O “sonho grande” de Jorge Paulo Lemann para a fabricante de ketchup Heinz e do cream cheese Philadelphia parece ter realmente acabado.
O bilionário brasileiro está deixando o conselho de administração da Kraft Heinz, companhia que ele ajudou a formar com a lenda do mercado Warren Buffett em 2015 e que desde então perdeu quase metade do seu valor de mercado.
Em comunicado ao mercado divulgado na quarta-feira (3), a Kraft Heinz declarou que Lemann renunciou a sua posição no conselho em 25 de fevereiro. Com 81 anos, ele decidiu “reduzir seus compromissos de viagem”, por isso não buscará a reeleição.
“A decisão de Lemann de não buscar a reeleição não é o resultado de qualquer desacordo com a administração ou do conselho relacionado às operações, políticas ou práticas da companhia”, diz trecho do comunicado.
Lemann está no colegiado desde a formação da companhia. Antes disso, ele serviu no conselho da H.J. Heinz, antes da fusão com a Kraft.
Sonho frustrado
Por meio da sua gestora de investimentos, a 3G Capital, Lemann comprou a Heinz em 2013, em parceria com Buffett, e em 2015 adquiriu a Kraft. A união de ambas resultou na criação da quinta maior empresa de alimentos e bebidas do mundo, com receita de US$ 28 bilhões.
Mas ao contrário do sucesso que obteve com a AB InBev, a maior cervejaria do mundo, e a Restaurant Brands, dona do Burger King, implementando o famoso receituário da 3G – profundos cortes de gastos e criação de companhias dominantes de mercado –, ele não conseguiu transformar a Kraft Heinz na maior companhia de alimentos do mundo.
A empresa se viu diante de mudanças nos hábitos alimentares das pessoas, que passaram a buscar mais comida saudável e fresca, e não mais embutidos e alimentos processados, grande parte do portfólio da Kraft Heinz.
Em 2019, durante evento em São Paulo, Lemann admitiu que o modelo tentado para a Kraft Heinz não deu certo. “Tínhamos o sonho grande de fazer com comida o que fizemos com cerveja. Hoje este sonho grande não permanece. Não é mais possível algo tão grande”, disse o bilionário.
No ano passado, porém, a empresa de alimentos começou a mostrar sinais de reação, com a redução do endividamento em relação ao Ebitda de 4,4 vezes para 3,7 vezes e um avanço de 4,8% na receita, para US$ 26,185 bilhões.