A mitologia da bolsa brasileira é povoada por personagens lendários: grandes bancos, Vale e Petrobras ocupam seus postos entre as divindades do Olimpo; Ambev, B3 e Magalu, com sua vastidão colossal, fazem companhia aos titãs; siderúrgicas, Weg e outras tantas despontam entre os semideuses.
Há personagens trágicos: Smiles e Multiplus tentaram voar para perto do Sol, mas tiveram suas asas queimadas; as empresas X, de Eike Batista, apaixonaram-se pela própria imagem — e quase todas tiveram o mesmo destino de Narciso.
E há a Cielo, que parecia destinada à glória com sua força sobre-humana no segmento de maquininhas de cartão. Mas, após uma série de infortúnios, a companhia agora se vê numa posição difícil — e precisa realizar alguns trabalhos para tentar retornar ao panteão das figuras míticas.
Alinhar o interesse dos acionistas, acelerar a transformação digital, aumentar a oferta de serviços, recuperar as margens e reconquistar a confiança do mercado são algumas das tarefas árduas que a Cielo terá que vencer.
E tudo isso sem descuidar dos rivais: Stone, PagSeguro, GetNet e outras querem roubar o brilho da companhia que já foi uma das mais admiradas da bolsa.
Pois a Cielo tem uma nova liderança para conduzi-la nesse desafio: Gustavo Henrique Santos de Sousa substituirá Paulo Caffarelli na presidência da empresa. O Renato Carvalho e eu listamos os trabalhos de Hércules a serem enfrentados pelo novo CEO — a análise completa está nessa matéria.
MERCADOS
• Para o delírio da torcida, o Ibovespa, que passou a maior parte do dia no vermelho, virou o jogo aos 45 minutos do segundo tempo e fechou em leve alta. Já o dólar teve uma assistência da aprovação da MP da privatização da Eletrobras e encerrou o dia em baixa.
EMPRESAS
• As ações da Localiza e Unidas subiram forte hoje, mesmo após a Superintendência-Geral do Cade apontar problemas na fusão entre as companhias. A Jasmine Olga conversou com analistas e explica o movimento.
• Os Correios também se beneficiaram do intenso crescimento do comércio eletrônico durante a pandemia. A estatal, que está na fila de privatizações do governo, registrou em 2020 seu melhor desempenho nos últimos dez anos.
• A Hapvida mostrou, mais uma vez, que afundou o pé no acelerador para tornar-se a maior operadora de saúde verticalizada do país. A empresa concluiu a compra da Promed, dona de 240 leitos e de uma carteira com 280 mil beneficiários em Belo Horizonte.
ECONOMIA
• DOC, TED, boleto? Isso tudo está virando coisa do passado: o Pix começa a se tornar o meio de pagamento favorito dos brasileiros. Funcionando há apenas seis meses, o sistema instantâneo do Banco Central já superou o volume financeiro da concorrência.
• Parece que Elon Musk vai ter que encontrar outro motivo para justificar o fim de pagamentos em bitcoin na Tesla. Um estudo recente a respeito do impacto ambiental da mineração da moeda concluiu que ela consome menos da metade da energia do sistema bancário atual.
• Falando em criptomoedas, o governo dos Estados Unidos está fechando o cerco sobre grandes transações dos ativos. A Casa Branca anunciou hoje uma proposta para obrigar que transferências de moedas digitais superiores aos US$ 10 mil sejam reportadas ao Tesouro.
• E as conversas não param por aí: após especulações de que a China estaria trabalhando em uma criptomoeda estatal, o Federal Reserve também comunicou que discutirá a possibilidade de emitir seu próprio ativo.
POLÍTICA
• Um novo adiantamento vai atrasar novamente a tramitação da reforma administrativa no Congresso. O relator da proposta avisou que a votação, prevista para hoje, deverá ocorrer apenas na próxima terça-feira (25).