina Gama
8 de novembro de 2022
6:03 - atualizado às 10:20
estados unidos, eua, banana, trump
Imagem: Pixabay

Faz quase dois séculos que o governo francês incumbiu um aristocrata de viajar aos EUA para elaborar um estudo sobre o sistema prisional norte-americano. Alexis de Tocqueville voltou para a França com apontamentos suficientes para ir muito além do objetivo original da jornada. A viagem ao “Novo Mundo” no início da década de 1830 resultou em “A Democracia na América”, livro que com o passar dos anos foi elevado a clássico do pensamento político liberal.

Quando Tocqueville embarcou na viagem, a França vivia o interregno entre as primeira e segunda repúblicas, passando do rescaldo da Revolução Francesa às consequências do bonapartismo. Interessou-se particularmente pelos princípios que regiam a então jovem nação da América do Norte, cujo território na época estendia-se apenas até a margem leste do Rio Mississippi.

Enxergou na igualdade de condições um valor fundamental ao pleno desenvolvimento de uma democracia. Ainda na avaliação de Tocqueville, o respeito genuíno à ordem, à ponderação entre os poderes, à liberdade e ao direito são os pilares que diferenciam qualquer república de uma ditadura da maioria.

EUA: uma democracia na encruzilhada

Quase 200 anos depois, os princípios celebrados na obra de Tocqueville atravessam uma encruzilhada.

Pode-se dizer que, nas eleições de meio de mandato de 2022 nos EUA, há candidatos ativamente empenhados em sepultar “democraticamente” os princípios que alavancaram a sociedade norte-americana a modelo a ser seguido por admiradores fora de suas fronteiras.

Falamos dos candidatos ligados ao ex-presidente norte-americano, Donald Trump, a um cargo relativamente obscuro, o de secretário de Estado de Estado. Assim mesmo, repetido.

Se na política nacional norte-americana, o secretário de Estado é indicado pelo presidente e equivale à função de ministro de Relações Exteriores, na política local, a função é amplamente burocrática - e definida no voto popular.

Por que então candidatos ligados a Trump organizaram uma coalizão para tomar de assalto as secretarias de Estado nessas eleições?

Porque uma das funções do “secretário de Estado de Estado” é supervisionar o processo eleitoral. E a contestação ao sistema de votação é parte central do discurso - e da estratégia - de Donald Trump para voltar à Presidência dos Estados Unidos.

Nas eleições de meio de mandato (midterms) de 2022, a “America First SOS coalition” reúne-se em torno dos republicanos Mark Finchem, Kristina Karamo, Diego Morales, Jim Marchant e Audrey Trujillo. Eles são candidatos à secretaria de Estado dos Estados de Arizona, Michigan, Indiana, Nevada e Novo México, respectivamente.

O entendimento da relevância do cargo ficou mais claro no rescaldo das eleições de 2020, quando veio à tona uma gravação na qual Trump pressionava o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, a “encontrar” 11.780 votos para dar a ele a vitória no Estado.

A coalizão SOS, sigla em inglês para Secretaria de Estado, conta ainda com o apoio de Kari Lake, candidata ao governo do Arizona, e Doug Mastriano, que busca o governo da Pensilvânia.

Todos os Estados citados são considerados chave para o desfecho das eleições nos EUA.

Já os políticos envolvidos com o movimento carregam outras características em comum.

Todos eles alegam que as eleições presidenciais de 2020 teriam sido fraudadas em desfavor de Donald Trump.

Também compartilham profundas conexões com a disseminação de elementos da QAnon, uma teoria conspiratória adotada pela extrema-direita norte-americana segundo a qual Trump seria uma espécie de salvador da pátria.

Caso eleitos, esses políticos se comprometem a “consertar” o país. Por consertar, leia-se redesenhar distritos e alterar o processo eleitoral com o objetivo de levar Trump de volta à Casa Branca em 2024.

É preciso abrir dois parênteses aqui:

  • Ao contrário do que ocorre no Brasil, onde o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) centraliza as normas e a supervisão das votações, o sistema norte-americano é descentralizado. Cada Estado tem autonomia para definir as regras das eleições ocorridas dentro de suas fronteiras, mesmo nas votações para presidente.
  • Nos Estados Unidos, a votação para presidente é indireta. O que vale é o placar do Colégio Eleitoral. Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton teve quase 3 milhões de votos a mais do que Donald Trump nas urnas, mas o magnata ganhou por 304 a 227 no Colégio Eleitoral. Em 2020, Joe Biden precisou de 7 milhões de votos a mais para bater Trump por 306 a 232 no Colégio Eleitoral

Um novo Capitólio à vista nos EUA?

