Os sinais que o mercado espera de Lula: há espaço para o benefício da dúvida?
O time de transição, a equipe econômica e o cálculo político de Lula são os pontos de atenção do mercado para as próximas semanas
Como comentamos anteriormente neste espaço, Lula foi vitorioso na eleição do último domingo, dia 30. Por uma margem muito mais estreita do que se pressupunha (50,9% dos votos válidos contra 49,1% do incumbente Jair Bolsonaro), o petista volta ao Palácio do Planalto para um terceiro mandato, sendo o primeiro na história a ganhar três vezes uma corrida eleitoral no Brasil.
Agora, parte considerável da incerteza já foi dissipada, mas o jogo ainda não acabou.
O mercado estará atento a alguns pontos sobre o futuro do presidente-eleito:
- i) quem estará no comando e comporá a equipe de transição;
- ii) quais serão os nomes dos membros da equipe econômica; e
- iii) como será o cálculo político com o Congresso.
No primeiro mandato de Lula, iniciado em 2003, a economia do Brasil cresceu rapidamente, principalmente devido às bases robustas criadas pelo governo FHC e ao boom de commodities, impulsionado pela China.
Contudo, o clima atual é muito diferente, e os próximos anos serão de muita dificuldade para o Brasil. O país está longe de estar pacificado, e o campo político é predominantemente de oposição.
Vale destacar que este texto está sendo escrito em meio ao processo de transição, o que faz com que ele possa ficar velho rapidamente. Ainda assim, entendo que tenhamos espaço para comentar um pouco dos próximos passos e dos desdobramentos para o mercado.
Não abordarei aqui as manifestações e as obstruções de estradas, uma vez que tais atos parecem mais ruído do que sinal em um primeiro momento (em caso de mudança deste quadro, abordarei em outro texto) — Bolsonaro ainda não comentou a derrota, mas muitos aliados já o fizeram, o deixando bem isolado.
Leia Também
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
A equipe de transição de Lula
Vista muitas vezes mais como secundária do que principal, a equipe de transição de governo terá contornos mais importantes desta vez. O motivo é justamente a frente ampla que Lula formou para conseguir ganhar as eleições.
É inevitável apontar que o antipetismo ainda é forte na sociedade brasileira. Para se desvencilhar disso, o presidente-eleito aglutinou várias outras forças políticas do país.
Geraldo Alckmin, PSD, Simone Tebet, MDB, os economistas do Plano Real, FHC e a ala tradicional do PSDB, entre outros.
A ideia era começar seu caminho de conversão ao centro, o que acalmou o mercado e deverá possibilitar o diálogo por uma frente ampla em 2023. Seria o único jeito de governar alguma coisa nos próximos quatro anos.
Por isso, os primeiros passos da equipe de transição já estão sendo dados, e os nomes devem ser divulgados durante a semana.
Alguns nomes estão sendo cotados, desde a ala mais tradicional do PT, como Gleisi Hoffmann e Aloizio Mercadante, até Geraldo Alckmin. Caso o futuro presidente opte por Alckmin ou por uma figura mais ao centro para conduzir os trabalhos de transição, será uma boa sinalização ao mercado.
Isso serve para a composição do time. Quanto mais figuras de centro e de mercado, como Henrique Meirelles e Pérsio Arida, já estiverem na composição da equipe de transição, mais o mercado dará crédito à possibilidade de um governo de centro; isto é, mais moderado, o que tenderia a ser positivo para os ativos locais, aliviando as incertezas sobre a condução econômica e a governabilidade.
O time econômico de Lula
Há muito suspense em relação aos nomes que devem compor a equipe econômica do governo Lula. Naturalmente, a totalidade dos quadros não deverá ser tão pró-mercado como nos governos Bolsonaro ou Temer.
Ainda assim, se nomes como Henrique Meirelles e Pérsio Arida forem confirmados, a reação será positiva. Lula tem dito, no entanto, que prefere um nome político para o cargo, de modo a facilitar o trâmite dos projetos.
Algumas fontes já circulam como certo o nome escolhido, inclusive se afastando das especulações da mídia tradicional, mas até que seja pública a informação não haverá redução da volatilidade.
O mais importante é que as conquistas pró-negócios dos últimos seis anos, entre Temer e Bolsonaro, sejam preservadas, o que seria naturalmente positivo para o mercado local.
Outro ponto de atenção são as estatais. Apesar de ser mais provável que os projetos de privatização fiquem paralisados durante os próximos quatro anos, o importante seria manter a dinâmica mercadológica que tomou conta das empresas nos últimos anos.
Nomes como Petrobras e Banco do Brasil sentiram na segunda-feira (31) a falta de clareza com que se trabalhou com as estatais até agora por parte da campanha.
O cálculo político de Lula
O Brasil flerta hoje com a possibilidade de um apagão político pelos próximos quatro anos se o cálculo político do presidente-eleito não for bem conduzido.
A polarização da eleição e a minoria, pelo menos atualmente, no Congresso deixam o clima político muito conturbado, evitando qualquer agenda mais propositiva.
Para o mercado, a situação não é tão ruim; afinal, haveria pouco espaço para reverter mudanças pró-mercado dos últimos anos.
Ao mesmo tempo, o Brasil ainda precisa continuar com as Reformas, em especial tributária e fiscal, se quiser continuar caminhando no sentido certo.
Muito dificilmente o governo eleito conseguirá caminhar nesta direção sem o apoio de parte do centro político eleito.
Há espaço para um tom moderado e há pouco espaço para erro (metade do país não gosta do governo eleito e qualquer escorregada poderia provocar graves consequências).
No entanto, não podemos nos enganar. Caso o governo entre em letargia, a consequência seria negativa para o mercado.
Conclusão
Uma coisa interessante é que, como muito bem lembrou Oliver Stuenkel, esta eleição marcou a 15ª vitória consecutiva da oposição na América Latina — basicamente, nos últimos anos, nenhum líder democrático na região conseguiu se reeleger ou escolher seu sucessor. Ao que tudo indica, me parece ser um tipo de herança da época pandêmica que vivemos.
Resta entender agora se o movimento é mais um choque de curto prazo, o que parece ser mais provável, do que algo estrutural. A vitória da oposição, no entanto, não trouxe nenhuma tranquilidade adicional, fique registrado. Serão longos quatro anos de desafios para o Brasil.
Os próximos dias serão vitais para entender para onde o Brasil caminhará nos próximos quatro anos. Internacionalmente, parece haver um apoio maior ao nome de Lula, principalmente pela pauta ambiental, que também será muito importante nos próximos anos.
Esse posicionamento internacional também será fundamental para que consigamos finalmente entender o papel do Brasil na nova ordem mundial que se desenha, com redesenho das cadeias produtivas e atualização das parcerias.
Se Lula honrar com a palavra de um governo de "frente ampla" e não só do PT, o mercado poderá ver com bons olhos, ou pelo menos não encarar negativamente. Ainda assim, há muita água para rolar. A incerteza é inimiga do desempenho positivo.
Sim, há espaço para um rali de final de ano para os ativos brasileiros, mas o caminho não será fácil. A volatilidade fará parte do jogo.
Os CDBs que pagam acima da média, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Quando o retorno é maior que a média, é hora de desconfiar dos riscos; investidores aguardam dados dos EUA para tentar entender qual será o caminho dos juros norte-americanos
Direita ou esquerda? No mundo dos negócios, escolha quem faz ‘jogo duplo’
Apostar no negócio maduro ou investir em inovação? Entenda como resolver esse dilema dos negócios
Esse número pode indicar se é hora de investir na bolsa; Log corta dividendos e o que mais afeta seu bolso hoje
Relação entre preço das ações e lucro está longe do histórico e indica que ainda há espaço para subir mais; veja o que analistas dizem sobre o momento atual da bolsa de valores brasileira
Investir com emoção pode custar caro: o que os recordes do Ibovespa ensinam
Se você quer saber se o Ibovespa tem espaço para continuar subindo mesmo perto das máximas, eu não apenas acredito nisso como entendo que podemos estar diante de uma grande janela de valorização da bolsa brasileira — mas isso não livra o investidor de armadilhas
Seca dos IPOs ainda vai continuar, fim do shutdown e o que mais movimenta a bolsa hoje
Mesmo com Regime Fácil, empresas ainda podem demorar a listar ações na bolsa e devem optar por lançar dívidas corporativas; mercado deve reagir ao fim do maior shutdown da história dos EUA, à espera da divulgação de novos dados
Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?
Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano
FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR
BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil
É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar
Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro
Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje
Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos