Não é porque a ação caiu que está barata: é uma boa investir em empresas de tecnologia com a Selic em alta?
O crescimento a qualquer custo destrói valor; entenda a importância do crescimento dentro do círculo de competência de uma companhia e da proteção por barreiras de entrada
As estratégias de investimento pautadas pelo “growth”, ou que priorizam empresas de alto crescimento, ficaram populares durante boa parte dos últimos cinco anos.
Quanto menor fosse a taxa de juro, maior a procura por empresas com alto potencial de expansão.
Com o capital barato demais, valia a pena correr o risco de a empresa nunca dar lucro, apostando as fichas na pequena probabilidade de que fosse o próximo unicórnio.
Agora, no que parece outra era na evolução da humanidade, o juro alto no Brasil e a iminência de subirem nos países desenvolvidos mostram que nem todo crescimento gera valor para os acionistas — em alguns casos, ele pode inclusive destruir.
Estouro da bolha de tecnologia
É o estouro da bolha tech: primeiro, no Brasil; agora, lá fora. Quase tudo cai, mas tem coisa que cai com mais força.
Por aqui, entre as empresas de tecnologia, notadamente as que vieram para a Bolsa nessa última leva de IPOs, não são raros os casos de papéis que caíram 70% ou 80% desde suas máximas.
Leia Também
Os compradores de plantão argumentam que, após quedas dessa magnitude, fica difícil ignorar a oportunidade de compra. Todavia, não é porque caiu 80% que está barato — em alguns casos, continua caro.
Por vezes, inclusive, pode estar mais caro ainda, depois das revisões dos lucros projetados pelo mercado, agora refletindo o cenário real à frente. É quando a maré baixa que vemos quem está nadando pelado.
A Evergrande e a falência
Temos alguns exemplos anedóticos de empresas que, quase no desespero de surfar a preferência dos investidores pelo growth, buscaram-no a qualquer custo.
Lembra do caso da WeWork, que abriu espaços de coworking nos quatro cantos do mundo e depois se viu obrigada a recorrer ao Chapter 11? (Esse é o capítulo do código de falência americano que permite a recuperação judicial de uma empresa.)
Ou mesmo o caso da Evergrande, incorporadora chinesa que cresceu comprando estádios de futebol e operando parques de diversão, para depois se ver afundada em dívidas quando seus investimentos não deram o retorno esperado.
Valor e crescimento das empresas de tecnologia
O crescimento a qualquer custo destrói valor. Porque, da mesma forma que o investidor analisa suas opções de investimento de forma relativa, sempre em comparação com o seu custo de capital, o empresário deveria fazer o mesmo com a empresa que está tocando.
A companhia deveria somente investir em projetos de crescimento que produzem retorno superior ao seu custo de capital.
Para que isso aconteça de forma sustentada, a empresa só tem uma opção: crescer dentro do seu círculo de competência, isto é, naquilo em que já produziu esses retornos em excesso e em que consegue continuar fazendo.
Para tal, precisa ser protegida por barreiras de entrada: somente há criação de valor quando o incumbente tem habilidades que novos entrantes não conseguem replicar.
Barreiras de entrada
A forma mais simples de criação dessa barreira é simplesmente com o monopólio típico de uma concessão governamental, o que observamos em empresas de utilidade pública de setores como energia, transporte e saneamento.
O problema é que, nesses casos, os preços são geralmente regulados, não permitindo ao monopolista usar da sua situação para jogar as tarifas (e suas margens) na lua.
Outra forma de barreira de entrada são as vantagens de custo, seja por acesso a maquinário e mão de obra barata ou acentuadas economias de escala. Vemos essa vantagem estrutural em manufaturas orientais, por exemplo.
Demanda cativa dos clientes
Uma terceira forma de barreira de entrada, essa bem interessante, vem da demanda cativa dos clientes.
Isso pode ser criado com custos de mudança grandes para o consumidor, como no caso da extensa adaptação necessária para trocar seu software da Microsoft para outro, por exemplo.