Na avaliação de Rachel Orey, integrante do Projeto de Eleições do Centro de Política Bipartidária, os candidatos da coalizão estão empenhados em abalar a confiança da população no processo eleitoral.

Ela teme a repetição, em 2024, de cenas como as de 6 de janeiro do ano passado, quando partidários de Trump indignados com a derrota do republicano atacaram o Capitólio, em Washington, na tentativa de impedir a declaração da vitória de Biden. Pelo menos cinco pessoas morreram na tentativa de golpe.

Ainda hoje, pesquisas indicam que dois em cada três eleitores do Partido Republicano têm dúvidas sobre a legitimidade do resultado das eleições de 2020.

Bret Schafer, integrante da Aliança Internacional pela Preservação da Democracia, acredita que os EUA sofrerão as consequências da participação desses políticos no processo eleitoral independentemente do resultado.

Se os candidatos da coalizão forem derrotados, seus apoiadores já estarão condicionados a acreditar que só pode ter ocorrido uma fraude. Se eleitos, estarão em uma posição de poder e terão capacidade de influenciar diretamente o resultado das eleições de 2024.

"Ganhem ou percam, isso vai levar mais gente a duvidar da integridade da democracia norte-americana", disse ele à BBC.

Compartilhe

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Por que a Amazon vai investir até US$ 4 bilhões em rival do ChatGPT

25 de setembro de 2023 - 10:39

Investimento na Anthropic ocorre em momento no qual a Amazon se esforça para não ficar para trás de rivais no campo da inteligência artificial

ECONOMIA DOS DUENDES?

Problema de bilhões: Irlanda tem R$ 52 bilhões sobrando no orçamento — e não sabe o que fazer com o dinheiro

24 de setembro de 2023 - 15:00

Graças a uma explosão em receitas fiscais provenientes de empresas multinacionais, o governo de Dublin deve encerrar o ano com recorde de excedente orçamental de 10 bilhões de euros

VALORIZADA

Cédula de dólar da época da Grande Depressão bate recorde e é vendida por US$ 480.000

22 de setembro de 2023 - 13:15

Cédula de US$ 10.000 foi vendida pelo maior preço já registrado. A nota foi produzida em 1934, durante a Grande Depressão nos EUA

HAY PLATA

Javier Milei, Sergio Massa e Patricia Bullrich: veja fortuna dos candidatos à presidência na Argentina (spoiler: o mais rico não é nenhum deles)

21 de setembro de 2023 - 18:16

Entre os três principais candidatos, Patricia Bullrich é aquela que apresentou o patrimônio mais polpudo

APOSENTADORIA FORÇADA?

Lucrativo e polêmico, reinado de Rupert Murdoch à frente de seu império de mídia chega ao fim

21 de setembro de 2023 - 16:32

Fox e News Corporation anunciaram hoje que Rupert Murdoch deixará o cargo de presidente do conselho de ambas as empresas em novembro

WILDEST DREAMS

Taylor Swift pode “salvar” o Twitter? Elon Musk faz apelo à loirinha para ajudar a rede social

21 de setembro de 2023 - 15:33

O dono da rede social recomendou que a cantora “postasse algumas músicas ou vídeos de shows diretamente na plataforma X”

O FIM DE UMA ERA?

O BLACK PINK vai acabar? Risco preocupa investidores, e ações da YG Entertainment derretem na bolsa de Seul

21 de setembro de 2023 - 12:00

Após confirmação de que três membros do grupo BLACKPINK não vão renovar contrato com a YG Entertainment, ações da agência caem em mais de 13%

ESTRADA DO FUTURO

Esqueça o iPhone 15! Quem acredita que a Apple não consegue mais inovar está olhando para o lado errado

21 de setembro de 2023 - 6:17

Como todos os anos, em setembro temos o evento anual da Apple, a revelação dos novos iPhones e os memes de sempre

FOCO NAS COMMODITIES

Petróleo a US$ 100 desafia ‘pouso suave’ de juros e impacta a inflação — mas abre espaço para etanol brasileiro

20 de setembro de 2023 - 8:27

Analistas esperam que os preços continuem a subir, o que contribuiria para contas de combustível mais elevadas, inflação acelerada — e taxas de juro mais elevadas

TEENAGE DREAM

De Bob Dylan a Katy Perry, veja 9 artistas que faturaram milhões com a venda de direitos musicais

18 de setembro de 2023 - 17:08

A venda dos direitos musicais não está restrita a Katy Perry. Artistas como Neil Young e Bob Dylan embolsaram milhões com o mercado em expansão dos direitos musicais

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies