Na bolsa, quais ações e BDRs foram vencedores — e quais saíram perdendo — entre janeiro e abril de 2022?

A última sexta-feira (29) marcou o fechamento de abril na bolsa — e o mês foi bastante negativo para os mercados como um todo, com o Ibovespa amargando perdas de 10,1% no período. O principal índice de ações do país ainda acumula ganhos de 2,9% no ano, mas o sonho de novos recordes históricos antes das eleições parece ter ficado para trás.

Dito isso, estamos diante de um marco temporal: 1/3 do ano já passou. E, nesses quatro meses, quais foram os ativos que se destacaram individualmente na bolsa? Quais ações tiveram as maiores altas de janeiro a abril — e quais reportaram as maiores quedas?

Essa é uma análise com uma série de recortes possíveis. Sendo assim, comecemos pelo Ibovespa e suas 91 ações.

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Ibovespa: Cielo (CIEL3) no topo, Alpargatas (ALPA4) no fundo

Não há um setor em específico da economia que tenha se destacado na bolsa, tanto para o bem quanto para o mal. Nesses primeiros quatro meses de 2022, o que se viu foi uma reação individual dos investidores ao noticiário de cada empresa; ajustes ao preço dos papéis também foram fatores decisivos na tomada de decisão.

Veja, por exemplo, as cinco ações de melhor desempenho do Ibovespa entre janeiro e abril — é um grupo bastante diverso. Os dados foram compilados pelo TradeMap:

O que explica a alta expressiva dessas ações? Bem, não há uma única variável — é preciso olhar para os ativos individualmente. Cielo ON (CIEL3), por exemplo: após anos sendo castigada por seu mau desempenho operacional e financeiro, a empresa tem indicado uma estabilização em seus negócios.

Soma-se a isso o mau momento de algumas de suas rivais, em especial a Stone, e a Cielo voltou ao radar do mercado como uma opção a ser considerada no setor de maquininhas de cartão. É importante fazer uma ressalva, no entanto: mesmo com todos esses ganhos, as ações CIEL3 ainda valem apenas R$ 3,40.

Ou seja, há uma questão puramente matemática em jogo: quanto menor a cotação de um ativo, mais fácil é para que ele mostre oscilações intensas, em termos percentuais. No começo do ano, as ações da Cielo eram negociadas na faixa de R$ 2,20 — portanto, mesmo com um salto de quase 50%, elas ganharam 'apenas' R$ 1,20.

As demais ações da tabela também têm, cada uma, suas particularidades. A 3R Petroleum (RRRP3), por exemplo, beneficiou-se ao longo do ano dos preços mais elevados do petróleo no exterior, em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia; a Hypera (HYPE3) já reportou os resultados do primeiro trimestre de 2022 — que agradaram o mercado — e pegou carona no reajuste nos preços dos remédios.

Vamos, agora, ao lado oposto da tabela, com as cinco ações de pior desempenho do Ibovespa no ano até aqui:

Aqui, os fatores macroeconômicos se fazem bem mais presentes: o ambiente de inflação elevada e juros em alta inibe o consumo e afeta diretamente o fluxo de caixa de empresas do setor de tecnologia — e é nesse contexto que Banco Inter (BIDI11), Locaweb (LWSA3) e Via (VIIA3) foram penalizadas.

Alpargatas (ALPA4) também é afetada pela inflação alta, mas aqui há um segundo fator: a desconfiança do mercado quanto à estratégia que está sendo adotada pela companhia. No fim do ano passado, ela anunciou a compra de 49% da Rothy's, uma grife americana de calçados e bolsas sustentáveis, por US$ 475 milhões — cifra considerada elevada.

Além disso, a Alpargatas tem mostrado nos últimos trimestres uma dificuldade para encontrar o equilíbrio entre a estratégia de internacionalização e digitalização e a preservação de margens, o que já vinha afetando diretamente o desempenho das ações desde o ano passado.

Por fim, Embraer ON (EMBR3) caiu forte logo após a divulgação do balanço do primeiro trimestre, ainda em abril. Além disso, vale lembrar que ela foi a ação de melhor desempenho do Ibovespa em 2021, e que, em breve, a Eve — divisão de 'carros voadores' — será cindida e terá o capital aberto nos EUA.

Small caps: Enauta (ENAT3) lidera; Tenda (TEND3) é a lanterna

Entre as small caps — as empresas de menor porte e liquidez reduzida da bolsa —, destaque positivo para a Enauta (ENAT3), com valorização de mais de 67% entre janeiro e abril; na ponta oposta, Tenda (TEND3) desabou 65% no período.

O universo de análise é a carteira do índice de small caps da B3, composto por 139 ações. Veja as cinco de maior valorização em 2022 até agora:

Os casos de Cielo (CIEL3) e 3R Petroleum (RRRP3) já foram discutidos entre as maiores altas do Ibovespa, então vamos nos ater aos outros membros desse clube. De cara, chama a atenção a presença de Enauta (ENAT3) e PetroRecôncavo (RECV3), pares da 3R no setor de petróleo e gás natural.

