Lula x Mercado: quem vence essa batalha?
Recém eleito para um terceiro mandato como presidente, Lula tem dado declarações que desagradaram o mercado. É possível um consenso?

Antes de mais nada, gostaria de frisar que o mercado raramente perde, justamente por sempre retratar a verdade, seja ela favorável ou desfavorável à sociedade em que age durante determinado estágio da economia.
A exceção fica por conta dos países comunistas (espécie em extinção – a Coreia do Norte é uma monarquia absolutista e Cuba vem se tornando burguesa aos poucos).
Mas antes de falar desse (não confirmado) confronto entre Lula e o mercado, comentemos um pouco sobre a biografia do ex e próximo presidente do Brasil.
Um episódio ainda da infância marcou para sempre a vida de Lula. Seu pai, Aristides Inácio da Silva, ensacador de café no porto de Santos, tinha várias famílias e calcula-se que gerou cerca de 25 filhos.
Certa ocasião, ao reunir alguns deles para tomar sorvete, simplesmente recusou-se a dar um para Luiz Inácio, que vivia com a mãe, dona Eurídice, e alguns irmãos.
“Você não sabe tomar sorvete”, quem contou isso foi o próprio Lula, numa entrevista concedida alguns anos atrás, já numa época em que conseguia que lhe trouxessem um sundae de chocolate às duas horas da manhã.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: Falta pouco agora
Lula: passado e origem política
Voltando ao passado remoto: após passar por vários empregos, Luiz Inácio Lula da Silva fez um curso de torneiro mecânico, profissão que lhe custou um dedo.
Quando trabalhava nas Indústrias Villares, entrou para o movimento sindical, levado por seu irmão, José Ferreira da Silva, que tinha o apelido de Frei Chico.
Em fevereiro de 1980, época em que o governo militar iniciava o processo de abertura política, Luiz Inácio fundou o Partido dos Trabalhadores. Nesse mesmo ano, cumpriu 31 dias de prisão ao ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional.
Ao invés de iniciar carreira política disputando uma cadeira de deputado estadual ou federal por São Paulo, que obteria facilmente, Lula começou tentando logo um cargo majoritário, nada menos do que governador do estado. Isso aconteceu em 1982.
Obteve apenas um modesto quarto lugar, ficando atrás de Franco Montoro, Reynaldo de Barros e Jânio Quadros.
Quatro anos mais tarde, em 1986, Lula elegeu-se deputado constituinte com a maior votação do Brasil: 650.000. Durante os trabalhos de elaboração da Constituição que seria promulgada em 1988, Lula revelou claramente seu perfil esquerdista.
De olho no Planalto
Isso seria confirmado no ano seguinte, quando disputou a presidência da República com outros 21 candidatos, ocasião em que foi para o segundo turno contra Fernando Collor de Mello, que se elegeu. Durante a campanha, os dois candidatos apresentaram propostas diametralmente opostas.
Enquanto Collor defendia a abertura da economia, o enxugamento da máquina do governo e privatizações, Lula propunha a estatização dos bancos e o alongamento do perfil das dívidas interna e externa, maneira disfarçada de dizer “pagaremos se pudermos e quando pudermos.”
Fernando Collor venceu com 53,03% dos votos, contra 46,97% de Luiz Inácio. E coube ao vencedor (que ironia) confiscar o dinheiro das contas correntes, poupança, open market, CDBs, etc., o que aconteceu logo depois da posse, em março de 1990.
Em função de acusações publicadas pelo irmão, Pedro, numa matéria da revista Veja, Fernando Collor de Mello renunciou em 29 de dezembro de 1992, minutos antes de sua cassação pelo Senado Federal.
Sempre com sua plataforma de esquerda, Lula continuou tentando a presidência da República. Perdeu para o sociólogo Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998, ambas as ocasiões no primeiro turno.
Surgiu então o Lulinha paz e amor, que finalmente obteve a presidência em 2002, não sem antes escrever uma Carta ao Povo Brasileiro, na qual prometia, entre outras coisas, respeitar os contratos existentes no Brasil e no exterior, não submetendo o país a aventuras.
Foi reeleito em 2006, deixando o poder em 1º de janeiro de 2011, com 87% de popularidade, graças a um forte crescimento do país, acompanhado de não menor distribuição de renda.
Seus mandatos foram manchados pelos escândalos do mensalão e do petrolão, que lhe valeram uma condenação de nove anos de prisão pelo juiz Sergio Moro, mais tarde aumentada para 12 anos e um mês pelo TRF de Porto Alegre.
Por irregularidades processuais, Lula, após permanecer preso numa cela especial da Polícia Federal em Curitiba durante 580 dias, teve seu julgamento anulado pelo STF. Com isso, a maioria de suas penas prescreveu, enquanto outras retornaram à primeira instância.
Obteve de volta seus direitos políticos.
Trunfos e fraquezas
Agora em 2022, numa eleição disputada voto a voto, venceu, no segundo turno, o presidente em exercício, Jair Bolsonaro. A margem foi apertadíssima: 50,90% de Lula contra 49,10% de Bolsonaro, o que na prática representa quase um empate.
Acredito que Lula 2023 não será o jovem revolucionário da Constituinte de 1988 nem o esquerdista convicto de 1989, 1994 e 1998. Muito menos o Paz e Amor de 2002.
O Luiz Inácio que assumirá em 1º de janeiro será um homem curtido pela cadeia e carregará, ao menos para quase metade do país, a pecha da corrupção, do compadrio, do “é dando que se recebe”.
Seu maior trunfo é o apoio internacional, não tanto pelo que é, mas pelo que Bolsonaro não foi.
Prova disso foi o telefonema que Lula recebeu do francês Emmanuel Macron, na própria noite da apuração, e o comunicado da Casa Branca reconhecendo-o como legítimo presidente eleito do Brasil.
Como se não bastasse, o governo americano elogiou o sistema eleitoral brasileiro, inclusive com menções às urnas eletrônicas.
Lula 3: o que vem por aí?
Três grandes obstáculos terão de ser enfrentados por Luiz Inácio Lula da Silva tão logo seja ungido pelo Congresso:
- Cumprir as promessas de campanha, através das quais garantiu benefícios que o país, no momento, não tem condições de conceder;
- Oposição ferrenha das novas bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, que contarão inclusive com diversos bolsonaristas, incluindo ex-ministros do atual governo; e
- Enfrentar a má vontade das Forças Armadas, tal como aconteceu com João Goulart em 1961, por ocasião da renúncia de Jânio Quadros.
Após uma recepção triunfal na Cop27, em Sharm el-Sheikh, no Egito, evento no qual foi a grande atração, Lula, num regresso imperdoável ao passado, voltou-se contra o mercado, classificando-o como “especuladores que ficam especulando todo santo dia.”
Redundâncias fora, se Luiz Inácio não sair logo dessa briga, que não tem como vencer, o mercado vai fazer o que sempre faz nessas ocasiões: virar-lhe as costas.
Eu fico até com vergonha de dizer essas coisas, de tão primárias e óbvias que são, mas é através do mercado que as empresas se capitalizam, criam empregos e geram riqueza.
Se manca, Lula. Desdiz o que disse. Converse com os bancos, com os empresários, com o setor agroindustrial, observe um mínimo de disciplina fiscal.
Caso contrário, essa batalha já começa perdida.
Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA
Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo
Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide
Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.
Tony Volpon: EUA, novo mercado emergente
Não tenham dúvidas: chegamos todos na beira do abismo neste mês de abril. Por pouco não caímos.
Desaprovação a Lula cai para 50,1%, mas é o suficiente para vencer Bolsonaro ou Tarcísio? Atlas Intel responde
Os dados de abril são os primeiros da série temporal que mostra uma reversão na tendência de alta na desaprovação e queda na aprovação que vinha sendo registrada desde abril de 2024
Copom busca entender em que nível e por quanto tempo os juros vão continuar restritivos, diz Galípolo, a uma semana do próximo ajuste
Em evento, o presidente do BC afirmou que a política monetária precisa de mais tempo para fazer efeito e que o cenário internacional é a maior preocupação do momento
Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços
Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana
FI-Infras apanham na bolsa, mas ainda podem render acima da Selic e estão baratos agora, segundo especialistas; entenda
A queda no preço dos FI-Infras pode ser uma oportunidade para investidor comprar ativos baratos e, depois, buscar lucros com a valorização; entenda
Se errei, não erro mais: Google volta com o conversor de real para outras moedas e adiciona recursos de segurança para ter mais precisão nas cotações
A ferramenta do Google ficou quatro meses fora do ar, depois de episódios nos quais o conversor mostrou a cotação do real bastante superior à realidade
Vale (VALE3) sem dividendos extraordinários e de olho na China: o que pode acontecer com a mineradora agora; ações caem 2%
Executivos da companhia, incluindo o CEO Gustavo Pimenta, explicam o resultado financeiro do primeiro trimestre e alertam sobre os riscos da guerra comercial entre China e EUA nos negócios da empresa
Fernando Collor torna-se o terceiro ex-presidente brasileiro a ser preso — mas o motivo não tem nada a ver com o que levou ao seu impeachment
Apesar de Collor ter entrado para a história com a sua saída da presidência nos anos 90, a prisão está relacionada a um outro julgamento histórico no Brasil, que também colocou outros dois ex-presidentes atrás das grades
Vai dar zebra no Copom? Por que a aposta de uma alta menor da Selic entrou no radar do mercado
Uma virada no placar da Selic começou a se desenhar a pouco mais de duas semanas da próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 6 e 7 de maio
Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale
Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal
Hypera (HYPE3): quando a incerteza joga a favor e rende um lucro de mais de 200% — e esse não é o único caso
A parte boa de trabalhar com opções é que não precisamos esperar maior clareza dos resultados para investir. Na verdade, quanto mais incerteza melhor, porque é justamente nesses casos em que podemos ter surpresas agradáveis.
Dona do Google vai pagar mais dividendos e recomprar US$ 70 bilhões em ações após superar projeção de receita e lucro no trimestre
A reação dos investidores aos números da Alphabet foi imediata: as ações chegaram a subir mais de 4% no after market em Nova York nesta quinta-feira (24)
Subir é o melhor remédio: ação da Hypera (HYPE3) dispara 12% e lidera o Ibovespa mesmo após prejuízo
Entenda a razão para o desempenho negativo da companhia entre janeiro e março não ter assustado os investidores e saiba se é o momento de colocar os papéis na carteira ou se desfazer deles
Por que o ouro se tornou o porto seguro preferido dos investidores ante a liquidação dos títulos do Tesouro americano e do dólar?
Perda de credibilidade dos ativos americanos e proteção contra a inflação levam o ouro a se destacar neste início de ano
Fim da linha para o dólar? Moeda ainda tem muito a cair, diz economista-chefe do Goldman Sachs
Desvalorização pode vir da relutância dos investidores em se exporem a investimentos dos EUA diante da guerra comercial com a China e das incertezas tarifárias, segundo Jan Hatzius
O que está derrubando Wall Street não é a fuga de investidores estrangeiros — o JP Morgan identifica os responsáveis
Queda de Wall Street teria sido motivada pela redução da exposição dos fundos de hedge às ações disponíveis no mercado dos EUA
OPA do Carrefour (CRFB3): com saída de Península e GIC do negócio, o que fazer com as ações?
Analistas ouvidos pelo Seu Dinheiro indicam qual a melhor estratégia para os pequenos acionistas — e até uma ação alternativa para comprar com os recursos
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam