🔴 IPCA-15 DE ABRIL DESACELERA – VEM AÍ SELIC A 10,50% OU 10,25? SAIBA ONDE INVESTIR

Juros por toda a parte

16 de março de 2021
10:36 - atualizado às 19:34
Mercados juros bolsa coronavírus
Imagem: Shutterstock

Uma vez, presenciei, como mero ouvinte, uma conversa inesquecível de dois economistas keynesianos entusiasmados. Para minha surpresa, constatei três opiniões. A de cada um dos dois economistas e a do próprio Keynes. 

Ouvi a piada do Eduardo Giannetti, mas achei que contar em primeira pessoa ficaria mais divertido.

É frequente economistas terem opiniões diferentes sobre um mesmo fenômeno. E o pior: todas elas serem pertinentes. Para Sextus Empiricus, nada mais natural. O ceticismo pirrônico, de que ele é talvez o maior expoente, defende que, para cada argumento, há um contra-argumento de igual validade e intensidade.

A reunião do Copom começa com duas vertentes bem definidas. 

De um lado, há aqueles que prescrevem a necessidade de um aumento mais intenso da taxa Selic, começando com 75 pontos-base. Sob o risco de uma desancoragem das expectativas de inflação, com uma variação do IPCA podendo ultrapassar 5% neste ano e contaminar 2022, seria adequado um ajuste maior. A inflação está acima do centro da meta, os IGPs crescem mais de 30% ao ano, as expectativas estão subindo, as commodities se valorizam, o câmbio está fora do lugar, temos grande incerteza fiscal. Se sabemos que o aperto monetário vindouro será de pelo menos 250 pontos-base, vamos logo correr com isso!

Segundo essa turma, com isso, controlaríamos um pouco o câmbio, achataríamos a curva de juros (essa ideia de achatamento da curva tem nos perseguido!) e impediríamos o descontrole da inflação. Os mais enfáticos argumentam que fazer mais rápido poderia até significar fazer menos. Se o Copom apertar o torniquete monetário com força, talvez precisemos de menos doses lá na frente. A autoridade monetária recuperaria a credibilidade e qualquer surto inflacionário seria combatido. 

Outros, porém, defendem o início de um ciclo de aperto a partir de uma elevação de 0,50 ponto percentual na Selic. Choques muito intensos acabam gerando mais incerteza e volatilidade. A economia ainda patina e há um brutal desemprego. São Paulo está em lockdown total, outras partes relevantes do Brasil também. Há um nível de endividamento corporativo razoável em determinados nichos e um aperto súbito das condições financeiras poderia causar estragos perigosos. Não custa também lembrar que, até pouco tempo, convivíamos com o “forward guidance”, ou seja, aquela sinalização oficial de que teríamos a Selic inalterada por bastante tempo. Para banqueiros centrais, credibilidade importa. Para ancorar as expectativas de inflação, há de se fazer o que foi falado que se faria. Em menos de três meses, saímos da presença do forward guidance para um aumento de 75 pontos na Selic?

Se o mundo muda, eu mudo. Sem problemas. E como leitor de Shakespeare, também sei que palavras não pagam dívidas. Mais do que a retórica, importam os atos e os fatos. Mas algum alinhamento entre discurso e realidade prática, para o caso da política monetária, é desejável. Não houve até aqui nenhum tipo de sinalização de que o Copom pretende um grande choque de juros neste momento.

Encontro bons argumentos dos dois lados. Se tivesse de chutar, porém, projetaria um aumento de 50 pontos, numa espécie de “hawkish hike” — sendo sincero, nunca vi essa expressão assim; mas se tem “dovish hike” deve ter “hawkish hike” (se não tem, deveria). Ou seja, acho que o Copom dá 50 e adota um discurso bem mais duro para a frente, sinalizando incrementos de 0,75 ou até mesmo 1 ponto adiante. Assim, ele conseguiria atender aos dois times. Não seria excessivamente agressivo e desalinhado ao seu próprio discurso, mas também não seria leniente com a inflação e uma postura frouxa. 

Acho que essa conduta poderia ajudar a acalmar os mercados de juro e câmbio — obviamente, se o yield do Treasury de dez anos e Brasília permitirem (são dois “ses" importantes, eu sei).

Isso nos traz aos juros dos EUA, claro. O Fed também atualiza sua política monetária amanhã. Ninguém espera qualquer alteração do juro básico norte-americano neste momento, nem uma mudança imediata no programa de compra de títulos. O grande interesse está na leitura e em uma eventual sinalização do Fed sobre a recente escalada dos yields (taxas de juro de mercado).

As comunicações recentes apontam para uma certa tranquilidade em torno da inflação e da alta dos yields em particular, que, aliás, tem sido interpretada, ao menos até agora, como um sinal da confiança na recuperação. 

Há algumas nuances aqui. Uma subida mais intensa das taxas de mercado pode implicar deterioração das condições financeiras, o que até poderia gerar alguma crise, e também uma desaceleração do crescimento econômico.