Essas empresas também se aproveitaram do ambiente de preços mais elevado com a guerra entre Ucrânia e Rússia: tanto o petróleo quanto o gás natural subiram fortemente ao longo dos primeiros quatro meses do ano, o que, de imediato, tende a criar um efeito positivo na geração de receita dessas companhias.

A participação delas em leilões de áreas de exploração e no mercado de fusões e aquisições também foi um fator de influência para as ações, que subiram forte no ano. Já Kepler Weber (KEPL3) vive um bom momento operacional, com a demanda por seus silos de armazenagem crescendo e as receitas também em alta.

Vamos, agora, às piores small caps destes primeiros quatro meses de 2022:

Entre as lanternas, o caso da Tenda (TEND3) é o mais conhecido: a empresa surpreendeu negativamente o mercado com seu balanço do quarto trimestre, mostrando uma enorme pressão no lado dos custos e uma piora sensível nas margens. Desde então, os investidores têm olhado com cautela para a companhia, especialmente porque alguns de seus pares no setor de baixa renda, como a Direcional (DIRR3), têm mostrado um desempenho operacional bem mais sólido.

Infracommerce (IFCM3) também sofreu neste início de ano, especialmente após o anúncio de um polêmico programa de remuneração em ações para os executivos. Também chama a atenção o fato de que a empresa, junto com a Cruzeiro do Sul (CSED3) e a Espaçolaser (ESPA3) estarem entre as 'novatas' da bolsa.

As três abriram o capital em 2021, ano particularmente agitado no front dos IPOs — e, agora, em meio ao ambiente econômico mais difícil, com juros em alta e baixo crescimento do PIB, parecem enfrentar uma desconfiança extra dos investidores.

BDRs da bolsa: Occidental (OXYP34) sobe, Shopify (S2HO34) cai

No campo dos recibos de ações (BDRs) negociados na bolsa brasileira, nada de big techs na ponta positiva: quem se destacou foi o setor de energia, especialmente o de óleo e gás. Em meio à disparada do petróleo e ao ganho de força do tema da transição energética, as petroleiras que possuem alguma diversificação em sua matriz despontaram entre as vencedoras do período.

É o caso, por exemplo, da Occidental Petroleum (OXYP34), empresa que consta no portfólio da Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett — o conglomerado é dono de cerca de 16% da empresa. Valero (VLOE34), APA (A1PA34) e Marathon Oil (M1RO34) também estão inseridas nessa tese.

A única empresa estranha ao setor de óleo e gás na lista é a Mosaic, uma das grandes produtoras globais de fertilizantes, especialmente fosfatados e com base em potássio. Em meio à guerra no leste europeu e a possível escassez de fertilizantes, a empresa tornou-se uma aposta dos investidores, dada a iminente alta da demanda por seus produtos.

Entre os piores BDRs do ano até aqui, dois temas se destacam: o e-commerce e o streaming de vídeo. Representando o primeiro grupo, aparecem Shopify (S2HO34) e Sea (S2EA34) — a dona do Shopee. Ambas têm lidado com a desconfiança do mercado após reportarem resultados fracos e margens pressionadas, colocando em dúvida a sustentabilidade de seus modelos de negócio.

No lado do streaming, a Netflix (NFLX34) desabou após a divulgação do balanço do primeiro trimestre: a empresa viu sua base de assinantes encolher no período e projeta que outros 2 milhões de pessoas deixem de usar seus serviços no segundo trimestre. Esse mau desempenho puxa o setor todo para baixo, incluindo a Roku (R1KU34).

E a Teladoc Health (T2DH34)? Bem, trata-se de uma empresa especializada em telemedicina — e que, com a reabertura da economia e a queda no isolamento social pela Covid-19, vê a demanda por seus serviços ficar aquém do projetado.

Outros destaques da bolsa

Há, ainda, alguns casos que fogem aos critérios detalhados acima, como o da Dommo (DMMO3), que acumula ganhos de 233% entre janeiro e abril — o melhor desempenho de toda a bolsa. Ela voltou aos holofotes após a Prisma Capital comprar o seu controle e, em seguida, entrar em negociações com a PetroRio para a venda da empresa.

Mas, como no caso da Cielo, há uma questão matemática: as ações DMMO3 hoje valem R$ 1,73 — portanto, eram penny stocks antes do rali. Custando tão pouco, o salto percentual é maior.

Por fim, veja também o desempenho dos índices setoriais da B3 em comparação com o próprio Ibovespa

Repare que, como era de se esperar, o índice de mid/large caps (MLCX) teve um desempenho melhor que o de small caps (SMLL) — enquanto o primeiro grupo é composto por ações exportadoras de commodities e grandes bancos, o outro têm em sua composição as pequenas empresas mais ligadas à economia doméstica.

O índice de consumo (ICON), em baixa de quase 10%, também salta aos olhos: com a inflação em alta e os juros em tendência ascendente, a confiança do consumidor está em baixa — o que impacta diretamente no desempenho das ações desse segmento. No mesmo sentido, o índice industrial (INDX), altamente dependente dos indicadores macroeconômicos locais, cai mais de 12%.

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