Quando esta coluna for publicada, no domingo dia 30 de outubro, a votação do segundo turno das eleições para escolha do presidente da República (mandato 2023/2027) estará em pleno andamento.
Só lá pelas 20 horas, ou quem sabe até mesmo um pouco antes disso, saberemos quem ganhou e, por conseguinte, quem perdeu.
As últimas pesquisas apontaram vitória de Lula. Mas, como no primeiro turno elas erraram por cinco pontos a diferença do petista para Bolsonaro, é melhor aguardar o resultado oficial.
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Digamos que Jair Bolsonaro perca, o que é o mais provável. Nessa hipótese, pergunto, acabou o bolsonarismo?
“De jeito e maneira”, como se diz em Minas, eu mesmo faço questão de dar a primeira resposta.
Tal como aconteceu nos Estados Unidos, onde Donald Trump, após perder as eleições de 2020 para Joe Biden, continuou com prestígio por seus seguidores, seja nas duas casas do Capitólio, seja entre os republicanos ao longo do país.
Isso, apesar de ter incentivado, no dia 6 de janeiro de 2021, uma invasão do Congresso, invasão essa que resultou em cinco mortes, entre elas a de um agente do Legislativo.
Bolsonaro: um pedregulho no sapato de Lula
Bolsonaro, mesmo sem mandato, deverá ser um pedregulho mais do que incômodo no sapato de Lula. Ainda mais que conseguiu eleger, no dia 2 de outubro, uma grande bancada própria na Câmara e no Senado, inclusive seu vice-presidente, o “cunhado” Hamilton Mourão, e diversos ministros de seu governo.
O capitão paraquedista Jair Bolsonaro, que tinha o apelido de “Cavalão” entre os camaradas, sempre exerceu liderança e colecionou seguidores. Ainda na ativa do Exército, organizou manifestações contra o que julgava baixo soldo dos militares.
Numa passagem desonrosa para a reserva (se quisesse, o presidente José Sarney, comandante-em-chefe das Forças Armadas, poderia tê-lo expulsado da corporação), ao sair não foi promovido a um posto acima, como é de praxe nas FFAA.
Logo, Bolsonaro se tornou conhecido por participar de comícios, passeatas e manifestações as mais diversas de policiais militares e civis, bombeiros e agentes penitenciários.
Sendo assim, não foi nada difícil se eleger vereador pelo município do Rio de Janeiro, com votação expressiva, o que aliás seria comum em sua carreira política. O nome Bolsonaro se tornaria uma marca valiosa daí em diante.
Seu primeiro projeto de lei, na câmara de vereadores carioca, foi o da concessão de passagens gratuitas no transporte público para militares.
O caminho de Bolsonaro até a Presidência
Da Câmara municipal do Rio, para a Federal, em Brasília, foi um pulo. Nem precisou passar pela Assembleia Legislativa estadual, como é comum na carreira política.
Jair Bolsonaro exerceu sete mandatos consecutivos de deputado, sempre recebendo votação expressiva, defendendo interesses das classes militar e policial e louvando os 21 anos de ditadura (1964/1985).
Enalteceu gente como o torturador assumido coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, tal como aconteceu na sessão de autorização da abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Seu prestígio cresceu muito entre os adeptos da direita e tornou-se nacional, principalmente durante o escândalo do Petrolão, quando era comum, nas redes sociais, ver pessoas defendendo a volta das Forças Armadas ao poder, assim como a decretação de novo AI-5 e outras medidas arbitrárias.
Nas manifestações populares contra Dilma, no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro estava sempre presente, discursando ou gritando palavras de ordem do alto de um carro de som.
Vieram as eleições presidenciais de 2018 e Bolsonaro logo surgiu como um dos favoritos.
A facada traiçoeira durante uma passeata de campanha na cidade mineira de Juiz de Fora, que por pouco não o matou, completou o quadro, o que não quer dizer que sem o atentado ele não teria vencido.
Isso nunca ninguém irá saber.
O certo é que ele não precisou participar de nenhum debate, além de se tornar figura central no noticiário da imprensa, em sua cama de hospital em São Paulo.
De polêmica em polêmica
Durante os últimos três anos e dez meses, foram raros os dias em que Jair Bolsonaro não se envolveu em polêmicas, ora desprezando a covid (gripezinha), ora se recusando a tomar vacina e se postando contra os lockdowns.
Pouca gente ficou neutra em relação a Bolsonaro. Ou se é violentamente contra ou entusiasticamente a favor.
Caso ele perca as eleições, mesmo estando fora do Congresso, deverá ser o nome de maior expressão da oposição, tal como acontece com Donald Trump nos Estados Unidos, inclusive agora que se descobriu que ele levou para sua casa na costa oeste da Flórida, o resort de Mar-a-Lago, documentos ultrassecretos do governo americano.
É bem possível que Jair Bolsonaro diga, sem apresentar nenhuma prova, que houve fraude nas urnas e que ele foi o vencedor do pleito.
E se Lula perder?
Se hoje Lula perder a Presidência da República, deverá encerrar sua carreira política.
Na verdade, o PT às vezes se assemelha a um saco de gatos, que só não se arranham o tempo todo porque os integrantes do partido respeitam a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula tem um carisma tão intenso que, nas eleições de 2018, mesmo estando na cadeia da Polícia Federal em Curitiba, conseguiu pôr no segundo turno, contra Jair Bolsonaro, seu companheiro Fernando Haddad, que obtivera apenas 16,7% dos votos nas eleições de 2016 para a prefeitura do município de São Paulo, um vexame para quem já ocupava o cargo e tentava se reeleger. Seu adversário, João Doria, venceu no primeiro turno.
Nas eleições de 2026, Lula estará completando 81 anos de idade. Contando uma disputa para governador de São Paulo, em 1982, na qual perdeu para Franco Montoro, até agora Lula coleciona diversas derrotas para cargos majoritários. Uma para Fernando Collor e duas para Fernando Henrique Cardoso, sendo as de FHC no primeiro turno, fora essa para Montoro, na qual Lula chegou em um vexaminoso quarto lugar.
Boa parte da votação que Lula está tendo hoje se deve somente à rejeição a Jair Bolsonaro. O mesmo acontece com o capitão, que tem muitos votantes antipetistas radicais.
Só que os bolsonaristas são muito mais fanáticos do que os lulistas, tanto que esta segunda expressão quase não é usada. Petistas, esquerdistas, progressistas … Mas lulistas, raramente.
Em alguns ambientes, no meio artístico, por exemplo, o cara, ou a cara, pode até levar um “gelo” se não declarar voto a Lula. A exceção fica por conta dos cantores sertanejos.
Não se pode esquecer que Lula não foi totalmente absolvido nos processos em que foi réu. Os julgamentos foram apenas anulados. Agora diversos crimes prescreveram (prescrição em pessoas com mais de 70 anos conta pela metade) e outros processos retornaram à primeira instância, não havendo tempo para que ele, Lula, seja julgado e condenado definitivamente.
Concluindo: o futuro do perdedor Bolsonaro será melhor (ou menos sombrio) do que o futuro do perdedor Lula. Inclusive pela diferença de idades entre ambos.
Um ótimo domingo eleitoral para vocês.
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