Neste contexto, os bancos centrais têm se mostrado estimuladores do crescimento e alguns deles já denotam preocupação com a escalada dos yields. O BC da Austrália intensificou materialmente sua compra de títulos no mercado, derrubando em 20 pontos-base os yields de seus bonds; e, na última quinta-feira, o BCE afirmou que a disparada das taxas de juros de mercado poderia respingar sobre a recuperação da economia. Como resultado, o BCE poderia acelerar sua compra de títulos de modo a evitar recrudescimento das condições financeiras e de liquidez. O Fed, por sua vez, ainda não se manifestou diretamente sobre o tema, desconsiderando, claro, aquela retórica típica “dispomos das ferramentas necessárias para agir se for preciso”. Jerome Powell, porém, já foi incisivo ao relatar que a aceleração da inflação neste momento, como resultado de uma demanda reprimida da pandemia, seria transitória. A ideia até seria defender algum overshooting da inflação acima de sua meta informal de 2% ao ano, como forma de ancorar as expectativas mais para cima, depois de anos e anos de inflação muito baixa. Em sendo o caso, o Fed poderia agir para comprar títulos de longo prazo e derrubar as taxas de juro. 

Então, voltamos àquela máxima: “never fight the Fed” (nunca brigue com o Fed). Se é do interesse dos bancos centrais manterem as taxas de longo prazo mais baixas, talvez elas encontrem um pouco mais de resistência para subir a partir de níveis um pouco mais altos. Podemos, sim, ter o yield de dez anos dos Treasuries indo para cima de 2% e os bunds alemães voltando ao patamar positivo ainda em 2021. Se essa, no entanto, for uma escalada mais gradual e bem comportada, alimentada por expectativas de crescimento forte da economia, talvez não seja um grande problema. 

Por mais que tenhamos volatilidade e um curtíssimo prazo ainda difícil, o estrutural ainda é positivo para as ações. Os juros de mercado podem subir no mundo. Mas duas vezes zero ainda é zero.

Compartilhe

EXILE ON WALL STREET

A simplicidade é a maior das sofisticações na hora de investir

12 de setembro de 2022 - 18:55

Para a tristeza dos estudiosos das Finanças, num daqueles paradoxos do conhecimento, quanto mais nos aprofundamos, parece que cavamos cada vez mais no subterrâneo

EXILE ON WALL STREET

Marcas da independência: Vitreo agora é Empiricus Investimentos

5 de setembro de 2022 - 8:43

Com a mudança de nome, colhemos todos os benefícios de uma marca única, com brand equity reconhecido e benefícios diretos, imediatos e tangíveis ao investidor

EXILE ON WALL STREET

Além do yin-yang: Vale a pena deixar os fundos para investir em renda fixa?

2 de setembro de 2022 - 11:47

Investidores de varejo e institucionais migraram centenas de bilhões em ativos mais arrojados para a renda fixa, o maior volume de saída da história do mercado de fundos

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Encaro quase como um hedge

1 de setembro de 2022 - 13:27

Tenho pensado cada vez mais na importância de buscar atividades que proporcionem feedbacks rápidos e causais. Elas nos ajudam a preservar um bom grau de sanidade

EXILE ON WALL STREET

Complacência: Entenda por que é melhor investir em ativos de risco brasileiros do que em bolsa norte-americana

29 de agosto de 2022 - 11:25

Uma das facetas da complacência é a tendência a evitar conflitos e valorizar uma postura pacifista, num momento de remilitarização do mundo, o que pode ser enaltecido agora

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O elogio que nem minha mãe me fez

25 de agosto de 2022 - 12:02

Em mercados descontados que ainda carregam grandes downside risks, ganha-se e perde-se muito no intraday, mas nada acontece no dia após dia

EXILE ON WALL STREET

Degrau por degrau: Confira a estratégia de investimento dos grandes ganhadores de dinheiro da bolsa

24 de agosto de 2022 - 13:57

Embora a ganância nos atraia para a possibilidade de ganhos rápidos e fáceis, a realidade é que quem ganha dinheiro com ações o fez degrau por degrau

EXILE ON WALL STREET

Blood bath and beyond: Entenda o banho de sangue dos mercados financeiros — e as oportunidades para o Brasil

22 de agosto de 2022 - 12:25

Michael Hartnett, do Bank of America Merrill Lynch, alerta para um possível otimismo exagerado e prematuro sobre o fim da subida da taxa básica de juro nos EUA; saiba mais

EXILE ON WALL STREET

Você está disposto a assumir riscos para atingir seus sonhos e ter retornos acima da média?

19 de agosto de 2022 - 13:50

Para Howard Marks, você não pode esperar retornos acima da média se você não fizer apostas ativas. Porém, se suas apostas ativas também estiverem erradas, seus retornos serão abaixo da média

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Qual é o mundo que nos aguarda logo à frente?

18 de agosto de 2022 - 11:45

O mercado inteiro fala de inflação, e com motivos; afinal, precisamos sobreviver aos problemas de curto prazo. Confira as lições e debates trazidos por John Keynes

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar