Diante das preocupações sobre a crise de energia que afeta a Europa por causa da guerra da Rússia contra a Ucrânia, o tema da transição energética voltou a ganhar destaque. E, conforme a diversificação de fontes de energia também entra em pauta, o Brasil pode ser um dos protagonistas dessa mudança.
Durante a Expert XP 2022, esse debate ocupou um dos painéis desta quarta-feira (3). Apesar do conflito já durar cinco meses, alguns especialistas acreditam que os altos preços dos combustíveis e a escassez de petróleo e gás natural podem acelerar a transição energética da Europa — um movimento que poderá ser replicado mundo afora.
Na avaliação de Ana Cabral Gardner, Co-CEO da Sigma Lithium, mineradora canadense que opera no Brasil, o país é candidato natural a liderar esse tipo de esforço de transição energética, especialmente pela capacidade de produção de biocombustíveis.
"O Brasil é candidato natural a atrair indústrias interessadas nessa agenda, principalmente quando pensamos no nosso ambiente regulatório, que agora nos torna mais competitivos", disse.
Uma guerra na Europa — algo impensável até poucos meses atrás — acendeu um alerta que inclui não apenas as discussões sobre fornecimento de energia, mas também de produção de alimentos, lembra Gustavo Montezano, CEO do BNDES.
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"A necessidade de um fluxo financeiro relevante capaz de sustentar a produção de alimentos e energia, além das preocupações climáticas, é algo essencial para o mundo sair do outro lado do túnel após a guerra", disse.
Montezano aproveitou para comentar que o BNDES venceu, no fim do mês de julho, o prêmio Euromoney Awards for Excellence na categoria de melhor “transformação bancária” da América Latina.
A premiação reconhece, entre outras coisas, mudanças estratégicas recentes feitas pelo banco de fomento.
"Recursos financeiros são um meio para o fim, não podemos emprestar por emprestar sem causar impacto positivo. O BNDES tem obrigação de seguir uma agenda ESG em diversos aspectos, inclusive esse."
O papel do mercado de capitais
Os participantes também discutiram a função do mercado de capitais como indutor dessas transformações, papel ressaltado por Gilson Finkelsztain, presidente e CEO da B3.
Para ele, o falso dilema entre preservação ambiental e rentabilidade ainda está presente, mas a bolsa brasileira tem se posicionado como defensora dessas mudanças.
"É preciso lembrar que discutir ESG não é algo passageiro ou uma área específica que daqui um ano vai ser curioso pensar a respeito. É um negócio em si", defende.
Um exemplo comentado durante o painel é da própria Sigma, liderada por Ana Cabral-Gardner. A companhia, que produz baterias de lítio sustentáveis, foi listada na Nasdaq em setembro de 2021. A bolsa americana é um exemplo de exigências em termos ESG.