O cliente cativo pode ser conquistado, também, pela força de uma marca que tem preferência absoluta tanto junto a novos clientes quanto a antigos (pense nos sapatos femininos da Arezzo ou nas camisetas onipresentes da Reserva).
Situações como essas são verdadeiramente difíceis de serem criadas e, portanto, raras; muito embora boa parte das empresas listadas insista que esse é justamente o seu caso.
Não caia no conto do vigário — ou aparecerá pelado quando a maré baixar.
Um abraço,
Larissa
Leia também:
- Copom deve voltar a subir a taxa Selic amanhã. Conheça fundos imobiliários que podem lucrar ainda mais com a alta dos juros
- Amazon Prime sofrerá reajuste de 50,5% na mensalidade a partir de 20 de maio
O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado
A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul
Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região
Os balanços dos bancos vêm aí, e mercado quer saber se BB pode cair mais; veja o que mais mexe com a bolsa hoje
Santander e Bradesco divulgam resultados nesta semana, e mercado aguarda números do BB para saber se há um alçapão no fundo do poço
Só um susto: as ações desta small cap foram do céu ao inferno e voltaram em 3 dias, mas este analista vê motivos para otimismo
Entenda o que aconteceu com os papéis da Desktop (DESK3) e por que eles ainda podem subir mais; veja ainda o que mexe com os mercados hoje
Por que o tombo de Desktop (DESK3) foi exagerado — e ainda vejo boas chances de o negócio com a Claro sair do papel
Nesta semana os acionistas tomaram um baita susto: as ações DESK3 desabaram 26% após a divulgação de um estudo da Anatel, sugerindo que a compra da Desktop pela Claro levaria a concentração de mercado para níveis “moderadamente elevados”. Eu discordo dessa interpretação, e mostro o motivo.
Títulos de Ambipar, Braskem e Raízen “foram de Americanas”? Como crises abalam mercado de crédito, e o que mais movimenta a bolsa hoje
Com crises das companhias, investir em títulos de dívidas de empresas ficou mais complexo; veja o que pode acontecer com quem mantém o título até o vencimento
Rodolfo Amstalden: As ações da Ambipar (AMBP3) e as ambivalências de uma participação cruzada
A ambição não funciona bem quando o assunto é ação, e o caso da Ambipar ensina muito sobre o momento de comprar e o de vender um ativo na bolsa
Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje
Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento
Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje
Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda
Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem
O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026
Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico
Em tempos de guerra, os generais não apenas são os últimos a morrer, mas saem condecorados e com mais estrelas estampadas no peito. A boa notícia é que a correção de outubro nos permite comprar alguns deles a preços bastante convidativos.
A temporada de balanços já começa quente: confira o calendário completo e tudo que mexe com os mercados hoje
Liberamos o cronograma completo dos balanços do terceiro trimestre, que começam a ser divulgados nesta semana
CNH sem autoescola, CDBs do Banco Master e loteria +Milionária: confira as mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matérias sobre o fechamento de capital da Gol e a opinião do ex-BC Arminio Fraga sobre os investimentos isentos de IR também integram a lista das mais lidas
Como nasceu a ideia de R$ 60 milhões que mudou a história do Seu Dinheiro — e quais as próximas apostas
Em 2016, quando o Seu Dinheiro ainda nem existia, vi um gráfico em uma palestra que mudou minha carreira e a história do SD
A Eletrobras se livrou de uma… os benefícios da venda da Eletronuclear, os temores de crise de crédito nos EUA e mais
O colunista Ruy Hungria está otimista com Eletrobras; mercados internacionais operam no vermelho após fraudes reveladas por bancos regionais dos EUA. Veja o que mexe com seu bolso hoje
Venda da Eletronuclear é motivo de alegria — e mais dividendos — para os acionistas da Eletrobras (ELET6)
Em um único movimento a companhia liberou bilhões para investir em outros segmentos que têm se mostrado bem mais rentáveis e menos problemáticos, além de melhorar o potencial de pagamento de dividendos neste e nos próximos anos
Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança
Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA